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CAPÍTULO IV EVOLUÇÃO DA ATUAÇÃO DA COOPERATIVA MISTA DOS PRODUTORES

4.5 Evolução das Estratégias Competitivas da COMPLEM nos Anos 1980 até os

4.5.1 Estratégias da COMPLEM na década de 1980

O elemento institucional, conjunto de regras sociais, legais e políticas, estabeleceu a estrutura para a produção, troca, distribuição do leite e produtos lácteos no Brasil, tornando-se o elemento central para compreender a indústria láctea e as estratégias das empresas nela inseridas.

Até o final da década de 1980, o Estado intervinha na cadeia produtiva do leite, mediante regulamentação dos preços, tanto no que se refere aos preços finais quanto aos preços pagos ao produtor e ainda controlava as importações.

A intervenção ocorreu de diferentes formas dependendo do tipo do produto lácteo:

I. Leite tipo “C”, por ser um produto de maior importância para a cesta básica, era totalmente tabelado desde os produtores até a comercialização; II. Leite em Pó: seu preço era controlado para o consumidor e a empresa ou

cooperativa tinham que apresentar planilha de custos no CIP para fixar o preço de venda. O leite in natura era tabelado para o produtor;

III. Leites pasteurizados tipos “A” e “B” tinham preços liberados para o produtor e para o consumidor final.

No elo industrial, a intervenção nos preços, aliada às características do leite pasteurizado tipo “C”, com pouca durabilidade e necessidade de refrigeração, tornou amena a concorrência entre as empresas.

As cooperativas de produtores de leite e as empresas nacionais dominavam os mercados regionais de leite pasteurizado, ao passo que as multinacionais inseriram- se em mercados de outros derivados lácteos mais elaborados, como iogurte, leite LONGA VIDA, sobremesas e bebidas lácteas.

A Cooperativa Central de Laticínios do Estado de São Paulo (CCLP) tendo como associadas as singulares, entre elas destacando-se a COMPLEM, tinha como principais objetivos alcançar economia de escala no processo de industrialização de derivados lácteos - escala necessária para suprir a demanda na cidade de São Paulo ou mesmo em mercados regionais, caso específico do estado do Rio de

Janeiro - e reduzir o custo de produção de alguns derivados lácteos como o leite LONGA VIDA.

Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, no ano de 1980, totalizaram 34.864.991 habitantes. Tomando-se por base as estatísticas oficiais desse ano, cada habitante brasileiro tomou, em média, 100 ml de leite/dia, 1/4 abaixo da recomendação da FAO. O mercado consumidor da CCLP totalizaria o volume 1,2 bilhão de litros de leite/ano. Este número serviu como parâmetro para que a CCPL pudesse dimensionar sua capacidade de captação junto as suas singulares.

A estratégia em aumentar o volume, captado pela CCLP, teve impacto na COMPLEM. Na década de 1980, a COMPLEM transferiu a quase totalidade da produção à CCLP, em média, 99,82%. Este cenário permitiu a COMPLEM consolidar-se no mercado, utilizando a estratégia repassadora de matéria-prima “in

natura”. (Tabela 4.17).

No início da década de 1980, o volume captado pela COMPLEM registrou um total de 8,2 milhões de litros de leite/ano. Ao final, passou para 33,7 milhões litros/ano, incremento de 311,0% no período. São números relevantes e mostram que as ações da COMPLEM, no período, tiveram grandes impactos no seu crescimento de 15,2% ao ano. Entretanto, observa-se que nos anos de 1986 e, principalmente, 1989, as captações e remessas diminuíram, por causa dos aspectos

Anos Captação em litros (A) Remessa para Central em litro (B) B / A em (%) Disponível na COMPLEM ( C ) = (A) - (B) C / A em (%) 1980 8.236.842 8.195.658 99,50 41.184 0,50 1981 14.511.276 14.438.720 99,50 72.556 0,50 1982 20.852.092 20.747.832 99,50 104.260 0,50 1983 29.654.241 29.505.970 99,50 148.271 0,50 1984 33.481.194 33.313.788 99,50 167.406 0,50 1985 30.594.581 30.441.308 99,50 153.273 0,50 1986 29.630.749 29.482.595 99,50 148.154 0,50 1987 33.299.640 33.133.142 99,50 166.498 0,50 1988 32.118.205 32.045.016 99,77 73.189 0,23 1989 29.670.316 27.714.915 93,41 1.955.401 6,59 1990 33.670.167 30.716.523 91,23 2.953.644 8,77 Fonte: COMPLEM Tabela 4.17

conjunturais da economia brasileira e da intervenção do Estado na regulamentação de preços do setor lácteo. Estas determinantes no ambiente institucional proporcionaram certo desencanto na atividade, mesmo assim a queda não foi significativa. O interessante é que, em 1989, a COMPLEM inicia uma redução das remessas à CCLP. Isto levou a uma revisão parcial da estratégia da COMPLEM, conforme se verá mais adiante.

Quanto à atuação local para o aumento do volume captado, a COMPLEM buscou adesão de novos associados no município de Morrinhos e em outras localidades próximas. No início dos anos de 80, o número de associados era de 453 e, ao final da década, este quantitativo era de 2.622, significando um incremento anual de 19,2% ou 478,0% no período.

Para atração de potenciais associados à COMPLEM, utilizaram-se as seguintes ações:

I. Esclarecimento da importância dos princípios e da doutrina

cooperativista e vantagens, através de palestras, de reuniões em regiões produtoras, de cursos rápidos, e, ainda, conscientizou os futuros cooperados da necessidade de organização da classe front um mercado vulnerável.

II. Fortalecimento da educação dos cooperados com o intuito de

proporcionar satisfação com sua organização e, ainda, ser um elemento disseminador do cooperativismo;

III. Assistência aos cooperados na parte preventiva e curativa nos setores ligados à pecuária, visitando a quase totalidade das propriedades;

IV. Efetivação dos pagamentos do leite em dia e acima dos praticados pelos demais concorrentes laticinistas;

V. Prestação dos serviços de assistência técnica agronômica,

veterinária e zootécnica diferenciada dos demais concorrentes;

VI. Estabelecimento de parceria com várias instituições EMATER-GO,

SENAR-GO, NUCON e CAMPANHA AFTOSA na complementação da prestação de assistência ao produtor;

VII. Instalação de lojas de insumos e alimentos e, ainda, facilitou o pagamento das compras com do desconto em folha e/ou pagamento em litros de leite, com carência média de 30 dias;

VIII. Melhoramento do intercâmbio entre carreteiros e cooperados a fim de executar o trabalho de maneira mais eficiente e sem conflitos;

IX. Implantação de patrulhas mecanizadas para uso dos associados de forma programada.

O exercício de 1989 foi muito difícil para o setor de captação de matéria-prima, pois os produtores enfrentaram, durante quase todo o ano, a concorrência, aliado ao alto custo de produção e baixo incentivo nos insumos. Além deste quadro, a CCLP apresentou excesso de matéria-prima e, por conseqüência, houve ligeira diminuição na remessa.

Este fato que se repetiria em 1990 fez que a COMPLEM, em complementação à estratégia adotada até então, desse início ao projeto de implantação do seu parque industrial, com intenção de diversificar o destino da captação. Assim, passou a processar o leite in natura, com de produtos que viessem a consumir maior quantitativo de leite como queijo, manteiga, doce de leite e leite pasteurizado tipo “C”.

Os produtos elaborados foram comercializados no mercado regional goiano, em pequeno varejo, devido ao reduzido volume disponível inicialmente, mas com produtos lácteos de qualidade inquestionável, por causa da superior qualidade da matéria-prima na região, com plena aceitação do público consumidor.

Esta nova etapa da COMPLEM proporcionou à economia goiana maior agregação de valor, contribuiu para o aumento do número de empregos, da renda e de impostos, acelerando, por conseqüência, o desenvolvimento econômico e social da economia morrinhense e região meiapontense, reflexo dos investimentos realizados para a industrialização local do excedente do leite captado e não absorvido pela CCL