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2 O Estado (noções sobre Teoria Geral do Estado) 2.1 O que seria o “Estado”?

Embora existam diversas teorias e definições, o que importará para nosso estudo será o Estado formado após a Idade Moderna. Entenderemos o termo

“Estado” referindo-se à entidade imaterial formada pela vontade de seu povo, para que exerça dentro de um território um poder soberano de organização capaz de buscar o alcance do bem comum e repelir os interesses nocivos à vontade da cole-tividade ou à convivência harmônica em sociedade.

O termo “Estado” aparece pela primeira vez na obra “O Príncipe”, de Maquiavel (1513). Alguns autores não admitem a existência do Estado antes do século XVII; para eles não bastaria haver uma sociedade política, mas também haver características bem definidas como uma soberania una, o que não era pre-sente em épocas medievais, em que existiam os feudos e corporações dissolvendo o poder. Outros autores dizem que o Estado sempre existiu, tendo o homem sem-pre se organizado em sociedade e sob uma autoridade.

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Todo Estado possui então necessariamente três elementos:

1. Povo: É constituído somente por aquelas pessoas efetivamente ligadas ao Estado, os nacionais daquele lugar. Não se confunde com “popula-ção”, que é qualquer um que esteja no território.

2. Território: O território é o limite para o exercício do poder de um Estado.

3. Soberania: É necessário que este povo e este território tenham um governo, que dentro do território seja o poder supremo, não se sujei-tando a nenhum outro e que permita que o Estado seja independente de outros na esfera internacional.

Observação:

Todo Estado é criado com uma finalidade: alcançar o bem comum. Esta “finali-dade” é incluída por alguns autores como sendo um quarto elemento do Estado, porém, isso não é consenso.

2.2 Evolução do conceito de Estado

Para melhor entendermos o conceito de Estado, primeiramente devemos diferenciar os conceitos de sociedade e comunidade.

Sociedade Comunidade

Seus membros buscam um fim

determi-nado. Não há busca por um objetivo definido,

bastando a sua autopreservação.

Vínculos jurídicos regem as relações entre seus membros e normas jurídicas regula-mentam as suas manifestações.

Elo formado pela afinidade sentimental, psicológica ou espiritual de seus membros.

Há um poder, que é estabelecido e reco-nhecido juridicamente, capaz de alinhar os membros em prol dos objetivos comuns.

Não há lideranças institucionalizadas;

no máximo, o exercício de influências de membros sobre outros.

Nada impede que uma comunidade venha a se transformar em uma socie-dade, caso seus membros decidam voluntariamente se organizar e passar orde-nadamente a perseguir objetivos comuns.

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2.3 Origem da Sociedade – Sociedade Natural x Contratualismo Duas podem ser elencadas como as principais teses que tentaram explicar a origem das sociedades: a tese da sociedade natural e a tese do contratualismo.

Tese O que dizia Principais defensores

Sociedade natural Tese segundo a qual o homem é naturalmente um animal social e político.

Somente o homem que fosse muito superior ou muito vil, ou então por algum acidente (naufrágio ou per-dido em uma floresta) é que poderia viver isolado.

Aristóteles, Cícero, São Tomás de Aquino, dentre outros.

Contratualismo Se opõem à ideia da socie-dade natural, defendem que a sociedade é formada por uma associação voluntária dos homens, por meio de um contrato hipotético.

Thomas Hobbes, John Locke, Montesquieu, Rousseu, dentre outros.

Atualmente, predomina o modelo misto de que a sociedade é produto de uma necessidade natural de associação humana, de essência naturalista, mas sem excluir, porém, que a razão humana tem grande papel no estabelecimento de suas bases e características.

2.4 Estado x Nação

A Nação é um conceito sociológico, refere-se a uma ideia de união em comu-nidade, um vínculo que o povo adquire por diversos fatores como etnia, religião, costumes...

O Estado é conceito jurídico, sendo uma sociedade política.

Comumente (e até mesmo sendo cobrado em diversos concursos), diz-se que o Estado é a nação política e juridicamente organizada. Esse ditado é impor-tante para que, didaticamente, entendamos a ideia de formalização do Estado, porém, teóricos afirmam que é um erro, já que o conceito de nação não tem qual-quer utilidade para fins jurídicos.

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Dentro de um Estado pode haver várias nações (vários grupos vincula-dos), ou mesmo, esta nação pode estar espalhada por vários Estados, mas que continua mantendo este sentimento histórico de união, exemplo clássico disso é a nação judaica.

2.5 Povo x Nação

Assim como Nação não pode ser considerado sinônimo de Estado, também não é sinônimo de povo. Povo também é conceito jurídico que se refere ao ele-mento pessoal do Estado. Representa o corpo de membros que integra o Estado.

A Nação é conceito sociológico que se refere a vínculos emocionais, cul-turais, religiosos etc.

No entanto, o comum emprego de nação como sinônimo de povo não é por acaso. O termo nação foi empregado durante a Revolução Francesa (1789) como uma forma emocional de imbuir todos os cidadãos (como se fizessem parte de uma mesma nação) a lutar pela causa revolucionária. Assim, à época da Revolução, ainda que de forma apelativa, ambos os termos eram empregados para dar a ideia de povo.

2.6 Soberania

Soberania é a característica que o Estado possui de ser independente na ordem externa (autodeterminação) e, na ordem interna, ser o poder máximo pre-sente em seu território. A doutrina que atualmente prevalece em nossa ordem jurídica é que o povo é que tem nas mãos este poder.

Podemos elencar então as características essenciais da Soberania:

Unicidade – Ela é apenas uma, não pode haver mais de um Poder Sobe-rano dentro do Estado, senão não será mais sobeSobe-rano.

Indivisibilidade – Não se pode permitir que haja conflitos ou fraciona-mentos criando interesses diversos daquele que é o real interesse do povo e rompendo a unicidade.

Indelegabilidade (ou inalienabilidade) – O povo não pode abrir mão de seu poder. Embora haja representantes, estes sempre agem em nome do seu povo.

Imprescritibilidade – Este poder é permanente, não se acaba com o tempo.

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2.7 Evolução do Estado Antigo ao Estado Moderno

Se considerarmos o Estado em um termo amplo, ele teria a seguinte evolução:

Estado Antigo (Oriental ou Teocrático)

Hebreus, Egípcios, Sírios...;

Marcados pela natureza unitária e religiosidade;

A sua natureza era unitária, pois inexistem divisões, sejam territoriais, políticas, jurídicas ou administrativas, no interior do Estado;

A sua natureza era religiosa, pois não há como dissociar a religião do governo, das leis e da moral;

Monarquia absolutista de fundamento divino. Alguns autores dispõem que tal governo seria, em alguns casos, ilimitado, enquanto em outros casos seria limitado pelos sacerdotes.

Instabilidade territorial.

Estado Grego

Embora a Grécia não tenha se organizado em uma única sociedade polí-tica, mas em diversas polis (cidade-Estado), podemos identificar certas caracte-rísticas comuns a elas:

Busca pela autossuficiência (autarquia) da polis;

Uma elite (“cidadãos”) dominava os assuntos políticos, excluindo a massa de indivíduos das decisões, ainda quando o governo fosse tido por democrático.

Estado Romano (754 a.C. até 565 d.C)

Base familiar;

Inicialmente, possuía organização no modelo das cidades-Estado, pos-teriormente abandonado pelas guerras de conquista e integração dos povos conquistados;

Restrita parcela de indivíduos participando do Governo;

Famílias patrícias (fundadoras do Estado) com privilégios, inclusive ocupando durante muito tempo as principais magistraturas (cargos supremos do governo);

Ao longo do tempo, as demais camadas sociais foram ampliando seus direitos.

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Estado medieval (período da queda do Império Romano Ocidental em 476 d.C. até a tomada de Constantinopla em 1453)

Base religiosa cristã;

Invasões bárbaras;

Território fracionado em feudos;

Intensa instabilidade política, econômica, social e territorial;

A intensa instabilidade política é gerada pelo conflito entre três forças:

o imperador, os senhores feudais e a igreja;

O território dividido em feudos, que possuíam autonomia, fracionam o poder, inexistindo assim a unicidade do poder político, nem a impo-sição de normas únicas “oficiais”. Ocorre um fracionamento da ordem jurídica que não possuía sequer hierarquia entre elas. Há uma ordem eclesiástica, uma ordem imperial, uma dos senhores feudais e, no fim da idade média, também a das corporações de ofício;

A instabilidade intensa, política, econômica e social foi o principal ponto que gerou o surgimento do Estado Moderno, pois havia a necessidade, principalmente da burguesia, de possuir um poder central forte, de forma a proteger seus interesses. Os senhores feudais também estavam descontentes com a carga tributária excessiva para custear os luxos das famílias reais e guerras.

Estado Moderno (período da tomada de Constantinopla em 1453 até a Revolução Francesa em 1789)

Difere do Estado medieval pela “unidade e soberania”.

Houve a retomada da unidade territorial;

Ocorreu também a retomada da unidade política, com a existência de um poder soberano sobre o território;

A igreja perde força e deixa de ser uma das bases do Estado.

2.8 Evolução do conceito de Estado Moderno

Podemos associar o constitucionalismo à evolução do conceito de Estado Moderno. Com a Revolução Francesa e a independência dos Estados Unidos, temos o início do Estado Liberal, já que se asseguraram as liberdades individuais. Segundo os conceitos do liberalismo, o homem é naturalmente livre, então, buscou-se limitar

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o poder de atuação dos Estados para dotar de maior força a autonomia privada e deixar o Estado apenas como força de harmonização e consecução dos direitos.

Nas Constituições Mexicana, de 1917, e de Weimar (Alemanha), de 1919, que nascem logo após a Primeira Guerra Mundial, temos um estilo de Constituição que não se restringe a defender as liberdades individuais: passou-se a ter uma visão mais ampla do indivíduo em sociedade. Assim, não podemos mais associá-la, do ponto de vista histórico, ao conceito de “Constituição liberal” expresso pela Revo-lução Francesa. Ela vai além do “Estado liberal”. Ela traz em seu texto os direi-tos econômicos, culturais e sociais, surgindo então o conceito de “Estado Social”.

Dessa forma, possui como característica a mudança da concepção de Constituição sintética para uma Constituição analítica, mais extensa, capaz de melhor con-ter os abusos da discricionariedade. Aumenta, assim, a incon-tervenção do Estado na ordem econômica e social, dizendo-se que a democracia liberal-econômica passa a ser substituída pela democracia social.

Esse Estado Social é superado com o fim da Segunda Guerra Mundial.

Temos então o surgimento do Estado Democrático de Direito, marcado pelas ini-ciativas relacionadas à solidariedade e aos direitos coletivos.

(Analista/MPE-AL/FGV) O conceito de Estado está diretamente relacionado aos elementos indispensáveis à sua formação. Assinale a opção que os indica.

a) Povo, governo soberano e território.

b) Clero, nobreza e povo.

c) Classes sociais, classes econômicas e classes territoriais.

d) Cultura, população e organização.

e) Povo, localidade e hierarquia.

Resposta: letra A.

3 Poder constituinte

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