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Dificuldades em lidar com situações stressantes constituem um factor de risco para o abuso de substâncias (Ashby Wills & Hirkey, 1996). Eventos de vida stressantes podem desempenhar um papel importante na iniciação e perpetuação deste tipo de comportamento. A utilização de substâncias psicoactivas tem como objectivo regular, ou seja, reduzir sensações negativas e aumentar sensações positivas, podendo ser considerado como um comportamento de evitamento (Ashby Wills & Hirkey, 1996).

De um modo geral, as estratégias de coping são consideradas adaptativas quando constituem respostas que resolvem ou eliminam a fonte de stress, e mal adaptativas quando promovem uma fuga temporária ou evitamento relativamente ao evento stressante (Lazarus & Folkman 1984; Roth & Cohen 1986; Suls & Fletcher, 1985). A utilização de substâncias é, geralmente, vista como um exemplo de uma estratégia de coping a curto prazo, providenciando alívio temporário, mas mantendo, contudo, a fonte original de stress inalterada. Desta forma, é considerada mal-adaptativa (Folkman & Lazarus 1980; Timmer et al. 1985; Wills & Shiffman 1985; Didden, Embregts, Torn & Laarhoven, 2009). Certas estratégias de coping, como a resolução activa dos problemas, podem constituir um factor protector relativamente à utilização de substâncias, enquanto que o recurso à sua utilização enquanto forma de lidar com situações stressantes torna-se um comportamento preditivo de utilização continuada. Já a procura de suporte social constitui um factor protector em alguns estudos, e preditivo em outros (Chiong, Bry & Johnson, 2010). Os autores referem, no seu estudo, ter encontrado uma forte relação entre estilos individuais de coping e percursores de utilização de substâncias (Chiong, Bry & Johnson, 2010). Um estudo realizado por estes autores mostrou que a utilização de substâncias se relacionava de forma significativa com problemas emocionais e comportamentais, como ansiedade, depressão, agressividade e problemas de externalização. Vários estudos conceptualizam a utilização do álcool e das drogas enquanto mecanismos de gestão do stress (Marlatt, Rawson, Obert, McCann, & Marinelli-Casey, 1993; Wills & Shiffman, 1985).

Uma outra característica, o neuroticismo, (Bolger 1990; Bolger & Schilling 1991; McCrae 1990; McCrae & Costa 1986; Parkes 1986) encontra-se associado ao stress e, consequentemente, ao coping podendo estar também associado à utilização de substâncias (Cox, 1987; Earleywine et al. 1990; Martin & Sher 1994). O neuroticismo envolve estados negativos, como ansiedade, depressão, hostilidade, impulsividade e vulnerabilidade (Costa & McCrae 1985). Bolger & Schilling (1991) referem que indivíduos neuróticos apresentam maior propensão a percepcionar as situações como stressantes e a manifestar maior reactividade emocional. Uma possível explicação consiste na parca utilização de estratégias de coping adaptativas, como a hostilidade e fuga, ou seja, existe uma tentativa de diminuir o stress emocional através da alteração do significado da situação ou evitamento da situação stressante (Collins, Gollnisch & Morsheimer, 1994).

Um outro estudo, desenvolvido por López-Torrecillas et al. (2000) concluiu que indivíduos que consumiam substâncias apresentavam taxas de auto-controlo significativamente inferiores

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aqueles não consumidores. Outros estudos apontam para os mesmo resultados (Heather, 1995; Kahler et al., 1995; Room, 1989; Santacreu & Froján, 1992). Com efeito, existe uma interacção complexa entre a percepção de uma situação de alto risco, a disponibilidade de estratégias de coping para lidar com a mesma, a efectividade do comportamento e a auto percepção e auto-estima individuais (Litman, 1986). O modelo cognitivo-comportamental de recaída, postulado por Marlatt & Gordon (1985, 1996), tenta compreender este fenómeno. Segundo referem os autores, se um individuo apresenta respostas de coping adequadas e sentimentos de auto-eficácia elevados existe uma menor probabilidade de recaída perante situações de risco. Se a atractividade do comportamento de utilização enquanto comportamento de confronto perante situações stressantes (expectativa de resultados positivos) aumenta, a probabilidade de o indivíduo utilizar substâncias aumenta (Cummings, Gordon, & Marlatt, 1980). Pal and Chavan (1996) verificaram que a utilização de estratégias comportamentais era mais frequente que a utilização de estratégias cognitivas, entre um grupo de dependentes de opiáceos. Litman, Eiser, Rawson, and Oppenheim (1979) e Amodeo and Kurtz (1998) relataram que o pensamento negativo (ex. vergonha), distracção (ex. trabalhar) e evitamento eram as principais estratégias de coping utilizadas por indivíduos alcoólicos, ao invés de estratégias cognitivas. Pal and Chavan (1996) também referiram, no seu estudo com indivíduos dependentes de opiáceos, que as estratégias de coping mais utilizadas foram o afastamento de outros consumidores, evitamento de locais onde a substância era vendida, socialização com sujeitos não consumidores e procura de trabalho (como citado em Maulik, Tripathi & Hem Raj Pal, 2002).

As estrategias de coping desempenham um papel importante no evitamento da recaída e na recorrência de utilização de substâncias (Carroll, 1996; Chung et al., 2001; Cooper et al., 1992; Kadden et al., 1989; Monti et al., 1993). Estudos têm demonstrado que indivíduos que são capazes de avaliar as situações como ameaçadoras e aplicar estratégias de coping adequadas apresentam maior eficácia no evitamento da recaída (McKay et al., 1996) (como citado em Kiluk, Nich & Carroll, 2011).

Muitos dos indivíduos alcoólicos utilizam esta substância de forma a lidar com o stress e a restabelecer o equilíbrio. A bebida é utilizada para eliminar os aspectos negativos das suas vidas e aumentar os positivos (Cooper, Frone, Russell, & Mudar, 1995). Inclusive, indivíduos alcoólicos acreditam que a bebida reduz o estado de tensão e promove alterações positivas, assertividade social e sensação de prazer físico (Connors, Tarbox, & Faillace, 1993; Zarantonello, 1986). Geralmente, optam por este comportamento enquanto resposta de coping, sempre que outras estratégias mais eficazes não se encontram disponíveis (Cooper, Russell, Skinner, Frone, & Mudar, 1992). O facto de existirem expectativas elevadas acerca dos efeitos de coping positivos do acto de beber encontra-se associado com o abuso do álcool (Cooper et al., 1988) e com a recaída (Connors et al., 1993; Jones & McMahon, 1994). Quando os níveis de stress de indivíduos alcoólicos excede a sua capacidade de lidar com a situação de forma construtiva, a antecipação dos efeitos positivos do álcool tornam-se mais salientes e o risco de recaída aumenta (Donovan, 1996).

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Desta forma, grande parte dos estudos que tenta relacionar estratégias de coping e consumo de substâncias psicoactivas centra-se, sobretudo, na conceptualização desse comportamento enquanto estratégia de coping, com o objectivo de reduzir os estados de tensão emocional; outros estudos procuraram estudar a importância das estratégias de coping para a prevenção da recaída. Não foram encontradas investigações que, de uma forma abrangente, procurassem avaliar as estratégias de coping utilizadas por indivíduos consumidores.