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4 VIDA SADIA X OBESIDADE

4.1 ESTIGMA DA OBESIDADE

A obesidade é um dos problemas pertencentes à saúde pública, independente da atuação exclusiva da Administração Pública, tal ocorrência, depende também das atuações coordenadas da sociedade, da família e também do meio empresarial, industrial ainda que capitalista.

As pessoas que sofrem o sobrepeso e são obesas possuem predisposição ao estigma da discriminação devido ao peso corporal, comprometendo muitas vezes seu bem estar social e sua saúde no geral.

O fato é tão complexo e mundial, necessitando de atuação imediata e continua por parte dos respectivos governantes, que a Obesity Action Coalition, aponta cientificamente que pelo menos a metade da população americana é obesa e o número de pessoa que sofre a discriminação é imenso64.

Neste contexto a Organização Mundial de Saúde (OMS) apresenta dados inéditos, confirmando que, da mesma forma que há o rápido crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), o sobrepeso e a obesidade dispararam nos países emergentes como China, Índia, África do Sul, Brasil e México65.

Na China em torno de 100 milhões de pessoas, são obesas, comparado a 18 milhões no ano de 2005, trás o estudo citado anteriormente.

Já nos Estados Unidos, a obesidade somada ao sobrepeso acomete 60% da população, sendo que 27% dos adultos são obesos. A situação tem seu gravame, que a Associação Médica Americana tem convocado médicos para a luta contra a epidemia da obesidade66.

64Disponível em: <www.obesityaction.org> Acesso em: 06 mar 2012.

65Aumento de obesidade pressiona governos de países emergentes. Disponível em: <www.boasaude.com> Acesso em: 08 ago 2011.

Tais povos, incluindo o nosso, destacava-se no passado pela dificuldade em nutrir suas populações, e atualmente o fenômeno inverso, é denominado de “dupla carga”.

O fator da obesidade pode eventualmente sinalizar o crescimento e progresso de riqueza nos povos, mas há outros fatores de riscos comportamentais relacionados a esta doença.

Tim Lobstein destaca que a mudança mais importante é a chamada “transição de nutrição”,

De uma dieta com alimentos básicos para uma dieta modernizada, com alimentos de nível energético muito maior. Isso significa menos frutas e verduras, ou menos alimentos básicos como arroz e grãos, mais gorduras e açúcar e óleo. Estes vêm particularmente sob a forma de fast-food, refrigerantes67.

Nesta ótica, a Índia também apresenta vários desafios no tocante à área nutricional entre sua população mais pobre, com efeitos graves da obesidade. E conforme a OMS - Organização Mundial da Saúde- o país está atrás somente da China, onde a estimativa é de 92 milhões de pessoas que sofram de diabetes.

Neste diapasão, o povo brasileiro tem sofrido com o crescimento exponencial da obesidade especialmente entre crianças. Na idade entre 5 a 9 anos.

A cientificidade dos dados acima é apurada na pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério de Saúde, informando que o número de meninos acima do peso, mais que dobrou entre 1989 e 2009, passando de 15% para 34,8% respectivamente. Já o número de obesos teve um aumento de mais de 300% nesse mesmo grupo etário, indo de

67 LOBSTEIN, Tim. Aumento de obesidade pressiona governos de países emergentes. Disponível em: <BBC Brasil> Acesso em 08 ago 2011.

4,1%em 1989 para 16,6% em 2008-2009. Entre as meninas a variação é maior. Vale observar a ilustração abaixo68.

Ilustração 1

Número de meninos e meninas acima do peso

68 MELO, Maria Edna Dra. Diagnostico da obesidade infantile. ABESO-Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. Disponível em:

<http://www.abeso.org.br/pdf/Artigo%20%20Obesidade%20Infantil%20Diagnostico%20fev%20201

Não somente entre crianças, mas no meio adulto, principalmente na Região Sul, 56,8% de homens e 51,6% das mulheres apresentam os maiores percentuais de obesidade. Entre os homens, de maior rendimento, encontra-se tal condição, já no meio feminino para todas as espécies de rendas69.

Nesse raciocínio, a Organização Mundial da Saúde (OMS) projetou que em 2005 o mundo teria 1,6 bilhões de pessoas acima de 15 anos de idade com excesso de peso e 400 milhões de obesos. A projeção para 2015 é ainda mais pessimista: 2,3 bilhões de pessoas com excesso de peso e 700 milhões de obesos. Indicando então um aumento de 75% nos casos de obesidade em 10 anos.

O Brasil ocupa no ranking da OMS a 77ª posição, bem atrás dos campeões insulares da Micronésia no Pacífico Sul: Nauru, Ilhas Cook, Estados Federados da Micronésia e Tonga. Os Estados Unidos, apesar do destaque, ocupam a quinta posição, e a Argentina é o país mais obeso na América do Sul, ficando em oitavo lugar70.

Vale observar a ilustração a seguir que também revela o percentual de adultos com excesso de peso, por sexo, segundo as capitais dos estados brasileiros e Distrito Federal71:

69 POF 2008-2009: desnutrição cai e peso das crianças brasileiras ultrapassa padrão internacional. Disponível em:

<www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1699&idpagina=1> Acesso em 31 out 2011.

70_________. Os números da Obesidade no Brasil: Vigitel 2009 e POF 2008-2009. Disponível em: <www.abeso.com.br/pdf/obesidade> Acesso em: 30 set 2011.

71_________. Ministério da Saúde. Disponível em:

<www.portalsaude.gov.br/portalarquivospdf/vigitel_2009_preliminar_web_20_8_10.pdf> Acesso em: 30 set 2011.

Ilustração 2

Por todo exposto, as discussões referentes ao estado de saúde de uma população e o desenvolvimento econômico estão ligadas diretamente. Especialmente na reflexão referente à existência ou não de uma interdependência entre a melhoria das condições de saúde da população, do indivíduo e o aumento de seu padrão de vida.

Cabe ao Estado, ao Poder Público e todos os entes em quaisquer esferas debater, enfrentar as controvérsias acerca da saúde frente ao capitalismo, resultando num progresso humanitário.

Toda mudança ou substituição de paradigma gera eventuais incertezas ou desgastes, de modo prático e utilizando da analogia, foi em meados do Século XIX e nos países em desenvolvimento, que no período pós - guerra discutiu-se a mudança na mortalidade infantil, à adoção de campanhas preventivas e de higiene.

A mudança é paulatina, mas os processos distintos de transição motivaram o debate sobre o papel da melhoria das práticas sanitárias e inovações tecnológicas e do desenvolvimento socioeconômico sobre a redução da mortalidade72.

Logo se torna envolvido o conhecimento legal sem sua devida aplicabilidade. Em outros tempos, e da mesma forma, aplicável atualmente, medidas de saúde pública, campanhas de imunização, os antibióticos, pulverização com inseticidas para erradicar as doenças, seriam as causas principais que resultaram no declínio da mortalidade nos países que compõe a América Latina.

O fato é que a obesidade compromete a saúde e seu viés jurídico do direito a um estilo de vida sadio. Ainda que este seja um fenômeno mundial, cabe a cada Gente observar formas práticas e preventivas para remediar e impedir este crescente fator que também causa o comprometimento da vida plena.

72 Síntese das principais discussões sobre a dinâmica das mudanças na mortalidade no período pós-guerra. Disponível em:

<www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/evolucao/perspectivasmortalidade/comentario.pdf> Acesso em: 31 out 2011.

No momento em que o país de maneira expressiva acompanhou o julgamento de uma das ações judiciais, mais interessantes, estendendo o conceito da união estável aos núcleos sociais e pessoas do mesmo sexo, possibilitou então a aplicação dos direitos familiares sob a seguinte égide73:

Na visão do Ministro Ricardo Lewandowisk o direito a felicidade consubstancia-se na seguinte sustentação:

Com efeito, a ninguém é dado ignorar – ouso dizer - que estão surgindo, entre nós e em diversos países do mundo, ao lado da tradicional família patriarcal, de base patrimonial e constituída, predominantemente, para os fins de procriação, outras formas de convivência familiar, fundadas no afeto, e nas quais se valoriza, de forma particular, a busca da felicidade, o bem estar, o respeito e o desenvolvimento pessoal de seus integrantes74.

Também nesse sentido, o Ministro Marco Aurélio lembrou que a Constituição prevê como objetivo fundamental da República Federativa do Brasil o de promover o bem de todos, sem preconceitos. Diante disso, segundo ele: “ao Estado é vedado obstar que os indivíduos busquem a própria felicidade, a não ser em caso de violação ao direito de outrem, o que não ocorre na espécie”75.

E Ministro Celso de Mello:

[...] dos princípios constitucionais da igualdade, da liberdade, da dignidade, da segurança jurídica e do postulado constitucional implícito que consagra o direito à busca da felicidade, os quais configuram, numa estrita dimensão que privilegia o sentido de inclusão, decorrente da própria constituição da República (art. 1º, III, e art. 3º, IV).

Ao avaliar o caso em pauta, também não foge à razão, a busca pelo direito à felicidade, aplicável da mesma forma. Afinal a realização pessoal, o

73STF. ADPF 132. ADI 4.277. 74STF. ADPF 132. ADI 4.277. 75 Idem.

direito ao bem estar e inclusive a satisfação da saúde decorrem também do princípio da dignidade humana.