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3. AS PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS NO SISTEMA PRISIONAL SOBRE A PERSPECTIVA DA EFICIÊNCIA

3.3. OUTROS ESTADOS SOBERANOS

3.3.1. Inglaterra

Segundo Luíz Flávio Borges D‘Urso o número de presos cresceu 20% entre 1980 e 1990, e é de 53.000 a população prisional do Reino Unido, compreendendo a Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte, o que se resume a 93.3 a cada 100.000 habitantes234. O autor afirma que ―25% dos presos aguarda, julgamento e, destes, 55% acabam por receber penas alternativas e 5% são declarados inocentes‖235

. O autor ainda acrescenta que ―a operação do Sistema de Justiça Criminal custa £ 8.77 bilhões anuais (U$ 13.155 bilhões)‖236 e a ―operação do

Sistema Penitenciário custa £ 1.47 bilhão anuais (U$ 2.205 bilhões)‖237

.

Sobre os custos com a construção de estabelecimentos prisionais, o autor acrescenta que ―a construção de uma penitenciária de segurança média para 500 presos está orçada em £ 70 milhões (U$ 105.000.000), sendo o custo de uma cela o equivalente a £ 140.000 (U$ 210.000)‖238. Além disso, ressalta que ―a duração média

de uma pena privativa de liberdade aumentou de 10.9 meses em 1983 para 16.9 meses em 1990‖239

, destacando, ainda, que ―75% dos presos cumprem penas superiores a 18 meses‖240

. Outro fator que amplia, significativamente, o custo com o sistema carcerário é a taxa de reincidência, que chega a 57% para homes e 40% para mulheres241.

233

JUNIOR, João Marcello de Araújo. Privatização das Prisões. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p.77.

234

D'URSO, Luís Flávio Borges. A Privatização dos Presídios (terceirização). Dissertação de Mestrado - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo. 1996, p.81-82.

235

Id. Ibid., p.82.

236

Id. Ibid. loc. cit.

237

Id. Ibid. loc. cit.

238

Id. Ibid. loc. cit.

239

Id. Ibid. loc. cit.

240

Id. Ibid. loc. cit.

241

Sobre o número de presos em cumprimento de probation, Luís Flávio Borges D‘Urso destaca que ―o número de indivíduos sob probation é de 52.100‖242, e o ―custo médio

anual de um indivíduo sob probation é de £ 1.272 (U$ 1.908)‖243

.

Assim, conforme ensina Laurindo Dias Minhoto, a Inglaterra acabou por enfrentar a mesma crise carcerária vivenciada pelos Estados Unidos da América, ressaltando- se, ainda, que o significativo crescimento da população prisional, na última década, é uma realidade comum à maioria dos países da Europa.244 O aumento de custo com a execução penal e a superpopulação carcerária tornavam urgente uma resposta para as deficiências do sistema carcerário inglês.

Neste sentido, ―também como nos EUA, a superpopulação tem provocado a precarização das condições de encarceramento e o sistema tem se defrontado com um número crescente de distorções e rebeliões na última década‖245

, passando-se a buscar soluções para a crise enfrentada pelo sistema penitenciário. Em resposta ao crescimento da população prisional, o Estado britânico buscou, inicialmente, a ―expansão da capacidade de acomodação. O Departamento de Prisões anunciou o maior projeto de construção de presídios do país neste século, totalizando 26 novos estabelecimentos correcionais‖246

.

O mencionado plano de extensão, conforme ressalta Laurindo Dias Minhoto, conquistou o apoio da opinião pública ―em paralelo ao reconhecimento explícito da ‗falha‘ da prisão quanto à reabilitação dos detentos‖247

, admitindo-se que a baixa qualidade na administração carcerária interfere, diretamente, no processo de ressocialização e reintegração social dos detentos.

Leciona Deborah Kelly Affonso que a Grã-Bretanha já utilizava os serviços de empresas privadas para a prisão de imigrantes, entretanto, somente ―há uma década e meia, as primeiras propostas de empresas privadas operarem presídios,

242

D'URSO, Luís Flávio Borges. A Privatização dos Presídios (terceirização). Dissertação de Mestrado - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo. 1996, p.82.

243

Id. Ibid., p.83.

244

MINHOTO, Laurindo Dias. Privatização de Presídios e Criminalidade: A gestão da Violência no Capitalismo Global. São Paulo: Max Limonad, 2000, p.56-60.

245 Id. Ibid., p.60. 246 Id. Ibid., p.62. 247 Id. Ibid., p.63.

surgiram na Inglaterra em 1984, pelo Instituto Adam Smith e em 1985 por dois acadêmicos: Mcconville e Wiallians‖248

.

Destaca a mencionada autora que a utilização de empresas privadas cresceu em todos os setores dos serviços penitenciários ingleses, o que provocou a ―publicação, em 1991, de um Ato pela Corte de Justiça Criminal, que dá poder para o Governo contratar com empresas privadas a administração de centros de detenção provisórios, estendido em julho de 1992 para englobar os de presos já condenados‖249

.

Neste sentido, em uma fase inicial de implementação do novo modelo prisional, foram contratadas firmas privadas para administrar ―cerca de 10% das prisões na Inglaterra e País de Gales. Os contratos firmados dizem respeito à projeção, construção e, talvez, ao próprio financiamento das prisões‖250

.

É neste contexto de busca pela melhoria na qualidade da execução penal o modelo de ingerência privado na Inglaterra passa a seguir a tendência norte-americana de privatização. Laurindo Dias Minhoto diferencia, entretanto, a estrutura penitenciária inglesa do modelo estadunidense, destacando que a Inglaterra possui uma estrutura penitenciária centralizada, ao passo que, nos Estados Unidos, ―há três níveis político-administrativos relativamente independentes de gestão do sistema‖251

.

De outro lado, a semelhança entre os dois referidos Estados e a fundamentação da proposta política de privatização na necessidade de uma ―redução economicista da crise do sistema penitenciário‖252

, não se questionando a falência, per se, da pena de prisão, nem se problematizando a prisão como mecanismo de controle social253.

248

AFFONSO, Deborah Kelly. A Privatização de Presídios: Terceirização dos serviços penitenciários. Dissertação de Mestrado – Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo. 2002, p.62. 249 Id. Ibid., p.63-64. 250 Id. Ibid., p.64. 251

MINHOTO, Laurindo Dias. Privatização de Presídios e Criminalidade: A gestão da Violência no Capitalismo Global. São Paulo: Max Limonad, 2000, p.66.

252

Id. Ibid., p.67.

253

3.3.2. Austrália

Conforme leciona Deborah Kelly Affonso, a segurança privada na Austrália foi a indústria que mais cresceu depois do turismo, ―sendo a construção e administração de presídios privados constituem a maior fonte de renda. Também se registra lá a mais alta taxa de prisioneiros em prisões privadas do mundo‖254

.

A referida autora explica a nova onda de emergência de prisões privadas a partir da necessidade de o Estado australiano ―expandir novos mercados, bem como do desejo do estado em cortar despesas, respondendo a uma crise fiscal‖255

. Deste modo, a privatização de presídios na Austrália representa solução, a um só tempo, tanto para a crise fiscal do Estado quanto para uma crise econômica de mercado.

Isto porque, como bem destaca Deborah Kelly Affonso, ―para o estado é mais lucrativo usar mão-de-obra mal paga e não qualificada e treinada, do que pagar funcionários habilitados e treinados‖256

, de modo que o trabalho do encarcerado, mais uma vez, torna-se moeda de troca na adoção de uma política de privatização no sistema carcerário, assunto este que será tratado, especificamente, mais adiante.