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Neste capítulo será apresentada uma análise descritiva dos dados, bem como os resultados obtidos das estimações.

1. Descrição dos dados

No estudo foram utilizadas as PNAD’s referentes ao período de 1981 a 1999. Como a pesquisa não foi realizada nos anos de 1991 e 1994, tais lacunas foram preenchidas por interpolação. Assim, calculou-se a média aritmética das variáveis de interesse para o ano anterior e o ano posterior da observação que estava faltando.

Foram criados dois bancos de dados distintos: um para os salários e outro para as ofertas de trabalho.

No banco dos salários foram mantidos, em cada ano, os trabalhadores do sexo masculino, com idade entre 26 e 60 anos, que exerciam alguma ocupação na semana da entrevista da pesquisa. Realizaram-se as conversões de moedas necessárias nos rendimentos dos trabalhadores para então, estes serem deflacionados a partir de dados do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do IBGE e do IGP (Índice Geral de Preços) do Ministério do Trabalho. Os salários mensais foram convertidos para salários horários a preços constantes em Reais de janeiro de 2002.

Os grupos educacionais foram definidos de forma a terem uma diferença de escolaridade fixa. Sendo assim, consideraram-se no grupo dos não qualificados, os trabalhadores com 4 anos de estudo; o grupo dos trabalhadores com qualificação intermediária compreende aqueles com 11 anos de estudo; qualificados são os que têm 15 anos de estudo.

Os trabalhadores foram divididos também em 7 grupos etários. A divisão realizada foi a mesma que em Card e Lemieux (2001): 26 a 30, 31 a 35, 36 a 40, 41 a 45, 46 a 50, 51 a 55 e 56 a 60 anos.

Por fim, calculou-se a média do logaritmo natural dos salários horários por ano, grupo de idade e grupo de qualificação. Só depois disso é que se preencheram as lacunas dos anos de 1991 e 1994 no banco de dados, através de interpolações.

Assim como os grupos de idade, as coortes dos indivíduos foram definidas para períodos de 5 anos. A primeira corresponde ao período entre os anos de 1921 e 1925. A última coorte compreende os anos de 1971 e 1975.

A amostra possui, no total, 399 observações, sendo 21 observações por ano (7 grupos de idade x 3 níveis de qualificação). Cada grupo de qualificação possui 133 observações, enquanto que cada grupo etário, 57.

A composição das coortes é dada de acordo com a tabela 1:

Tabela 1

Composição das coortes dos indivíduos

Coorte Frequência Percentual

1921-1925 9 2,26 % 1926-1930 24 6,02 % 1931-1935 39 9,77 % 1936-1940 54 13,53 % 1941-1945 57 14,29 % 1946-1950 57 14,29 % 1951-1955 57 14,29 % 1956-1960 48 12,03 % 1961-1965 33 8,27 % 1966-1970 18 4,51 % 1971-1975 3 0,75 %

Fonte: Elaboração própria com dados da Pnad

No banco das ofertas foram mantidos, em cada ano, trabalhadores dos dois sexos, com idade entre 26 e 60 anos, que estavam ou não ocupados na semana da entrevista.

Os grupos etários são os mesmos que foram descritos acima, entretanto, os grupos de qualificação foram constituídos de maneira diferente. Com o objetivo de obter medidas de ofertas de trabalho para toda a população, consideraram-se não qualificados os trabalhadores que tivessem até 4 anos de estudo; trabalhadores com qualificação intermediária, os que tivessem de 5 a 11 anos de estudo; qualificados, os que tivessem ao menos 12 anos de estudo.

Existem duas formas principais na literatura de se medir a oferta de trabalho. Pode-se calcular o total de trabalhadores ou as horas trabalhadas. De acordo com Hammermesh (1993, p. 68), se os trabalhadores são homogêneos e trabalham a mesma quantidade de horas por

período de tempo, a escolha torna-se irrelevante. No entanto, se o número de horas trabalhadas varia por período de tempo, usar o número de trabalhadores como medida da oferta de trabalho pode gerar viés se as horas trabalhadas por cada trabalhador forem correlacionadas com o preço dos fatores ou do produto. Por isso, em estudos com dados de cross-section como este, em que pode existir heterogeneidade de horas entre plantas, firmas ou indústrias, é mais adequado utilizar o número de horas como medida das ofertas de trabalho.

Foram calculadas duas medidas de oferta de trabalho, a primeira baseada em horas trabalhadas e a segunda, no total de trabalhadores.

A primeira medida de oferta foi calculada da seguinte forma: primeiramente ajustou-se o salário horário de cada trabalhador para uma jornada de 44 horas semanais. O procedimento seguinte foi calcular o total de horas semanais trabalhadas em cada célula [Fernandes e Menezes-Filho (2001, p. 8)]. Dividiu-se esse total por 44, para que a medida de oferta represente indivíduos que trabalhem 44 horas por semana.

O próximo passo foi determinar fatores de equivalência para cada nível de qualificação, pois pessoas com o mesmo tipo de qualificação, mas com idades diferentes, não são consideradas substitutas perfeitas na produção. Para trabalhadores não qualificados, utilizou-se como base o salário dos que possuem 4 anos de estudo; para os intermediários, utilizou-se como base o salário dos que têm 11 anos de estudo; para os qualificados, utilizou- se o salário dos que possuem 15 anos de estudo. Foi calculada a média desses salários base por grupo (21 no total). Para cada nível de qualificação, o rendimento de cada célula foi dividido pelo salário base correspondente. Este valor, que é invariante no tempo, constitui o fator de equivalência de cada grupo de indivíduos (7 grupos de idade x 3 grupos de qualificação).

Posteriormente, multiplicou-se o fator de equivalência pelas horas trabalhadas. Somando-se os resultados obtidos por grupo e ano, encontraram-se os valores de oferta de trabalho.

A segunda medida de oferta foi obtida de forma mais simples. Somou-se o número de indivíduos no banco de dados em cada ano, grupo etário e grupo de qualificação, ponderando- se pela variável peso8, para que se obtivessem as ofertas de cada tipo de trabalho.

As duas medidas de oferta encontradas foram comparadas e, apesar de a teoria sugerir a utilização de horas trabalhadas na mensuração de ofertas de trabalho, as duas medidas calculadas se equivaliam. Por essa razão, optou-se por utilizar o número total de indivíduos em cada grupo de qualificação como medida das ofertas de trabalho.

A – Ofertas de trabalho

As figuras 7, 8 e 9 apresentam, respectivamente, o logaritmo natural das ofertas relativas de trabalho entre trabalhadores intermediários e não qualificados, qualificados e intermediários e qualificados e não qualificados para os grupos de idade de 26 a 30 e 46 a 50 anos.

As ofertas relativas de trabalhadores intermediários (5 a 11 anos de estudo) e não qualificados (0 a 4 anos de estudo) crescem para os dois grupos etários ao longo de todo o período analisado. Cabe ressaltar que o grupo de 26 a 30 anos em 1981 tem entre 46 e 50 em 1999, assim, as ofertas relativas desses dois grupos de idade devem possuir valores semelhantes nesses dois anos, desconsiderando-se efeitos migratórios que ocorreram. Por sua vez, a oferta relativa de trabalhadores qualificados (pelo menos 12 anos de estudo) e intermediários decresce para o primeiro grupo etário (26-30) até 1996, quando parece ter ocorrido uma mudança em sua tendência a partir de 1997. Para o outro grupo de idade (46-50), a oferta relativa cresce até o final da década de 80, diminui levemente no início dos anos 90, torna a crescer até meados da década, quando volta a cair ligeiramente.

A oferta relativa entre qualificados e não qualificados aumenta para os dois grupos etários em questão. De acordo com a figura 9, no entanto, pode-se afirmar que a oferta relativa cresceu a uma taxa maior para a geração mais antiga. De qualquer forma, pode-se inferir pelas figuras 7 e 9, que a parcela de pessoas com baixa escolaridade na população brasileira está diminuindo.

Fonte: Elaboração própria com dados da Pnad

Fonte: Elaboração própria com dados da Pnad

Ofertas relativas de trabalho entre trabalhadores intermediários e não qualificados - Grupos de idade 26-30 e 46-50 1971-1975 1951-1955 1951-1955 1931-1935 -2.25 -1.75 -1.25 -0.75 -0.25 0.25 0.75 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Ano

Índice do log das ofertas relativas

26-30 46-50

Figura 7

Figura 8

Ofertas relativas de trabalho entre trabalhadores qualificados e intermediários - Grupos de idade 26-30 e 46-50 1971-1975 1951-1955 1931-1935 1951-1955 -1.95 -1.85 -1.75 -1.65 -1.55 -1.45 -1.35 -1.25 -1.15 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Ano

Índice do log das ofertas relativas

-1.25 -1.2 -1.15 -1.1 -1.05 -1 -0.95 -0.9 -0.85 26-30 46-50

A figura 10 contém a estrutura etária das ofertas relativas de trabalho entre intermediários e não qualificados em três instantes do tempo: 1981, 1990 e 1999. Percebe-se claramente que, para todos os grupos etários, a oferta relativa entre intermediários e não qualificados está aumentando ao longo do período em estudo. O exercício que se faz é colocar, no mesmo gráfico, as ofertas relativas de trabalho de todos os grupos de idade em um mesmo ano.

Fonte: Elaboração própria com dados da PNAD

A figura 11 apresenta a estrutura etária das ofertas relativas entre trabalhadores qualificados e intermediários para os mesmos anos. Para os três grupos de idade mais jovens, percebe-se uma redução da oferta relativa. Para os grupos de idade mais velhos, parece que a oferta relativa cresceu ao longo dos anos. Ou seja, a figura sugere que as coortes mais novas apresentam uma proporção menor de pessoas com ensino superior.

Por fim, a figura 12 caracteriza a mesma situação que as figuras 10 e 11, mas para ofertas relativas de trabalhadores qualificados e não qualificados. Assim como no caso das

Ofertas relativas de trabalho entre trabalhadores qualificados e não qualificados - Grupos de idade 26-30 e 46-50 1971-1975 1951-1955 1931-1935 1951-1955 -3.3 -2.8 -2.3 -1.8 -1.3 -0.8 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Ano

Índice do log das ofertas relativas

26-30 46-50

figuras 7 e 9, conclui-se que está diminuindo a proporção de indivíduos com baixa qualificação na força de trabalho brasileira.

Fonte: Elaboração própria com dados da Pnad

Estrutura etária das ofertas relativas de trabalho entre trabalhadores intermediários e não qualificados -2.5 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 26-30 31-35 36-40 41-45 46-50 51-55 56-60 Grupo de idade

Índice do log das ofertas relativas

1981 1990 1999

Fonte: Elaboração própria com dados da Pnad

Fonte: Elaboração própria com dados da Pnad

Estrutura etária das ofertas relativas de trabalho entre trabalhadores qualificados e intermediários -1.85 -1.75 -1.65 -1.55 -1.45 -1.35 -1.25 -1.15 -1.05 -0.95 -0.85 26-30 31-35 36-40 41-45 46-50 51-55 56-60 Grupo de idade

Índice do log das ofertas relativas 1981 1990 1999

Estrutura etária das ofertas relativas de trabalho entre trabalhadores qualificados e não qualificados -3.8 -3.3 -2.8 -2.3 -1.8 -1.3 -0.8 26-30 31-35 36-40 41-45 46-50 51-55 56-60 Grupo de idade

Índice do log das ofertas relativas

1981 1990 1999

Figura 11

B – Salários

A figura 13 ilustra o diferencial médio de salários entre trabalhadores intermediários e não qualificados. Para o grupo de idade de 26 a 30 anos, o diferencial cresce em fins da década de 80, mas cai logo em seguida, no início da década seguinte. O mesmo diferencial volta a declinar levemente no final dos anos 90. A situação do grupo de pessoas com idade entre 46 e 50 anos é um pouco diferente. Para alguns anos, o diferencial médio de salários chega a crescer, mas para o período com um todo, a trajetória dos mesmos é de queda. O que se pode concluir da figura é que as coortes mais velhas estão experimentando uma redução nos salários relativos. Fernandes e Menezes-Filho (2001) sugerem em seu artigo que a demanda por trabalhadores com nível intermediário de qualificação cresceu após a abertura comercial do início da década de 90. Como o diferencial de salários médios entre esses trabalhadores e os não qualificados diminuiu ao longo da década de 90, há indícios de que a oferta aumentou de forma a mais do que compensar o aumento de demanda.

Percebe-se, pela figura 14, que os diferenciais médios de salários entre qualificados e intermediários para os indivíduos com idade entre 26 e 30 anos oscila em torno de 0,7 durante todo o período de análise. Apesar de muitas oscilações ao longo dos anos, o diferencial para os trabalhadores com idade entre 46 e 50 anos possui uma trajetória crescente no período.

Fonte: Elaboração própria com dados da Pnad

Fonte: Elaboração própria com dados da Pnad

Diferenciais médios de salários entre trabalhadores intermediários e não qualificados - Grupos de idade 26-30 e 46-50 1971-1975 1951-1955 1951-1955 1931-1935 0.7 0.75 0.8 0.85 0.9 0.95 1 1.05 1.1 1.15 1.2 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Ano

Índice do log dos salários relativos

26-30 46-50

Diferenciais médios de salários entre trabalhadores qualificados e intermediários - Grupos de idade 26-30 e 46-50 1971-1975 1951-1955 1931-1935 1951-1955 0.35 0.45 0.55 0.65 0.75 0.85 0.95 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Ano

Índice do log dos salários relativos 26-30 46-50

Figura 13

A figura 15 ilustra os diferenciais de salários entre trabalhadores qualificados e não qualificados. Para os que possuem entre 26 e 30 anos, há uma leve tendência de queda no diferencial, embora este oscile muito ao longo dos anos, com uma forte subida no final da década de 80, mas com uma queda ainda mais forte no início da de 90. Para os indivíduos de 46 a 50 anos, não há uma trajetória clara do diferencial, sendo que este varia muito também.

Fonte: Elaboração própria com dados da Pnad

Adotando aqui o mesmo procedimento empregado no caso das ofertas relativas de trabalho, comparou-se a evolução dos salários relativos por grupo de idade em três anos: 1981, 1990 e 1999, ou seja, no início, meio e fim do período considerado no estudo.

A figura 16 contém a estrutura etária dos diferenciais médios de salários entre intermediários e não qualificados. A conclusão a que se chega pela observação da figura é que os diferenciais de salários entre esses dois grupos de qualificação estão diminuindo. A curva do ano de 1999 passa abaixo das outras para todos os grupos de idade, excetuando-se o grupo mais velho (56-60 anos).

Diferenciais médios de salários entre trabalhadores qualificados e não qualificados - Grupos de idade 26-30 e 46-50 1971-1975 1951-1955 1931-1935 1951-1955 1.4 1.45 1.5 1.55 1.6 1.65 1.7 1.75 1.8 1.85 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Ano

Índice do log dos salários relativos

26-30 46-50

Fonte: Elaboração própria com dados da Pnad

Fenômeno oposto parece estar ocorrendo para os diferenciais de salários entre trabalhadores qualificados e intermediários (figura 17). Neste caso, a curva de diferenciais de salários por grupo de idade está mais alta no ano de 1999.

A situação dos diferenciais de salários entre qualificados e não qualificados (figura 18) é parecida com a observada para os intermediários e não qualificados. Ou seja, tais diferenciais diminuem ao longo dos anos.

Observando as figuras 16, 17 e 18, pode-se deduzir que os desníveis salariais aumentaram somente para os trabalhadores qualificados e intermediários. Nos outros dois casos, os dados mostram que os referidos desníveis apresentam trajetória de queda. Esses fatos estão de acordo com o pressuposto de que as ofertas relativas de trabalho teriam um papel importante na explicação dos diferenciais de salários dos trabalhadores na economia brasileira.

Estrutura etária dos diferenciais médios de salários entre trabalhadores intermediários e não qualificados 0.7 0.8 0.9 1 1.1 1.2 1.3 26-30 31-35 36-40 41-45 46-50 51-55 56-60 Grupo de idade

Índice do log dos salários relativos

1981 1990 1999

Fonte: Elaboração própria com dados da Pnad

Fonte: Elaboração própria com dados da Pnad

Estrutura etária dos diferenciais médios de salários entre trabalhadores qualificados e intermediários 0.5 0.55 0.6 0.65 0.7 0.75 0.8 0.85 0.9 26-30 31-35 36-40 41-45 46-50 51-55 56-60 Grupo de idade

Índice do log dos salários relativos

1981 1990 1999

Figura 17

Estrutura etária dos diferenciais médios de salários entre trabalhadores qualificados e não qualificados 1.4 1.45 1.5 1.55 1.6 1.65 1.7 1.75 1.8 1.85 26-30 31-35 36-40 41-45 46-50 51-55 56-60 Grupo de idade

Índice do log dos salários relativos

1981 1990 1999

2. Evolução dos diferenciais de salários e das ofertas relativas por

grupos de idade

Nesta seção serão realizadas decomposições dos diferenciais de salários e das ofertas relativas de trabalho observadas ao longo do período 1981-1999. Tais decomposições serão realizadas em efeitos de idade, tempo e coorte.

A – Diferenciais de salários por idade

As tabelas 2, 3 e 4 apresentam estimativas de regressões de diferenciais de salários em efeitos de tempo (1981-1985, 1986-1990, 1991-1995 e 1996-1999) para cada grupo etário de indivíduos. O objetivo desse tipo de análise é verificar a trajetória dos prêmios salariais nos três casos considerados.

As estimativas para o Brasil baseiam-se em diferenças do logaritmo natural dos salários horários médios entre trabalhadores com ensino superior completo (15 anos de estudo) e ensino médio (11 anos de estudo), ensino superior completo e ensino fundamental 1.º ciclo (4 anos de estudo), ensino médio e ensino fundamental 1.º ciclo.

Uma característica importante dessas estimativas é que elas representam diferenciais de salários entre indivíduos com a mesma idade e que frequentaram a escola no mesmo período de tempo. Ou seja, pelo fato desses indivíduos pertencerem a uma mesma coorte, eles estavam sujeitos às mesmas influências em suas decisões com respeito a frequentar ou não o ensino superior. Uma provável desvantagem é que são ignoradas diferenças de experiência no mercado de trabalho entre pessoas de mesma idade que possuam níveis diferentes de escolaridade. De acordo com Card e Lemieux (2001, p. 716), segundo a função tradicional de rendimentos de capital humano, por exemplo, poderia-se esperar que os prêmios salariais para pessoas de mesma idade crescessem ao longo do ciclo de vida. Porém, como o modelo econométrico utilizado leva em consideração mudanças sistemáticas dos efeitos de idade na estrutura dos prêmios salariais, e dado o interesse em se buscar influências de coortes nas mudanças dos diferenciais de salários, é razoável comparar os diferenciais de salários para indivíduos com a mesma idade.

As entradas das tabelas 2, 3 e 4 contêm muitas informações sobre a evolução dos desníveis salariais. Por exemplo, comparações das colunas das tabelas mostram a evolução dos

diferenciais de salários ao longo do tempo para cada grupo de idade. Ao longo das linhas, é possível analisar a estrutura etária dos diferenciais de rendimentos em um dado instante do tempo.

Tabela 2

Decomposição dos diferenciais de salários entre trabalhadores homens (intermediários e não qualificados) Ano\Idade 26-30 31-35 36-40 41-45 46-50 51-55 56-60 1981-1985 0.863 0.936 0.992 1.027 1.069 1.047 1.071 (0.012) (0.004) (0.012) (0.016) (0.025) (0.018) (0.061) 1986-1990 0.877 0.902 0.960 0.945 1.053 0.989 0.983 (0.029) (0.020) (0.032) (0.015) (0.026) (0.044) (0.068) 1991-1995 0.824 0.840 0.863 0.838 0.858 0.857 0.857 (0.013) (0.012) (0.019) (0.015) (0.020) (0.031) (0.014) 1996-1999 0.789 0.879 0.826 0.868 0.853 0.856 0.911 (0.019) (0.011) (0.021) (0.009) (0.029) (0.031) (0.033)

Fonte: Elaboração própria.

Desvios padrão entre parênteses. Entradas da tabela são estimativas do log da razão dos salários médios entre trabalhadores com 11 anos de estudo e 4 anos de estudo. Modelos são estimados por mínimos quadrados ponderados, em que os pesos são o inverso da variância amostral do logaritmo natural dos salários relativos.

Tabela 3

Decomposição dos diferenciais de salários entre trabalhadores homens (qualificados e intermediários) Ano\Idade 26-30 31-35 36-40 41-45 46-50 51-55 56-60 1981-1985 0.693 0.724 0.721 0.671 0.671 0.664 0.678 (0.014) (0.019) (0.013) (0.032) (0.042) (0.021) (0.081) 1986-1990 0.744 0.762 0.730 0.723 0.641 0.708 0.722 (0.022) (0.022) (0.013) (0.031) (0.037) (0.032) (0.064) 1991-1995 0.749 0.760 0.745 0.769 0.821 0.691 0.770 (0.015) (0.020) (0.041) (0.031) (0.026) (0.032) (0.078) 1996-1999 0.761 0.796 0.832 0.778 0.828 0.773 0.943 (0.036) (0.017) (0.039) (0.016) (0.043) (0.033) (0.098)

Fonte: Elaboração própria.

Desvios padrão entre parênteses. Entradas da tabela são estimativas do log da razão dos salários médios entre trabalhadores com 15 anos de estudo e 11 anos de estudo. Modelos são estimados por mínimos quadrados ponderados, em que os pesos são o inverso da variância amostral do logaritmo natural dos salários relativos.

Tabela 4

Decomposição dos diferenciais de salários entre trabalhadores homens (qualificados e não qualificados) Ano\Idade 26-30 31-35 36-40 41-45 46-50 51-55 56-60 1981-1985 1.556 1.659 1.713 1.691 1.727 1.708 1.687 (0.016) (0.016) (0.020) (0.028) (0.025) (0.013) (0.067) 1986-1990 1.619 1.662 1.687 1.665 1.684 1.688 1.668 (0.039) (0.028) (0.033) (0.034) (0.045) (0.037) (0.034) 1991-1995 1.573 1.600 1.598 1.604 1.677 1.545 1.611 (0.027) (0.029) (0.025) (0.037) (0.037) (0.057) (0.092) 1996-1999 1.546 1.673 1.651 1.645 1.671 1.621 1.826 (0.037) (0.016) (0.028) (0.017) (0.026) (0.009) (0.066)

Fonte: Elaboração própria.

Desvios padrão entre parênteses. Entradas da tabela são estimativas do log da razão dos salários médios entre trabalhadores com 15 anos de estudo e 4 anos de estudo. Modelos são estimados por mínimos quadrados ponderados, em que os pesos são o inverso da variância amostral do logaritmo natural dos salários relativos.

B – Efeitos de coorte nos prêmios salariais

Um indicador potencial da presença de efeitos específicos de idade na estrutura dos diferenciais de salários é o efeito de coorte. Sob a hipótese de que diferentes grupos de idade sejam perfeitamente substitutos, poder-se-ia esperar que os desníveis salariais para cada grupo variassem ao longo do tempo de acordo com um modelo que seria identificado com efeitos de idade e tempo. Assumindo a hipótese alternativa de que os diferentes grupos etários não sejam perfeitamente substitutos e que as ofertas relativas destes diferentes grupos cresçam ou decresçam a taxas diferentes, é razoável supor que efeitos de coorte tenham um papel importante na explicação da evolução dos diferenciais de salários ao longo do tempo.

As tabelas 5, 6 e 7 apresentam uma investigação do papel potencial desses efeitos de coorte em explicar os diferenciais de salários das tabelas 2, 3 e 4 e das figuras 13, 14 e 15. Os modelos de regressão representados nas tabelas 5, 6 e 7 são da forma:

jt j t t j jt a d c e r = + + + (19)

onde rjtconsiste no diferencial de salário para o grupo de idade j no ano t, ajrepresenta um

conjunto de efeitos de idade (intervalos de 5 anos), d são efeitos de tempo (intervalos de 5 t anos), ctjconstituem efeitos de coorte (intervalos de 5 anos) e ejtrepresenta uma combinação

Tabela 5

Decomposição dos diferenciais de salários entre trabalhadores homens (intermediários e não qualificados)

(1) (2) (3) (4) Efeitos de tempo 1981-1985 1.043 0.929 1.144 0.927 (0.029) (0.091) (0.050) (0.091) 1986-1990 0.999 0.915 1.130 0.912 (0.029) (0.078) (0.055) (0.078) 1991-1995 0.887 0.814 1.030 0.811 (0.023) (0.068) (0.057) (0.069) 1996-1999 0.894 0.829 1.045 0.824 (0.024) (0.065) (0.059) (0.065) Efeitos de idade 26-30 -0.119 -0.012 -0.012 -0.016 (0.029) (0.065) (0.066) (0.065) 31-35 -0.070 0.043 0.043 0.040 (0.027) (0.058) (0.058) (0.058) 36-40 -0.044 0.071 0.071 0.069 (0.027) (0.050) (0.051) (0.051) 41-45 -0.036 0.060 0.060 0.058 (0.026) (0.042) (0.042) (0.042) 46-50 0.008 0.082 0.082 0.080 (0.029) (0.035) (0.035) (0.035) 51-55 -0.016 0.030 0.030 0.029 (0.030) (0.030) (0.030) (0.030) 56-60 Efeitos de coorte 1921-1925 1926-1930 0.087 -0.128 0.089 (0.091) (0.065) (0.091) 1931-1935 0.048 -0.167 0.051 (0.071) (0.059) (0.072) 1936-1940 0.039 -0.176 0.043 (0.061) (0.063) (0.061) 1941-1945 0.011 -0.204 0.015 (0.050) (0.072) (0.051) 1946-1950 -0.032 -0.248 -0.027 (0.043) (0.075) (0.043) 1951-1955 -0.038 -0.253 -0.032 (0.033) (0.083) (0.034) 1956-1960 -0.054 -0.269 -0.047 (0.027) (0.089) (0.027) 1961-1965 0.006 -0.209 0.013 (0.020) (0.099) (0.021) 1966-1970 -0.215 (0.104) 1971-1975 Número de observações 133 129 132 130 R2 0.995 0.996 0.996 0.996

Fonte: Elaboração própria.

Desvios padrão entre parênteses. Modelos são estimados por mínimos quadrados ponderados, em que os pesos são o inverso da variância amostral do logaritmo natural dos salários relativos. (1) Especificação inclui efeitos de tempo e idade. (2) Especificação inclui efeitos de tempo, idade e coorte (exceto as primeira e última coortes da amostra). (3) Especificação inclui efeitos de tempo, idade e coorte (exceto a primeira coorte da amostra). (4) Especificação inclui efeitos de tempo, idade e coorte (exceto a última coorte da amostra).

Tabela 6

Decomposição dos diferenciais de salários entre trabalhadores homens (qualificados e intermediários)

(1) (2) (3) (4) Efeitos de tempo 1981-1985 0.723 1.036 0.515 1.034 (0.040) (0.113) (0.059) (0.113) 1986-1990 0.754 1.016 0.495 1.013 (0.039) (0.100) (0.064) (0.100) 1991-1995 0.793 1.015 0.494 1.012 (0.041) (0.087) (0.068) (0.087) 1996-1999 0.852 1.049 0.528 1.044 (0.049) (0.078) (0.075) (0.078) Efeitos de idade 26-30 -0.041 -0.272 -0.272 -0.277 (0.042) (0.082) (0.082) (0.081) 31-35 -0.018 -0.232 -0.232 -0.236 (0.042) (0.073) (0.073) (0.073) 36-40 -0.023 -0.207 -0.207 -0.210 (0.043) (0.067) (0.067) (0.066) 41-45 -0.044 -0.193 -0.193 -0.195 (0.043) (0.058) (0.058) (0.058) 46-50 -0.035 -0.145 -0.145 -0.146 (0.045) (0.051) (0.051) (0.051) 51-55 -0.071 -0.130 -0.130 -0.131 (0.043) (0.042) (0.042) (0.042) 56-60 Efeitos de coorte 1921-1925 1926-1930 -0.257 0.263 -0.255 (0.116) (0.072) (0.116) 1931-1935 -0.269 0.252 -0.266 (0.100) (0.073) (0.100) 1936-1940 -0.153 0.367 -0.149 (0.092) (0.081) (0.093) 1941-1945 -0.139 0.381 -0.135 (0.068) (0.089) (0.069) 1946-1950 -0.079 0.442 -0.074 (0.057) (0.095) (0.057) 1951-1955 -0.071 0.449 -0.065 (0.044) (0.102) (0.044) 1956-1960 -0.023 0.497 -0.016 (0.035) (0.111) (0.035) 1961-1965 0.001 0.522 0.009 (0.27) (0.120) (0.027) 1966-1970 0.521 (0.128) 1971-1975 Número de observações 133 129 132 130 R2 0.987 0.990 0.989 0.990

Fonte: Elaboração própria.

Desvios padrão entre parênteses. Modelos são estimados por mínimos quadrados ponderados, em que os pesos são o inverso da variância amostral do logaritmo natural dos salários relativos. (1) Especificação inclui efeitos de tempo e idade. (2)

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