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2 COMPETITIVIDADE E ESTRATÉGIA: UMA ABORDAGEM TEÓ RICA

2.4 ESTRATÉGIA EMPRESARIAL E COMPETITIVIDADE

na economia, porém pode-se afirmar com precisão que há um ponto na história que se destaca na formação teórica e no contexto histórico: a teoria do desenvolvimento econômico de Schumpeter. Em seus livros bases, Teoria do Desenvolvimento Econômico e Business Cycles, escritos no início do século XX, ambiente em que predominavam as correntes marginalistas na teoria econômica, ele desenvolve uma teoria com particularidades interessantes e relevantes se comparadas com a teoria tradicional naquele momento histórico.

SCHUMPETER (1997) parte de um sistema em equilíbrio estático, de reprodução econômica, norteado pela concorrência livre e pura, com ausência de incertezas e, conforme o princípio básico do capitalismo, com direito à propriedade privada. Ele denominou tal ambiente de fluxo circular por não apresentar intempéries que implicassem mudanças bruscas e rompessem o equilíbrio do sistema. Entretanto, algumas peculiaridades importantes foram inseridas nesse sistema, se comparado com o sistema de equilíbrio descrito e teorizado pelos marginalistas. POSSAS (1987, p .171) afirma que uma das principais particularidades de Schumpeter é a designação de combinações das forças produtivas para descrever a função produção.

Schumpeter, citado em POSSAS (1987), dizia que quaisquer mudanças, mesmo adaptativas, no fluxo circular iriam no máximo acarretar o descolamento ao

longo das funções produções, mas não o deslocamento delas. Ou seja, não seria mudando as combinações daqueles fatores existentes que se criaria um novo fluxo, que se desenvolveria, pois estar-se-ia apenas deslocando na função produção e não criando um a nova função.

Outro ponto relevante é a característica atribuída ao capital, de meio de produção e não de fator primário, como teorizado pelos clássicos. Tal designação para o capital parte do princípio que no fluxo circular não existem incertezas, já que se trata de um sistema rotineiro e autoprodutivo, e portanto não há o porquê de valorizar o capital no tempo, excluindo, inclusive, o conceito de taxa natural de juros. Os lucros supranormais não se justificam pois o sistema está em equilíbrio e imune de incertezas. Não há abstinência ou espera para recuperar o capital, assim como não há risco. Por fim, o dinheiro, nesse ambiente estático, limita-se a facilitar a troca, enquanto o crédito limita-se a substituir o dinheiro como meio de pagamento.

Esse ambiente de fluxo circular não desenvolve o sistema capitalista por ser um sistema estático e imune a transformações significativas e relevantes que alterem o equilíbrio. A contribuição de Schumpeter tomou-se relevante por introduzir este elemento da transformação, que denominou de inovação. A inovação seria fenômeno fundamental que romperia sistematicamente com o fluxo circular e criaria a expansão econômica ou um novo ciclo econômico. Schumpeter define a inovação como o resultado de novas combinações dos fatores de produção que se originam a partir de mudanças históricas, espontâneas e descontínuas, na esfera produtiva. As inovações são, principalmente, de novos produtos ou novos processos de produção. Não se trata mais de se deslocar na curva produção mas de criar novos fatores ou combinações que permitam desenvolver novos nichos de mercado ou novos produtos que desestabeleçam o equilíbrio sistêmico, propiciando o ambiente para o desenvolvimento econômico.

Para Schumpeter, citado em POSSAS (1987, p.174), o processo de inovação é um "processo de mutação industrial (...) que incessantemente revoluciona a estrutura econômica desde o seu interior, destruindo incessantemente a antiga, criando incessantemente um nova. Esse processo de destruição criadora é o fato essencial a respeito do capitalismo".

A inovação traz ao sistema schumpeteriano a busca de um lucro maior, em que a responsabilidade de colocar em prática as inovações é do empresário. O empresário tem a ação empreendedora de fazer a inovação romper com o fluxo circular, caracterizando-se por sua liderança, capacidade de previsão e iniciativa e não pela posse de capital. Aqui distingue-se o empresário do capitalista, pois aquele é o empreendedor enquanto este é o dono do capital. O empresário é um indivíduo com características empreendedoras que exerce uma função temporária de pôr em prática a inovação, mas que não vive em estado empresarial. Por isso, pode ele ser um capitalista, quando detém o capital, ou qualquer outra pessoa com características empreendedoras que vislumbre na inovação uma forma de romper o fluxo existente criando o seu nicho de mercado.

Dessa forma, introduz-se também o conceito de crédito, porque como não necessariamente o empresário é o capitalista, aquele deve conseguir o capital necessário em alguma fonte para colocar em prática a inovação. O crédito passa a ser um a criação de direitos sobre os frutos da produção futura. Na relação creditícia, o devedor padrão seria o empresário e o credor seria o banqueiro. Na medida em que o negócio começa a gerar lucros ou frutos, o capitalista, que detinha o capital inicial e o emprestou, passa a receber juros, ou seja a remuneração sobre o capital emprestado tomando-se em consideração as incertezas inerentes ao sistema.

Nesse contexto, o ambiente capitalista está montado em um fluxo desenvolvimentista, embutindo os conceitos de crédito, juro e lucro, inerentes ao capitalismo, quando da geração de inovação e ambiente propício ao desenvolvimento, associando, portanto, o próprio conceito de capital ao desenvolvimento.

As quatros fases do ciclo completo são: prosperidade (introdução da inovação), recessão (aumento dos imitadores), depressão (fim das ondas secundárias, frustrações) e recuperação (volta ao equilíbrio). Nota-se que o ciclo tem início e fim, não se tratando de um conjunto circular de vales e picos pois caso não haja novas inovações não haverá novo ciclo. Dessa forma, na teoria schumpeteriana, o fluxo circular se rompe a partir da introdução de inovações que propiciam um salto desenvolvimentista que finaliza com a

realização das oportunidades por elas geradas, retomando ao estágio de fluxo circular até o seu rompimento pela introdução de novas inovações.

Essa síntese do bojo teórico schumpeteriano vem para que se possa discorrer mais sobre as características desse agente transformador do fluxo circular e da importância da estratégia nesse contexto. Esse agente, o empresário, é um indivíduo que, por sua perspicácia e energia, agarra uma chance imediata e procura cumprir uma tarefa muito especial: inovar. Ele não é um líder no sentido de mover multidões com sua capacidade de argumentar sobre suas idéias. O empresário é apenas uma pessoa que viu um nicho de mercado a partir de uma invenção realizada, e que inova introduzindo-a no mercado. Tem como forte característica a persistência e a força de vontade pois inovar não é uma tarefa corriqueira, tanto que segundo Schumpeter poucos ciclos de inovação são gerados no sistema capitalista.

Nesse ambiente, para pôr em prática a inovação, o empresário cria uma organização que, moldada pela perspectiva de m ercado e pelo ambiente visualizado, desenvolve as linhas mestras do caminho que deseja tomar. Nesse ponto de decisão de como implantar a inovação no mercado, o empreendedor toma-se antes de tudo um estrategista. A sua guerra é lutar contra todo um fluxo circular estático que acontece e que vive sem ele. A introdução de algo novo criará forças contrárias ou a favor que devem ser consideradas quando o quase empresário está visualizando o seu futuro negócio. As forças contrárias são os pontos fracos e as forças a favor são os pontos fortes. Após atribuir peso ao total de forças, ele deve avaliar se restaram mais pontos fortes do que fracos ou mesmo se aquela invenção pode ser uma verdadeira inovação para o mercado. A compreensão de todo este sistema faz parte do processo de formação da estratégia.

A definição da estratégia para o empresário schumpeteriano é condição sine qua

non para que ele consiga ser um agente de transformação e inovador, para que ele consiga

empreender o seu negócio. Parte do convencimento dos banqueiros para a obtenção do crédito, fundamental e indispensável à estruturação da organização, dependerá do poder de convencimento do empresário e dos argumentos que ele utilizará para mostrar que a

sua idéia é boa, que a invenção é importante, que se trata de uma inovação que terá mercado e que ele conseguirá superar os obstáculos implantando o produto ou serviço no mercado. Tais argumentos serão fundamentados basicamente pela estratégia do empresário, pela forma como ele vai se diferenciar competitivamente.

A estratégia é fundamental, seja qual for o tipo de empreendimento realizado no ciclo do desenvolvimento schumpeteriano, e a capacidade de estabelecer uma estratégia correta será repercutida na vitória daquele empresário. Quanto maiores forem as dificuldades e quanto mais este sucesso depender de sua estratégia para romper com as barreiras, maior será o lucro auferido, pois ele será um melhor estrategista.

2.5 TEMPO E INCERTEZAS NO CONTEXTO ESTRATÉGICO E COMPETITIVO