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2. Da Moderna Teoria da Carteira às Estratégias de Investimento dos fundos de

2.4. Estratégia de Investimento de Fundos de Pensão.

2.4.2. Estratégias de Investimento para Planos de Benefício Definido.

Os autores que fizeram as principais contribuições às estratégias de investimentos se dividem em dois grupos principais, os que propõem modelos com diferentes níveis de exposição dos fundos a ativos com risco, e de que forma esta exposição se dá. Outro grupo, menos numeroso, propõe a simples securitização dos passivos atuariais, fazendo

investimento em ativos que garantam a rentabilidade necessária ao pagamento das pensões. Ambos os grupos fazem uso do ALM para definir o valor dos fundos necessários para garantir o pagamento das pensões. Conforme Campbell e Viceira (2005) uma representação simplificada deste modelo pode explicar a sua importância para a análise de investimentos:

t

t

t

A

L

S

=

-

Equação 19: Equilíbrio do superavit atuarial do fundo de pensão.

Na equação o superavit atuarial (surplus) no período t é calculado pela diferença entre a soma dos ativos (assets) no período t, e as obrigações financeiras (liabilities) no período t. Se a soma dos ativos for superior as obrigações, ocorre um excesso atuarial de fundos (over funded), e neste caso o fundo pode escolher por reduzir as contribuições da empresa e dos participantes. No caso inverso, se as obrigações forem superiores a soma dos ativos, o fundo se encontra em uma situação de deficit atuarial, e no período t terá dificuldades em honrar suas dividas com os participantes, sendo necessário a identificação de medidas para que os ativos se rentabilizem de forma mais eficiente, ou ocorram aumentos nas contribuições, que como já foi identificado anteriormente, é um assunto delicado e depende de negociação das partes, geralmente envolvendo um planejamento sólido das medidas para o saneamento do deficit atuarial.

De forma complementar a proposição de Campbell e Viceira (2005), Boulier et al (1995, p.363) identifica que a eficiência do gerenciamento da carteira tem uma relação direta com o valor das contribuições, as decisões tomadas em um ano geram impacto nos períodos futuros, os autores então fazem uso da otimização em múltiplos períodos, fazendo uso do rebalanceamento das estratégias através do cálculo estocástico, essa é a chamada administração ativa.

Como identificado por Campbell, Chan e Viceira (2001), a estratégia de múltiplos períodos foi proposta inicialmente por Samuelson (1969) e Merton (1969,1971, 1973). Apesar de se mostrar bastante interessante do ponto de vista teórico, o modelo é muito difícil de ser aplicado, sendo que o mesmo só começou a gerar impacto no meio acadêmico após o desenvolvimento de capacidade computacional adequada e de novos métodos matemáticos que pudessem atender sua necessidade formal. Autores desenvolveram aplicações para o modelo através de aproximações de séries discretas, como as propostas por Barberis (1999), Brennan et al (1997), Cocco et al (1998), sempre fazendo uso de um modelo de tempo continuo com apenas um ativo com risco. Apesar destes desenvolvimentos, Campbell, Chan e Viceira (2001) ponderam que apesar de apresentarem resultados interessantes, com conclusões bastante úteis, os modelos são bastante imprecisos e lentos devido à complexidade de sua formulação, e a dificuldade de aplicação a casos com muitos ativos com risco de maneira simultânea.

Boulier et al (1995) apresenta uma evolução ao modelo desenvolvido por Samuelson (1969) e Merton (1969,1971, 1973), onde o mesmo conclui que os investimentos do fundo devem se dividir em duas partes, a primeira se destina a securitizar o fundo, garantindo o pagamento de parcela significativa das pensões, através de investimento em ativo sem risco com característica altamente correlacionada as obrigações financeiras. Já a segunda parte do fundo deve ser alocada entre ativos com e sem risco. A exposição ao risco dessa porção do fundo depende de sua situação atuarial, quando o mesmo se encontra em situação de superávit atuarial, maior será sua aversão ao risco, minimizando sua exposição, já quando o mesmo se encontra em situação adversa, ocorre maior alocação de ativos com risco no fundo.

Esta proposição encontra respaldo teórico em Bodie (1988) que divide as obrigações financeiras de um plano de Benefício Definido em duas partes, as relativas a

pensionistas (nominal) e as relativas a participantes (planejadas). Segundo Bodie (1988), as obrigações financeiras devidas a pensionistas são definitivas e conhecidas, sendo que as mesmas podem ser securitizadas de maneira simples e eficiente ao se investir em ativos de renda fixa com características similares. Já para as obrigações planejadas para os participantes são apenas expectativas determinadas pelo ALM, devendo ser tratadas de maneira diversa. Segundo Bodie (1988), a metodologia utilizada para atender às necessidades desta porção do fundo atende apenas aos fundamentos do ALM, definindo uma meta atuarial de rentabilidade que iguale o valor do somatório dos fluxos de ativos ao total de obrigações em um dado período, como apresentado na equação 18:

(

at

)

L

A

n i n i i i

+

=

å Õ

1

Equação 20: Meta atuarial de rentabilidade.

Esta equação é uma variação da Taxa Interna de Retorno (TIR), pois a meta atuarial de retorno at iguala o fluxo de ativos nos i períodos, atualizados até a data futura de L, definindo uma meta de rentabilidade mínima a ser atingida.

A meta atuarial não é um desenvolvimento teórico de Bodie (1988), mas o mesmo a utiliza como orientador de gerenciamento de investimentos em um plano de Benefício Definido. Esta ferramenta acaba sendo muito útil, mas não pode ser considerada como uma estratégia de investimento porém, o conjunto do estudo corrobora com o modelo apresentado por Boulier el alli (1995).

Com base nos modelos identificados acima, se faz necessária uma análise mais detalhada das particularidades do modelo ALM, identificando os principais pré-requisitos empregados na criação do fluxo de obrigações futuras. Ao se mapear estas particularidades é possível identificar de que maneira as principais variáveis financeiras e estatísticas alteram os resultados computados pelo modelo. Essas informações são de extrema importância, pois

identificam os impactos a estratégia de investimentos, alterando o passivo previsto e impactando no valor da Meta Atuarial de Rentabilidade.