De acordo com Vasconcelos et al. (2007, p. 126) pesquisadores têm estudado a importância de se examinar características pessoais do gestor, em busca das razões que levam a determinadas escolhas estratégicas, em diferentes contextos ambientais. Algumas proposições surgiram descrevendo o processo de formação de estratégia como intimamente vinculado às percepções que os executivos têm de movimentos da concorrência e de transformações ambientais.
Segundo Chiaburu (2010) e ideias baseadas em Miles e Snow (1978), os gestores, genericamente, podem concentrar sua atenção sobre várias questões orientadas pelo ciclo de adaptação. Assim, quando focados em problemas administrativos estão inclinados a usar estratégias de prospector, aqueles que direcionam sua atenção para a engenharia é mais provável serem defensores.
Soares (2010) destaca a importância de estudos que apontem o perfil de proprietários- gerentes, no intuito de classificar suas características frente à sua posição estratégica ou comportamento gerencial.
Pérola e Gimenez, (2000) apresentam que o estilo cognitivo pode ser analisado sob diferentes perspectivas que podem ser observadas no Quadro 2.2.
Dimensão Descrição
Varredura x foco Envolve a identificação de informação relevante versus informação irrelevante na solução de problemas.
Risco x cautela
Tomar riscos se caracteriza por fazê-lo, mesmo quando as probabilidades de sucesso são pequenas. Cautela é caracterizada pela relutância em tomar riscos exceto quando as probabilidades de sucesso são grandes.
Complexidade X simplicidade
Complexidade cognitiva é a tendência de conceituar o mundo de uma maneira multidimensional (caracterizada em termos de diferenciação, discr iminação e/ou integração).
Simplicidade é a tendência de conceituar o mundo de uma forma unidimensional.
Convergência x divergência
Pensadores convergentes buscam uma solução única usando critérios de busca estr eitos, lógico-dedutivos, enquanto que divergentes são amplos e abertos na sua busca de critérios de solução.
Raciocínio lógico X
Raciocínio por ponto de referência
Raciocínio lógico envolve a preferência por uma abordagem sistemática e uma amostragem adequada de dados disponíveis, enquanto os por ponto de referência indicam uma preferência por raciocínio em cima de um caso específico conhecido.
Impulsividade x reflexibilidade
Impulsividade é caracterizada por respostas rápidas, reflexividade por maior deliberação, respostas mais lentas.
Participação x totalização
Partidores lidam com a realidade, decompondo-a em componentes. São analíticos e obtém informação através de uma série de passos claramente definidos. Totalizadores preferem olhar para o quadro completo.
Adaptação x inovação
Adaptadores se voltam para procedimentos convencionais quando procurando soluções, enquanto os inovadores preferem reestruturar problemas e abordá-los por novos ângulos.
Quadro 2.2 – Dimensões de estilos cognitivos (Fonte: Pérola e Gimenez, 2000)
Foram identificadas para efeito de estudo as dimensões Adaptação e Inovação que têm como referência o Modelo de Kirton (1976).
2.2.1 Modelo de Kirton
A teoria da Adaptação – Inovação é destacada pelo modelo sugerido por Kirton (1976). Este modelo propõe que os indivíduos adotem estilos preferidos de criatividade, solução de problemas e tomada de decisão. Segundo Vasconcelos et al. (2007), esta teoria define um continuum com dois polos distintos de tomada de decisão e solução de problemas, indicando
uma preferência por fazer as coisas melhor ou diferentemente, o que pode ser visto na Figura 2.1.
Figura 2.1 – Continuum das preferências de comportamento Fonte: Vasconcelos et al. (2005, p. 127)
Segundo Kirton (1976) a identificação de que as pessoas, caracteristicamente, são inovadoras ou são adaptadoras leva para uma exploração a mais dos tipos de características e de diferenças entre os extremos deste continuum, o que pode ser verificado no Quadro 2.3.
ADAPTADORES INOVADORES
Caracterizados pela precisão, confiança, eficiência,
prudência e disciplina. Vistos como indisciplinados, desafiadores de regras. Tendem a aceitar os problemas e restrições como
definidos.
Tendem a rejeitar a percepção geralmente aceita dos problemas e tentam redefini-las.
Buscam poucas soluções que são novas, criativas, relevantes e aceitáveis.
Produzem numerosas ideias que podem não parecer relevantes ou aceitáveis para outros.
Preferem situações bem estruturadas e estabelecidas. Preferem situações não estruturadas.
Importantes para situações em andamento. Importantes para situações de mudança e crise. Vistos pelos inovadores como confiáveis,
conformados, previsíveis e inflexíveis.
Vistos pelos adaptadores como não confiáveis, não práticos, ameaçadores do sistema estabelecido. Sujeitos a construir metas sem grandes significados
(meio-termo)
Na perseguição das metas, o convite aceito significa um pequeno respeito.
São capazes de manter alta exatidão em longos períodos de trabalho detalhado.
Suscetíveis a rotinas detalhadas somente por curtos períodos.
São autoridades dentro dos limites de uma dada
estrutura. Tomam o controle em situações desestruturadas. São raros os desafios. Oferecem critérios aos desafios, têm pouco respeito
por comportamentos passados. São essenciais para o funcionamento da organização
o tempo todo. Mostram-se sem dúvidas quando geram ideias. Quando colaborando com inovadores fornecem
estabilidade, ordem e continuidade para a sociedade (relacionamento).
Quando colaborando com adaptadores, fornecem orientações das tarefas, o rompimento com o passado e teorias aceitas.
Sensíveis, mantêm a coesão do grupo e cooperam. Insensíveis, oferecem resistência para a coesão do grupo.
Fornecem uma base segura para as operações mais arriscadas do inovador.
Fornecem a dinâmica para ousar as mudanças radicais periódicas.
Quadro 2.3 - Principais características de Adaptadores e Inovadores (Fonte: Adaptado de Kirton, 1976, p. 623)
apresenta o resultado na escala de inovação-adaptação, o que indica uma preferência estável individual por comportamento inovador ou adaptador.
A amplitude de variação da escala criada pelo Modelo de Kirton (1976) apresenta um mínimo de 32 e um máximo de 160. A partir do instrumento de autoavaliação, pode-se obter o estilo adaptador quando os resultados apresentados são menores que 96 e maiores que 32. Já o estilo inovador apresenta resultado maior que a média 96 e menor que 160, conforme se observa na Figura 2.2.
AMPLITUDE DE VARIAÇÃO DOS RESULTADOS NA ESCALA DE
ADAPTAÇÃO -
- INOVAÇÃO
32... 48... 64... 80...
96
... 112... 128... 144... 160
Figura 2.2 - Escala de Adaptação-Inovação de Kirton Fonte: adaptado de Kirton (1976)