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O conceito da RdP tem sempre tido apoio por parte dos Estados-membros da UE, apesar deste termo nem sempre estar presente nos documentos oficiais da UE. Dois anos após ter sido apresentado ao mundo pela ICISS, algumas das ideias que estavam por detrás da RdP já se refletiam na ESE acordada em 2003 pelo CE. Neste documento é indicado que a UE deve estar – uma vez que é, invariavelmente, um ator global – preparada para partilhar da responsabilidade pela segurança global, e empenhar-se em

apoiar e desenvolver o Direito Internacional.98 Uma vez que os governos são os alicerces da comunidade

internacional, para que possa existir uma comunidade internacional justa, segura, com igualdade de direitos, estes governos devem também eles ser de qualidade. A melhor forma de assegurar a nossa segurança é um mundo de Estados democráticos bem-governados. Como advoga a ESE, o fortalecimento da ordem internacional passa pela propagação da boa governança, pelo apoio a reformas sociais e políticas, por lidar com a corrupção e com o abuso de poder, por fundar o Estado de Direito, e ainda

proteger os Direitos Humanos.99

97 Tratado de Lisboa que altera o Tratado da União Europeia e o Tratado que institui a Comunidade Europeia 98 CE (2003), Estratégia Europeia de Segurança, 12 de Dezembro de 2003

No entanto, e apesar de a UE caminhar (já na altura) na direção de uma politica externa coerente, bem como de uma eficaz gestão de crises, e de ser verdade que já dispunha de um leque de instrumentos eficazes e prontos a serem utilizados, na ESE é sublinhada a imperatividade da UE se tornar ainda mais ativa, mais coerente, mais capaz e ciente da necessidade de trabalhar com outros parceiros. No referente à necessidade de maior atividade por parte da UE, destacam-se dois pontos: é salientada a importância da UE desenvolver uma estratégia que fomente a intervenção precoce, rápida, e (quando necessário)

robusta100; a UE deve ser capaz, de futuro, de agir antes da deterioração dos países em seu redor, e antes

que surjam emergências humanitárias, uma vez que uma ação preventiva pode evitar problemas mais

sérios no futuro.101 Já no que toca à coerência da UE, a principal questão a ter em atenção prendeu-se

com a Política Externa e de Segurança Comum (PESC) e a Política Europeia de Segurança e Defesa (PESD), e o facto de o cerne das mesmas ter sempre sido a cooperação entre Estados-membros: a UE é mais forte quando trabalha em conjunto. Portanto, maior coerência é necessária não só no que toca aos instrumentos ao dispor da UE, mas também no que toca ao ‘abraçar’ das atividades externas dos

Estados-membros individuais.102 Uma UE mais capaz não significa apenas melhorar os instrumentos

militares, ou seja, para uma Europa mais capaz é necessário um aumento das suas capacidades em

todas as áreas.103 Por último, tendo em conta o facto de no mundo contemporâneo as ameaças existentes

serem ameaças comuns, partilhadas com os parceiros da UE - hoje em dia existem poucos problemas com os quais qualquer dos atores internacionais possa lidar sozinho -, a cooperação internacional torna- se necessária, e como tal a UE deve estar ciente disto mesmo. Na ESE conclui-se então que a UE tem o potencial para dar um importante contributo na luta contra as diversas ameaças internacionais, e tornando-se mais ativa e capaz terá sem dúvida um impacto à escala global. De acordo com a ESE, a UE pode “… contribuir para um sistema multilateral eficaz, conduzindo a um mundo mais justo, seguro,

e mais unido.”104

Cinco anos volvidos sobre a adoção da ESE, em 2008, foi publicada uma atualização deste documento, intitulado “Garantir a Segurança num Mundo em Mudança”. Este documento não pretendia

substituir o ESE, mas sim complementa-lo105, representando também um balanço dos cinco anos de

existência da ESE. Sobre as ameaças descritas na ESE, o relatório indicava que estas se mantinham,

100 Ibid., pp. 11 101 Ibidem 102 Ibid., pp. 13 103 Ibid., pp. 12 104 Ibid., pp.14

mas que todas elas se tornaram mais complexas. Isto leva a concluir que a imperatividade da Europa se tornar mais eficaz, mais capaz, continuava a ser uma realidade. Essa necessidade de maior eficácia, para responder às referidas mudanças nas ameaças, é transversal, uma vez que não se trata de melhorar a eficácia apenas na atuação dentro da própria UE. Como afirma o relatório em causa, “Para responder às mutações do clima de segurança, temos de ser mais eficazes – entre nós, na nossa vizinhança e em

todo o mundo.”106 Para que este objetivo seja atingido é necessária uma UE mais efetiva e mais capaz,

mais empenhada em relação aos seus vizinhos, e que persiga o objetivo de uma ordem multilateral mais efetiva em todo o mundo -principalmente através de parcerias com outras OIs ou mesmo países (como

é o caso dos Estados Unidos).107

O referido relatório constitui um marco importante para o aprofundamento do princípio da RdP quer no seio da UE quer no seio da ONU. Como uma das formas de responder às contestações da legitimidade das instituições internacionais no sistema internacional criado no fim da Segunda Guerra Mundial, a UE mostra manter-se convicta na defesa do conceito de soberania associado à responsabilidade do Estado - apresentado pela ICISS em 2001 – e do princípio da RdP. Isto nota-se especialmente na atenção atribuída, e na maneira com que se aborda, a matéria dos direitos humanos fundamentais. De acordo com o documento, “…a UE deverá continuar a promover o entendimento alcançado na Cimeira Mundial da ONU, em 2005, de que temos a responsabilidade comum de proteger as populações do genocídio,

dos crimes de guerra, dos atos de limpeza étnica e dos crimes contra a humanidade.”108