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Estratégias cognitivas e metacognitivas

No documento 2010AlineFantinelAlves (páginas 54-57)

3.1 Leitura na perspectiva cognitivista

3.1.1 Estratégias cognitivas e metacognitivas

Segundo Kintsch e Van Dijk (1985), conforme o leitor vai processando, ativando e juntando as informações que já estão armazenadas na memória de longo prazo, com as novas, que são transitórias e mantidas na memória de curto prazo, vai aos poucos construindo e desenvolvendo a chamada “compreensão leitora”, que envolve inúmeros processos cognitivos. Por meio desses, os conhecimentos que o leitor possui e necessita acessar para resolver determinada tarefa são ativados, sobretudo, pelo uso de certas estratégias de leitura, que são “[...] atividades planejadas, reflexivas e intencionais de processar o sentido do texto [...]; elas caracterizam o comportamento do leitor maduro, pois derivam do controle planejado e deliberado das atividades que levam à compreensão” (MARTINS, 2003, p. 103).

De acordo com Baker e Brown (1984), os leitores proficientes e os menos proficientes diferem entre si quanto às estratégias utilizadas durante a leitura, visto que ambos adotam diferentes tipos de estratégias de processamento textual, as quais, de modo geral, podem ser concebidas do ponto de vista cognitivo e ser classificadas como estratégias cognitivas e metacognitivas. Entende-se, por estratégia cognitiva de leitura, o conjunto de “[...] princípios que regem o comportamento inconsciente e automático do leitor, e seu conjunto serve essencialmente para construir a coerência local do texto”. (BAKER; BROWN, 1984, p. 54). Como exemplo citam-se a escolha provisória do melhor sentido para determinada expressão linguística, a testagem das hipóteses, regressão a determinadas passagens do texto, a decodificação linguística,

a iniciação ou o reconhecimento da tarefa de leitura, a inferência do sentido por meio do contexto, a predição ou previsão do sentido através do conhecimento de mundo, a confirmação ou a desconfirmação das hipóteses, a correção do sentido e a finalização da leitura realizada. Estratégias metacognitivas, por sua vez, implicam “[...] atividades que pressupõem reflexão e controle consciente sobre o próprio conhecimento, sobre o próprio fazer, sobre a própria capacidade” (KLEIMAN, 1989, p. 43-44). Para Kato (1999), essas estratégias podem ser, de forma geral, resumidas em duas: o estabelecimento de um objetivo geral para a leitura e o monitoramento da compreensão para atingir esse objetivo. Na verdade, o conhecimento do propósito da leitura e compreensão do texto vai definir a maneira como o leitor vai realizá-la, podendo ser uma leitura geral (skimming), ou uma leitura de pontos específicos, e/ou uma leitura mais detalhada (scanning).

Sem dúvida, um dos primeiros passos, para desenvolver e aperfeiçoar a habilidade de ler e compreender textos escritos é a percepção de que “um leitor competente não lê de forma linear, mas sim, busca o significado global daquilo que lê [...], criando significado com base no seu conhecimento da língua e do mundo” (KATO, 1999, p.38). Para tanto, o leitor se aproxima do texto através de um processo chamado de “predição”, segundo o qual expectativas e hipóteses são formuladas a respeito do material ainda não lido a fim de prepará-lo mentalmente para a leitura, estimulando-o a pensar sobre o provável assunto do texto antes de iniciá-la. Cabe ressaltar ainda que, de acordo com Munhoz (2001), isso é feito graças ao conhecimento prévio (conhecimento de mundo) sobre o tema; através do contexto semântico (relações de sentido entre os vocábulos e as estruturas; sinônimos e paráfrases); do contexto linguístico (pistas gramaticais e lexicais; palavras repetidas e palavras de referência, etc.); do contexto não linguístico (gravuras, gráficos, tabelas, números, etc.); do conhecimento sobre a estrutura do texto (layout, título, subtítulo, divisão de parágrafos, etc.) e das marcas tipográficas (símbolos, letras maiúsculas, negrito, itálico, etc).

Segundo Kleiman (1989), um leitor eficaz é capaz de usar diferentes tipos de processamento textual ou estratégico, que podem ser ascendentes (bottom-up) ou descendentes

(top-down). Entenda-se aqui que, no processamento ascendente, o leitor faz uso, principalmente, das informações contidas no texto (elementos formais do texto), por meio da análise de palavras, frases, períodos, etc; no descendente, faz uso do conhecimento prévio, das suas experiências,

expectativas e inferências ao analisar e processar uma nova informação. Logo, a capacidade de usar esses diferentes tipos de processamento, além de possibilitar o desenvolvimento automático da leitura, possibilita a percepção de falhas durante a compreensão do texto, especialmente se o leitor estiver habituado a fazer uso de estratégias e souber avaliar qual delas pode melhor se aplicar às suas necessidades. Em síntese, com o intuito de compreender um texto ou uma determinada passagem,

[...] fazemos previsões sobre o que vamos ler adiante, a fim de compreender, e construirmos hipóteses sobre o que uma palavra especifica ou trecho tem probabilidade de significar. As nossas previsões e hipóteses têm origem naquilo que nós já entendemos antes sobre a passagem; e o retorno que recebemos, a informação que nos diz se estamos certos ou errados, vem daquilo que nós leremos a seguir. Se tivermos cometido um erro, provavelmente nos daremos conta disso [...] (SMITH, 1999, p. 88-89).

Assim, pode-se afirmar que “as estratégias de leitura capacitam o leitor a tentar compreender um texto com confiança sem depender demais das palavras como unidades independentes”. (SOARES, 2003, p. 96). Porém, como afirma Solé (1998), as estratégias de leitura não são infalíveis, embora seu uso garanta uma leitura mais significativa e competente. Infere-se, em vista disso, que o nível de eficácia dessas estratégias depende de inúmeros fatores, dentre os quais o nível de proficiência na língua-alvo, com destaque para o léxico e o conhecimento e domínio de estruturas gramaticais, tipo de texto, quantidade e qualidade do conhecimento prévio, contexto do aprendizado, propósito da leitura, tipo de estratégias empregadas e nível de compreensão textual exigido.

Tecidas algumas considerações essenciais, de cunho cognitivista, sobre leitura e estratégias de leitura, pode-se explicitar a questão do título do texto, que merece atenção especial por constituir o foco principal deste estudo. Assim, a próxima seção trata, primeiramente, do título do texto a partir da sua relação com os gêneros discursivos para, depois, situá-lo no âmbito das estratégias cognitivistas de leitura e produção textual.

No documento 2010AlineFantinelAlves (páginas 54-57)