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O estatuto da cidade e o plano diretor urbano enquanto elementos institucionais fundamentais para a gestão ambiental, e a disposição de formas de planejamento

PARA O TRATAMENTO DOS RISCOS, E A IMPORTÂNCIA DO ELEMENTO INSTITUCIONAL PARA A CONCEPÇÃO DO PLANEJAMENTO URBANO

4.3 O estatuto da cidade e o plano diretor urbano enquanto elementos institucionais fundamentais para a gestão ambiental, e a disposição de formas de planejamento

urbano

Uma das questões relevantes dentro da seara do elemento institucional e do planejamento urbano sustentável, se trata da importância da promulgação da lei federal n. 10.257/2001 que também é chamada de Estatuto da cidade. Essa lei dispõe do estabelecimento de normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental (BRASIL 2001).

Entre as diretrizes consideraras como fundamentais para a gestão ambiental, a lei enfatiza o ordenamento e o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, através do seu Art. 2 que destaca como um dos procedimentos para esse fim o planejamento urbano. Conforme sugere o parágrafo IV do Art. 2 do Estatuto da Cidade, o planejamento se faz necessário para a finalidade de evitar e corrigir distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente.

Não obstante, conforme foi apresentado no capítulo 3, o respectivo instrumento legal, fora utilizado pelo poder público e pelas instituições locais para fins alheios à preservação ambiental. Como por exemplo, a chancela da União e do Município para a empresa Port of Pará realizar obras de impermeabilização e aterramentos nos terrenos de marinha próximos ao porto de Belém. E também diversas outras intervenções, chanceladas para o município de Belém, como por exemplo, as canalizações e drenagens de bacias hidrográficas de Belém. Além disso, Sombra D. A. S. et al. (2018) acrescenta que a política da SPU-PA durante muito tempo resumiu-se a catalogação do uso de próprios nacionais cedidos de outras instituições federais e dos terrenos de marinha para a formação de um cinturão institucional nas áreas altas da cidade de Belém. Acrescentamos aqui, que essa política contribuiu para a má distribuição de terras no traçado urbano, e que por sua vez, resultou na ocupação das planícies pelas camadas mais pobres da sociedade. Tendo como consequência, a conversão dessas áreas em áreas de riscos socioambientais. Desse modo, cabe aqui resaltar que quando se afirma em modificar o modo de como fazer as coisas nas instituições locais, significa dizer, que se deve usufruir dos elementos institucionais já existentes para a gestão ambiental como, por exemplo, a lei dos terrenos de marinha, para por em prática um planejamento urbano como perspectiva sustentável. Para assim, converter as deficiências socioambientais herdadas de outrora no espaço, em soluções ambientalmente corretas. Afinal das contas conforme sugere Rocha (2016 p. 17): “o território não se mostra como um mero dado, mas como uma construção histórica e social que nutre processos de aprendizagem”. Isto é, as experiências negativas herdadas através de intervenções antropogênicas no território das planícies de Belém, ensinam que deve ser estipulado um novo institucional mais respeitoso a dinâmica fisiográfica do ambiente urbano.

Além disso, a alínea (h) do parágrafo VI realça a importância da ordenação e controle do uso do solos para o fim de evitar a exposição da população a riscos de desastres.

Em que pese à promulgação da referida lei seja considerara um marco importante na gestão democrática das cidades e também no desenvolvimento socioambiental, Brandão (2009 p.141) ressalta que as conquistas legislativas incluídas do Estatuto da Cidade dependem do esforço dos atores envolvidos na sua construção para a práxis no cotidiano da gestão publica local. Nesse caso, o interesse institucional dos agentes políticos local.

Outro elemento institucional considerado como fundamental para a gestão ambiental e para o planejamento urbano sustentável se trata do Plano Diretor Urbano. No caso da cidade de Belém, o seu novo Plano Diretor Urbano foi instituído através da Lei municipal nº 8.655/2008 após consolidação das diretrizes do Estatuto da Cidade que orientava pela atualização dos Planos Diretores já existentes em cidades brasileiras (BRANDÃO, 2009).

Tal plano também elenca ações importantes a serem implementadas para a gestão e o controle das enchentes periódicas, dando algumas providências para esse fim através do art. 37. Entre as ações elencadas nesse artigo, o parágrafo V sugere:

a) definir mecanismos de fomento para usos do solo compatíveis com áreas de interesse para drenagem, como parques, área de recreação e lazer, hortas comunitárias e manutenção da vegetação nativa; b) implantar medidas de prevenção de inundações, incluindo controle de erosão, especialmente em movimentos de terra, controle de transporte, deposição de resíduos sólidos, e combate ao desmatamento; c) investir nas melhorias das calhas fluviais e na recuperação dos sistemas de macro e microdrenagem; d) realizar cadastro georeferenciado dos sistemas de drenagem (Belém, 2008). Contudo, tal-qualmente a importância do Estatuto da Cidade, a diretrizes elencadas no Plano Diretor de Belém, se trata de uma legislação avançada do ponto de vista da sustentabilidade ambiental, porém não efetivada na realidade prática de Belém por parte do poder público local. O que conferiu a cidade o status de capital com o maior índice de negligência na seara do saneamento em 2012, segundo as análises de microdados do IBGE (2012) sobre o censo de 2010.

Cardoso et al. (2017 p.212) acrescentam ainda que a as últimas gestões do poder público municipal, em especial a gestão PSDB iniciada no ano de 2013, atuou de um modo burocrático-centralizador, com desarticulação sobre o quadro geral dos problemas ambientais da cidade e com uma gestão predominantemente longínqua da consulta popular e das diretrizes ambientais estabelecidas no Plano Diretor instituído de 2008. Soma-se a isso, o fato da gestão pública local não ter instituído um Plano Diretor de Drenagem para o estabelecimento de políticas de drenagens urbanas na Região Metropolitana de Belém conforme orienta a parágrafo único do Art. 37 do Plano Diretor.

Brandão e Ponte (2014 p.1-16) acreditam que pelo fato de existir uma relação de proximidade e tensão entre fenômenos hidrológicos de inundação e o déficit habitacional nas planícies de inundação, Belém necessita de um plano de drenagem que leve em consideração medidas não estruturais de drenagem urbana como (miolos de quadras verdes; taludes vegetados e bacias de detença e macroodrenagem com sistema de escoamento controlável).

Num sentido correlato a ideia do plano de drenagem, o chamado plano de renaturalização de canais também se trata de uma forma de planejamento urbano ascendente na seara dos riscos socioambientais, e que seria capaz de complementar o plano diretor urbano20 na gestão das inundações e alagamentos em áreas próximas aos canais urbanos da planície de Belém. Tal plano é abordado com ênfase maior a partir do próximo subitem.

4.4 Plano de renaturalização de trechos de canais urbanos: uma forma de