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Estratégias e tarefas de argumentação 40

2º Capítulo: Defesa da 1ª Premissa.

2.2. Estratégias e tarefas de argumentação 40

Durante o primeiro bloco de aulas da turma 10ºC1, a utilização de estratégias educativas, que implicaram a competência argumentativa dos alunos, serviu, principalmente, para emprestar dinâmica às metodologias de cariz dedutivo, usadas na exposição directa dos conteúdos, e um formato especial, facilmente reconhecível por parte dos alunos, que se ajustava à transmissão desses mesmos conteúdos, através da interpretação de argumentos.

Só, com o decorrer do estágio, estas mesmas estratégias passaram a conceder mais atenção ao próprio desenvolvimento da competência argumentativa dos alunos. Apenas adoptámos estratégias argumentativas mais complexas e exigentes no penúltimo conjunto de aulas do estágio (segundo bloco de aulas com a turma 11º C1), já que, só nessa altura, as estratégias educativas utilizadas passaram a contemplar a realização de tarefas que obrigavam à construção e desconstrução ou ao reconhecimento de argumentos, para além das tarefas de interpretação argumentativa, fomentadas desde o primeiro bloco de aulas do 10º C1 e concretizadas mediante a análise crítica de exemplos concretos e de saberes comprovados. A análise crítica prestava-se a indagar por possíveis correspondências entre o que era afirmado, ou negado, em cada uma das premissas que compunham o argumento apresentado, e as situações concretas ou teóricas, entretanto analisadas com a intenção de corroborar a verdade dessas mesmas proposições.

Aliás, este procedimento corroborante pode ser comparado ao modo como está estruturada a defesa do argumento-questão neste relatório. Em primeiro lugar, apresentávamos, aos alunos, argumentos dedutivamente válidos41 por intermédio dos quais

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Neste relatório “(...) «argumentar» quer dizer oferecer um conjunto de razões a favor de uma

conclusão ou oferecer dados favoráveis a uma conclusão. (...) Os argumentos são tentativas de sustentar certos pontos de vista com razões.” Weston, Anthony (1996), A Arte de argumentar, p. 13. Costumam ser suportados e

justificados através do uso da lógica, mesmo quando a utilizam abusivamente (argumentos falaciosos). Um argumento é a expressão verbal de um raciocínio ou, mais especificamente, de uma inferência. Com inferência, queremos designar o processo mental usado para derivar novos conhecimentos dos conhecimentos que já possuíamos anteriormente. Qualquer raciocínio ou inferência é constituído por juízos (acto de pensar que nos permite expressar algo, estabelecendo uma relação entre um sujeito e um predicado ao afirmar ou negar essa relação), então qualquer argumento (expressão verbal das inferências) tem de ser constituído por proposições (expressão verbal dos juízos). Mais concretamente, qualquer argumento é composto por uma ou várias premissas e uma conclusão: as proposições, para constituírem um argumento, têm de estar relacionadas, de tal modo, que uma delas, designada como conclusão, seja derivada ou sustentada pelas outras, as premissas.

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Um argumento dedutivo é a expressão verbal de uma inferência com poder demonstrativo: “os

argumentos dedutivos bem construídos são argumentos em que a verdade das premissas garante a verdade das conclusões” (Weston, Anthony (1996), A Arte de argumentar, p.69) ou seja, apresentam um encadeamento

(forma argumentativa) entre as proposições, que o constituem, que permite considerar este argumento como formalmente válido (dedutivamente válido), e isso significa que os “argumentos (dedutivos) válidos preservam a

verdade. Se começar com verdades e raciocinar validamente aquilo a que chegar será verdade.”.

pretendíamos abordar os conteúdos e as temáticas incluídas no programa de Filosofia. Estes argumentos nasciam de um encadeamento de proposições, e permitiam apresentar as temáticas a tratar segundo uma ordem facilmente reconhecida pelos alunos, que dava a revelar, com precisão, o raciocínio que tinha estado na sua origem. As proposições deviam de ser escritas numa linguagem clara, sucinta e concreta42, de maneira a tornar explícito o encadeamento entre as elas. O encadeamento de proposições também tinha de obedecer aos aspectos formais que, com necessidade, regulamentam a articulação de proposições, de maneira a compor os argumentos apresentados sob um dos formatos correspondente a uma das formas especiais argumentativas, normalmente identificadas como dedutivamente (ou necessariamente) válidas. No nosso caso, o formato argumentativo mais utilizado foi o de

modus ponens43 e, menos vezes, o de modus tollens.

Em segundo lugar, eram apreciadas razões e exemplos que visavam a verificação do valor de verdade das premissas, de modo a conseguir sustentar, ou provar, a relevância da validade44 dos argumentos apresentados e, por conseguinte, a verdade da sua conclusão. Em

terceiro lugar, procedia-se ao escrutínio das objecções, por vezes, através da comparação entre argumentos, que haviam servido para traduzir teorias filosóficas opostas, outras, através da confrontação de proposições-chave, previamente retiradas ou adaptadas a partir das proposições dos argumentos (método argumentativo muito eficaz na explicação das diferenças existentes entre perspectivas e teorias contrárias).

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“Escreva concretamente: evite termos abstractos, vagos, gerais. «Andámos durante horas ao sol» é cem vezes melhor do que «foi um extenso período de laborioso esforço».”.

Weston, Anthony (1996), A Arte de argumentar, p. 24- 43

Se representarmos cada uma das proposições por uma letra maiúscula, os formatos modus ponens e

modus tollens podem ser visualizados, como de seguida se apresenta. Modus Ponens: A / Se A, então B/ Logo B // Modus Tollens: Se A, então B/ Não B/ Logo não A, sendo A e B duas proposições quaisquer.

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A validade é uma propriedade dos argumentos e dos raciocínios. Se a validade dedutiva de um argumento não depende do conteúdo afirmado nas proposições que o constituem (a validade dedutiva depende unicamente da forma do argumento) já a relevância, ou solidez, desta validade depende sempre da combinação dos valores de verdades destas proposições. Um argumento dedutivo é dito como não válido quando à verdade simultânea de todas as suas premissas corresponder uma conclusão falsa. Assim, a relevância ou solidez de um argumento só é garantida com a verdade de todas as premissas e, simultaneamente, da sua conclusão, apesar de poderem existir argumentos cuja validade não é relevante. Por exemplo, «Nenhum homem pratica o mal. Este criminoso é homem. Logo, este criminoso não pratica o mal.» é um argumento dedutivamente válido (F; V; F), apesar de, informalmente (em termos de conteúdo), tal validade, de tipo formal, não poder ser considerada como relevante. Contudo, quando um argumento é dedutivamente válido, a relevância da sua validade pode ser garantida a partir da verdade das suas premissas, pois a sua forma argumentativa, mais a verdade das premissas, obrigam necessariamente à verdade da conclusão. “Assim, para decidirmos se um argumento é relevante temos

de usar a seguinte definição: um argumento dedutivo válido é relevante se e somente se (a) existe pelo menos um caso em que todas as premissas podem ser simultaneamente verdadeiras e (b) existe pelo menos um outro caso em que a conclusão pode ser falsa.” (Weston, Anthony (1996), A Arte de argumentar, p.133). Se podemos