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Estratégia nº 3 – Buscar o significado da leitura por imagens correspondentes aos

Neste episódio, a professora apresenta um texto retirado da Internet que aborda o tema “Setembro Azul”. Categoricamente, um assunto de muita relevância e interesse por parte da comunidade surda, uma vez que lembra algumas datas significativas dentro do mês de setembro, sobretudo, o dia 26, em que é comemorado o dia nacional do surdo. Este coincide com a fundação da primeira escola para surdos no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, em 1857, o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos10 (antigo Collegio Nacional para Surdos-Mudos de

Ambos os Sexos), atualmente Ines – Instituto Nacional de Surdos (ROCHA, 2007; SOFIATO, 2011).

10 A nomenclatura mais antiga, incorreta e pejorativa, faz referência às pessoas surdas, mas é bastante

dessemelhante da atual conceituação “surdo”, reconhecida legalmente pelo Decreto n.5.626/2005, bem como usada e defendida pela comunidade surda em sua autorrepresentação: “O termo surdo -mudo não é correto porque o surdo tem aparelho fonador, e se for treinado ele pode falar. Eu sou surdo, fui oralizado e não ouço nada, mas a minha língua é a de sinais” (GESSER, 2009, p. 45).

Quadro 9 – Episódio 3 – Trecho do texto sobre o Setembro Azul Setembro Azul

Por que Setembro?

O mês de Setembro é mundialmente comemorativo, pois é repleto de datas significativas que refletem a história de lutas e conquistas da Comunidade Surda. Algumas datas se destacam nesse mês:

 Dias 6 e 11 de Setembro: marco triste para esta comunidade. Lembrança do Congresso de Milão (1880) no qual foi proibido o uso das Línguas de Sinais na Educação dos Surdos.

 Dia 26 de Setembro: Dia Nacional do Surdo (Lei Nº 11.796 de 29 de Outubro de 2008). Nesta data, em 1857, foi fundada a primeira escola de surdos no Brasil pelo prof. Francês surdo Eduard Huet, o atual INES – Instituto Nacional de Educação dos Surdos, que fica no Rio de Janeiro.

 Dia 30 de Setembro: Dia Internacional do Surdo. Por que Azul?

A cor Azul representa para a Comunidade Surda dois momentos históricos, o primeiro momento é o período da Segunda Guerra Mundial em que os Nazistas identificavam as Pessoas com Deficiência através de uma faixa de cor azul fixada no braço. O segundo momento é o atual. O azul simboliza a opressão enfrentada pelos surdos ao longo da história, mas mais que isso, mostra o orgulho de ser surdo, de englobar uma história, uma língua e um povo. (texto continua)

Fonte: Coletado no local da pesquisa

A proposta da aula era a realização de uma leitura compartilhada. Assim, cada aluno presente comparecia à frente da sala e lia um pedaço do texto. Doravante, será apresentado um recorte dessa leitura, especificamente do trecho “O azul simboliza a opressão enfrentada pelos surdos ao longo da história, mas mais que isso, mostra o orgulho de ser surdo, de englobar uma história, uma língua e um povo”.

Quadro 10 – Episódio 3 (vídeo)

 O vídeo inicia com a aluna Daniela à frente da sala lendo o texto projetado na lousa:  [COR AZUL (não sinaliza o artigo)]. Ela para, visualiza pausadamente as palavras

seguintes, “simboliza opressão”, e aponta para a palavra – projetada na lousa – e pergunta para a professora o significado da primeira. A professora indica o item lexical em Libras e

explica o significado do verbo “simbolizar”, dando exemplos. A aluna retoma a leitura desde o início  [COR AZUL SIMBOLIZA]. Novamente, ela para, visualiza as palavras seguintes (ela passa os olhos em toda a linha). A professora intervém perguntando para a sala o significado

do termo “opressão”. Alguns alunos fazem expressão de negação ou dúvida e dizem não saber ou não conhecer o significado, outros conversam entre si na tentativa de buscar um significado e outros soletram a palavra, mas sem apontar um referente em Libras. O aluno Roberto, ao mesmo tempo em que soletra, também sinaliza dizendo  [PARECE PRESSÃO, NÃO É? É PARECIDO]. Todos prestam atenção na sinalização dele. A professora diz que aquela palavra não significa “pressão”, embora pareça graficamente. Daniela pede para um colega, que está no computador, que faça um destaque em amarelo na palavra desconhecida. A leitura continua até o final da frase. Feito isso, os alunos, juntamente com a professora, fazem uma busca no

Google Imagens do vocábulo “opressão”. Assim que aparecem as primeiras imagens

(conforme imagem 9), os alunos visualizam e, rapidamente, o aluno Yvan faz uma sinalização que corresponde ao significado (imagem 10). A professora congratula-o e explica que opressão, no contexto do texto, tem a ver com mãos amarradas que não podem sinalizar. Daniela complementa dizendo  [PROIBIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS]. A professora concorda e continua  [ERA OBRIGATÓRIO ORALIZAR; ISSO É OPRESSÃO]. Em seguida, a professora volta ao texto, e pede para que a aluna releia a frase, e isso é feito.

Fonte: Elaborado pelo autor

Imagem 9 – Resultados de imagens em site de busca

Imagem 10 – Item lexical correspondente à sinalização de “opressão”

Fonte: Retirado e modificado de http://www.ces.org.br (desenhos de Cristiano Koyama)

As estratégias de leitura evocadas pelos alunos podem ser observadas nos seguintes trechos recortados:

Quadro 11 – Episódio 3 – Excerto da estratégia de leitura

Ela para, visualiza pausadamente as palavras seguintes, “simboliza opressão”, e aponta para palavra – projetada na lousa – e pergunta para professora o significado da primeira.

Fonte: Elaborado pelo autor

Conforme se observa no quadro 10, mais uma vez, os alunos, diante de um vocábulo desconhecido, questionam a professora quanto ao significado. Desta vez, ao invés de usar a datilologia (soletração pelo alfabeto manual) ou apontar a palavra na folha da atividade, a aluna aponta para outro suporte, no caso, para a palavra projetada na lousa.

Em relação a essa estratégia, poder-se-ia questionar se não seria adequado indicar para os alunos o uso de um dicionário impresso ou eletrônico. Possivelmente, até poderia ser incentivado seu uso em sala de aula, contudo, categoricamente, sem querer defender o descarte do clássico compêndio, é necessário refletir sobre certa opinião de Freitas (2014, p. 76), ao pontuar que “o dicionário não traz o contexto e também não traz exemplos, portanto, utilizado de forma isolada não pode contribuir na construção de significado do texto pelo aluno surdo”. Nesse sentido, a professora da pesquisa corrobora com a citação anterior, pois, diante da dúvida da aluna, ao invés de valer-se do uso do dicionário de português, sinaliza o item lexical correspondente e explica o significado do verbo “simbolizar”, por meio de exemplos.

O questionamento dos alunos acerca do léxico desconhecido, somado à forma de significação dada pela professora, comungam na direção de formar alunos surdos leitores

“capazes de aprender a partir dos textos” (SOLÉ, 1998, p. 72) e não de palavras isoladas, soltas e descontextualizadas.

Outra estratégia de compreensão leitora pode ser observada a seguir:

Quadro 12 – Episódio 3 – Excerto da estratégia de leitura

(...) os alunos, juntamente com a professora, fazem uma busca no Google Imagens do vocábulo “opressão”.

Fonte: Elaborado pelo autor

O presente excerto mostra mais uma estratégia de leitura usada pelos alunos surdos, a saber, refere-se à busca por imagens correspondentes aos vocábulos desconhecidos em site de busca, no caso, foi usado o Google.

Recorrer à pesquisa no Google Imagem é uma estratégia, que se aproxima de outra discussão amplamente discutida por pesquisadores da área dos Estudos Surdos, a qual consiste no uso da visualidade como forma de apreensão do mundo, como defende Strobel (2009):

O primeiro artefato da cultura surda é a experiência visual em que os sujeitos surdos percebem o mundo de maneira diferente, a qual provoca as reflexões de suas subjetividades: De onde viemos? O que somos? Para onde queremos ir? Qual é a nossa identidade? (STROBEL, 2009, p. 40).

Lebedeff (2010) defende a ideia de que os surdos vivenciam um processo de letramento visual. Para a autora, este deve ser compreendido “a partir de práticas sociais e culturais de leitura e compreensão de imagens” (LEBEDEFF, 2010, p. 179). A pesquisadora sugere que os processos educativos de alunos surdos precisam utilizar “estratégias ou atividades visuais e, principalmente, que possibilitem aos surdos eventos de letramento visual” (LEBEDEFF, 2010, p. 180).

Também Campello (2007) propõe, nas atividades educativas dos surdos, o uso amplo de estratégias visuais e afirma, mais do que isso, a necessidade de uma “pedagogia visual”, que combine o uso da língua de sinais e outros artefatos da cultura surda, tais como:

(...) contação de história ou estória, jogos educativos, envo lvimento da cultura artística, cultura visual, desenvolvimento da criatividade plástica, visual e infantil das artes visuais, utilização da linguagem de Sign Writing (escrita de sinais) na informática, recursos visuais, sua pedagogia crítica e suas ferramentas e práticas, concepção do mundo através da subjetividade e objetividade com as “experiências visuais” (CAMPELLO, 2007, p. 129, grifos do autor).

Em uma pesquisa com observação em sala de aula de duas escolas bilíngues para surdos do estado de São Paulo, Nascimento (2014) verificou que, não só a fluência em Libras por parte dos professores, mas, também, a primazia no uso de recursos visuais, otimiza a aprendizagem dos alunos, uma vez que esses professores compreendiam que a apreensão da realidade pelo sujeito surdo, ocorre, em grande parte, pela via visual.

Ao observar os dados produzidos para essa pesquisa, percebe-se que a estratégia de recorrer a imagens, além de utilizada pela professora, já está incorporada às práticas de leitura desses alunos, por serem adultos e terem vivenciado essa experiência em diferentes contextos.

4.7 Estratégia nº 4 – Perguntar aos seus interlocutores quanto ao significado de palavras