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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2 Estratégias Saúde da Família

A organização do Sistema de Saúde no Brasil enfrenta constantes mudanças, desde o século passado, resultantes das transformações econômicas, socioculturais e políticas por que passa a sociedade brasileira. Nessa trajetória, Carvalho, Martins e Cordoni Jr. (2006) identificam quatro tendências na política de saúde brasileira: Sanitarismo Campanhista, Transição, Modelo Médico-Assistencial Privativista e o Modelo Plural.

A forma de organização dos serviços de saúde nas três primeiras tendências restringia o acesso àqueles que pagavam a previdência social; as ações eram centradas na assistência hospitalar e curativa, e não respondiam de forma efetiva aos problemas de saúde da maioria da população. O modelo plural vigente inclui como sistema público o Sistema Único de Saúde (SUS).

A Constituição de 1988 incorporou mudanças no papel do Estado e alterou o sistema público de saúde, com a efetiva implantação do SUS. Toda a organização básica das ações e serviços de saúde, quanto aos princípios e diretrizes gerais para o funcionamento do sistema, foram norteadas pelas Leis

legislação, compete ao SUS prestar assistência por meio das ações de promoção, proteção e recuperação da saúde de forma integral, resolutiva e equânime.

Para a garantia dos direitos à saúde, expressos na Constituição e efetivação das ações descritas nas leis orgânicas da saúde, desde a institucionalização do SUS, com princípios e diretrizes, é necessário que se priorize a organização da rede de atenção primária de saúde, de forma a minimizar os grandes problemas e a distância entre a população e os serviços de saúde.

É necessário, também, que as ações sejam desenvolvidas num conjunto de estabelecimentos de saúde, organizados numa rede regionalizada e hierarquizada, ou seja, em níveis de complexidade crescente de ações de saúde e com tecnologias adequadas em cada nível de complexidade, com fluxo de referência e contra-referência, visando ao atendimento integral da população.

A reorientação do Sistema de Saúde no Brasil encontra-se em fase de consolidação, estruturada com suporte na atenção básica, por meio de uma rede de unidades básicas de saúde. A atenção básica constitui o primeiro nível de atenção e configura-se como porta de entrada da população ao sistema de saúde; ela deve atender a uma demanda universal, de forma equânime, integral e resolutiva. Deve também ser estruturada de maneira que atenda, de forma eficiente, eficaz e efetiva as necessidades da saúde da população adscrita (BERTUSSI; OLIVEIRA; LIMA, 2006).

O Ministério da Saúde, baseado na experiência cubana e no Projeto de Saúde da Família de Quixadá-CE, criou, em 1994, o PSF como estratégia estruturante da atenção básica, com o objetivo de contribuir para a reorientação do modelo assistencial com suporte na atenção básica, em conformidade com os princípios do SUS, com uma nova dinâmica de atuação das unidades de saúde, com a definição de responsabilidade entre os serviços de saúde e a população.

O Programa Saúde da Família é estratégia para a organização e fortalecimento da atenção básica, tendo como base a Lei nº. 8.080 e como fundamentos os princípios e diretrizes do SUS: saúde como direito, integralidade da assistência, universalidade, eqüidade, resolubilidade, intersetorialidade, humanização do atendimento e participação popular. Ante a consolidação, atualmente, não se trata de um programa e sim de uma estratégia, com nova denominação-Estratégia Saúde da Família (ESF):

Como estratégia vem se consolidando também como forma eficaz e eficiente de reorientação dos serviços de saúde e fortalecimento da atenção por meio da ampliação do acesso, da qualificação, adoção de novas práticas embasadas na promoção da saúde, nos municípios que adotam essa estratégia, vem ocorrendo, comprovadamente, significativa melhora nas condições de vida e saúde da população (BRASIL, 2001, p.73).

A estratégia, constituída como porta de entrada do usuário no sistema de saúde, lida com a complexidade do cuidar, com o diagnóstico situacional do território, imprescindível para o planejamento das ações. Bertussi, Oliveira e Lima (2001, p.137) ressaltam:

[...] é preciso que a equipe conheça a realidade da população que atende organizações familiares e comunitárias, desenvolvendo um processo de planejamento a partir da realidade, para executar ações compatíveis com as

necessidades [...]

Entender a saúde da família como estratégia de mudança, na concepção

do Ministério da Saúde, significa repensar práticas, valores e conhecimentos de

todas as pessoas envolvidas na produção social da saúde. Amplia-se a complexidade das ações a serem desenvolvidas pelos profissionais de saúde e aumentam os limites e suas possibilidades de atuação, requerendo desses profissionais novas habilidades (BRASIL, 2001).

Para obter melhor impacto sobre os diferentes fatores que interferem no processo saúde-doença, é importante que as ações tenham por base uma equipe formada por profissionais de áreas diferentes, numa abordagem de clínica ampliada, o que é reforçado pelo Ministério da Saúde:

A ação entre diferentes disciplinas pressupõe, além das ligações tradicionais, a possibilidade de a prática de um profissional se reconstruir na prática do outro, transformando ambas na intervenção do contexto em que estão inseridas. Assim, para lidar com a dinâmica da vida social das famílias assistidas e para a própria comunidade, além de procedimentos tecnológicos específicos da área de saúde, a valorização dos diversos saberes e práticas contribui para uma abordagem mais integral e resolutiva. (BRASIL, 2001, p.74).

Os profissionais da ESF têm papel fundamental na promoção da saúde, devendo trabalhar de forma integrada. Neste trabalho, são definidas atribuições comuns aos profissionais que integram a equipe (ANEXO C) e atribuições especificas para cada membro. No contexto, destacam-se as atribuições da enfermeira (ANEXO D).

A prevenção da gravidez na adolescência é uma co-responsabilidade de cada componente da equipe da Saúde da Família e vai além de aprimorar a escuta, fortalecer os vínculos, garantir o acesso às informações e aos métodos anticoncepcionais. São primordiais a intersetorialidade e as ações coletivas para a promoção, desenvolvimento de atitudes e habilidades nos adolescentes para lidar com a sexualidade, aumentando seu poder de decisão para não ceder às pressões, ampliar o poder de negociação, desenvolver o autocuidado, ampliar o acesso a atividades educativas e recreativas e estimular o protagonismo.

A efetivação das ações de saúde, para a garantia da legislação, é um desafio da ESF, pela necessidade de reorientar o modelo assistencial de saúde, imprimindo nova dinâmica da atuação e de relacionamento entre serviço de saúde e a população. Para atingir isso, é preciso que a equipe conheça a realidade da população que atende organizações familiares e comunitárias, desenvolvendo um processo de planejamento com base nessa realidade para executar ações compatíveis com as necessidades.