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Estratégias de adaptabilidade/flexibilidade

No documento Habitação de interesse social no Porto (páginas 58-61)

CAPÍTULO 3 REABILITAÇÃO E ADAPTABILIDADE

3.2 Estratégias de adaptabilidade/flexibilidade

“As habitações evolutivas devem permitir e facilitar a adaptação ou a conversão de partes das suas áreas para a prática de uma variedade de “trabalhos de casa”, que podem até suportar o desenvolvimento e a melhoria gradual da própria habitação, realizados ou não pelo próprio habitante” [13]. Julga-se ser possível atingir o carácter evolutivo na habitação através de estratégias de adaptabilidade/flexibilidade.

Os termos adaptável e flexível são muitos vezes confundidos e utilizados para descrever o mesmo tipo de situação porém, Steven Groák [14] faz a sua distinção mais clara ao definir habitação adaptável como capaz de corresponder a diversos usos sociais e culturais, e habitação

flexível como capaz de diferentes disposições físicas. Fazendo-se, desta forma, uma associação do termo adaptável ao espaço que pode adquirir diferentes ocupações, e flexível ao espaço que se pode modificar fisicamente.

De acordo com António Baptista Coelho e António Reis Cabrita, quanto à adaptabilidade dos espaços, pode-se atribuir esta característica às seguintes duas principais zonas da habitação:

“(i) Zonas restritas à esfera familiar, através de soluções alternativas de ocupação para os mesmos espaços, como as que são apontadas:

- ocupar com sala/quarto ou com quarto de dormir “clássico”; - ocupar com quarto suplementar ou com garagem;

- ocupar com “cozinha + sala de estar + sala de jantar” ou com “sala familiar” conjugando todas estas funções.

(ii) Zonas caracterizadas pela sua natureza profissional ou relativamente pública, mediante conversões dos espaços habitacionais mais públicos ou menos adaptados a funções da habitação (ex., conversões de espaços para “atelier” ou consultório, fazer uma pequena oficina, conversão de grandes partes de um piso térreo habitacional em espaço comercial, etc)”. [13] Daniel Amaro Caetano acrescenta sobre o tema que “a adaptabilidade é alcançada através do desenho de espaços que podem ser usados de variadas formas, através da maneira como estes estão organizados, dos padrões de circulação ou através da designação específica dos espaços” [12]. Deste modo, a adaptabilidade é atingida através de um desenho espacial que pode adquirir usos polivalentes.

No que diz respeito à flexibilidade, como referido anteriormente, a esta se atribui a característica de ser aplicado numa pré ou pós ocupação:

“Numa pré-ocupação, a habitação flexível, vai permitir aos seus futuros habitantes a possibilidade de escolher a organização espacial das suas habitações. Depois da ocupação permite aos habitantes ocupar as suas casas de uma maneira muito diversa, não havendo vinculação a espaços com designações específicas e possibilitando sempre adaptações nas habitações”. [15]

O conceito de flexibilidade tem vindo a ser explorado e subdividido ao longo do tempo consoante diversos autores, contudo é assumida a sua divisão em duas noções bases: flexibilidade inicial ou conceptual (pré-ocupação) e flexibilidade permanente ou contínua (pós- ocupação).

A flexibilidade inicial ou conceptual entende-se como a possibilidade do futuro habitante intervir, juntamente com o arquiteto à quando a elaboração do projeto, no programa da habitação que a ele mais se adequa. Deste modo, permitindo desde logo a introdução de soluções flexíveis. A flexibilidade permanente ou contínua é respeitante ao período de uso da habitação, relacionando-se à possibilidade de poder alterar o seu uso e espaço físico durante o seu período de ocupação.

Os princípios construtivos da flexibilidade têm origem no Movimento Moderno, na aplicação de critérios racionalistas e funcionalistas, havendo uma simplificação formal e construtiva, recorrendo à planta livre, grandes dimensões espaciais, separação da estrutura de suporte da distribuição interior e uso da fachada livre. Assim, transportando estas bases para a habitação de interesse social, aliadas à criação de espaços neutros e à utilização de elementos amovíveis para a modificação da compartimentação, podem-se considerar procedimentos que permitem soluções flexíveis na habitação de dimensões reduzidas.

Tendo em consideração o trabalho desenvolvido por Daniel Amaro Caetano “Solução de habitação evolutiva/adaptável” [12] e de Catarina Loução Correia “Construir no contruído – Habitação flexível em bairros municipais: projecto para o bairro Padre Cruz” [15] sintetiza-se, de seguida, um conjunto de estratégias de flexibilidade na habitação.

Conceção da estrutura – separação da estrutura permanente das paredes divisórias interiores, a estrutura é concebida como um elemento estável enquanto os outros elementos podem ser modificados, substituídos ou mesmo eliminados, adquirindo um carácter temporário.

Conceção da fachada – fachadas dinâmicas ou neutras, com uma esquadria de vãos equidistantes e elementos controladores de sombreamento, privacidade, munidas de isolamento acústico e térmico. Não estando intimamente relacionadas com a divisão interior.

Conceção dos acessos – esta estratégia diz respeito à polivalência e multiplicidade destes espaços, que muitas vezes são desvalorizados. A utilização de elementos como corredores interiores, galerias exteriores ou terraços de acesso às habitações podem proporcionar espaços comuns que estimulam a interação social e aliviam a pressão no espaço habitacional.

Indeterminação espacial – utilização de compartimentação ambígua e/ou planta livre, podendo o mesmo espaço adquirir múltiplos modos de ocupação. Recorrendo à ausência de elementos divisórios rígidos e permanentes, espaços neutros e polivalentes.

Modificação ou compartimentação – é conseguida através de elementos divisórios que se podem recolher ou estender, podendo criar mais ou menos compartimentação no espaço aberto, utilizando também móveis e sua transformação. Recorrendo a elementos deslizantes, giratórios, dobráveis, etc.

Conceção de equipamentos, instalação e mobiliário – esta estratégia auxilia-se na distribuição interior pretendida, nas possibilidades de organização dos serviços e mobiliário, fazendo um uso estratégico das redes e instalações. Estas estratégias são aplicadas através de vários elementos arquitetónicos: espaços técnicos, paredes hidráulicas, móveis multifuncionais, entre outros.

Estas estratégias e respetivas ferramentas podem ser associadas e combinadas, solucionando diversos problemas. Todavia, podem igualmente ter o seu uso de forma individualizada, correspondendo aos diferentes modos de vida de cada habitante e problemas a solucionar particulares de cada habitação. Deste modo, obtém-se flexibilidade na habitação recorrendo à aplicação total ou parcial das estratégias mencionadas.

3.3 Intervenções de reabilitação em edifícios de habitação de

No documento Habitação de interesse social no Porto (páginas 58-61)