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CAPÍTULO III: INDISCIPLINA: FACTORES RELACIONADOS COM OS

3.3 Estratégias dos Professores

Os trabalhos de Hargreaves (1975; citado por Amado, 1989) sugerem que o professor, enquanto agente educativo, tem em suas mãos a difícil tarefa de lidar com as pressões institucionais por um lado e, por outro, controlar o comportamento dos alunos em sala de aula, facto que segundo o autor, podem levar o professor a afastar-se de questões fundamentais relacionadas com o trabalho pedagógico. Em situações extremas, a actuação do professor pode ser descrita como estratégia de sobrevivência (teaching for

survival, referência de Woods, citado por Vaz da Silva, 1994), relegando os objectivos de

ensino para segundo plano.

O que nos diz a investigação relativamente a estratégias com efeito nos comportamentos dos alunos?

Estrela (1992; citada por Vaz de Silva, 1999) sugere que os critérios usados pelos professores para definição de comportamentos perturbadores, e para o desencadear de acções normativas, mostraram que os professores podem ignorar determinados comportamentos de indisciplina dos alunos, preferindo não interromper a aula e manter um clima de trabalho na sala de aula. “Só consideram como indisciplina os actos que a comprometem (à produção) ou aqueles que visam directamente a sua autoridade ou a sua pessoa” (Estrela, op.cit, pag 84).

De facto, actuações do professor que, de algum modo, interferem com o ambiente de trabalho na aula podem favorecer a ocorrência de incidentes de indisciplina. Por exemplo, Kounin e colaboradores (1996; citados por Vaz da Silva, 1999) verificaram que o mudar constante mediante demasiadas orientações, instruções e interrupções por parte dos professores contribuíam para criação de situações de indisciplina em sala.

Estudos realizados por (Brophy,1988; citado por Brown, 2003) encontraram uma correlação positiva embora fraca entre uma atitude mais elogiosa do professor e o ambiente de aprendizagem, especialmente em escolas que eram frequentados por alunos de nivel sócio-económico mais baixo. Outros estudos foraram a relação entre o desempenho dos professores e a comunicação na sala de aula. Os investigadores concluiram que os professores considerados mais eficazes são os que conseguem promover uma atmosfera de respeito mútuo. Por outro lado os professores menos eficazes tendem a ter sala de aula onde acontecem mais situações de conflito (Brown, 2003). Bowman (1983; citado por Brown, 2003) observa que, independentemente da crença de cada professor, deveria ser obrigatório fazer parte das compêtencias dos docentes estabelecer de limites, mostrar coerência nas acções, responsabilizar os alunos e incluí- los de modo a participarem activamente na vida da turma, evitar punições sem julgamento, sublinhando a importância da comunicação de espectativas positivas sobre o comportamento da turma.

Partilhando dessa visão, Laslet (1987; citado por Amado,1989) refere, “quando se considera a variedade dos factores que afectam a interacção entre os professores e as classes, torna-se evidente que não é possível sugerir métodos que os professores possam utilizar em qualquer altura para evitar qualquer confrontação”. (Pag,229)

Durante as décadas de 1960 e 1970, a abordagem que se fez da gestão do comportamento dos aluno foi direccionada mais numa perspectiva reactiva, para dotar os professores de habilidades que lhes permitiam agir sobre o comportamento quando elas ocorressem, a partir de métodos e técnicas especificas de controle do comportamento.

A partir dos anos 1970, as investigações dão conta de uma mudança de paradigma, passamos da abordagem reactiva para a abordagem preventiva na forma de lidar com o comportamento perturbador. Gettinger (1988; citado por Brown, 2003) sugere que a gestão da sala de aula preventiva ou pró-activa inclui três características que a distinguem de outras estratégias:

1. Ela é preventiva e não reactiva na natureza.

2. Ele integra métodos de gestão comportamental com instrução eficaz para facilitar a realização.

3. Centra-se sobre as dimensões do grupo na gestão da sala de aula, em vez de o comportamento de cada aluno.

Brophy e Good (1984; citados por Brown, 2003) descrevem várias orientações que devem ser seguidas pelo professor a fim de controlar o comportamento dos alunos com êxito.

1. Estabelecer uma base racional para as expectativas.

2. Enfatizam os efeitos positivos da estrutura de sala de aula para capacitar os alunos a internalizar as regras. Os estudantes não vão desenvolver as competências necessárias se houver pouca ou nenhuma estrutura.

3. Use um estilo informativo e não um estilo ditatorial ao estabelecer limitações dentro da sala de aula.

4. Correções do comportamento de um aluno deve enfatizar o comportamento desejado positivo.

5. A punição não deve ser invocado com raiva ou vingança.

Segundo estes autores, se o professor consegue, logo nos primeiros dias, implementar os aspectos mencionados acima poderá alcançar bons resultados no fim do ano lectivo. A informação e o domínio das técnicas de gestão da sala de aula, bem como noção da singularidade de cada aluno que compõe a turma, são apresentados como uma condições ideais para uma boa aprendizagem (Coplland, 1987, Doyle, 1979; citados por Amado, 1989).

Amado (2009) considera que a forma como cada professor ensina é diferente ao nível da flexibilidade e entusiasmo, do modo como vêem o aluno, nas expectativas que possuem sobre os alunos, verificando-se também diferenças a nível da personalidade dos professores. Estrela (1995; citado por Amado & Freire, 2009) refere que os professores “ apresentam diferentes sensibilidades e maneiras de estar na profissão que revelam rupturas, quer em relação às regras profissionais, quer resistência a novas formas de olhar para o processo pedagógico” . (Pag, 26)

Segundo a classificação feita por Brophy e Good (1974; citados por Amado e Freire, 2009), os professores têm actuações diferentes em sala de aula em função das expectativas que apresentem dos seus alunos. Para estes autores, existem 3 tipos de professores em função das dimensões referidas:

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Pró-activos (proactive) – estabelecem interacções amplas com a turma e com cada

aluno em particular e apresentam expectativas flexíveis acerca de cada um deles.

Os professores Reactivos (reactive) têm expectativas flexíveis e concedem grande protagonismo a alguns alunos da turma.

Os professores sobre-reactivos (overactive) – “ marcam” rápida e excessivamente os alunos, tratando os alunos em função de expectativas relativamente rígidas, fixas e estereotipadas.