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4. Discussão de Resultados

4.7. Estratégias de Coping da/junto da Família e Amigos

Estudadas as estratégias de coping dos Recursos Humanos, vamos agora observar quais as estratégias de coping utilizadas pela/junto da família e amigos das vítimas e testemunhas, prosseguindo com a utilização da fase complexidade da metodologia de Labov (1972).

As Vítimas e Testemunhas de Bullying foram, em geral, apoiadas pela Família sempre que solicitaram ajuda ou lhes narraram a situação, independentemente da forma de enfrentamento aconselhado. No geral, a família das Vítimas aconselhou a reagir,

‘(...) os meus pais souberam e ficaram ‘como é que é possível?!’ e eu ‘é pai, é’, ‘e então não vais fazer nada?’

Narrativa nº9.a, vìtima, trabalhador por conta de outrem ou a mudar de trabalho:

‘Os meus pais diziam-me que eu não devia largar aquilo antes de encontrar outra coisa e que também era bom para o meu curriculum e quando surgiu a oportunidade depois do estagio na empresa onde estou actualmente, eles disseram-me ‘tu é que sabes, claro que vais ganhar menos, mas se achas que te vais sentir melhor, acho que é de aproveitar’.

Narrativa nº9.a, vìtima, trabalhador por conta de outrem Não obstante, numa das narrativas, a Vítima expos que nunca se colocou sequer como hipótese o abandono do trabalho, para não perder os benefícios adquiridos até ao momento e porque o 'trabalho na mesma empresa é para toda a vida':

‘Sim, (apoio) total e completo! (…) ‘É horrível mas não ligues’ mas, também não sabiam o que me haviam mais de dizer para além do chamado ‘acto de simpatia’ relativamente à situação mas, também não tinham mais nada para me dizer porque não podiam resolver a situação… ‘tu vê lá não desmoralizes, porque a situação pode-se resolver daqui a uns tempos’, essas coisas que as pessoas dizem… (...) Não, nem nunca ninguém pôs a hipótese de eu sair da empresa! Isso era uma questão que não se colocava!

Narrativa nº5, vítima, funcionário público A falta de apoio familiar e desvalorização do processo, por considerarem que mais importante do que fazer parar o Bullying é garantir o pagamento 'das contas' no final do mês, foi também um elemento presente nas narrativas:

‘A minha família nunca me apoiou por aí além. (...) Nesta altura ainda morava com os meus pais. (...) A única coisa que lhes interessava (pais) era que eu estivesse a trabalhar e pagasse as contas no final do mês’.

A ausência junto da família, por passar muito tempo fora de casa e viver para o trabalho durante o processo de Bullying e a tentativa posterior de recuperar o ‘tempo perdido’ foi um elemento referido pelas vítimas.

‘(...) eu fui inexistente para a minha mulher e para o meu filho. A minha mulher teve que se aguentar sozinha porque eu era completamente inexistente durante vários anos. Isso marcou-os. O meu filho quando fala com a psicóloga diz que sente muita falta de estar e de brincar comigo, e nesse aspecto estou agora a melhorar. (...) Mas eu agora sou muito mais caseiro do que aquilo que era, aquelas noite perdidas e de andar de um lado para o outro (...)’.

Narrativa nº3, vìtima, funcionário publico Agressividade, irritabilidade, impaciência, menor disponibilidade, introversão, afastamento e conflito com a família foram também narrados no que respeita às vítimas. No que respeita às Testemunhas, foi narrada irritabilidade e 'falta de paciência' para com a família, embora a questão do apoio familiar tenha sido por estas desvalorizado por motivo do processo que presenciavam não as afectar significativamente.

‘(...) não tinha paciência para ninguém, fora do trabalho quase que nem me podiam dizer olá que eu ‘entrava’ logo de uma forma agressiva, só me apetecia discutir com toda a gente, com a própria família, não tinha paciência quase para sair a rua, só queria era estar em casa. Andava mesmo cansado, tive noites sem dormir’.

Narrativa nº2, vìtima, trabalhador por conta de outrem ‘A minha mulher até está a par dessa situação com o (Vítima), cada vez que havia essas situações ela sabia logo... eu andava mais irritado e, se calhar, ainda ando.(...) Notei alguma diferença, talvez na maneira de reagir a certas coisas. Eu noto que tinha uma paciência quase infinita para as miúdas e, agora, estou a notar que há menos. Já não é tão infinita quanto isso’.

Narrativa nº6, testemunha, trabalhador por conta de outrem

As Testemunhas valorizaram o processo junto da família, relatando-lhes a injustiça que presenciava, a frustração por nada poder fazer e o medo de ser a próxima vítima.

‘Eu tinha muito apoio dos meus pais, que me iam buscar quase todos os dias e vinham a ouvir as minhas mágoas, contava-lhe os comportamentos ‘idiotas’ que ele (perpetrador) tinha tido naquele dia, que queria sair de lá’.

Narrativa nº8, testemunha, trabalhador por conta de outrem A completa separação da vida profissional da vida pessoal, nunca tendo comentado qualquer assunto do seu trabalho com família ou com os amigos, foi narrada pelas testemunhas:

‘Não, não. Eu consigo separar: eu quando saio do Serviço (...) às vezes posso ir preocupada com ‘amanhã tenho que fazer isto ou aquilo’ mas, não misturo as coisas e não comento, nem a nível familiar, nem a nível de amizades. Não comento o meu Serviço com ninguém’.

Narrativa nº10, testemunha, funcionário público O apoio e aconselhamento dos amigos foi a grande ajuda da vítima que narrou não ter sido apoiada pela família. Os amigos aconselharam-na a procurar outro trabalho. Narrou ter passado menos tempo com os amigos por se encontrar muito cansada.

‘Dos amigos sempre tive um apoio grande, e foi graças a eles que superei. (…) o único apoio que tinha era precisamente dos meus amigos. (…) Deram-me conselhos daquilo que deveria

fazer mas não tinha coragem para isso e deram-me apoio para mudar, para procurar outro trabalho’.

Narrativa nº1.a), vìtima, trabalhador por conta de outrem O afastamento dos amigos, o falta de desejo de conviver e a introversão foram também narrados pelas vítimas.

‘Sim, andava extremamente cansado, não tinha paciência para ninguém, fora do trabalho quase que nem me podiam dizer olá que eu ‘entrava’ logo de uma forma agressiva, só me apetecia discutir com toda a gente (...) não tinha paciência quase para sair a rua, só queria era estar em casa’.

Narrativa nº2, vìtima, trabalhador por conta de outrem A melhoria das relações sociais após tomada de consciência que o consentimento do Bullying se devia à sua própria debilidade psicológica foi uma realidade, especialmente depois do processo de cura, aliados ao desaparecimento do medo e angústia que sentia e a uma maior valorização pessoal, conforme narrado por uma vítima.

‘Depois de se ter descoberto que sou bipolar, nunca vivi tão bem quanto agora: o medo e as angústias desapareceram, ganhei auto-confiança, tenho consciência do meu valor, aceito os meus limites, não tenho nenhum problema em dizer que não sei ou que não percebo e o equilíbrio emocional que durante dezenas de anos eu nunca tinha tido, nunca me senti tão aliviado como agora’.

Narrativa nº3, vítima, funcionário público No caso das Testemunhas, não existiu qualquer alteração nas suas relações de amizade ou sociais em geral. Foi narrada a melhoria das relações sociais enquanto escape do processo que presenciava/vivenciava por uma Testemunha/Vítima.

‘Não a minha vida social não foi prejudicada, nem as relações que tinha com as pessoas’. Narrativa nº6, testemunha, trabalhador por conta de outrem ‘Não, não. Eu consigo separar: eu quando saio do Serviço vou com as preocupações do Serviço, com o trabalho que eu tenho, as vezes posso ir preocupada com amanha tenho que fazer isto ou aquilo mas, não misturo as coisas e não comento, nem a nível familiar, nem a nível de amizades’.

Narrativa nº10, testemunha, funcionário público ‘Eu andava muito mal mas, também não sei, na altura no meu relacionamento se foi para melhor se foi para pior, porque uma pessoa tende a agarrar-se muito mais fora do serviço a qualquer coisa’.

Narrativa nº4, Testemunha/Vítima, funcionário público Resumindo, a rede familiar foi um bom apoio das Vítimas de Bullying, aconselhando-as tanto a procurar outro trabalho para colocar um fim ao processo, como a permanecer na empresa, lutando para melhorar a sua situação. A existência de conflitos junto da família, em consequência do processo que vivenciavam foi também uma constante nas narrativas. A desvalorização do processo pela família foi também referida por uma das vítimas.

No que respeita às Testemunhas, existiu alguma quebra de qualidade nas relações familiares devido ao desgaste causado pelo observar do processo dos seus colegas, embora tenham referido que o processo não afectou significativamente a sua vida familiar. Numa das narrativas a testemunha destaca mesmo a completa separação da sua vida profissional da sua vida pessoal.

Os amigos foram o grande apoio da vítima que não foi ajudada pela família. As restantes vítimas narraram, por oposição, que preferiram afastar-se dos amigos durante o tempo que durou o seu processo.

No caso das Testemunhas, não existiram modificações relevantes nas suas relações sociais, tendo sido, inclusivamente, narrada por uma Testemunha/Vítima a sua intensificação como compensatório da sua situação e quotidiano profissional.