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CAPÍTULO II – O ESTUDO

2.1. Conceções de género

2.1.3. Estereótipos de género

Autores como Rodrigues (2003) acreditam que os estereótipos de género refletem as “expectativas e crenças partilhadas” (p. 24) por uma comunidade ou sociedade acerca de comportamentos apropriados e características referentes a homens e a mulheres dessa mesma comunidade ou sociedade. Para Cardona et al. (2010) “os estereótipos constituem conjuntos bem organizados de crenças acerca das características das pessoas

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que pertencem a um grupo particular” (p. 26). Os estereótipos podem ter algo de positivo, quando se encara o modo como os indivíduos encaram a pluralidade de estímulos com que se deparam, no entanto, as autoras consideram que os estereótipos têm vindo a ser encarados com uma conotação negativa, uma vez que, a partir deles se criam juízos de valor discriminatórios.

O género influencia a forma como os indivíduos se compreendem e apresentam, a nível das próprias competências, interesses, atividades e tarefas que a cada um competem e o modo como são vistos pela sociedade em geral. Assim, e de acordo com a perspetiva de Vieira (2006), o termo “género tem sido considerado como um dos principais elementos organizadores das relações sociais” (p. 15) principalmente por este termo apresentar várias dimensões relativas aos traços individuais, às características físicas e aos papéis desempenhados associados à masculinidade e à feminilidade. Deste modo, “à medida que o género se torna estável as crianças aprendem estereótipos de género pela observação de acções e papéis de género de homens e mulheres que as cercam” (Rodrigues, 2003, p. 24). Também para Amâncio (2010) e Soares (2012) os estereótipos comportam normas de comportamento apropriados a cada um dos géneros. Reiterando as palavras de Amâncio (2010) considera-se que embora as mulheres de hoje estejam mais presentes no mercado de trabalho continuam a ser o elemento da família mais solicitado, o que comprova que a “multiplicidade de papéis não tem as mesmas consequências para homens e mulheres” (p. 72). Seguindo a ideia da mesma autora julga- se que apesar da ampliação dos papéis de género “a várias esferas de atividade social” (p. 72) isso não significa que essa ampliação implique uma mudança generalizada nos padrões de comportamentos da vida social e privada.

Mesmo antes de nascer já é esperado, pela maioria dos pais, que as suas crianças desenvolvam, desde o nascimento, determinados comportamentos de acordo com o género. Conforme a ideia de Cardona et al. (2010) “o sexo de uma criança é sem dúvida um factor importante para o seu desenvolvimento” (p. 10), isto porque o(a) bebé recebe um nome que o(a) identifica segundo o seu sexo, é vestida com determinadas cores e roupas, os brinquedos oferecidos são, também, destinados ao género, que a sociedade considera correto, e os comportamentos e valores que deverá aprender para que seja aceite na sociedade em que está inserida são estereotipados. Todos esses acessórios

estereotipados, de acordo com, Cardona et al. (2010), permitem que um indivíduo estranho à criança a consiga identificar como menina ou menino. Esta batalha de estereotipização que as crianças enfrentam está marcada pelas diferentes reações que as pessoas evidenciam perante crianças de um sexo e de outro, emitindo elogios e encorajamentos perante os comportamentos que consideram dignos de meninos ou meninas.

Relativamente aos brinquedos estereotipados, no seu estudo Marchão e Henriques (2015), depararam-se com um elevado número de crianças que propunha que meninos e meninas deveriam brincar com brinquedos específicos. Esta posição das crianças revelou que as mesmas possuíam ideias padronizadas pela sociedade em que viviam, onde persistia a diferenciação nas brincadeiras adequadas a cada um dos géneros. Nesta linha de pensamento é de destacar a opinião de Jeanne Block (1984, citado por Cardona et al., 2010) quando a autora menciona que brinquedos destinados às meninas, como conjuntos de panelas, estojos de cabeleireira e kits de maquilhagem, detêm uma finalidade prevista e pouco criativa, uma vez que promove a imitação. Já os brinquedos destinados a meninos, como legos, pistas e construções, não possuem uma utilidade definida nem limitada permitindo o desenvolvimento da criatividade e uma maior ocupação do espaço circunjacente. Pelas palavras da autora esta situação provoca uma “desigualdade de estimulação cognitiva” (Jeanne Block 1984 citado por Cardona et al., 2010, p. 10) o que pode refletir-se, mais tarde, em situações que impliquem destreza, auto-confiança, capacidade de resolução de problemas e exploração autónoma de espaços.

Reiterando as ideias de Marchão e Henriques (2015), os autores afirmam que há uma notória divisão dos estereótipos referentes “a atividades, a cores, a roupas, a acessórios, a desportos, a profissões e a brinquedos” (p. 81), este fato dever-se-á ao contacto das crianças com adultos que, também eles apresentam essas divisões, existindo uma transmissão de crenças e valores. Também na perspetiva de Vieira (2006) a oferta de brinquedos estereotipados traduz a apreensão dos conceitos de género mais precocemente e por meio destes os comportamentos de género prolongam-se por mais tempo.

Neste sentido compreende-se que os indivíduos são o produto da cultura de uma sociedade. Citando as palavras de Martelo (2004) depreende-se que a cultura “abarca

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toda a actividade humana; que a cultura é a ação que qualquer ser humano exerce sobre si mesmo no modo de pensar, sentir e agir; cultura é uma realidade vivida” (p. 21) e é através da cultura de cada sociedade que cada indivíduo se expressa com base em regras, como se seguisse um protocolo para que possa ser aceite na sociedade em que vive.

Analisando as perspetivas acima expostas concorda-se com Arribas (2008) quando a autora refere que “cada criança é diferente em relação às demais, uma vez que são diferentes suas experiências, assim como as suas competências sociais e intelectuais” (p. 112) e por isso mesmo, deve ser dada a palavra a cada criança ajudando-a a ultrapassar os seus medos e anseios.