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2.3. Procedimentos de seleção

2.3.2. Estratégias de seleção

A possibilidade de o melhorista predizer o ganho esperado pela seleção antes mesmo que ela seja realizada é uma das maiores contribuições da genética quantitativa (RAMALHO e VENCOVSKY, 1978; HALLAUER e MIRANDA FILHO, 1981). Para CRUZ e REGAZZI (1997). De acordo com a estratégia de seleção e o ganho que ela proporcionará, pode-se orientar, de maneira mais efetiva, um programa de melhoramento, bem como predizer o sucesso do esquema seletivo adotado, decidindo, com bases científicas, quais esquemas podem resultar em maior ganho genético.

Os progressos genéticos referem-se às alterações observadas nas características de interesse, durante um ciclo de seleção, com a recombinação e/ou a multiplicação das unidades selecionadas. Tais modificações ocorrerão em magnitude e sentido variados, dependendo da estratégia e dos critérios de seleção adotados. Assim, uma das atribuições mais importantes do melhorista de plantas é identificar critérios ou estratégias de seleção capazes de promover alterações, no sentido desejado, nas características de interesse dentro de um programa de melhoramento.

O progresso genético direcionado em qualquer espécie está associado à existência de variabilidade genética, à seleção natural e/ou artificial e ao ajuste dos genótipos aos ambientes existentes. Comprovada a presença da variabilidade genética e sobretudo seu valor em relação à variação não-genética, a seleção assume grande importância no progresso genético. Por fim, a seleção objetiva acumular alelos favoráveis à característica de interesse em determinada população.

Vários são os procedimentos ou estratégias utilizados pelo melhorista para identificar os genótipos superiores numa população. Alguns levam em conta o comportamento do indivíduo, enquanto outros se fundamentam, primeiramente, no desempenho da família e, secundariamente, na superioridade relativa dos indivíduos dentro da família.

Há, também, a estratégia que utiliza, simultaneamente, as informações do indivíduo e de seus parentes, chamada de seleção combinada, sendo sempre superior aos métodos de seleção individual, de famílias e entre e dentro de famílias (FALCONER, 1987). A seleção combinada proporciona resposta superior ou, no mínimo, equivalente à seleção de famílias ou à seleção massal (LUSH,

1964), e a resposta à seleção pode ser maximizada se toda informação obtida nos parentes for também utilizada no processo seletivo (WEBER, 1982).

Os testes de progênies, instrumentos dos mais importantes para o trabalho do melhorista, têm sido usados na estimação dos parâmetros genéticos e seleção de indivíduos entre e dentro de progênies, quando se procura avaliar a magnitude e a natureza da variância genética disponível com vistas a quantificar os ganhos com a seleção e predizer o melhor método de seleção a ser utilizado. Nos referidos testes, podem ser discriminados os indivíduos superiores a serem utilizados em novos ciclos de melhoramento.

A seleção combinada, por outro lado, baseia-se em um índice que considera, simultaneamente, o comportamento do indivíduo e sua família. Dessa forma, em função dos pesos de ponderação do indivíduo e da família, é possível selecionar indivíduos superiores, porém de famílias de desempenho intermediário, ou ainda, indivíduos de desempenho intermediário pertencentes a famílias superiores (FALCONER, 1987; RESENDE e HIGA, 1994). Essa idéia não é nova no melhoramento genético. Lush (1945, 1947) realizou a primeira análise dessa questão e propôs a seleção combinada com base em valores individuais com recuperação da informação de famílias. Nesse método, a seleção é baseada em medidas genéticas (valores genéticos líquidos) e não fenotípicas, dos candidatos à seleção. Nesse contexto, o uso da seleção combinada poderá proporcionar ganhos mais elevados que os obtidos pela seleção massal ou de família.

Erickson et al. (1981) estudaram seleção para proteína em gerações

precoces do cruzamento entre Glycine soja e Glycine max. A herdabilidade do teor de proteína foi medida em F2 e F3 e o ganho por seleção massal e seleção de

famílias foi comparado na geração F3 destes cruzamentos. G. soja foi usado como

progenitor masculino em todos os cruzamentos e a porcentagem de seleção foi de 10%. A herdabilidade para proteína na geração F2 foi de 27%, obtida pela

regressão pai-filho. A herdabilidade no sentido amplo em famílias F3 cultivadas

em dois locais em uma estação foi de 78%. A média do teor de proteína em cada população selecionada foi maior do que a média da população não selecionada. As médias dos teores de proteína dos métodos de seleção foram: seleção massal em F2 e F3 48,0%; seleção massal em F3 seguida de uma única semente por

descendência, 48,8%; seleção entre famílias F3, 47,6%; e seleção entre e dentro

de famílias F3, 47,5%. O método de seleção massal foi superior ao método de

seleção precoce ter elevado o teor de proteína da população, a segregação continuou a originar genótipos de baixo teor de proteína. Conseqüentemente, passos adicionais de seleção deverão ser necessários.

Reis et al. (2004), em trabalho de melhoramento de soja, procuraram

predizer o ganho genético para produção de grãos, advindo de diferentes procedimentos de seleção e indicar, entre as populações estudadas, a mais promissora quanto à expectativa de ganhos, adotando para isso quatro estratégias de seleção para comparar os ganhos: seleção entre e dentro de famílias; seleção combinada e seleção individual para produção de grãos; e, também, para a seleção livre de pesos e de parâmetros, o número de dias e altura da planta por ocasião da maturação. Os indivíduos selecionados na geração F5 foram conduzidos e observados em campo no esquema cultivares-

padrão intercalados às linhas segregantes. Os resultados indicaram que, considerando a família no processo seletivo, a estratégia de seleção combinada foi a mais promissora. Entretanto, a estratégia de seleção individual deteve maior expectativa de progresso genético entre as quatro estratégias. Quanto aos cruzamentos, o cruzamento entre os progenitores CEPS 89-26 e FT-Cristalina foi o que apresentou maior expectativa de ganho genético.