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Para o desenvolvimento de cultivares com boas características físicas de raiz, boa qualidade nutricional, resistência a pragas e doenças, e adaptação às nossas condições edafoclimáticas, é necessário que sejam empregadas no programa de melhoramento técnicas e estratégias que maximizem a eficiência do processo. Uma dessas ferramentas é a estimativa de parâmetros genéticos confiáveis relacionados à população em estudo, que permite conhecer profundamente a sua estrutura genética. Esse fator é essencial para a seleção dos genótipos que se destacaram na população e para a escolha do melhor método de melhoramento a ser aplicado em cada caso (VILELA, 2008). Além disso, em um programa de melhoramento de batata-doce é fundamental conhecer a magnitude da variação genética e os coeficientes de herdabilidade, visto que a variação genética é a matéria-prima do melhoramento e sem variação genética nada pode ser feito em termos de seleção. O conhecimento do controle genético de caracteres sob seleção e de suas correlações também é indispensável tanto para aumentar as chances de êxito de um programa de melhoramento quanto possibilitar reduções de tempo, custo e esforços dispendidos (MIRANDA et al., 1988).

Os estudos da variação genética entre populações naturais são fundamentais para o conhecimento da estrutura das populações, e podem ser realizados eficientemente a partir do uso de testes de procedências e progênies. Os parâmetros coeficiente de variação genética entre progênies e dentro de progênies, obtidos a partir desses testes, permitem avaliar a variabilidade genética e inferir sobre o sistema de cruzamento das espécies mais eficaz (RESENDE, 1999). A

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presença de variabilidade genética em uma população de batata-doce pode ser confirmada e quantificada pelo coeficiente de variação genética, que expressa a magnitude da variação genética em relação à média do caráter (RESENDE, 1991).

Para caracterizar uma população sob melhoramento e particularmente para obter informações sobre a natureza da ação dos genes envolvidos na herança dos caracteres sob investigação, fazer a escolha dos métodos de melhoramento aplicáveis à população e estimar os ganhos genéticos possíveis de serem obtidos, são utilizados alguns parâmetros genéticos.

A herdabilidade é um parâmetro genético que mede o grau de correspondência entre o valor fenotípico e o valor genético. Somente o valor fenotípico de um indivíduo pode ser medido diretamente, mas é o valor genético que determina sua influência na próxima geração. Assim, valores altos deste parâmetro indicam que métodos simples de seleção podem levar a ganhos consideráveis, desde que o ambiente apresente pouca influência, sendo, também, um parâmetro apropriado para determinar a intensidade de seleção a ser aplicada para um caráter específico (FEHR, 1987). Além disso, a herdabilidade não é só uma propriedade do caráter, mas também da população e das condições ambientais. Assim, como seu valor depende de todos os componentes da variância, uma alteração em qualquer um deles já pode afetar o seu valor (FALCONER, 1981). O coeficiente de herdabilidade pode ser expresso no sentido restrito e amplo, sendo que no sentido amplo expressa a proporção de variância genética em relação à variância fenotípica total observada. A herdabilidade no sentido restrito tem a finalidade de orientar o geneticista sobre a quantidade relativa da variância genética que é utilizada no melhoramento (VENCOVSKY & BARRIGA, 1992). No caso da batata-doce, a herdabilidade no sentido amplo é importante porque os efeitos de epistasia e dominância são mantidos pela propagação vegetativa (GONÇALVES NETO, 2010).

Os valores mínimo e máximo para a herdabilidade são 0 e 1, sendo o valor 0 um indicativo de que não há variação nos valores melhoradores. Qualquer tentativa de seleção com base nos fenótipos só poderá dar resultados (isto é, produzir respostas) se a herdabilidade não for nula. Por isso a sua determinação numa distribuição fenotípica constitui um passo fundamental para caracterizar geneticamente uma população para o fenótipo em causa. Ainda, segundo Bourdon (1997), a herdabilidade é o parâmetro básico para as decisões e estratégias de seleção a serem tomados em uma população, e, em geral, considera-se que valores de herdabilidade de 0,01

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a 0,20 são baixas (a característica é pouco herdável), entre 0,20 e 0,40 moderadas (a característica é moderadamente herdável) e, acima de 0,40 são altas (a característica é bastante herdável).

Quando diferentes critérios de seleção são considerados, a predição de ganhos de cada critério é muito importante, pois orienta sobre a melhor forma possível de utilizar o material genético disponível para o experimento (PAULA et al., 2002). O ganho genético por seleção depende da magnitude dos valores de herdabilidade. Para que a seleção de indivíduos superiores seja eficiente é necessário que haja variação fenotípica suficiente na população original, e que os valores de herdabilidade sejam altos, ou seja, a variação fenotípica deve expressar o resultado da ação dos genes (BUENO, 2006 citado por VILELA, 2008).

Na batata-doce o melhoramento é utilizado com intuito de aumentar a frequência dos alelos favoráveis, explorando-se a heterose da população. Dentre as técnicas de melhoramento de populações existentes, na batata-doce, geralmente é realizado o policruzamento seguido por ciclos de seleção recorrente.

O policruzamento ("policross") é um método de cruzamento onde cada material é plantado de maneira a ser circundado pelo maior número possível de materiais diferentes dele, favorecendo a recombinação do material genético.

A seleção recorrente é uma técnica de melhoramento de populações que tem por objetivo a concentração de alelos favoráveis, mantendo a variabilidade genética da população. As populações melhoradas através da seleção recorrente podem ser utilizadas diretamente como variedades de polinização aberta ou então para obtenção de linhagens endogâmicas utilizadas na produção de híbridos.

Qualquer método da seleção recorrente envolve a obtenção das progênies, sua avaliação, a seleção e o intercruzamento das melhores (RAMALHO et al., 1993). Na condução de um programa de seleção recorrente, dois aspectos são fundamentais. O primeiro consiste na avaliação das progênies retiradas de cada população. Essa deve ser realizada com o maior critério, se possível utilizando mais de um ambiente a fim de que efetivamente possam ser identificadas as progênies com as melhores combinações alélicas. O segundo aspecto consiste no intercruzamento das progênies selecionadas. Deve-se utilizar um esquema que permita o máximo de recombinação e que seja viável de ser utilizado na prática (RAMALHO et al., 1993).

O uso da seleção recorrente em batata-doce apresenta as seguintes vantagens: manutenção de alta variabilidade genética enquanto aumenta a média da população - sempre seleciona

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material com média melhor que a geração anterior e como está sempre recombinando mantém alta a variabilidade genética; grande facilidade de obtenção de semente botânica, pois, usa esquema de policruzamento onde o inseto faz polinização em grande quantidade do material pré- selecionado para florescimento precoce e produção de muita semente botânica; assim que identificar clones melhores do que aqueles já existentes, estes estarão prontos para serem liberados; grande facilidade de se introduzir novos clones neste programa de seleção recorrente. Outra alternativa para se promover o melhoramento intra-populacional é a utilização de famílias de meios-irmãos, pois essa avaliação permite que componentes de variâncias genética e fenotípica sejam estimados, fornecendo aos melhoristas informações básicas sobre o comportamento das características (RAMALHO et al, 1993).

Outro aspecto importante do melhoramento de batata-doce é que ele busca, concomitantemente, várias características de interesse, sendo, portanto, indispensável, a investigação das correlações genéticas, fenotípicas e ambientais. Esse parâmetro mede a magnitude de associação genética ou não-genética entre dois caracteres. Quando uma variável está correlacionada à outra, a variação de uma é acompanhada da variação da outra (RAMALHO, 2004). O estudo dessas correlações entre caracteres também é uma medida importante para o estabelecimento de estratégias eficientes de melhoramento genético, por indicar a influência de um caráter sobre outro (VILELA, 2008). Existem duas causas principais de correlação entre caracteres: a genética e a ambiental. A correlação genética normalmente advém do pleiotropismo, que ocorre quando um gene influencia em dois ou mais caracteres, de maneira que, se o gene segregar, causará variação simultânea nesses dois caracteres. Esta correlação é a mais usada, pois encerra uma associação de caracteres herdáveis (FALCONER, 1981; ROBINSON et al., 1951). Segundo Carvalho et al. (2004), os coeficientes de correlação (r) podem ser classificados em função da magnitude dos seus valores, a saber: muito forte (r ± 0,91 a ± 1,00), forte (r ± 0,71 a ± 0,9), média (r ± 0,51 a ± 0,70) e fraca (r ± 0,31 a ± 0,50). Através da estimativa das correlações genéticas é possível fazer a seleção indireta para um caráter desejado, e muitas vezes consegue-se assim um progresso mais rápido do que na seleção direta. Entretanto, quando duas características são correlacionadas positivamente e com alto grau de associação, mas uma delas é indesejável, o melhorista encontra dificuldades na seleção (FALCONER, 1981).

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