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De acordo com Pacheco (2006) as indústrias do setor de curtume utiliza para o beneficiamento do couro um grande volume de água, o qual é destinado a diversos processos além desse montante de água, uma alta demanda de produtos químicos. Em função desses fatores, tem-se um significativo volume de despejo de águas residuárias com altos teores de proteínas solúveis e produtos químicos utilizados para sua produção. O lodo produzido numa indústria de curtume é oriundo dos efluentes resultantes dos diversos processos de beneficiamento das peles. Estes, efluentes, são submetidos às Estações de Tratamento de Efluentes (ETE) originando um lodo primário com alto teor de matéria orgânica, em função das próprias peles além de resíduos sólidos perigosos.

O processo de curtimento utiliza sulfato básico de cromo, com teor de 26% de óxido de cromo, sendo absorvido cerca de 60 a 80% pelo couro e os 20 a 40% restantes ficam no banho residual (GUIMARÃES, 2008). Ainda sim, Guimarães (2008) e Basegio et. al., (2009), afirmam que o beneficiamento das peles de couro é o processo que torna possível a estabilização da pele contra o calor úmido, a degradação enzimática e termomecânica.

Em virtude da grande importância da indústria do couro no Brasil, Abreu e Toffoli (2009) ressaltam que, aproximadamente, 90% da economia resultante da produção de couro se dar através do beneficiamento das peles por processos que utilizam o cromo. Já Basegio et al., (2009), estimam que cada pele gera uma média de 7,5 kg de resíduos de cromo totalizando, aproximadamente, 330.000 toneladas de resíduos de cromo por ano no Brasil.

É conveniente ressaltar que no processamento de 1000 kg de pele salgada é gerado cerca de 200 a 250 kg de couros acabados; que corresponde a 600 kg de resíduos sólidos demonstrando o forte poder poluidor (PACHECO, 2005). Nunes et al.,(2012) ressalta que, em função da demanda expressiva de resíduos sólidos nesse setor, é importante que haja investimentos em tecnologias que proponham tratamentos específicos, na busca de minimizar os impactos causados pelos resíduos sólidos.

De acordo com Nunes et al., (2012), para cada pele de couro processada é gerado, em torno 12 kg de lodo, sendo o lodo proveniente da etapa do caleiro e o lodo primário oriundo da Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) os gerados em maior quantidade. Ainda sim, é conveniente ressaltar que, se uma pele “in natura” apresenta, em média, 50 kg, 20 peles somaram um total de 1000 kg de peles que resultaram, aproximadamente, em 250 kg de couro processado e geram 600 kg de resíduos. Logo, 20 peles correspondem à 1000 kg, que geram 2400 kg de lodo de curtume de acordo com Gamba (2012), Martines (2005) e Class e Maia (1994).

De modo geral, as características desses lodos variam em função de fatores como: tipo de pele a ser processada, tecnologia empregada no processo de beneficiamento e, por fim o tipo de sistema adotado pela indústria de curtume para tratar os efluentes gerados.

2.5 ATRIBUTOS DO LODO DE CURTUME

Em conformidade a ABNT – NBR 10004 (2004ª) frente à definição de resíduos sólidos, os resíduos sólidos de curtumes são classificados como Classe I - Perigosos, desse modo compromete o meio ambiente em virtude da presença de cromo. Portanto, é conveniente ressaltar que após todo o processo fabril do couro, além de resíduos líquidos são também lançados no meio ambiente retalho de couro, que leva um tempo considerável para ser degradados, fazendo com que o solo fique sem uso por várias

gerações (NUNES et al., 2012). Entretanto a presença de cromo, tanto nos resíduos sólidos gerados quantos nos efluentes, é prejudicial ao meio ambiente e a saúde de todos os seres vivos.

Monteiro Neto et al., (2010) propôs um estudo no dado curtume localizado na cidade de Franca, estado de São Paulo – Brasil, no qual avaliou a incidência de aberrações cromossômicas em linfócitos periféricos de trabalhadores expostos cronicamente a riscos químicos presentes no processamento do couro e nos resíduos produzidos. E de acordo com Monteiro Neto et al., (2010) foi possível constatar que a exposição recorrente da atividade laboral dos trabalhadores de curtumes a diversos produtos dentre eles tintas, corantes e ácidos além de dos resíduos gerados e, sobretudo, um fator potencial de risco o qual propicia o desenvolvimento de doenças associadas à danos genéticos.

A Tabela 3, mostra a caracterização físico-química do lodo de curtume frente a Tavares et al., (2013).

Tabela 3. Caracterização físico-química do lodo de curtume.

Parâmetros Unidades Valores

pH - 8,6 Fósforo (P) mg.kg-1 6,6 Nitrogênio (N) mg.kg-1 20,4 Potássio (K) mg.kg-1 2,2 Cálcio (Ca) mg.kg-1 68 Magnésio (Mg) mg.kg-1 4,8 Sódio (Na) mg.kg-1 26 Enxofre (S) mg.kg-1 9,7 Cromo (Cr) mg.kg-1 19,82

Carbono Orgânico (CO) mg.kg-1 305,6

Matéria Orgânica (MO) mg.kg-1 526,9

FONTE: Tavares et al., 2013

De acordo com a Tabela 3, valores altos foram detectados por Tavares et al., (2013), para os parâmetros analisados principalmente para o metal cromo e ao parâmetro matéria orgânica. Entretanto, a proposta de Tavares (2013) é a utilização de um lodo de curtume para avaliar as propriedades químicas do solo.

Já na Tabela 4, Muniz et al., (2001), propuseram a caracterização física do lodo de curtume após aplicar o tratamento utilizando do processo de codisposição aeróbia. Tabela 4.Caracterização física do Lodo de Curtume do CTCC Albano Franco - CG/PB em 2001.

Parâmetros Unidades Valores

pH - 6,50

Umidade a 105ºC % 21,0

ST % 79,0

STV a 550 º C % 39,7

STF a 550ºC % 60,3

FONTE: Muniz et al., 2001

De acordo com os parâmetros analisados por Muniz (2001), o lodo do Curtume Albano Franco é, de fato, caracterizado como um resíduo perigoso em virtude dos metais pesados utilizados no processamento das peles. Neste caso, essa classificação é confirmada em virtude do alto teor de sólidos totais decorrentes dos processos além da alta carga de matéria orgânica oriunda da própria constituição das peles.

Na Tabela 5 encontram-se os valores referentes à caracterização física do lodo de curtume do CTCC Albano Franco coletado em 2014 e submetido à tratamento de estabilização por solidificação (E/S).

Tabela 5. Caracterização Física do Lodo de Curtume do CTCC em 2014 Parâmetros Unidades Valores

pH - 8,25

Umidade a 105ºC % 17,3

ST % 82,6

STV a 550 º C % 19,2

STF a 550ºC % 81

FONTE: Dados da pesquisa, (2017)

Nas Tabelas 4 e 5 observou-se que, num período correspondente a pouco mais de uma década de caracterização do lodo do mesmo curtume, o pH sofreu modificações, passando de meio ácido para básico bem como a umidade que teve uma diminuição. Com relação aos demais parâmetros, verificou-se um aumento considerável apenas para

os Sólidos Totais, passando de 79% para 82,6%. e Sólidos Totais Fixos, passando de 39,7% para 81%. Ainda sim, a classificação frente aos parâmetros físico-químicos dos constituintes dos resíduos sólidos só será eficiente a partir das análises físico-químicas do lixiviado cujas concentrações obtidas serão comparadas com os limites máximos estabelecidos pela ABNT – NBR 10005, 2004ª e CONAMA, 2011.