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3.1 Da estratégia à gestão estratégica nas organizações públicas de ensino

3.1.1 Estratégia

Em um cenário de constantes mudanças, é incessante a busca por vantagem competitiva e resultados por parte das organizações. Cumprir a missão, alcançar a visão de futuro e sustentar o processo de criação de valor exige a definição de um conjunto de ações a serem executadas para que se obtenham resultados e, por conseguinte, o desenvolvimento organizacional. Esse conjunto de ações por ora pode ser definido como estratégia, porém o termo estratégia não possui uma definição única e remete a diferentes abordagens conceituais. Para Mintzberg (2006, p. 23),

Não há uma definição única, universalmente aceita. Vários autores e dirigentes usam o termo diferentemente; por exemplo, alguns incluem metas e objetivos como parte da estratégia, enquanto outros fazem distinções claras entre elas.

Para uma organização obter vantagem frente às tendências de mercado e, até mesmo, aproveitar oportunidades, é de suma importância o desenvolvimento, a implementação e a avaliação de estratégias. Tais procedimentos são essenciais para uma administração bem-sucedida. No que se refere à competitividade, com uma visão voltada para a indústria, Porter (1999, p. 52) destaca que “o lema da

estratégia competitiva é ser diferente. Significa escolher de forma deliberada, um conjunto diferente de atividades para proporcionar um mix único de valores”.

Com o passar do tempo, princípios e conceitos de estratégia foram gradativamente produzidos, e atualmente a palavra é utilizada livremente pelos gestores das organizações. “Acontece que estratégia é uma dessas palavras que inevitavelmente definimos de uma forma, mas frequentemente usamos de outras” (MINTZBERG, 2006, p. 24), e que consequentemente pode tomar diversos sentidos no âmbito organizacional.

Logo, o conceito de estratégia pode depender de como a organização o adota; pode, por exemplo, estar relacionado à sua forma de atuar no mercado, podendo, para algumas organizações, possuir relação com os planos, enquanto para outras ter relação com o seu padrão de agir. Mintzberg (2006) afirma que a explicitação dessas múltiplas definições pode auxiliar as pessoas a moverem-se no campo da estratégia, e apresenta cinco definições (5 Ps) e suas inter-relações: estratégia como plano, pretexto, padrão, posição e perspectiva.

Para o autor, a definição frequentemente utilizada é de que a estratégia é como um plano, ou seja, um conjunto de regras para lidar com determinadas situações que norteiam uma organização. Criada antes das ações às quais se aplicarão, a estratégia, nesse caso, é desenvolvida conscientemente e propositalmente deliberada. Logo, a estratégia como um plano é resultante do que foi planejado e pretendido. Tal conceito comumente é utilizado no campo militar, no qual a estratégia está associada à criação de um plano de guerra.

Sendo um plano, a estratégia também pode ser um pretexto, ou seja, uma manobra para superar um concorrente. Nesse sentido, compreende-se a estratégia através de seus aspectos mais dinâmicos e competitivos. Para Porter (2004, p. 3) “a essência da formulação de uma estratégia competitiva é relacionar uma companhia ao seu ambiente”; assim, é necessário identificar as regras competitivas em vigor para posteriormente desenvolvê-la. A estratégia como pretexto pode ser utilizada, por exemplo, para confundir um concorrente.

Definir a estratégia como um plano pode não ser suficiente, pois, se a estratégia pode ser pretendida, logo também pode ser realizada, abrangendo também o resultado. Assim, a estratégia pode ser definida também como um padrão em uma corrente de ações. Nesse sentido, Quinn (2001, p. 20) conceitua estratégia

como “o padrão ou plano que integra as principais metas, políticas e sequência de ações de uma organização em um todo coerente”.

As estratégias como padrão muitas vezes surgem sem intenção, ou seja, elas são emergentes: enquanto o plano denomina-se como estratégia pretendida, o padrão pode-se denominar como a estratégia realizada. “Assim, as definições de estratégia como plano e padrão podem ser muito independentes uma da outra: planos podem não se realizar, enquanto padrões podem aparecer sem ser preconcebidos”. (MINTZBERG, 2006, p. 24).

A quarta definição é a estratégia como posição, que consiste na forma de localizar a empresa quanto ao seu meio ambiente mais amplo, buscando melhorar seu posicionamento competitivo. Para Porter (1999, p. 63), “estratégia é criar uma posição exclusiva e valiosa, envolvendo um diferente conjunto de atividades”. Nessa perspectiva de competição, algumas organizações utilizam o seu posicionamento em sua área de atuação, transformando essa posição em uma estratégia que permita não só sua autodefesa, mas também a sua sustentabilidade.

Observe que essa definição de estratégia pode ser compatível com qualquer uma (ou todas) das anteriores; pode-se pré-selecionar uma posição e aspirar a ela por meio de um plano (ou pretexto), e/ou ela pode ser alcançada, talvez até encontrada, por meio de um padrão de comportamento. (MINTZBERG, 2006, p. 26).

Por fim, a estratégia como perspectiva trata da estratégia como uma abstração existente apenas na mente das pessoas interessadas. Em outras palavras, enquanto a estratégia como posição olha para fora da organização (ambiente), a estratégia como perspectiva olha para dentro. “Nesse aspecto, estratégia é para a organização aquilo que a personalidade é para o indivíduo”. (MINTZBERG, 2006, p. 26). Assim, todas as estratégias não passam de abstrações existentes na mente dos estrategistas.

Consequentemente, a essência da estratégia - seja militar, diplomática, empresarial, esportiva, (ou) política... - é construir uma postura que seja tão forte (e potencialmente flexível) de maneira seletiva para que a organização possa atingir suas metas, independentemente de como forças externas imprevistas possam de fato interagir quando chega a hora. (MINTZBERG et al., 2006, p. 33).

As estratégias então resultam da dinâmica das organizações, podendo ser desde muito deliberadas (plenamente realizadas) até totalmente emergentes

(quando o padrão realizado não é o padrão pretendido), ou seja, as estratégias tomam formas (emergem), ou são intencionalmente formuladas (deliberadas). Para Mintzberg (1987, p. 69),4 “na prática, com certeza, toda estratégia caminha com dois pés, um deliberado, o outro emergente. Da mesma forma que a formulação puramente deliberada impede o aprendizado, a formulação puramente emergente impede o controle”. Nesse contexto, não existe uma estratégia puramente deliberada ou puramente emergente. Nenhuma organização sabe o suficiente para resolver tudo antecipadamente, ignorando o aprendizado do caminho.

Embora a estratégia seja definida de diferentes formas, é importante destacar que, no âmbito das organizações, especialmente as públicas, objeto de estudo desta pesquisa, predomina o entendimento da estratégia como um plano, uma vez que as estratégias são comumente realizadas de forma pensada e consciente, visando definir um curso de ações necessárias para alcançar os objetivos pretendidos pela organização, sendo, então, previamente planejadas.