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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 ORDENAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS: UMA IMPORTANTE

2.1.3 Estratégia de Saúde da Família

A Atenção Básica constitui um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual ou coletivo, que abrange a promoção e proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde, situadas no primeiro nível de atenção do sistema de saúde. É desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais e sanitárias democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios bem delimitados, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas populações (Brasil, 2006c).

Neste contexto, utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade, que devem resolver os problemas de saúde de maior frequência e relevância em seu território. A Saúde da Família é a estratégia prioritária para reorganização da atenção básica no Brasil, importante tanto na mudança do processo de trabalho quanto na precisão do diagnóstico situacional, alcançada por meio da adscrição de clientela e aproximação da realidade sociocultural da população e da postura pró-ativa desenvolvida pela equipe (Brasil, 2006c).

O Programa de Saúde de Família (PSF) foi introduzido no Brasil em 1994 pelo Ministério da Saúde (Brasil, 1994), com o objetivo de reordenar as práticas de saúde no âmbito da atenção básica em novas bases e critérios, com foco na família, a partir do seu ambiente físico e social (Groisman et al., 2005).Inicialmente formulado como programa, passa a ser definido e defendido como estratégia, especialmente a partir de 1997, data da segunda publicação do Ministério da Saúde (Brasil, 1997) sobre conceitos, objetivos, diretrizes e implementação (Ribeiro, 2004). A Estratégia de Saúde da Família reafirma e incorpora os princípios básicos do SUS, de universalização, descentralização, integralidade e participação da comunidade (Groisman et al., 2005).

A Estratégia de Saúde da Família amplia o acesso das pessoas ao SUS, uma incorporação prática e reafirmação dos seus princípios, portanto, surge como uma

estratégia que visa reorganizar a atenção básica através da ruptura do modelo assistencial de saúde, ainda hegemônico, caracterizado pela assistência à doença em detrimento da promoção da saúde (Barbosa et al., 2007). “Ao contrário do modelo tradicional, centrado na doença e no hospital, o PSF prioriza as ações de proteção e promoção à saúde dos indivíduos e da família, tanto de adultos, quanto de crianças, sadios ou doentes, de forma integral e contínua” (Brasil, 1994).

Em que pese todo o esforço do Estado na qualificação do trabalho na APS, Franco e Merhy (1999), apontam que estão presentes diversas tensões na potência transformadora da ESF. Ao analisarem aESF, colocam que, se a ESF não conseguir rever a forma de produzir o cuidado em saúde, dispondo- se a atuar também na direção da clínica, dando-lhe real valor com propostas ousadas como a da clínica ampliada, pode, assim como a Medicina Comunitária e os Cuidados Primários em Saúde, configurar-se na sua ação “como linha auxiliar do Modelo Médico Hegemônico”. Para os autores, a ESF pode persistir como um modelo no qual cuida “dos terrenos de competência da Saúde Coletiva”, e da saúde individual cuida a corporação médica (Franco; Merhy, 1999).

Nos últimos anos tornou-se o principal programa alavancador da reorganização dos serviços de saúde na atenção básica, tendo como estratégia a reformulação do processo de trabalho inserido no contexto do SUS e centrado na vigilância à saúde por meio de ações de promoção, prevenção e recuperação; baseia- se na nova concepção sobre o processo saúde-doença, com atenção voltada para a família e com ações organizadas em um território definido. Tornou-se o carro-chefe do modelo assistencial do SUS e foi concebido pelo Ministério da Saúde como uma alternativa de promover a reformulação das ações em saúde, considerando que o modelo tradicional de assistência impôs um descompasso entre os princípios do SUS e a realidade concreta de implantação do sistema de saúde (Souza; Roncalli, 2007). O momento inicial do trabalho da equipe de saúde deve ser o planejamento, começando pelo diagnóstico situacional da realidade de forma a reproduzir, com a maior fidelidade, as condições socioeconômico-culturais e epidemiológicas da população da área de abrangência, portanto, as atividades iniciais das equipes de

o levantamento das necessidades e o conhecimento do perfil epidemiológico. É fundamental o reconhecimento dos espaços sociais, como escolas, creches, asilos, associações e locais para o desenvolvimento das ações educativo-preventivas e coletivas. A partir do diagnóstico situacional, os profissionais podem elaborar o planejamento das atividades e, prioritariamente, iniciar a intervenção, após a eleição das áreas de maior vulnerabilidade social (Carvalho et al., 2004).

A abordagem da comunidade não é prefixada no primeiro contato, ela deve ser gradual em todo processo das práticas de saúde por aproximações sucessivas (Portillo & Freitas, 2002), e o planejamento dependerá fundamentalmente do íntimo conhecimento da situação atual do sistema e da definição daquilo a que se pretende chegar (Tancredi et al., 1999). Certamente não existem regras para a abordagem da população-alvo quanto às ações em cada contexto. A equipe deverá conhecer a realidade e, com base nela, planejar a intervenção (Souza et al., 2001).

Certamente não existe receita pronta e eficaz para a organização da demanda, e consequente redução das filas e do tempo de espera, originando um atendimento acolhedor. Porém, o conhecimento do SUS por parte dos profissionais que estão ligados ao serviço, e aí se incluem, não só os gestores, mas todos os trabalhadores responsáveis por cada Unidade de Saúde e inclusive os usuários, pode facilitar a administração dos serviços, na medida em que se trata de um sistema com princípios doutrinários e organizativos (Santos et al., 2007).

Segundo Paim (1999), as preocupações das instituições de saúde restringem- se em manter em funcionamento uma dada oferta de atendimento. É a pressão espontânea e desordenada da demanda que condiciona a organização de recursos para a oferta ou a própria oferta distorcida em relação às necessidades de saúde. São os chamados modelos assistenciais, que são centrados na “demanda espontânea” e que não são exclusivos do setor privado, e que estão presentes também nos serviços públicos. São predominantemente curativos, tendem a prejudicar o atendimento integral ao paciente e à comunidade e não se comprometem com o impacto sobre o nível de saúde da população.

Starfield (2004), discute acesso e acessibilidade e mostra que, apesar de serem utilizados de forma ambígua, têm significados complementares. A acessibilidade possibilita que as pessoas cheguem aos serviços, e o acesso permite o uso oportuno dos serviços para alcançar os melhores resultados possíveis. Seria, portanto, a forma como a pessoa experimenta o serviço de saúde. O acesso como a possibilidade da consecução do cuidado de acordo com as necessidades tem inter- relação com a resolubilidade e extrapola a dimensão geográfica, abrangendo aspectos de ordem econômica, cultural e funcional de oferta de serviços.

O acolhimento busca atender o indivíduo em suas necessidades, independentemente do diagnóstico, do nível de complexidade da demanda, ou da percepção do profissional ao qual se apresenta (Carvalho et al., 2004).Deve ser visto, portanto, como um dispositivo potente para atender à exigência de acesso, propiciar vínculo entre equipe e população, trabalhador e usuário, questionar o processo de trabalho, desencadear cuidado integral e modificar a clínica. Dessa maneira, é preciso qualificar os trabalhadores para recepcionar, atender, escutar, dialogar, tomar decisão, amparar, orientar, negociar. É um processo, no qual trabalhadores e instituições tomam, para si, a responsabilidade de intervir em uma dada realidade, em seu território de atuação, a partir das principais necessidades de saúde, buscando uma relação acolhedora e humanizada para prover saúde nos níveis individual e coletivo (Souza et al., 2008).

O acolhimento tem uma grande importância na atenção básica de saúde e toma, como referência, algumas de suas características, como destaca Starfield (2004), porta de entrada, integração aos demais níveis do sistema, coordenação do fluxo de atenção. Configura ainda como um momento tecnológico com potencialidades para imprimir qualidade nos serviços de saúde, sendo que não se limita apenas ao ato de receber, mas se compõe de uma sequência de atos e modos que fazem parte do processo de trabalho, na relação com o usuário, dentro e fora da unidade.

Considerando-se que a Estratégia de Saúde da Família é um espaço indutor para formação e capacitação de trabalhadores de saúde sendo sua atuação tem um

grande impacto na transformação nas práticas dos serviços de saúde sustentando assim a Política Nacional de Atenção Básica.

Além disso, é importante o estabelecimento de parâmetros que promovam uma ação gerencial mais efetiva, permitindo o acompanhamento e avaliação constantes do serviço e conferindo às equipes de saúde qualidade diferenciadas em seu processo de trabalho. Cabe ressaltar que esses parâmetros devem ser construídos a partir de metas traçadas após o conhecimento da realidade sócio- cultural e epidemiológica da população, reforçando a importância do planejamento que permitirá avaliar a real necessidade da sua implantação e qualidade na sua execução (Brasil, 2006c).

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