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Estratégia de Cadeia Lean x Estratégia de Cadeia Ágil

3. CADEIAS DE SUPRIMENTOS ÁGEIS

3.5 ESTRATÉGIAS DE GESTÃO DA CADEIA DE

3.5.2 Estratégia de Cadeia Lean x Estratégia de Cadeia Ágil

Na literatura de manufatura, logística e cadeia de suprimentos têm-se destacado nas últimas décadas dois modelos, que têm encontrado seus defensores e opositores. Estes modelos – da Agilidade e do Pensamento Enxuto - expressam paradigmas novos e distintos, porém não totalmente excludentes.

Considera-se relevante para a contextualização e embasamento teórico desta tese, que seja feita a comparação conceitual destes modelos; permitindo estabelecer de maneira clara o escopo de atuação das cadeias ágeis, além de demonstrar sua possibilidade de interação com os conceitos “Lean” em determinadas situações, mas também sua melhor adaptação para determinados cenários.

Traçando um paralelo com as variáveis que impactam na definição das estratégias de cadeia de suprimentos, identificou-se que para segmentos de alto valor e maior prestígio onde existe alto grau de variabilidade de demanda, alta variedade de itens, com baixos volumes de vendas (high end of the market); requere-se maior grau de customização, sendo a resposta “ágil” mais adequada. Em compensação,

Tipo de produto Funcional; Inovador Fisher (1997); Lee (2002) Momento de

diferenciação do produto

No início do processo; No final do processo

Strader, Lin, Shaw (1999)

Variedade de produtos Pequeno, Médio, Grande Strader, Lin, Shaw (1999) Ciclo de Vida do

produto

Anos; Meses a anos;

Semanas a Meses Strader, Lin, Shaw (1999) Estabilidade do processo Estável; Em

desenvolvimento Lee (2002)

Demanda Previsível; Imprevisível Christopher, Peck, Towill (2006)

Tempo de

foi identificado que para segmentos mais tradicionais, com maiores volumes de vendas, demandas razoavelmente estáveis, para um número menor de itens (low end of the market), a estratégia “Lean” de produção é mais apropriada (JÜTTER, GODSELL, CHRISTOPHER; 2006, p. 997; HILLETOFTH; ERICSSON; CHRISTOPHER, 2009, p. 1180).

Hoek, Harrison e Christopher (2001, p. 130) em sua revisão bibliográfica identificaram que existem trade-offs, conforme o posicionamento no ambiente das operações da organização. Trade-offs econômicos baseados em ativos físicos, mão-de-obra, capital e terras são mais relevantes em ambientes funcionais e enxutos, cujo foco está na redução do desperdício nas operações. Em contrapartida, trade-offs que privilegiem prazo, informação e conhecimento são mais relevantes em ambientes ágeis e inovadores. Pode-se observar, no entanto, a necessidade de considerar os trade-offs econômicos em organizações que atuam em ambientes ágeis e inovadores, sendo necessário compatibilizar o Pensamento Enxuto com a Agilidade.

O conceito de “pensamento enxuto” (Lean Thinking), estruturado por Womack e Jones, a partir de práticas desenvolvidas pelo Eng. Taiichi Ohno da Toyota; significa desenvolver a cadeia de valor para eliminar todo o “desperdício”, incluindo tempo, e garantir uma melhoria do nível de atendimento. A ênfase de uma Organização Enxuta é no corte de custos através da eliminação dos desperdícios e das atividades que não agregam valor (NAYLOR; NAIM; BARRY, 1999, p. 110 e GUNASEKARAN, 1999, p. 91 e JONES; HINES; RICH, 1997, p. 154). Ventana Research (2007, p.5) enfatizam a troca de informações e colaboração entre os integrantes da cadeia, porém o objetivo final continua a redução de custos e de desperdício.

Naylor, Naim e Barry (1999) através de uma extensa pesquisa bibliográfica identificaram quais as principais características da manufatura ágil e enxuta numa cadeia de suprimentos (Quadro 8). A cada uma das características foi atribuída uma classificação de importância para a implantação exitosa de cada paradigma (Ágil e Enxuto).

Quadro 8 – Características dos paradigmas de manufatura enxuta e ágil Fonte: NAYLOR; NAIM; BERRY, 1999, p. 107

Várias são as diferenças que podem ser apontadas entre as cadeias ágeis e enxutas, porém o grande ponto de diferenciação está associado à estratégia de atendimento da organização e às pressões e características do seu mercado. Se houver grande necessidade de flexibilidade e responsividade, o paradigma da agilidade é mais adequado, pois tem uma estrutura preparada para atender diferentes e variáveis demandas por parte do mercado. Por outro lado, para situações de maior previsibilidade e estabilidade o “Pensamento Enxuto” se aplica melhor, dado que sua ênfase está na redução de Custos e não no Serviço como na Cadeia Ágil. Nas métricas referentes à Qualidade e Tempo, ambos os paradigmas tratam da mesma forma estes atributos da competitividade, sendo considerados atributos qualificadores (MASON- JONES; NAYLOR; TOWILL, 2000, p. 54). No caso do atributo tempo, sua importância tem motivações distintas para cada paradigma. Para uma Cadeia Enxuta o baixo lead-time de atendimento é necessário, pois tempo de transporte é entendido como “lixo” e, portanto, deve ser eliminado. No caso da Cadeia Ágil, o entendimento é de que se faz necessário ter baixos lead-times para atender um mercado volátil e estar disponível para aproveitar novas oportunidades (CHILDERHOUSE; TOWILL, 2000, p. 340).

Característica Cadeia

Enxuta

Cadeia Ágil

Uso do conhecimento sobre o mercado Essencial Essencial Organização Virtual/ Cadeia de Valor

Virtual/ Cadeia de Suprimentos Integrada

Essencial Essencial

Compressão do Lead-Time Essencial Essencial Eliminação do Desperdício Essencial Desejável Configuração Rápida das Atividades Desejável Essencial Estrutura e Processos Robustos Pouco

importante

Essencial Pouca Variabilidade da Demanda Essencial Pouco importante

Estratégias híbridas de cadeia de suprimentos reconhecem que

Estratégias híbridas de cadeia de suprimentos reconhecem que dentro de um portfolio de produtos ou mercados atendidos, existirão aqueles onde a demanda é razoavelmente estável e previsível, enquanto para outros, o inverso é verdadeiro (CHRISTOPHER, 2000, p. 40). Nestes casos é razoável adotar estratégias diferenciadas para parte dos produtos, ou parte da cadeia, conforme Figura 11.

Segundo esta proposta, o paradigma da Organização Enxuta é apropriado para a situação à montante do ponto de descolamento da demanda, quando produtos padronizados e de demanda pouco variável (até 10%) são “empurrados” através de várias cadeias de valor. O

Integração da Cadeia de Suprimentos

Avaliação das Características do Mercado e dos Produtos

Commodities Produtos Inovadores

Posicionamento do Ponto de Descolamento

Elos à Jusante Elos à Montante

Aplicação do Pensamento Enxuto Aplicação da Agilidade Aplicação do Pensamento Enxuto

Figura 11 - Diagrama correlacionando os conceitos de pensamento enxuto, agilidade e a integração de ambos

Fonte: CHILDERHOUSE; TOWILL (2000, p. 337)

paradigma da Empresa Ágil se aplica à jusante, onde a demanda é mais variável, e os produtos – em maior diversidade - são “puxados” pelo consumidor-final (NAYLOR; NAIM; BERRY, 1999, p. 114 e MASON- JONES, 1999, p. 15 e MASON-JONES; NAYLOR; TOWILL, 2000, p. 58 e CHILDERHOUSE; TOWILL, 2000, p. 344).

O termo Leagile, definido originariamente por Naylor, Naim e Towill (1997, p. 107), pode ser entendido como: a combinação dos paradigmas da Agilidade e do Pensamento Enxuto em uma estratégia de cadeia de suprimentos, através do posicionamento do ponto de descolamento, que permite atender uma demanda volátil à jusante, mantendo menor grau de variabilidade a montante. Na literatura existe o conceito de que existem dois pontos de descolamento. O primeiro é o ponto de descolamento material, no qual os estoques são mantidos em sua forma genérica tanto quanto possível. O segundo é o ponto de descolamento informacional, cujo objetivo é deslocá-lo mais à montante o possível, levanto as informações da demanda final da cadeia para o máximo possível dos seus integrantes (CHRISTOPHER, 2000, p. 42).

Desta forma, a cadeia Leagile reduz os custos de obsolescência e excesso de estoques, ao mesmo tempo em que reduz os custos associados ao processo de atendimento de pedidos, bem como seu ciclo.

Enfim, fica claro que Agilidade trata da responsividade ao cliente e domínio da turbulência do mercado, e requer capacidades específicas, que estão acima daquelas que podem ser alcançadas através do Pensamento Enxuto (HOEK; HARRISON; CHRISTOPHER, 2001, p. 127). A próxima seção trata mais detalhadamente sobre as cadeias de suprimentos que são estruturadas sob a égide da Agilidade, as Cadeias Ágeis, foco desta tese.

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