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2 A ESTRATÉGIA

2.2 A estratégia organizacional

Com base no exame das origens da estratégia, parece evidente que qualquer tentativa de definir o termo de forma rígida e concisa pode limitar desnecessariamente a compreensão, inclusive no ambiente organizacional.

Assim, para iniciar esta subseção, recuperamos as noções de Mintzberg (2001) acerca da estratégia. O autor, reconhecendo a complexidade do tema, chega a cinco noções distintas, que podem ser inter-relacionadas: plano, pretexto, padrão, posição e perspectiva. A noção de plano considera a estratégia como um curso de ação conscientemente articulado para lidar com determinada situação, sendo um caminho ou uma direção para atingir um objetivo determinado. A estratégia também pode envolver o confronto direto com um concorrente, podendo ser compreendida como uma manobra ou um truque com a finalidade de despistar o concorrente. A noção de padrão envolve a consistência no comportamento ao longo do tempo, incluindo ações deliberadas e emergentes. A estratégia como posição se refere a uma maneira de diferenciar a organização no que tange aos seus concorrentes, de encontrar uma posição diferenciada e sustentável frente ao ambiente competitivo. Já a estratégia como perspectiva considera não apenas a posição escolhida, mas a visão da organização, a maneira enraizada de ver o mundo e de conduzir os negócios. A perspectiva envolve normas e valores compartilhados. De acordo com

essa noção, a estratégia seria o equivalente à ideologia ou à cultura da organização. As diferentes noções podem ser inter-relacionadas. Uma posição, por exemplo, pode ser resultado de um plano. Um padrão de ações pode emergir e dar origem a um plano. A perspectiva seria a mais estável das definições, pois a organização dificilmente muda a perspectiva que está enraizada no seu padrão de comportamento.

Pérez (2008) também considera a multiplicidade de sentidos que o termo estratégia pode assumir e procura formular uma noção abrangente de estratégia, a partir de oito dimensões: antecipação, decisão, método, posição, marco de referência, perspectiva, discurso e relacionamento com o entorno. De certa forma, o autor complementa as noções de Mintzberg (2001), mantendo a mesma compreensão sobre as noções de posição e de perspectiva, recusando a noção de pretexto, adotando elementos das noções de plano e de padrão e incluindo novas dimensões.

A capacidade de antecipar cenários em um ambiente de incertezas e, com base nesses cenários, definir objetivos de longo prazo e organizar uma forma de atingi-los faz parte da dimensão da estratégia como antecipação. Essa dimensão considera a organização como um sistema aberto, em um ambiente de mudanças rápidas e turbulentas, em que as previsões são cada vez mais difíceis. Nessa dimensão, a estratégia pode ser compreendida como um elemento-chave para a regulação da relação da organização com o entorno. É uma concepção bastante comum, que podemos associar à Teoria Geral dos Sistemas de Bertalanffy (1977). Mesmo se pensarmos a partir das proposições de Luhmann (1997a), que considera os sistemas como operacionalmente fechados, mas abertos a interações com o ambiente, a capacidade de antecipar, em ambientes turbulentos e adversos, potenciais irritações ou perturbações, parece continuar sendo uma dimensão relevante da estratégia. É possível aproximar a compreensão de Pérez (2008) sobre a dimensão da antecipação a alguns elementos articulados na noção de plano de Mintzberg (2001), especialmente no que se refere à definição de objetivos com base em uma análise de cenários.

A dimensão da decisão considera a estratégia como um conjunto de decisões e encontra respaldo na Teoria dos Jogos, conforme já vimos anteriormente. Pérez (2008) defende que nem toda decisão é estratégica. Uma decisão estratégica seria

aquela que sofreria influência da expectativa que o agente tem sobre as possibilidades de ação de outros agentes. No entanto, essa perspectiva nos parece limitadora quando pensamos na organização a partir de uma visão sistêmica e complexa, em que, de alguma forma, todas as decisões podem ter algum grau de relacionamento. De qualquer forma, independente da compreensão que tenhamos sobre o conteúdo estratégico de cada decisão, parece possível afirmar que o exame de um conjunto de decisões de uma organização, ao longo do tempo, pode informar- nos sobre sua estratégia ou seu padrão de conduta estratégico.

Pérez (2008) aproxima a dimensão da decisão da dimensão do método, afirmando que a estratégia pode ser compreendida tanto como um conjunto de decisões tomadas para atingir um objetivo, quanto como um método adotado para atingir um objetivo. A partir da dimensão do método, a estratégia é considerada como uma forma de fazer, ou melhor, como os procedimentos adotados para resolver determinado problema. Ambas as dimensões − da decisão e do método − podem ser relacionadas à noção de padrão proposta por Mintzberg (2001), para quem a estratégia é um conjunto de ações/decisões de uma organização ao longo do tempo.

Através da dimensão da estratégia como marco de referência, Pérez (2008) defende a importância de um registro formal das estratégias da organização, um documento a que todos possam recorrer quando necessário, como forma de alinhar os envolvidos e de criar uma cultura compartilhada. Essa dimensão, assim como a do discurso e a do relacionamento com o entorno, pode ser fortemente relacionada com a comunicação.

Assim como a noção de padrão, a dimensão discursiva da estratégia, para Pérez (2008), valoriza a consistência de comportamento, intencional ou não, ao longo do tempo. A partir dessa dimensão, a estratégia pode ser um discurso interno e externo, escrito ou transmitido oralmente, uma lógica de ação ou um plano que facilita a execução. Conforme o autor, compreender a estratégia como discurso pode valorizar e abrir as portas para a compreensão de aspectos como:

a) as narrativas e as representações nos ambientes organizacionais; b) a identificação com a estratégia;

c) a força retórica para promover a coesão entre os membros da organização;

d) a linguagem como uma forma de ação; e) a ação como drama e conflito.

Por fim, ainda sob uma perspectiva comunicacional, Pérez (2008) defende que a estratégia também pode ser um estilo ou uma forma de a organização relacionar-se com o seu entorno.

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