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Para abordar um tema como a Educação Infantil é necessário entender a importância da Lei 8.069/1990, mais conhecida como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), bem como o contexto formado até a sua consolidação.

Como já foi mencionado anteriormente, houve períodos na história que as crianças brasileiras não eram consideradas sujeitos de direitos. Por um longo tempo apenas os ricos tinham acesso à educação de qualidade e posteriormente esse direito passou a ser instrumento para atender as demandas do mercado de trabalho.

Podemos dizer que neste período as instituições que atendiam as crianças, em geral, tinham como objetivo apenas o acolhimento dessas durante o período de trabalho das mães, sem o compromisso com o seu desenvolvimento intelectual.

A partir da inclusão do Brasil nos tratados internacionais, houve a necessidade de mudar a visão em relação à criança e, a partir de então, iniciou-se a caminhada para que a criança brasileira se tornasse sujeito de direitos.

A comunidade internacional passou a demonstrar preocupação com a infância e com a proteção da criança, se organizando no sentido de atender as mazelas deixadas pela Primeira Guerra e o descontentamento da classe operária.

No mesmo sentido a comunidade internacional também não demostrava preocupação especifica com a criança e nem ao menos reconhecia a importância de sua proteção. Dois fatores foram marcantes para que tal preocupação eclodisse, iniciando-se um novo ciclo: a) o descontentamento da classe operária com as condições de trabalho existentes; b) os horrores da Primeira Guerra Mundial, com nefastas às crianças. (ROSSATO, 2012, p. 50)

No final do século XIX e início do século XX vários movimentos impulsionaram a criação da Organização Internacional do Trabalho que aprovou de uma só vez seis convenções, sendo duas delas relacionadas à proteção da criança.

Estas proibiam o trabalho noturno de menores de 18 anos e definição da idade mínima de catorze anos para o trabalho na indústria. Essas convenções marcaram a história dos direitos da criança, pois foram os primeiros documentos internacionais que defendiam de fato seus direitos.

Em 1959 a Assembleia Geral das Organizações das Nações Unidas (ONU) aprovou a Declaração dos Direitos da Criança, tornando-a um sujeito de direitos e não mais objeto de proteção, obedecendo tais princípios:

Princípio I: Universalidade dos direitos a todas as crianças, sem qualquer discriminação;

Princípio II: As leis devem considerar a necessidade de atendimento do interesse superior da criança;

Principio III: Direito a um nome e a uma nacionalidade;

Principio IV: A criança faz jus a todos os benefícios da previdência social, bem como de desfrutar de alimentação, moradia, lazer e outros cuidados especiais:

Princípio V: Aqueles que necessitarem devem receber cuidados especiais (como ocorre com as crianças portadoras de necessidades especiais) bem como de receber amor e cuidados dos pais;

Princípio VI: Criança deverá crescer sob o amparo de seus pais, em ambiente de afeto e segurança, podendo a criança de tenra idade ser retirada de seus pais somente em casos excepcionais;

Principio VII: Direito à educação escolar;

Principio VIII: criança deve figurar entre os primeiros a receber proteção e auxílio:

Principio IX: Direito a ser protegido contra o abandono e a exploração no trabalho;

Principio IX: Criança faz jus à proteção contra o abandono e a exploração no trabalho;

Principio X: Criança deve crescer dentro de um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e justiça entre os povos. (ONU, 1959)

Todavia esta declaração tornou-se um direito de cunho universal mais tarde, pois:

Como toda declaração de direitos, a Declaração de 1959 não era dotada de coercibilidade, estando o seu cumprimento ao alvedrio dos Estados. Era necessário um documento que tivesse essa característica. (ROSSETO, 2012, p. 50)

Apenas na Convenção sobre os Direitos da Criança de Nova York, em 1989, foi realizada a maior adesão dos Estados, sendo marcada como a maior do planeta e resultando no reconhecimento dos direitos da criança, protegendo todas as crianças do planeta.

No Brasil, o ECA foi promulgado através da Lei 8.069/1990 para atender o compromisso com o inciso XV do Art. 24° da CF88. É importante observar a evolução do tratamento jurídico conferido à criança, da omissão do Estado até a chegada do ECA. De acordo com Paula (2006, p. 26) apud Rosseto (2012, p.73) existiram as seguintes fases: “a) Fase da absoluta indiferença; b) Fase da mera imputação criminal; c) Fase tutelar e d) Fase da proteção integral (através do ECA)”.

Quando o ECA entra em vigor apareceu a necessidade de trabalhar a criança, pois tal legislação garante em seu Art. 1º que ela deve ter proteção integral e afirma no Art. 6º que, assim como os adolescentes, estão em fase peculiar de desenvolvimento. Isso reforça o compromisso do Estado, da sociedade e da família com o atendimento das necessidades da criança de usufruir os seus direitos.

Entre os direitos mencionados no ECA, do Art. 53° ao Art. 56 discorrem sobre o direito à educação, objeto deste trabalho. Nestes artigos o ECA estabelece direitos e deveres relacionados à educação, como por exemplo:

Art. 53°

I - Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - Direito de ser respeitado por seus educadores;

III - Direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;

IV - Direito de organização e participação em entidades estudantis;

V - Acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. (BRASIL, 1990)

Vale destacar que os pais ou responsáveis passaram a ter o direito de conhecer e acompanhar o processo pedagógico e as propostas educacionais. O Art.

54° prevê as responsabilidades do Estado, dando a ele o dever de garantir:

I - Ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;

II - Progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

III - Atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;

IV – Atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade;

V - Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;

VI - Oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador;

VII - Atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. (BRASIL, 1990)

Os pais têm a obrigação de matricular seus filhos na rede regular de ensino e os dirigentes de estabelecimentos de ensino têm o dever de comunicar ao Conselho Tutelar os casos de maus tratos, de faltas injustificadas, evasão escolar e elevados números de repetições.

O poder público deve estimular estudos e pesquisas didáticas, bem como outras formas que visam melhorar a inclusão da criança através da educação.

Os municípios apoiados pelo Estado e pela União são responsáveis pelos recursos financeiros necessários para que haja o bom andamento.

Verifica-se que o ECA possibilitou popularizar os direitos da criança e reafirmar a importância da educação em seu desenvolvimento integral, marcando uma nova geração de brasileiros que podem usufruir desde muito cedo do princípio da cidadania.