• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO

1.3 DO CÓDIGO DE MENORES DE 1979 AO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO

1.3.2 O Estatuto da Criança e do Adolescente

A última etapa, tida como garantista, da evolução histórica sobre a legislação do menor no Brasil se dá com a promulgação da Constituição Federal de 1988, com a posterior regulamentação da Lei 8.069/90, que criou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A Constituição de 1988 trouxe disposições sobre a criança e o adolescente em seus arts. 227 a 229, dando “proteção integral” e prioridades aos interesses destes, em substituição ao paradigma da“situação irregular”.

A etapa garantista decorreu de inúmeros debates internacionais de proteção à criança e ao adolescente, como exemplo a Declaração dos Direitos da Criança a qual trazia o propósito de reconhecer a necessidade de uma proteção diferenciada, em razão de sua imaturidade física e intelectual. O mais importante é mencionar que o ECA traz um sistema de mais garantias, incorporando uma série de direitos materiais e processuais para a preservação dos direitos infanto-juvenis.

Após a convenção da ONU sobre direitos da criança, consolidou-se no plano internacional um corpo de legislações denominada de “Doutrina das Nações Unidas de Proteção Integral à Criança”, dentre as quais estão incluídas as seguintes legislações: Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Crianças, aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 20.11.89 e pelo Congresso Nacional Brasileiro em 14.09.90, Regras Mínimas das Nações Unidas para Administração da Justiça de Menores (Regras de Beinjing- Res. 40/33 da Assembléia Geral, de 29.11.85), Regras Mínimas das Nações Unidas para proteção dos menores privados de liberdade, Diretrizes das Nações Unidaspara prevenção da Delinqüência Juvenil (Diretrizes de Riad).

A promulgação do ECA (Lei 8.069/90) ocorreu em 13 de Julho de 1990, consolidando uma grande conquista da sociedade brasileira: a produção de um documento de direitos humanos que contempla o que há de mais avançado na normativa internacional em respeito aos direitos da população infanto-juvenil. Este novo documento altera significativamente as possibilidades de uma intervenção arbitrária do Estado na vida de crianças e jovens. Como exemplo disto pode-se citar a restrição que o ECA impõe à medida de internação, aplicando-a como último recurso, restrito aos casos de cometimento de ato infracional.

Segundo comentário realizado por Flavio Rezende, após a promulgação do ECA, realizou-se um grande esforço para sua implementação, tanto por organizações

governamentais como não-governamentais, havendo inclusive uma participação do terceiro setor nas políticas sociais, principalmente a partir de 1990 na área da infância e da juventude, pois conforme preceitua a própria lei a formulação de políticas desta área deve ser uma ação conjunta entre representantes da sociedade civil e representantes das instituições governamentais.

Porém, destaca que para uma integral implementação do ECA ainda é um desafio uma vez que ainda são necessários, segundo Antonio Carlos Gomes da Costa, apud, Flavio Rezende:

a) Mudanças no panorama legal: os municípios e estados precisam se adaptar à nova realidade legal. Muitos deles ainda não contam, em suas leis municipais, com os conselhos e fundos para a infância.

b) Ordenamento e reordenamento institucional: colocar em prática as novas institucionalidades trazidas pelo ECA: conselhos dos direitos, conselhos tutelares, fundos, instituições que executam as medidas sócio-educativas e articulação das redes locais de proteção integral.

c) Melhoria nas formas de atenção direita: É preciso aqui “mudar a maneira de ver, entender e agir” dos profissionais que trabalham diretamente com as crianças e adolescentes”. Estes profissionais são historicamente marcados pelas práticas assistencialistas, corretivas e muitas vezes repressoras, presentes por longo tempo na historia das práticas sociais do Brasil.

Conclui o autor que ainda há um longo caminho a ser percorrido até que se atinja um estado de garantia plena desses direitos, com instituições sólidas e mecanismos operantes. Contudo grandes avanços já ocorreram nos últimos anos assim como vem acontecendo, após passar por períodos de mais autoritarismos do que de fortalecimento das instituições democráticas, sendo portanto uma luta ainda em curso.

Assim com breve resumo a respeito das legislações que versaram sobre menor quanto a suas condições e peculiaridades que exigiam um tratamento diferenciado, chegou-se a uma das leis consideradas mais completas e avançadas decorrente de inúmeros debates no plano internacional, a qual superou códigos anteriores, calcado na doutrina da situação irregular, o que confundia adolescentes infratores e abandonados, vítimas da família ou da sociedade. O termo menor cede lugar à criança e adolescente, sujeitos de direitos.

Considerado um avanço na legislação, passou-se a adotar princípios de natureza penal e processual, a fim de garantir um processo justo, como garantias processuais básicas (presunção de inocência, direito de defesa por intermédio de advogado, direito ao duplo grau de jurisdição, direito de conhecer plenamente a acusação que lhe é imputada).

Tem-se assim um rápido resumo acerca dos fundamentos históricos sobre a legislação do menor, apresentando suas diversas fases dentro do entendimento doutrinário, até a atual legislação aplicada às crianças e adolescentes.

Foi instituído em 13 de julho de 1990, na forma da Lei nº 8.069, o Estatuto da Criança e do Adolescente, seguindo a Doutrina da Proteção Integral à criança e ao adolescente, conforme o artigo 227 da Constituição Federal de 1988.

Inicialmente vale resaltar a distinção feita pelo Estatuto, que descreve como “criança” a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescentes aquela com idade entre doze e dezoito anos. A Constituição Federal de 1988 assegurou, no art. 228, que “são penalmente inimputáveis os menores de 18 (dezoito) anos, sujeitos às normas da legislação especial”. Tal disposição foi seguida no art. 272, do Código Penal e no art. 1043, do Estatuto.

O Estatuto proclama um sistema de garantia de direitos utilizando todas as disposições do direito material e processual naquilo que se adaptar à garantia dos direitos da criança e do adolescente. Em seu 267 artigo, veio garantindo e determinando as crianças e adolescentes, direitos, deveres e responsabilidades, assim como para o Estado quanto para a família, os quais compõe a sociedade. Sobre o Estatuto, Albergaria (2009, p. 177) diz:

O Estatuto, ao explicar o art. 227 da Constituição de 1988, incorpora as normas de Beijing e as da Convenção dos Direitos da Criança que integram a Declaração Internacional dos Direitos Humanos. Segundo Annina Lahale, a legislação brasileira é a primeira dos países latino-americanos a incorporar as normas da Convenção e das Regras de Beijing,que devem servir de base às legislações nacionais para proteção das crianças que são vitimas de injustiça social, econômica ou jurídica.

Instituído como uma lei de proteção integral à criança de até 12 anos e aos adolescente de 12 a 18 anos, o Estatuto da Criança e do Adolescente apresenta os direitos fundamentais e deveres das crianças e dos adolescentes. Sobre os direitos fundamentais,

Os direitos fundamentais do menor estão previstos nos arts. 7º a 69 do Estatuto, Menciona-se o direito à vida como primeiro dos direitos fundamentais por constituir a existência da criança o superior interesse da família e da sociedade, o direito à vida é condição básica para se realizar plenamente a pessoa humana.

Todo esse processo histórico de quase 500 anos, que vai até início 1989, deixou a herança de uma concepção e prática de assistência asilar e de segregação às crianças e aos

2

Art. 27. - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.

3

adolescentes. Com o discurso de “ser para o bem da criança” e de “salvá-la do seu meio promíscuo”, muitas delas foram retiradas de suas famílias”. Dessa forma, para Veronese (2009, p. 101) a criação do Estatuto significou uma revolução:

O Estatuto da Criança e do Adolescente tem a relevante função ao regulamentar o texto constitucional, e fazer com queeste último não se constitua em letra morta. No entanto, a simples existência de leis que proclamem os direitos sociais, por si só não consegue mudar as estruturas, antes há que se conjugar aos direitos uma política social eficaz, que de fato assegure materialmente os direitos já positivados.

O Estatuto determina que havendo ameaça ou violação de direitos de crianças ou adolescentes, esses terão a sua disposição serviços do município para que os responsáveis sejam levados à justiça para se explicar e sejam tomadas as devidas providencias. A esse respeito, D’Agostini (2008, p. 65) dispõe:

Neste sentido, o ECA prevê que, quando houver ameaça ou violação de direitos da população infanto-juvenil, a vítima terá à sua disposição todo um aparato de serviços municipais, devendo o vitimizador, seja ele ou a família, a sociedadeou o Estado, prestar contas perante a Justiça da sua ação ou omissão.

Com relação ao menor que comete ato ilícito, o Estatuto considera ato infracional toda conduta descrita na lei comocrime ou contravenção penal, conforme dispôs no art. 103. Assim, se o ato praticado por criança ou adolescente estiver adequado ao tipo penal, então, terão praticado ato descrito como crime ou contravenção penal, ou como chama o Estatuto, um ato infracional.

Contudo, não se pode permitir eufemismos na ação delituosa de adolescente, o fato típico é o mesmo, seja ele praticado por maior ou menor de 18 anos, ou seja, a essência do crime é a mesma, entretanto o tratamento jurídico deve ser adequado à especial condição de casa agente. Essa posição, no entanto, é entendida de forma diversa na ótica de Amarante (2010, p. 494) “[...] o fato atribuído à criança ou ao adolescente, embora enquadrável como crime ou contravenção, só pela circunstância de sua idade, não constitui crime ou contravenção, mas, na linguagem do legislador, simples ato infracional”.

Portanto, existe um procedimento especial que aplica medidas socioeducativas de caráter sancionatório-punitivo com finalidade pedagógico-educativa aos infratores considerados inimputáveis em virtude da menoridade. Aos adolescentesentre 12 e 18 anos não se pode imputar, pois, responsabilidade frente à legislação penal comum. Contudo, pode-se- lhes atribuir responsabilidade com fundamento nas normas preconizadas pelo ECA, donde

poderão responder pelos atos infracionais que praticarem, submetendo-se às medidas socioeducativas previstas no artigo 112.

Documentos relacionados