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Ano Projeções Público

1962 4.603 1.239.528 1963 17.094 3.232.111 1964 38.190 4.852.614 1965 55.817 6.112.163 1966 57.257 5.855.468 1967 65.972 6.401.638 1968 74.220 7.582.494 1969 74.980 7.284.975 1970 98.075 12.930.658 1971 167.028 25.174.984 195

Os projecionistas do Cine-Móvil possuíam ainda outra função essencial, apresentar os filmes e conduzir debates ao final das sessões.196 Quando selecionados para o cargo, recebiam um curso para lidar com os equipamentos cinematográficos e,

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A experiência com Carretas (carros pequenos, geralmente com duas rodas que poderiam ser movidos por tração animal) foi rápida, pois logo foram assimiladas pelo Cine Estacionario (a seguir falaremos dele).

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PARDO, José Manoel. El Cine-Móvil ICAIC. Cine Cubano, n. 73, 74, 75, pp. 96, 1972.

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92 periodicamente, recebiam outros cursos que auxiliariam na função de apresentar os filmes.197 Eram comuns manifestações de interesse, perguntas e conversas sobre o que era exibido no Cine-Móvil. A população aguardava com muito entusiasmo as exibições, antes da data das projeções eram afixados cartazes em lugares públicos, como bares, para que a população soubesse o dia que o Cine-Móvil iria passar. Esse dado é bastante revelador, pois acreditamos que havia uma importante socialização nos pequenos povoados que, a partir daquele meio, recebiam informações e arte, gerando possíveis discussões e opiniões, principalmente sobre o novo regime. Ocorria também maior relação entre povoados, pois os espectadores de determinada sessão não eram somente os moradores do local apontado pelo itinerário. Pessoas de localidades vizinhas também compareciam às exibições do Cine-Móvil, chegando a caminhar 3 km por campos e montanhas. Os espectadores se acomodavam no chão, em muros e cercas, ou levavam cadeiras para assistir aos filmes.198

O cinema se torna então um evento, não é somente o filme, mas toda a sociabilidade que é gerada a partir da experiência do Cine-Móvil. Criou-se a possibilidade de novas relações sociais e de um novo tipo de conscientização política que antes de tudo é individual, mas, sobretudo é coletiva, pois o evento se faz pelo lugar, pelos discursos transmitidos, pela arte, e principalmente pelas pessoas reunidas em conjunto. A experiência do Cine-Móvil é extremamente frutífera do ponto de vista de criação, propagação e continuidade de uma cultura política. Do ponto de vista de uma cultura política comunista é ainda mais frutífera, pois ao interferir no cotidiano e

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O ICAIC tinha a pretensão de que esses cursos não fossem realizados somente pelo pessoal do

Departamento de Divulgación Cinematográfica, mas, que houvesse uma colaboração entre demais

pessoas do instituto para que acontecesse uma troca de experiências, assim os projecionistas conheceriam mais sobre a arte cinematográfica e os realizadores e técnicos conheceriam mais de perto a prática da divulgação cinematográfica, ver: GARCÍA MESA, Hector. Un reportaje sobre el Cine-Móvil ICAIC. Cine Cubano, n. 60-62, p. 115, 1970.

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93 promover um sentimento de inclusão criou identidades e laços afetivos entre as massas e um governo em vias de consolidar seu processo revolucionário.

Os tipos de unidades móveis e os locais de projeção influenciavam nas maneiras distintas de como os espectadores assistiam aos filmes. Por exemplo, a experiência do Cine-Móvil em lanchas era destinada à população que vivia nas margens dos rios e do mar. Os espectadores eram principalmente pescadores e camponeses, moradores do local onde ocorreria a exibição ou eram pessoas das proximidades que iam de barcos, botes e por terra assistir aos filmes. Antes das projeções, os próprios moradores preparavam o local onde ficaria a tela e assentavam o terreno para que eles mesmos pudessem se sentar e assistir aos filmes com suas roupas especiais para a sessão, já que aquele era um evento importante. Por vezes, as lanchas também se incorporaram às frotas pesqueiras durante as campanhas especiais de pesca e exibiram filmes à noite em alto mar. Provavelmente essas campanhas especiais estivessem ligadas às campanhas incentivadas pelo governo cubano em vários níveis de sua economia, para o aumento de sua produção. Dessa forma, a exibição de filmes à noite poderia ser uma espécie de prêmio de descanso e ao mesmo tempo incentivo ao trabalho. As lanchas não serviam apenas para levar cinema às pessoas, mas como relata um projecionista também serviam de ambulância em uma emergência, dado que confirma que os povoados alcançados pelo Cine-Móvil eram bastante inóspitos e que esse meio exercia papel importante no cotidiano das pessoas.199

A experiência do Cine-Móvil por tração animal começou em 1969, tendo sido uma alternativa aos lugares aos quais as outras unidades não chegavam. Seus itinerários não eram muito extensos, e os projecionistas dormiam em casas de camponeses ou em sedes do Partido, o que cria outros tipos de socialização. Geralmente, os itinerários eram

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94 percorridos por dois projecionistas, que seguiam cada um em seu animal e os equipamentos eram levados por outros animais.

A experiência mais comum foi em caminhões, desde o início do departamento essas foram as unidades com maior número e maior alcance. Nas páginas da Cine Cubano se encontram relatos de projecionistas descrevendo como as pessoas recebiam seu caminhão e como sabiam que aquela experiência possuía grande importância cultural e política. Um projecionista observa que nas regiões alcançadas pelo Cine- Móvil a população passou a caminhar, a fumar e a se vestir de forma diferente.200 Uma espectadora também observa as transformações das pessoas após o primeiro contato com o cinema:

Aqui en el monte nunca vimos el cine, gracias a la revolución es ya casi un fenomeno cotidiano, y no tuvimos necesidad de ir al pueblo a conocer las cosas grandes de la vida. Ahora ya los niños no andan silvestres en la bejuquera, ya no se asustan cuando ven un carro, un avión.201

Entre as sessões organizadas pelo Departamento de Divulgación Cinematográfica estava o chamado cine estacionário, experiência idealizada como alternativa para as pessoas que saíam de zonas afastadas dos centros urbanos e se deslocavam para os cinemas das cidades, que acabavam recebendo um grande afluxo de pessoas. Nessas zonas, as sessões eram realizadas ao ar livre. A relação entre campo e cidade se transforma quando os moradores da zona rural não mais necessitam ir aos centros urbanos para conhecer realidades que anteriormente somente o homem da cidade conhecia. Os filmes que estreavam no campo muitas vezes coincidiam com as estréias da cidade, e por vezes estreou primeiro no interior para depois ser assistido na

200

GALIANO, Carlos. La Pantalla Móvil. Cine Cubano, n. 95, pp. 154, 1979.

201

95 capital.202 Sobre o chamado Ferro-Cine, experiência do Cine-Móvil em trens, não encontramos relatos suficientes, contudo Ninón Gómez afirmou que houve tal experiência e o pesquisador de cinema Luciano Castillo também cita o Ferro-Cine em artigo203

Até este ponto desta dissertação, buscamos construir inteligibilidade sobre os aspectos institucionais que circundavam o Cine-Móvil. Buscamos também construir um relato sobre a experiência cotidiana das unidades móveis. Pretendemos no próximo capítulo avançar na percepção dos discursos transmitidos por nosso objeto de estudo.

202

GALIANO, Carlos. La Pantalla Móvil. Cine Cubano, n.. 95, pp. 155, 1979.

203

CASTILLO, Luciano. Cine cubano...y el cine también fue arte de la pantalla en movimiento.

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Capítulo 3 – Os discursos do Cine-Móvil: expressões da Cultura

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