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Estratégias de Ensino/Aprendizagem

1. Descrição do Projecto de Investigação

2.1. Estratégias de Ensino/Aprendizagem

“Consta que um psicólogo terá dito a um grupo de pessoas que teria ensinado um cão a falar. Perante a insistência daquelas, terá apresentado o cão e solicitado ao mesmo que falasse. O cão não falou. O psicólogo terá explicado que de facto ensinou o cão a falar, porém este não aprendeu” (Silva, 2007, p. 15).

A eficácia do ensino depende intrinsecamente do sucesso da aprendizagem, o que leva a inferir que qualquer abordagem de ensino deve ter em consideração uma abordagem da aprendizagem pois, sem ela, o indivíduo não retém efectivamente os conhecimentos que lhe foram transmitidos.

Silva (2007, p. 16) refere que o processo de aprendizagem inclui dois aspectos aparentemente contraditórios: a mudança e a estabilidade. A mudança é observada na alteração dos comportamentos do indivíduo decorrentes do ensino/aprendizagem, como por exemplo, a aquisição ou alteração de um comportamento. No entanto, é necessário que haja estabilidade, ou seja, retenção dos ensinamentos que têm como consequência directa a aquisição de novos padrões de comportamento para que efectivamente a aprendizagem seja bem-sucedida.

Enquanto seres tendencialmente sociáveis, o processo educativo não pode ser entendido como um processo isolado que não sofre influências externas ao indivíduo. Vygotsky25 desenvolveu a Teoria Sociocultural que defende que o processo de desenvolvimento do indivíduo está dependente do meio em que se insere, dado que o indivíduo se desenvolve e constrói o seu conhecimento através dos estímulos provenientes do meio externo em que se insere (Sousa, 2005, p. 43). Aplicando-se o caso à educação, os alunos encontram-se inseridos num grupo sociocultural detentor de uma história, cultura, tradição, saberes, etc.,

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Lev Vygotsky (1896 – 1934) foi um importante pedagogo da sua época. Desenvolveu a Teoria Sociocultural que defende que o contexto é responsável pelo desenvolvimento do sujeito.

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e, como tal, o seu desenvolvimento é feito com base nas suas experiências de vida e na interacção que estabelece com os outros indivíduos. Desta forma, observa-se que é na família, enquanto meio em que a criança maioritariamente se desenvolve nos primeiros estágios de vida, que experiencia mais vivamente uma socialização, usufruindo de experiências fundamentais na construção de afectos e apropriação de conhecimentos socioculturais, pessoais, entre outros (Matta, 2001, p. 327).

Posto isto, os professores devem tornar-se capazes de compreender o contexto sociocultural em que a criança se insere por forma a adaptar as suas estratégias de ensino ao indivíduo em concreto, bem como compreender as suas características inerentes a cada estágio de desenvolvimento. No século XX, a Teoria Genética de Piaget aponta que o processo de educação deve ter em consideração os diferentes estágios de desenvolvimento dos indivíduos para que os professores possam conhecer o progresso cognitivo e as possibilidades de raciocínio de cada aluno em cada estágio de desenvolvimento. Além disto, Piaget alerta para que os professores se tornem auxiliadores da sua aprendizagem e não apenas transmissores de conhecimento (Morgado, 2005, p. 38). Verifica-se que Piaget pretende incentivar a um ensino direccionado ao desenvolvimento da criança, abandonando o ensino tradicional baseado na pura recitação de conhecimento em que os alunos são sujeitos passivos na sua educação. Desta forma, o ensino deverá afastar-se de um ensino organizado na lógica da retenção e evocação mnésica da informação, ou seja, a aprendizagem deve significar a construção de conhecimento e destrezas cognitivas que proporcionem a aquisição e utilização de processos de análise de resolução de problemas (Rosário & Almeida, 2005, p. 144).

A elaboração de estratégias de ensino inovadoras e criativas permitem assim revolucionar o ensino e abandonar por completo o ensino tradicional referido acima. Segundo Lopes e Silva (2010, p. 135) as estratégias representam planos de acção que conduzem o ensino em direcção a objectivos anteriormente fixados. Por outras palavras, uma estratégia de ensino é um conjunto de acções que o professor delineia para alcançar determinados objectivos de aprendizagem nos alunos. Os mesmos autores enumeram algumas estratégias de ensino: ensino recíproco, instrução directa, ilustrações, ensino indutivo, ensino de estratégias de resolução de problemas, entre outras (Lopes & Silva, 2010, p. 136). Para o desenvolvimento

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destas estratégias, o docente deve dotar-se de métodos e outros meios necessários para atingir os objectivos traçados.

O ensino de estratégias de resolução de problemas pretende dotar os alunos de instrumentos que lhes permitam elaborar planos de acção que possam auxiliá-los a ultrapassar um desafio ou a atingir um objectivo. O desenvolvimento desta competência reforça a autonomização dos alunos relativamente à aprendizagem, na medida em que serão assim capazes de compreender os seus desafios e problemas e construir o caminho para os enfrentar, sem depender essencialmente do professor para tal.

Estando directamente relacionadas, as estratégias de ensino devem enquadrar-se nas estratégias de aprendizagem para que possam surtir o efeito pretendido. Segundo Bruner (como referido em Rafael, 2005, p. 170) depreende-se que as estratégias de ensino devem ser desenvolvidas tendo em consideração as experiências que mais eficazmente incutem no indivíduo uma vontade para a aprendizagem, como devem ser estruturadas as informações para que possam ser compreendidas pelos alunos, entre outros.

Lopes e Silva (2010) referem que os estilos de aprendizagem “podem ser usados para prever que tipos de estratégias ou métodos de ensino serão mais eficazes para que um determinado aluno leve a cabo uma determinada tarefa com êxito” (p. 301). Assim, num aluno cujo estilo de aprendizagem seja a partir de texto escrito ou imagem, o professor deverá incrementar estratégias de ensino que utilizem maioritariamente recursos escritos e pictóricos por forma a incrementar a aprendizagem do educando.

Segundo Simão (2005) as estratégias de aprendizagem são “[…] operações ou actividades mentais que facilitam e desenvolvem os diversos processos de aprendizagem escolar […]” (p. 264). Lopes e Silva (2010, p. 155) referem que as estratégias de aprendizagem têm como principal objectivo dotar os alunos de ferramentas para aprenderem de forma autónoma os diferentes conteúdos curriculares, permitindo incrementar e potenciar a aprendizagem visto que os alunos aprendem a aprender. Neste sentido, as estratégias de aprendizagem demonstram ser um mecanismo essencial para os alunos na medida em que os dotam de ferramentas capazes de os auxiliar na resolução de problemas e a tornarem-se indivíduos mais autónomos relativamente à sua educação. Segundo Simão (2005)

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“só quando o aluno dá mostras de se ajustar continuamente às mudanças e variações que se vão produzindo no decurso da actividade, sempre com a finalidade última de alcançar o objectivo a atingir de modo mais eficaz possível, é que podemos falar de utilização de estratégias de aprendizagem” (pp. 265-266).

A motivação mostra-se um factor crucial na aprendizagem de um aluno e o professor possui um papel fundamental na estimulação da mesma. Lemos (2005) afirma que o “desejo e a vontade de aprender são talvez os mais importantes alicerces da aprendizagem e do desenvolvimento humano” (p. 193) e refere que a motivação produz melhor aprendizagem e desempenho, bem como mais confiança em si próprio, verificando-se que “os alunos motivados demonstram comportamentos e pensamentos que optimizam a aprendizagem e o desempenho, tais como tomar iniciativas, enfrentar o desafio ou utilizar estratégias de resolução de problemas” (Lemos, 2005, p. 193). A motivação dos alunos pode ser desenvolvida através da organização dinâmica das aulas, do ensino dos conteúdos de forma mais didáctica e divertida com o intuito de alegrar e incutir o desejo e a vontade de aprender.

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