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Existem formas para que possamos monitorar os tipos de autoengano envolvidos no processo de desengajamento moral.

Monitorando o desdém. Um antecedente

de desengajamento moral é bem evidente nos assassinatos ocorridos no canal — o menosprezo. Os pesquisadores Detert, Trevino e Sweitzer descobriram que os indivíduos que exibem um elevado grau de desdém em sua personalidade (i.e., baixa consideração pela natureza humana, com essa condição permanecendo estável através do tempo) têm maior probabilidade de se desengajarem moralmente. Indivíduos com essa tendência, consequentemente, são mais propensos a tomar decisões antiéticas. No entanto, o menosprezo também pode aumentar ao longo do tempo. Líderes, especialmente os que se encontram no teatro de operações, devem monitorar o moral de seus soldados (o moral é um indicador para a inclinação a desvios de conduta). Embora as frustrações, a fadiga e a exaustão emocional sejam consequências de desdobramentos longos e repetitivos, uma contínua e crescente atitude de desdém é um sinal de alerta, indicando que um soldado talvez necessite de maior orientação ou supervisão em situações eticamente desafiadoras.

Aumentando a responsabilidade. Outra forma

de reduzir o desengajamento moral é aumentar a consciência sobre as responsabilidades, seja formalmente (dentro dos sistemas) seja informalmente (por meio de alertas transmitidos pelos líderes e outros integrantes da unidade). Da mesma forma que a dispersão de responsabilidades p o d e l e v a r a o d e s e n g a j a m e n t o m o r a l , responsabilizar indivíduos diretamente por suas ações, reduz a probabilidade de comportamento antiético. Essa é a razão pela qual comerciantes

Corpos não identificados perto de uma casa incendiada, My Lai, no Vietnã, 16 Mar 68.

varejistas instalam espelhos perto de itens caros: a maioria das pessoas é incapaz de roubar enquanto literalmente olha a si próprio nos olhos.

Criando um centro de controle interno.

Detert, Trevino e Sweitzer descobriram que um centro de controle externo (uma crença dominante de que os eventos da vida de uma pessoa são o resultado de processos aleatórios, e não de suas próprias ações) pode prever o aumento de desvios de conduta. Em outras palavras, indivíduos que não acreditam que controlam resultados significativos para os demais estão menos sujeitos a manter seu comportamento em conformidade com seus próprios padrões morais. Paradoxalmente, muitas das características de nossas operações no Iraque e no Afeganistão, incluindo longos períodos de silêncio seguidos por ataques-surpresa, objetivos em constante mutação e desdobramentos repetitivos, podem levar os soldados a adotarem um centro de controle menos interno – e mais baseado no acaso.

Concentrar-se nos benefícios e nos prejuízos das ações presentes. Como mencionado, uma

forma de se desengajar moralmente é reavaliar a ação como estando a serviço de um princípio mais elevado — como quando West redefiniu os maus-tratos dos detentos de forma ostensiva para proteger suas tropas. Em discussões e processos decisórios, combatentes costumam se manter moralmente íntegros quando têm a visão global das decisões que estão tomando. Ao serem compelidos a ver os danos causados por suas ações, por mais repulsivos e dolorosos que sejam, serão menos propensos a desengajar-se moralmente. Não devemos comparar os danos de nossa linha de ação a danos prototípicos extremos, como os de campos de concentração nazistas, por exemplo. Devemos avaliar os danos de nossa ação em comparação aos seus benefícios e aos danos e benefícios de linhas de ação alternativas. Isso não significa que soldados nunca devam fazer coisas que causem danos, mas que devem avaliar tais comportamentos por meio de seus marcos morais, ao invés de se desengajarem moralmente.

O poder da linguagem. A linguagem que os

combatentes usam pode influenciar suas ações. Talvez seja melhor que líderes do Exército usem uma linguagem menos eufemística. Ao evitar o uso dessa linguagem, que poderia ofuscar a natureza de certas ações, os militares descobrirão que fica mais

1. BANDURA, A.; BARBARANELLI, C.; CAPRARA, G.V.; PASTORELLI, C. “Mechanisms of moral disengagement in the exercise of moral agency”,

Journal of Personality and Social Psychology, 71 (1996): p. 364-74.

2. DETERT, J.R., TREVINO, L.K.; SWEITZER, V.L. “Moral disengagement in ethical decision making: A study of antecedents and outcomes”, Journal of

Applied Psychology 93 (2008): (2), p. 374-91.

3. AQUINO, K.; REED, A. II.; THAU, S.; FREEMAN, D. “A grotesque and dark beauty: How the self-importance of moral identity and the mechanisms of moral disengagement influence cognitive and emotional reactions to war”, Journal

of Experimental Social Psychology 43 (2007): p. 385-92.

4. Todas as citações são de “25 most liked comments” (25 comentários mais preferidos) até 26 de janeiro de 1010, com respeito à reportagem “killings on the canal” (assassinos no canal) no CNN.com. Muitos dos citados alegam ser do componente ativo do Exército dos EUA ou veteranos de conflitos recentes, embora o anonimato torne a verificação impossível.

REFERÊNCIAS

difícil desengajar-se moralmente. Da mesma forma, deve-se evitar o uso de linguagem que desumanize pessoas do outro lado do conflito. Ao aceitar que as populações envolvidas em nossos conflitos atuais são pessoas com motivações complexas (e não simplesmente monstros terríveis, que mereçem retaliação), ficaremos menos propensos a nos desengajarmos moralmente.

Conclusão

É claro que haverá ocasiões em que nossos soldados terão de engajar-se em comportamentos destinados a causar danos ao inimigo. Essa é a natureza da guerra. No entanto, as tropas não devem ater-se indiscriminadamente a tais práticas. Antes, elas devem comparar o comportamento contemplado em marcos morais, na esperança de evitar mais incidentes como os assassinatos no canal, em Bagdá. De fato, uma parte importante da instrução do Exército busca estabelecer marcos morais para esse mesmo fim.

Essa recente pesquisa, resumida acima, evidencia quando nossos soldados terão mais propensão de se desviar moralmente e causar incidentes que sejam prejudiciais, não apenas às vítimas, mas também às próprias missões em que nossos soldados trabalham arduamente. As estratégias que recomendamos são:

● monitorar o desdém; ●

● aumentar a responsabilidade; ●

● aumentar o locus de controle interno; ●

● concentrar-se tanto nos danos quanto nos benefícios de uma dada linha de ação;

● evitar desumanizar os nossos oponentes no conflito; e

● usar uma linguagem transparente e não eufemística.MR

Major Michael L. Burgoyne, Exército dos EUA

O Major Michael Burgoyne, do Exército dos EUA, recentemente concluiu um treinamento no exterior, como Oficial especialista na América Latina e é aluno de pós-graduação na Georgetown University. O Maj Burgoyne serviu na Operação Iraqi Freedom

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