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Estratégia Metodológica 71

No documento Repositorio ISMT: O Teatro e a Prisão (páginas 72-75)

Parte II. Investigação Empírica 49

Capítulo 4. Apresentação do Estudo 49

4.6.   Estratégia Metodológica 71

A fase de trabalho de campo decorreu de Fevereiro de 2008 a Fevereiro de 2009, constituindo-se por três etapas.

A primeira etapa contemplou a localização, identificação, selecção e análise dos processos dos reclusos, através do acesso aos seus registos que se encontram na secretaria do estabelecimento, o que possibilitou fazer uma caracterização dos indivíduos no que concerne à sua situação prisional: duração da pena, tipo de crime, se já usufruiu ou não de medidas de flexibilização da pena, habilitações literárias e idade. A amostra investigada consistia num grupo de sete indivíduos que integram actualmente o grupo de teatro. Para a caracterização de cada indivíduo foi elaborada uma grelha composta por algumas variáveis. (cf. Apêndice 2)

Depois de efectuado o levantamento das variáveis, foram construídas tabelas de frequências relativas às categorias: identificação sócio-familiar, situação jurídico-penal e situação penitenciária, onde se sistematiza a informação, e que nos permitiu alcançar uma caracterização global dos indivíduos que participam no teatro.

Simultaneamente, elaborámos uma significativa pesquisa documental em algumas bibliotecas, em jornais e em revistas. Tal permitiu-nos aceder a informações sobre a existência do teatro nos Estabelecimentos Prisionais.

No âmbito da pesquisa de informação sobre o teatro no EPC, foi realizada uma entrevista exploratória a uma perita no domínio de investigação, Dr.ª Emília Gouveia, assistente social responsável pelo pelouro do teatro no EPC.

A segunda fase consistiu na participação nos ensaios do grupo de teatro3. Esta participação permitiu fazer uma observação participante e elaborar um diário de campo no qual foram registadas: as reacções do grupo aos ensaios e aos diversos elementos; os horários; a mobilidade interna ao grupo; as dificuldades que foram surgindo no decorrer das actividades teatrais; bem como algumas características/ comportamentos observáveis dos elementos do grupo que podiam contribuir para a reflexão da socialização/ não dessocialização.

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A terceira parte consistiu na realização de entrevistas aos reclusos do grupo para averiguar qual o impacto do teatro nestes indivíduos, e de que modo estes encaram tais actividades num espaço tão pouco impermeável como é a prisão. Projectámos realizar sete entrevistas, sendo assim extensível à totalidade de indivíduos que participavam no grupo de teatro. Todavia, por condicionalismos inerentes à instituição (greve dos guardas, saídas precárias dos reclusos) e alguns imprevistos externos (problemas de gravação e doença), tal não foi possível. Assim, apenas quatro entrevistas ficaram válidas para efeito de tratamento de informação. Duas delas decorreram na biblioteca do estabelecimento e as outras duas na sala de teatro, tendo cada uma a duração média de uma hora. O objectivo dessas entrevistas foi, para além de clarificar dados omissos nos processos de cada indivíduo, recolher informação mais detalhada sobre a aderência do sujeito ao teatro e sobre como tem vivenciado o processo de pertencer a um grupo de teatro.

A realização das entrevistas possibilitou uma interacção directa, dado que o objectivo de qualquer entrevista, de acordo com Carmo e Ferreira, “é abrir a área livre dos dois interlocutores no que concerne à matéria da entrevista, reduzindo, por conseguinte, a área secreta do entrevistado e a área cega do entrevistador.” (1998:126)

A entrevista era de natureza semi-directiva, havendo um guião com questões abertas e com questões fechadas (cf. Apêndice 3). Para estas últimas, a resposta teria de ser bastante objectiva, como por exemplo a questão do estado civil. As outras, sendo abertas, deveriam ser formuladas de tal maneira que o indivíduo se sentisse livre para expressar-se, sem que houvesse nenhum tipo de restrição. No entanto, o diálogo não foi limitado a alguns itens, dando-se alguma liberdade ao entrevistado. Assim, nem todas as entrevistas tiveram o mesmo percurso. Estas foram gravadas, após a formulação de um pedido ao Director do Estabelecimento para que fosse autorizado a utilização de um gravador (instrumento considerado útil para aumentar a fidedignidade do tratamento da informação). É de ressalvar que apenas seria utilizado se o recluso consentisse, tendo sido respeitados os pressupostos inerentes ao sigilo relativamente à sua identificação.

Para analisar toda a informação obtida através das entrevistas, primeiramente optou-se pela transcrição das entrevistas e, de seguida, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo temática. (cf. Apêndice 4)

A análise de conteúdo é uma técnica que se caracteriza por ter uma dimensão descritiva, que visa dar conta do que nos foi narrado, e por ter uma dimensão interpretativa, que decorre das interrogações do investigador face a um objecto de estudo. Recorre-se a um sistema de conceitos teórico-analíticos, cuja articulação permite formular as regras de inferência, pois o que se objectiva não é deduzir uma teoria – ou seja, partir do geral para o particular – mas sim algo muito mais pretensioso e arriscado, como induzir uma teoria, partindo de casos particulares para o geral. Assim, inicialmente foi feita uma análise de conteúdo categorial4, sendo que esta se caracteriza por uma análise temática e que, na sua generalidade, é descritiva. A partir desta, posteriormente, elaborou-se uma conclusão ancorada, ou seja, fundamentada em teorias perante as quais possamos comparar resultados. Para manter o anonimato e a confidencialidade dos entrevistados, e de todos os restantes que participaram no teatro, optámos por lhes atribuir identidades fictícias. Designámos então para cada um nomes de dramaturgos da Grécia Antiga.

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No documento Repositorio ISMT: O Teatro e a Prisão (páginas 72-75)