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4 FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS: A SEMIÓTICA

4.4 Publicidade fotográfica de moda

4.4.1 Estilos em fotografia de moda

O estilo fotográfico ou modo de fotografar, bastante valorizado no mercado de moda, funda-se na maneira de representar a moda que caracteriza os diferentes fotógrafos que trabalham nesse mercado. Esse estilo se funda em traços vinculados aos responsáveis pela representação da moda em campanhas publicitárias fotográficas, incluindo não só os fotógrafos, como os modelos e todos os que fazem parte do processo de elaboração e construção das publicidades de moda.

Em vista da permanente mudança e aperfeiçoamento, do surgimento de novas tendências, as alterações quanto a forma de elaboração das peças publicitárias de moda estão, como já se referiu, diretamente relacionadas às novas tecnologias. A necessidade de oferta de

novidades impõe ao mercado editorial fotográfico de moda a concorrência com outros setores da publicidade para a conquista da atenção dos consumidores.

Em razão disso, fotógrafos e produtores de moda estão em permanente busca de novidades, para assim apresentar tendências e surpreender. Não há espaço para o banal, para o já conhecido e/ou repetido. Segundo Chiminazzo (2008, p. 449): ―conquistar a atenção dos consumidores é uma tarefa árdua, uma vez que o volume de anúncios aumentou, a concorrência é acirrada e a maioria dos produtos não apresenta mais diferenciais suficientemente marcantes‖. O autor sugere que, em razão da quantidade de estímulos a que está exposto o consumidor, seja necessária a apresentação de uma forma diferenciada ou

contrastante para conquistar a atenção do consumidor, já que o contraste choca e chama a

atenção.

Certamente isso é responsável pelo surgimento, no mercado fotográfico de moda, de tantas tendências que, à primeira vista, chocam, causam estranhamento, para, a seguir, tornarem-se moda, tecerem novos estilos, renovados à medida em que entram em um processo de banalização.

Devido a isso, no campo da fotografia de moda, surgem a cada temporada, novas tendências ou estilos fotográficos, geralmente propostos por renomados fotógrafos e/ou marcas anunciantes, com poder para difundir novas ideias e conceitos. Ao longo dos tempos, uma série desses novos estilos surgiu, desapareceu, atualizou-se servindo de base aos estilos fotográficos vigentes.

No fim dos anos 80, com a era das supermodelos, entra em alta o chamado estilo

lesbian chic, que apresentava mulheres em clima amoroso, em poses sensuais e insinuando

lesbianismo. Ainda hoje, é uma estética muito utilizada por grandes marcas nacionais e internacionais.

Outra tendência fotográfica é a androgenia, que apresenta modelos sexualmente indefinidos, com características femininas e masculinas. As marcas internacionais vêm recorrendo regularmente a essa estética, como se pode ver na campanha de verão 2010 de Jean Paul Gaultier, que exibe a modelo brasileira Raquel Zimermann representando as linhas masculina e feminina da grife, com traços de ambos os gêneros misturados em seu visual.

Uma das mais conhecidas estéticas fotográficas propostas nos anos 90 foi a heroin

chic, apresentando modelos muito magras, pálidas e com aspecto de drogadas, popularizada

pela fotógrafa Corinne Day, que de certa forma, recupera o estilo difundido pela modelo Twiggy, nos anos 60. A expressão foi retirada de uma canção de Lou Reed, proclamando que a heroína é chic. Surgia, assim, um novo padrão de beleza, cujo principal ícone foi a modelo

Kate Moss, que apareceu, com 16 anos, em um ensaio fotográfico de oito páginas, intitulado

The summer of love, na revista The face, que provocou críticas e furor na mídia.

A partir disso, os desfiles, as campanhas publicitárias de moda e todo o setor passaram a exibir modelos de uma magreza extrema, com olhar perdido e caminhar desequilibrado na passarela. A estética autodestrutiva tornou-se tema para além do mundo da moda, quando modelos americanas assumiram o vício em heroína a fim de suportar a fome que passavam para manter o padrão estético de beleza esquálida. Além disso, muitas modelos morreram em decorrência da anorexia, tornando o assunto domínio público, o que movimentou, na época, até mesmo a opinião do presidente Bill Clinton: ele chamou a atenção dos meios de comunicação por difundirem um padrão anoréxico e toxicômano como algo atraente.

Celebridades, médicos, psiquiatras, estilistas, especialistas e muitos representantes do mundo da moda passaram a combater esse padrão estético como forma de conscientizar a população dos malefícios da anorexia, convertida em terceira causa de mortalidade no mundo. Como forma de manifestação de seu repúdio a essas interferências, alguns estilistas passaram a utilizar em seus desfiles, como modelos, mulheres gordas ou que fugiam da extrema magreza. Esse movimento deu origem a um novo padrão estético, marcado pela presença de curvas e aparência saudável, que caracteriza as modelos brasileiras.

A modelo brasileira Gisele Bündchen representa a imagem dessa nova tendência na moda: alta, sarada, bronzeada, aspecto saudável e corpo delineado em curvas, contraria o padrão heroin chic. Servindo de exemplo desse padrão saudável, a modelo foi chamada pelo estilista Alexander MacQueen de The body (O corpo). Com isso, a estética de beleza e glamour retornou à moda, abrindo caminho para outras modelos com essa mesma conformação.

Esses padrões estéticos, como já se referiu, interferem num modo de fotografar, que também obedece aos formatos e estilos pessoais dos fotógrafos, e as alterações tecnológicas. Embora alguns ainda prefiram fotografar em filme ou câmeras analógicas, outros optam pelas câmeras digitais, por grandes formatos; muitos dão preferência à imagem colorida e saturada, outros adotam o estilo p&b ou descolorido. Essas preferências pessoais passam a configurar um estilo fotográfico, um jeito de fotografar, uma moda de constituir a produção publicitária.

Assim, essas tendências surgem e desaparecem a cada temporada, nascidas de padrões já conhecidos, porém renovados com novos estilos, ideias, conceitos, protótipos e comportamentos. A busca pela novidade se funda na necessidade da renovação, na quebra de padrões estabelecidos para, assim, propor outros arquétipos, novos padrões estéticos e de conduta.