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CAPÍTULO II QUANDO SE FORMA O CAMPO: O INTERESSE PELA PESQUISA

TABELA 2 QUADRO GERAL DE CARACTERIZAÇÃO DOS INFORMANTES

2.4 Estratégias metodológicas

Posto isto, optamos nesta tese de doutoramento por fazer uma abordagem qualitativa, pois acreditamos que ela nos proporcionará uma visão mais ampla dos pressupostos que desejamos investigar, visto que, a dinâmica social é permeada de fatos e valores dificilmente observados em outras abordagens. Segundo Chizotti (1991) “a abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito, o objeto e a subjetividade do sujeito (CHIZOTTI, 1991, p.79). Desta forma, o pesquisador passa a fazer parte da elaboração do conhecimento, analisando e interpretando os fenômenos norteadores das questões, atribuindo-lhes significados.

Quando situamos nossa abordagem ao nível qualitativo não se trata de uma escolha entre quantitativo e qualitativo simplesmente, pois cada método tem uma importância. No entanto, neste trabalho seria impossível tratar de questões de gênero sem o instrumental da pesquisa qualitativa. A importância de se conhecer a forma como os homens vem significando a inserção feminina no mercado de trabalho assalariado, bem como o trânsito lar/trabalho vivenciado pelas mulheres com quem eles convivem é sem dúvida um aspecto esclarecedor das relações de gênero. No entanto, para compreendermos de forma mais profunda a dinâmica e o sentido que os dados apresentados pela pesquisa têm na estruturação das relações sociais, a pesquisa

qualitativa é necessária, uma vez que esta nos permite uma prospecção no cotidiano, no sentido de conhecer a relação entre macro estruturas e os micros processos sociais desenvolvidos pelos sujeitos. Ora o estudo de práticas sociais é fundamental à compreensão das relações sociais e que tratadas a partir de estudos qualitativos nos possibilitará encontrar os elementos que produzem a dialética do movimento da vida social entre permanência e mudança. Nesse sentido, as abordagens qualitativas nos possibilitam encontrar as diferenças presentes no contexto social em relação aos padrões dados como universais.

Deste modo os instrumentos de coleta de dados utilizados pela presente pesquisa foram entrevistas semi-estruturadas e/ou guiadas e grupo focal. Entendo que estes se coadunam aos postulados teórico-metodológicos, bem como aos objetivos propostos pela pesquisa, optamos pela entrevista por se tratar de uma técnica importante que nos possibilitaria o desenvolvimento de uma estreita relação com os homens da nossa pesquisa. A Entrevista guiada ou semi-estruturada requer do pesquisador conhecimento prévio dos aspectos que se deseja pesquisar e com base neles, formula alguns pontos a tratar na entrevista. Quanto ao grupo focal este teve origem na sociologia. Hoje, é amplamente utilizado na área de marketing e também tem crescido em popularidade em outros campos de ação. Dentro da ciência social, foi Robert Merton quem publicou o primeiro trabalho utilizando o Focus Group; Paul Lazarsfeld e outros, mais tarde, introduziram essa técnica na área de marketing (MORGAN, 1988). Uma entrevista com Grupo focal envolve uma discussão objetiva conduzida ou moderada que introduz um tópico a um grupo de respondentes e direciona sua discussão sobre o tema, de uma maneira não-estruturada e natural (BAUER, 2000). O foco ou o objeto de análise é a interação dentro do grupo. Os participantes influenciam uns aos outros pelas respostas,

às idéias e colocações durante a discussão, estimulada por comentários ou questões fornecidas pelo moderador (pesquisador ou outra pessoa). Os dados fundamentais produzidos por essa técnica são transcritos das discussões do grupo, acrescidos das anotações e reflexões do moderador e de outros observadores, caso existam. As características gerais são: envolvimento de pessoas, reuniões em série, homogeneidade dos participantes quanto aos aspectos de interesse da pesquisa, geração de dados, natureza qualitativa, discussão focada em um tópico que é determinado pelo propósito da pesquisa. Deste modo, a opção em utilizar o grupo focal nos possibilitou um detalhamento aprofundado de como os homens no seu dia-a-dia significam o trânsito lar/ trabalho de suas esposas e colegas de trabalho.

Em ambas as técnicas de coleta, selecionamos dois indicadores que guiaram nossas conversas com os homens da pesquisa: 1) qual a percepção que eles tinham dessa nova configuração das relações de gênero que deu maior abertura a inserção da mulher no mercado de trabalho, desempenhando atividades antes exclusivamente masculinas; 2) como eles percebiam essa saída da mulher do espaço restrito do lar para o mundo do trabalho, e suas conseqüências para os arranjos familiares em casa. Na medida em que a discussão acerca dessas duas questões avançava, íamos pontuando na própria fala dos entrevistados outras questões que estavam diretamente correlacionadas a essas duas primeiras questões. De modo que, tal dinâmica de discussão efetuada ora através de entrevistas individuais, ora através de grupo focal, proporcionou a pesquisa um material empírico de fundamental importância para o entendimento da forma como os homens da nossa pesquisa se posicionam frente às novas demandas nas relações entre os gêneros.

Posteriormente a coleta dos dados realizada através das técnicas de pesquisa explicitadas, submetemos os dados coletados pela pesquisa à análise de conteúdo. Quando optamos em realizar uma análise de conteúdo, partimos do pressuposto de que uma parte do comportamento, opiniões ou idéias de uma pessoa se exprime sob a forma verbal ou escrita, assim sendo, acreditamos ser esta uma escolha apropriada para os objetivos aqui perseguidos. Ora, o homem é um ser inalienavelmente social, ou seja, tudo aquilo que o torna homem pertence à ordem social, ao mundo da cultura, ao universo simbólico historicamente construído, proposição defendida por COSTA (2004). Sendo assim, ao optarmos por submeter o material empírico da pesquisa a uma análise de conteúdo, nos foi permitido observar os motivos de satisfação, insatisfação, opiniões subentendidas externadas pelos nossos informantes. Segundo Bardin (1997), a análise de conteúdo torna possível analisar as entrelinhas das opiniões das pessoas, não se restringindo unicamente as palavras expressas diretamente, mas também aquelas que estão subentendidas no discurso.

A fim de empregarmos com êxito a análise de conteúdo ao material recolhido pela pesquisa, observamos três princípios elaborados por Bandin (1997) indispensáveis ao emprego da análise de conteúdo: o da objetividade, seguindo regras pré-estabelecidas, obedecendo a diretrizes claras e precisas, de forma a propiciar diferentes análises sobre o mesmo conteúdo, a fim de que outros analistas possam chegar aos mesmos resultados. Sistematicidade foi outro princípio observado, pois todo conteúdo dever ser ordenado e integrado nas categorias escolhidas, levando em consideração, é claro, os objetivos perseguidos. O último princípio observado foi o aspecto quantitativo, isto é, contabilizamos a freqüência em que ocorre a repetição do discurso elaborado pelos nossos informantes.

Por fim, acreditamos que este caminho que tomamos ao longo da construção da tese, ou seja, as escolhas teóricas e metodológicas aqui adotadas nos possibilitaram uma melhor compreensão do processo de convivência dos valores predominantes de gênero e os valores recém adquiridos, bem como evidenciar como estes se articulam com as representações simbólicas masculinas apresentadas pelos homens da nossa pesquisa.

CAPÍTULO III