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CAPÍTULO IV: Resultados

4.4. Estratégias Adotadas

Naturalmente, os Cantoneiros de Limpeza e os Condutores de Máquinas Pesadas e Veículos Especiais adotam alguns truques e estratégias de modo a conseguirem ultrapassar alguns dos constrangimentos e dificuldades com que se deparam no seu trabalho. Foi possível apurar algumas destas estratégias, através das observações e da realização das entrevistas.

Uma das estratégias mais apresentadas nas entrevistas, por dois CL, um CMPVE e os dois encarregados, e registada também nas observações, tem a ver com a gestão do circuito no que toca à seleção dos pontos a recolher. Por vezes, a recolha de resíduos não é cumprida na totalidade do circuito, como exposto anteriormente: “Num bairro há uma rua, por exemplo, (...) só fazem [a recolha] dia sim, dia não, porque eles já sabem que naquela rua não vai encher, pronto. Acabam por fazer uma gestão do circuito também.” (E2). Noutras situações, tal como indicado por dois dos quatro CMPVE entrevistados, a ordem dos pontos de recolha

do circuito é mudada, de forma a ultrapassarem constrangimentos de trânsito, por exemplo: “(...) eu tenho estruturada a volta de acordo com as minhas necessidades ou de acordo com a maneira que eu acho que é mais rápida. (...) À hora que eu começava lá, tinha carros sempre mal-estacionados e era muito difícil eu passar. Eu perdia ali, à vontade, três quartos de hora em deslocação ali.” (M3); “(...) vou alterando conforme vejo que corre melhor, que é o mais fácil... ou... passar naquela rua mais tarde, que já não tenho tantos carros a estorvar (...)” (M1). Em, pelo menos um dos casos, o CL recorre ao gancho metálico comprido, como já mencionado, para verificação da capacidade utilizada do contentor, de modo a evitar sair da viatura com tanta frequência.

Por outro lado, um dos truques adotados mais observados (em, pelo menos, três tipos de recolha) e mencionado por um CL está relacionado com o percurso a pé por CL entre pontos de recolha que se encontram a uma curta distância entre si, alegando que esta medida

representa um desgaste físico menor do que a subida e descida frequente da viatura: “(...) de um contentor para outro, se não estiver muito longe, eu vou a pé (...), porque custa menos do que a gente andar a subir e a descer [da cabine]” (C1).

Também reportado por um CL e um CMPVE, em contexto de entrevista, é a recolha realizada fora de mão, de forma a evitar a necessidade de fazer um percurso

significativamente maior apenas para a recolha de um número reduzido de contentores: “temos a preocupação disso [de não atravessar a estrada para recolher resíduos]. Não quer dizer que não aconteça isso, que agora houve (...) obras (...) que a gente tivemos... fomos obrigados a ir ali. Porque a gente depois a vir para baixo demorávamos quase uma hora para ir buscar aqueles dois [contentores]. Então tirávamos logo, não há trânsito. Mas é estar sempre com os olhos nos outros.” (C2).

No que toca especificamente à recolha de monos, um dos CL afirmou, em entrevista, aglomerar todos os resíduos o mais próximo possível da viatura, de modo a facilitar o seu trabalho: “(...) às vezes, a grua não chega, não alcança os monos. (...) Então, juntamos as coisas, fazemos montes, para a grua chegar [alcançar os resíduos]” (C4). Além desta estratégia, o mesmo trabalhador reporta também recolher alguns objetos manualmente, defendendo a poupança de tempo: “(...) às vezes, coisas pesadas.... Às vezes a gente nem põe a grua para nos despacharmos. Agarramos nela, um de cada lado, e mandamos lá para cima.” (C4).

Outra estratégia mencionada por um dos CMPVE entrevistados é a paragem da viatura sem encostar à berma da estrada, uma vez que considera uma medida de proteção para os colegas CL: “Se tu parares um bocadinho mais no meio da estrada, obrigas a que o trânsito que vem

no sentido contrário ou aquele que vem a ultrapassar (...) a abrandar. Porque se tu encostares muito [à berma], essas viaturas passam com alta velocidade. (...) Tens que tentar parar sempre em cima do traço contrário. (...) Se tu reduzires o espaço de passagem, automaticamente passam mais devagar.” (M2). O mesmo trabalhador afirma utilizar o uniforme dos colegas CL como um ponto de referência para manobras, em locais com escassa iluminação: “No caso da noite, há estratégias que a gente só consegue fazer marcha atrás pelas calças dos cantoneiros. Só se vê as calças do cantoneiro. Não se vê mais nada. É... o próprio cantoneiro a fazer de mira.” (M2).

Um dos quatro CL entrevistados expôs também a sua estratégia para ultrapassar as situações em que se depara com a perda de óleo da viatura, demonstrando alguma

preocupação com a sua segurança: “Às vezes, as viaturas perdem muito óleo e às vezes... Escorregar em cima das viaturas, evitamos isso. Às vezes até apanhamos um bocado de areia e metemos em cima para não escorregar tanto.” (C3). Um dos seus colegas CMPVE defende ainda a importância de realizar o seu trabalho com calma e atenção, e de atuar tendo em conta as condições da viatura: “(...) faço as coisas o mais devagar possível, com calma, que é para não... sem grandes pressas. (...) Analisar bem a viatura e prestar atenção redobrada, caso haja algum problema.” (M3).

Finamente, os dois encarregados mencionaram também vários truques e estratégias adotados pelos CL e CMPVE, para além dos já apresentados. Por um lado, um dos truques adotados, a fim de diminuir um pouco o volume de trabalho no que toca à quantidade de contentores a recolher, consiste em rodar um dos contentores, em locais onde haja dois contentores juntos, ao contrário, incentivando assim à utilização de apenas um dos

contentores. “Assim (...) as pessoas utilizam só este [que está virado para o passeio] (...). Isto facilita-lhes a vida.” (E2). Por outro, alguns trabalhadores optam por deixar as tampas dos contentores abertas: “É a mania das tampas abertas para não haver lixo no chão... Porque há munícipes que não estão disponíveis para abrir tampas e metem os sacos no chão. Então deixam as tampas abertas.” (E1).

Um dos encarregados reporta ainda uma estratégia adotada pelos trabalhadores que consiste no desbloqueio do sensor do estribo, integrado nas viaturas mais recentes como medida de prevenção para a segurança dos CL que viajam no estribo: “(...) carros que não podiam andar a mais de 50 [km/h] e que eles conseguem pô-los a andar a mais de 50. Ou 40... acho que é 40 [km/h], se eu não ‘tou em erro. (...) O carro não pode andar de marcha atrás com os cantoneiros pendurados (...), metiam um ferrinho por baixo do estribo que era para o estribo não reconhecer que era para o carro andar mais rápido, para não reconhecer que estava

lá alguém. Aquilo tem um sensor... tem uma barra e depois tem um sensor, e cada vez que as pessoas pisam aquilo, aquele sensor baixa e ele reconhece que está ali alguém, então bloqueia lá dentro. Se ele meter um ferro, aquilo baixa, mas não baixa na totalidade, então não

reconhece... então o carro anda à velocidade normal, anda de marcha atrás, faz tudo.” (E1).

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