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Estudos recentes avançaram de maneira significativa no entendimento de relação tripes/TSWV, que é do tipo circulativa/propagativa. A aquisição de TSWV pelo vetor é bastante variável (4 a 45 min), ocorrendo somente no primeiro instar da fase ninfal, e após um período de latência, o vírus começa a ser transmitido a partir do final do segundo instar larval (ÁVILA, 1993a; WIJKAMP, 1995). Segundo Ávila, (1993a) o tripes adulto transmite o vírus por toda a vida. Notavelmente, as ninfas dos tripes não possuem asas e não são facilmente dispersadas pelo vento, ao passo que adultos são alados e se dispersam facilmente (YUDIN et al., 1988). Assim, o início do ciclo de infecção pode ocorrer somente quando fêmeas adultas depositam seus ovos em folhas infectadas que sejam hospedeiras apropriadas para desenvolvimento do ovo e da ninfa. Após a aquisição da partícula viral essa se multiplica no vetor (WIJKAMP et al., 1993a) com um período de incubação variando de quatro a dezoito dias em T. tabaci e de quatro a doze dias em F. fusca (SAKIMURA, 1963).

O inseto não transmite o vírus através de seus ovos (IE, 1970; TRESH, 1974). Tanto macho como fêmea são igualmente eficientes na transmissão e a transmissibilidade do vírus pelo vetor diminui consideravelmente quando ele é propagado sucessivamente através de inoculações mecânicas (PALIWAL, 1976). Este fato pode estar relacionado com a formação de mutantes de RNA interferentes defectivos (VERKLEIJ e PETERS, 1983) que podem também levar a atenuação dos sintomas (RESENDE et al., 1991).

2. 5 Estratégias de Controle de Fitoviroses

A maioria das medidas de controle para a proteção das plantas contra os vírus não se parece com as empregadas para os outros patógenos (HULL e DAVIES, 1992). Isso ocorre porque ainda não se encontrou uma substância capaz de impedir a infecção da planta pelo vírus, quando este é transmitido pelo vetor (SATAPATHY e ANJANEYULU, 1992). Desse modo, as medidas preventivas são direcionadas ao controle do vetor, ao uso de cultivares resistentes ou tolerantes e ao emprego de pré-imunização. Apesar do grande número de trabalhos com substâncias antivirais, para vírus de plantas ainda não existe uma que seja comprovadamente eficiente (FIGUEIRA, 2000).

Muitas vezes, o uso de uma ou mais medidas isoladamente, pode não ser suficiente para promover o controle de doença com valor prático. Daí ser o manejo integrado de doenças de plantas uma ação multidisciplinar, envolvendo, de forma integrada, todos os métodos que podem influenciar direta ou indiretamente a predisposição do hospedeiro ao ataque de patógenos, as formas de sua sobrevivência e disseminação e os mecanismos de mudança do ambiente. Deste modo, o manejo integrado consiste na utilização de todas as técnicas disponíveis ao agricultor. Dentro dessa ótica, o uso do manejo integrado objetiva manter as doenças das plantas abaixo do limiar de dano econômico, sem ou com menor prejuízo para o agroecossistema (GUIMARÃES, 1999).

Muitas culturas são afetadas por importantes viroses, e somente a aplicação de medidas de controle adequadas tem tornado possível a manutenção das perdas num patamar aceitável. Entretanto, muito ainda necessita ser feito no sentido de evitar as perdas, e nem sempre são avaliadas em países como o Brasil, em que o agricultor está acostumado com produtividade baixa, de modo que nem sempre questionam as suas causas ou mesmo não estão preparados para reconhecê-las. Isso ocorre freqüentemente com pequenos produtores, principalmente na produção de hortaliças em geral (FIGUEIRA, 2000).

Para um controle eficiente das fitoviroses, pressupõe-se que o vírus tenha sido identificado corretamente e que haja melhor conhecimento do complexo ecologia e epidemiologia do vírus, isto é, como se comporta o vírus em relação aos seus hospedeiros, presença de vetores e fontes de infecção em determinados ambientes e como se dá a incidência da doença (WARTERWORTH e HADIDI, 1998). As únicas soluções práticas, até o momento, consistem em controlar as viroses indiretamente, interferindo com sua ecologia natural e protegendo as culturas da infecção ou, pelo menos, reduzindo seus efeitos. (NORONHA, 1992). Sendo assim, devido ao seu modo de interação com a planta, os vírus compõem um grupo especial de patógenos, cujos métodos de controle devem ser, na sua grande maioria, de caráter preventivo (SIGVALD, 1998).

No caso de vetores alados, o isolamento geográfico, o controle químico e/ou biológico podem reduzir significativamente a incidência das viroses (PAIVA e KITAJIMA, 1985) e medidas preventivas como o uso de barreiras físicas, oferecem obstáculo à migração de insetos vetores, assegurando atraso no desenvolvimento de doenças (GUIMARÃES et al., 1997).

As barreiras para o vento, como, por exemplo, árvores e irregularidades no nível do terreno e da cultura, criam zonas de proteção em que muitos insetos se acumulam e zonas onde ventos mais rápidos os levam para longe (LEWIS e STEPHENSON, 1966; LEWIS e DIBLEY, 1970).

Enquanto a colonização de indivíduos é difícil de se observar no campo, o resultado coletivo de colonização ou “deposição” durante um período de tempo produz modelos distintos de infestação em algumas culturas. Estes modelos são amplamente determinados pelas correntes de ar locais formadas quando o vento livre encontra obstáculos, como, por exemplo, as margens das culturas ou barreiras de proteção e árvores (LEWIS, 1973; SLEUTJES, 2003).

Segundo Vida et al. (2004) o uso de telado e eliminação de plantas invasoras hospedeiras são medidas comumente utilizadas para o controle de vírus, cujos principais agentes disseminadores são insetos, podendo ter as plantas daninhas como fonte de inóculo. O telado, em cultivo protegido, consiste em instalar telas protetoras, mais comumente de náilon, junto às laterais da estufa, cuja malha impede a passagem de insetos para a cultura no interior da estufa. O uso de telado anti-afídeo proporciona boa proteção das plantas aos insetos. Costa et al. (1972), estudando os efeitos de coberturas de tela para a proteção de mudas de tomate contra a invasão de vetores, concluíram que mudas de tomate produzidas sob proteção tiveram uma produção mais elevada do que as não protegidas. Ribeiro et al. (1981), avaliando as possibilidades de controlar doenças viróticas transmitidas por afídeos através da proteção das plantas até à fase de estaqueamento do tomateiro, com telados de náilon, constataram que o tratamento é eficaz e pode ser economicamente viável no controle de viroses, particularmente sob condições que favoreçam sua incidência.

Yudin et al. (1991) obtiveram redução de 10% no número de tripes capturados através de armadilhas adesivas amarelas em campos de produção de alface, quando estes se apresentavam com barreiras formadas por redes de polivinil aluminizada, em comparação com campos sem a presença da barreira.

O controle físico, por sua vez, tem apresentado uma importância relativa crescente no controle de pragas, em função de que, na grande maioria dos casos, há poucas opções além do controle químico (NAKANO, 1999).

O controle químico dos vetores alados é útil, tanto para impedir a disseminação dentro do campo (DIFONZO et al., 1995), como para impedir a disseminação de fora para dentro do campo (WATSON e FALK, 1994). Entretanto, para impedir a transmissão de vírus de fora para dentro da cultura, o tratamento tem que ser feito na fonte de inóculo, pois se o vetor chegar à cultura trazendo o vírus, o inseticida terá pouco valor, uma vez que, antes de morrer, ele tem uma grande chance de transmitir o vírus (BACON et al., 1976).

Tradicionalmente o uso de inseticidas é recomendado para o controle de afídeos vetores. Entretanto, de maneira geral, é reconhecido que para os vírus transmitidos de forma não circulativa, o uso somente de inseticida não têm tido efeito na redução da incidência desses fitovírus, pois o inseto vetor pode transmitir o vírus rapidamente através da picada de prova (BROSDBENT, 1957 e RACCHAH, 1986). Neste caso, os inseticidas recomendados não são suficientemente rápidos para matar os vetores antes da inoculação dos vírus. Em certos casos ainda podem até aumentar a incidência dos vírus por eles transmitidos, em conseqüência da excitação causada pelos inseticidas durante as picadas de prova (SLEUTJES, 2003). Para os vírus circulativos, o controle do vetor pode resultar em controle efetivo ou parcial da virose, como é o caso do vira-cabeça do tomateiro causado por TSWV e GRSV transmitidos por tripes (F. Schultzei e T. tabaci). Para alguns vírus como CMV e o PRSV-W, a pulverização das plantas com certos tipos de óleos pode ajudar no controle. O óleo interfere na transmissão do vírus pelo pulgão, pois atua de modo a provocar a morte dos insetos por asfixia, em função da obstrução dos opérculos (KUROZAWA e PAVAN, 1997a;1997b)

Apesar de vários trabalhos terem enfocado o uso de inseticidas para reduzir a população de tripes (LEWIS, 1973; COSTA et al., 1977; CHO et al., 1989), o nível de controle obtido não foi suficiente para reduzir o número de insetos ou de plantas com sintomas da doença. Além disso, o uso intensivo de inseticidas pode ocasionar resistência por parte do vetor, bem como levar à contaminação ambiental (YUDIN et al., 1991).

O uso de variedades resistentes, imunes ou tolerantes é o método ideal para controlar doenças de plantas, pois não onera diretamente o custo de produção e não apresenta riscos (HAMMOND, 1998; BERGAMIM FILHO e AMORIM, 1996). Sendo assim, o desenvolvimento de cultivares resistentes para controle de doenças é uma solução econômica e eficiente, requerendo o mínimo ou nenhuma experiência por parte dos extensionistas ou produtores rurais (REDDY e WIGHTMAN, 1988). Quando o seu nível não

apresenta valores práticos, pode ser complementada por outras medidas de controle. O problema é a disponibilidade de variedades resistentes para a maioria das raças e das espécies de patógenos (BERGAMIM FILHO e AMORIM, 1996). Considerável esforço, tempo e recursos financeiros têm sido gastos para selecionar e melhorar cultivares resistentes a vírus, pois é importante que a cultivar melhorada tenha as características agronômicas desejadas e que não seja suscetível a outras doenças (KHETARPAL et al., 1998).

Como a disseminação de determinados vírus pode ocorrer via semente, é de suma importância que as sementes usadas na plantação tenham boa sanidade, sejam de boa procedência ou sejam material certificado (MAURY et al., 1998). Se as sementes ou mudas plantadas estiveram livres de vírus e não houver nas redondezas nenhuma fonte de inóculo, ou seja, hospedeiras vivas para o vírus e para o vetor, a chance de se evitar uma epidemia são bem grandes (SIGVALD, 1998). Somente uma revoada de insetos vetores trazidos por correntes aéreas poderiam introduzir o vírus na lavoura, e haveria uma grande chance de se não for possível evitar, pelo menos retardar bastante essa introdução (SATAPATHY, 1998). Contudo, o objetivo maior deve ser de impedir ou retardar o máximo possível a entrada do vírus na lavoura. Resultados com tendências semelhantes foram obtidos por Doodson e Saunders (1970) e Borges (2001).

Baseado na resposta sensitiva dos tripes aos diversos comprimentos de onda (LEWIS, 1959; MOFFITT, 1964; WALKER, 1974; YUDIN et al., 1987), o uso de superfícies reflexivas têm sido muito utilizada no combate aos vetores transmissores de viroses. Em grande parte o uso é de substâncias sintéticas (SCOTT et al., 1989; GREENOUGH et al., 1990; BROWN e BROWN, 1992; CSIZINSZKY et al., 1995). O uso de superfície aluminizada reduziu a porcentagem de plantas da família das solanáceas afetadas por tospoviroses em 60% na Flórida. Os tratamentos comparativos foram o plástico preto e solo sem cobertura (GREENOUGH et al., 1990).

Csizinszky et al (1995) obtiveram uma redução nos danos causados por tripes em função da utilização de materiais de diversas cores como cobertura do solo. Outros materiais de origem natural também foram testados para verificar sua ação repelente sobre os insetos (COSTA e COSTA, 1971; LITSINGER e RUHENDI, 1984; YUKI, 1990; VOS et al., 1995, GUIMARÃES e PAVAN, 1998). A casca de arroz é um material que se apresenta como alternativa viável de custo (GUIMARÃES e PAVAN, 1998). O uso de repelentes

reflexivos tais como casca de arroz e superfície de alumínio, reduz sensivelmente a incidência de vírus transmitidos por afídeos. Esses produtos repelem os insetos alados em vôo, evitando que desçam nas culturas que estão com essas proteções (LEWIS, 1973).

Litsinger e Ruhendi (1984) obtiveram a redução do número de tripes coletados em plantas de caupi quando estas se apresentavam com cobertura de palha de arroz. Guimarães e Pavan (1998) também obtiveram diferenças nas respostas de canteiros com e sem a presença de casca como cobertura de solo, na incidência de tospoviroses na cultura da alface.

De acordo com Wyman et al. (1979) o objetivo principal das superfícies colocadas no solo seria de evitar a infecção precoce das plantas. A maioria dos trabalhos mostra que após certo tempo do plantio há uma perda gradativa da repelência, aumentando bastante a incidência do vírus, chegando a ser comparável às testemunhas (MOORE et al., 1965; WOLFENBARGER e MOORE, 1967; ADLERZ e EVERETT, 1968; GEORGE e KRING, 1971 e WYMAN et al., 1979).

Para controle de viroses em alface, as áreas das plantações em qualquer das suas fases (sementeiras, canteiros, viveiros ou plantações definitivas), bem como aquelas que a circunda, devem ser tão livres quanto possível de vegetação espontânea ou de outras culturas que possam servir como fontes de vírus ou do vetor (FIGUEIRA, 2000). Além de manter a cultura no limpo, sem ervas daninhas hospedeiras dos insetos vetores e viroses, a eliminação das plantas atacadas também se faz importante (PAVAN e KUROZAWA, 1997).

Medidas para a redução do inóculo inicial ou da taxa de progresso de doença aplicadas isoladamente são, geralmente, insuficientes em nível prático para o controle de uma ou de todas as doenças incidentes numa determinada cultura (BERGAMIM FILHO e AMORIM, 2001).

Segundo Vida et al. (2001), as medidas para controle de doenças devem ser integradas num sistema flexível, que seja compatível com o controle de insetos e com os sistemas de produção utilizados, além de econômico.

Dentro desse contexto existe a necessidade de se adotar um conjunto de medidas, com diferentes abordagens simultâneas, para que o controle das fitoviroses seja satisfatoriamente eficiente.

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