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5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

5.6 Estratégias de enfrentamento do sofrimento mediante a

Os pós-graduandos têm uma série de responsabilidades a serem atendidas em curto espaço de tempo: atividades relacionadas às disciplinas, produção de artigos e desenvolvimento da dissertação. Os estudantes são submetidos a um ambiente que demanda adaptações para resistir às pressões (BASTOS et al., 2017).

Gosto de fazer as coisas bem feitas. Nunca deixo as atividades pra última hora e sempre faço com muito empenho. A todo o momento eu estou pensando algo sobre o andamento do curso sabe. É até estressante. Fico ansioso às vezes, tenho medo de errar, de não cumprir com os prazos, de não ser merecedor do título de mestre. Quando as demandas estão pesadas

demais, costumo acordar umas 5 da manhã para dar conta de tudo. É muita coisa (P3).

Para Mendes e Muller (2013), o trabalho propicia ao sujeito uma mobilização subjetiva, uma atividade psíquica capaz de evitar o sofrimento e resignificar sua relação com o trabalho. Assim, a psicodinâmica do trabalho tem o intuito de estudar a saúde psíquica no trabalho e privilegia a relação entre o sofrimento psíquico, procedente dos conflitos entre o sujeito e o ambiente de trabalho e as estratégias de mediação adotadas pelos trabalhadores, para lidar com o sofrimento e transformar o trabalho em fonte de prazer (BARROS; MENDES, 2003).

De acordo com Dejours (1996) o indivíduo exposto ao sofrimento pode se tornar criativo e através de uma inteligência genuína é capaz de subverter ou transgredir as normas da organização de trabalho. Destaca-se o quanto é importante promover a escuta dos profissionais, quando estes elaboram defesas individuais e coletivas contra o sofrimento.

Dessa forma, Ferreira e Mendes (2003) acrescentam que as estratégias de mobilização coletiva representam o modo como os trabalhadores agem em coletividade, em espaço público de discussão e da cooperação, com o intuito de encontrar alternativas de saídas para o sofrimento, de fazer a gestão das contradições transformando a organização em fonte de prazer e bem-estar no decurso das relações sociais.

A gente conversa muito, todos relatam as dificuldades ora em casa com a família, ora no trabalho, ora com o orientador, somos o apoio um dos outros. Estamos sempre nos ajudando (P4).

Almoçar ou lanchar com os colegas nos intervalos entre as aulas, confraternizações fora do ambiente acadêmico e convidar um colega para tomar um café e jogar conversa fora são algumas estratégias que ajudam bastante (P6).

Mendes (2007b) considera que à medida que o sujeito fala sobre si, ele toma consciência de seu comportamento e colabora para a mudança da sua percepção a respeito da situação vivida. A autora acrescenta que a produção da fala deve ocorrer

no coletivo do trabalhador, em torno das vivências experimentadas por todo o grupo submetido ao um mesmo modelo de organização do trabalho.

O sofrimento é o espaço intermediário que marca a luta entre o funcionamento psíquico e as pressões existentes no ambiente de trabalho (DEJOURS, 1996). Em muitos casos, esforços utilizados para lidar com o sofrimento geram descobertas e criações úteis para o indivíduo, transformando a situação em algo positivo (FIGUEIREDO; ALEVATO, 2013), proporcionando estratégias de enfrentamento aos sentimentos negativos causados pela academia conforme relatos abaixo:

O relacionamento com a maioria dos colegas ajuda a aliviar a tensão. Podemos compartilhar nossas dificuldades, angústias e progressos com pessoas que estão passando pela mesma situação e podem nos compreender, apoiar, incentivar e até ajudar intelectualmente. Quando compartilhamos sentimentos semelhantes, percebemos que não estamos sozinhos, que mais pessoas pensem e sentem as mesmas dificuldades. Assim, ao mesmo tempo que incentivamos os colegas, incentivamos nós mesmos. Criamos vínculos de autoajuda (P6).

Existe muita cooperação, muita solidariedade, se não fossem os amigos acredito que a possibilidade de um desequilíbrio seria muito maior. A gente conversa muito, todos relatam as dificuldades ora em casa com a família, ora no trabalho, ora com o orientador, somos o apoio um dos outros. Estamos sempre nos ajudando (P4).

[...] quando converso com amigos vejo que todos estamos no mesmo barco e

com as mesmas dificuldades para conciliar os estudos, com família, trabalho e vida social (P1).

O que me ajuda a aliviar a tensão no mestrado é fazer atividade física, fiz ioga, é o que me ajuda a dormir, a cuidar mais de mim, isto me relaxa. Gosto de aula de piano, leitura de outros assuntos, assistir filmes (P7).

Estratégias que merecem destaques referem-se à religião e à música. Os pós- graduandos consideram estas possibilidades como aliadas no enfretamento do sofrimento durante sua formação acadêmica.

A primeira estratégia na verdade é o meu choro, as lágrimas aliviam as minhas angústias. Em alguns momentos ouço música, acredito que seja uma forma de aliviar as minhas tensões. A religião, a espiritualidade me ajuda a estabelecer o equilíbrio, e converso muito, falar faz externalizar minhas dores, falo muito, isto ajuda também a manter meu equilíbrio (P4).

Faço terapia. Passo momentos agradáveis com minha família. Assisto a filmes nas horas vagas. Leio revistinhas em quadrinhos. Ouço música (P6).

A música, mais do que qualquer outra arte, tem uma representação neuropsicológica extensa, com acesso direto à afetividade, controle de impulsos, emoções e motivação (WEIGSDING; BARBOSA, 2014). A capacidade da música em influenciar o estado emocional do indivíduo se deve ao fato dela produzir reações fisiológicas, cuja magnitude parece depender do conteúdo emocional. Portanto, a percepção musical envolve muitas variáveis e áreas encefálicas e é capaz de influenciar o corpo através das reações emocionais e fisiológicas (CARTER, 2009).

Para Weigsding e Barbosa (2014) a musicoterapia também auxilia a minimizar os sinais e sintomas de várias doenças, pois melhora a comunicação, expressão, organização e relacionamentos. A música é indicada para o desenvolvimento de potenciais e recuperação de funções, com objetivos terapêuticos relevantes que envolvem a melhora das necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas do indivíduo.

Já o envolvimento religioso se configura como variável que vem ganhando relevância e reconhecimento como indicador de saúde. A religião influencia o cotidiano, os hábitos e a relação dos sujeitos com o mundo. Nela estão inseridos normas, valores, ideais e objetivos revestidos de humanidade capazes de interligar as pessoas por seu valor universal como também promove melhor qualidade nas relações (BORGES; SANTOS; PINHEIRO, 2015).

Como disse busco forças em Deus meu criador e também foco, que o final é compensador (P1).

Assim sendo, as estratégias defensivas se inserem entre a organização do trabalho e o funcionamento psíquico como um amortecedor que ameniza as pressões

organizacionais do ambiente de trabalho (BASTOS et al., 2017). O enfretamento do sofrimento ou o sofrimento criativo proporciona ao indivíduo transformar a experiência frustrante em fonte de prazer ou, ainda, de amenizar as vivências de tristeza.

5.7 Projetos futuros com base na experiência do prazer e sofrimento diante