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A região sudoeste de Mato Grosso é definida aqui como a área que se estende, em perfil leste-oeste, desde a cidade de Cuiabá até as proximidades da fronteira do Brasil com a Bolívia, estando completamente inserida na bacia do Alto Paraguai. É limitada a norte pelo Planalto dos Parecis e a sul pelo Pantanal Mato-grossense (Figura 1).

Esta região vem sendo alvo de estudos científicos a pouco mais de um século, tendo no trabalho de Evans (1893) sua principal e mais antiga referência. Este autor foi o primeiro a realizar um levantamento geológico sistemático, ainda que preliminar, da área.

Evans (1893) propôs as seguintes unidades estratigráficas para a região: Cuyabá Slates (filitos e quartzitos fortemente dobrados ocupando grande parte da baixada cuiabana); Corumbá e Arara Limestones (extenso pacote carbonático encontrado nas serranias da área); Rizama Sandstone (arenitos feldspáticos que se sobrepõem aos carbonatos); e Matto Shales (pelitos largamente expostos nas terras baixas do alto Paraguai). Estas unidades englobam a maioria das rochas encontradas na porção sudoeste de Mato Grosso.

As rochas de idade mais recente identificadas por Evans, e definidas por ele como Quaternárias, são as concreções ferro-magnesianas distribuídas de forma irregular em toda região, além dos depósitos aluviais (Evans, 1893). Este mesmo autor menciona também, a existência de conchas e moluscos terrestres envoltos por uma matriz carbonática, encontrados nas escarpas a leste da cidade de Cáceres, onde ocorrem as exposições das rochas do calcário Araras, em uma clara referência aos litotipos atualmente incluídos sob a denominação de Formação Xaraiés.

Após esse trabalho pouco se publicou sobre a geologia regional do sudoeste mato- grossense até o trabalho de Almeida (1964) que revisa as principais informações até então existentes, propondo modificações e sugerindo novas interpretações. Constitui-se em uma

26 obra de referência em geociências nessa porção de Mato Grosso, já que aborda aspectos da estratigrafia, geologia estrutural, geomorfologia, entre outros.

A série Cuiabá corresponde a primeira unidade descrita por Almeida (1964), depositadas sobre as rochas do embasamento cristalino, equivalente ao Cuyabá Slates de Evans (1983). Essa série, composta em sua maior parte por pelitos e secundariamente por arenitos, encontra-se francamente dobrada e metamorfizada. Filitos são as rochas mais expressivas dessa série seguidas pelos quartzitos, grauvacas e metaconglomerados. Os quartzitos sustentam as escassas elevações topográficas que se destacam na ampla e arrasada superfície da baixada cuiabana.

O Grupo Jangada é representado principalmente por conglomerados de origem glacial francamente metamorfizados, distribuídos amplamente na área de estudo, sobretudo na Província Serrana (Almeida, 1964), ocupando posição estratigráfica intermediária entre a Série Cuiabá e os carbonatos Araras.

O Grupo Araras é definido por espessa seqüência carbonática, representada por calcários na base, com espessura em torno de 200 m, associados a sedimentos pelíticos. Sobrepõe-se aí um pacote dolomítico com mais de 500 m de espessura, onde é rara a existência de fácies detríticas. Rochas desse grupo encontram-se sobretudo nas áreas serranas, onde exibem os efeitos dos dobramentos ao qual foram submetidas (Almeida, 1964).

Sobre as rochas do Grupo Araras encontra-se espesso pacote de sedimentos detríticos, de grande variedade faciológica, agrupados sob a denominação de Grupo Alto Paraguai. As seguintes formações compõem este grupo: Formação Raizama (arenitos com siltitos e folhelhos subordinados); Formação Sepotuba (folhelhos argilosos com siltitos, arenitos e calcários subordinados); Formação Diamantino (arcózios, siltitos e folhelhos com calcários subordinados) (Almeida, 1964). A Formação Sepotuba é coincidente com o Matto Shales definido por Evans (1893) do ponto de vista litológico e de distribuição espacial.

Nos limites norte-noroeste do sudoeste mato-grossense encontram-se os basaltos da serra de Tapirapuã, provavelmente do Triássico Superior. Também afloram nessa área os Arenitos dos Parecis, datados do Cretáceo Superior (Almeida, 1964).

Neste mesmo trabalho o autor define quatro depósitos Quaternários: a Formação Pantanal, os Leques aluviais, os Lateritos ferruginosos e a Formação Xaraiés. O Pantanal constitui-se em uma das maiores áreas de sedimentação continental do interior da América do Sul. Almeida (1964) definiu a Formação Pantanal como camadas arenosas finas e

27 síltico-argilosa, onde são raros os conglomerados. Sua ocorrência se dá na borda sul da região em análise, nos vales dos rios Paraguai e Cuiabá, penetrando de forma restrita para norte. Os leques aluviais estão representados pelas formações conglomeráticas depositadas nas bordas das serras areníticas em condições climáticas diferentes das atuais. Os lateritos ferruginosos constituem as concreções ferruginosas ocorrentes de modo amplo e difuso na região.

A Formação Xaraiés, anteriormente estabelecida por Almeida (1945) na região de Corumbá (MS), é definida por tufas calcárias, onde restos vegetais, carcaças de moluscos e impressões de folhas são amplamente envoltas por matriz carbonática. Esses depósitos ocorrem de modo restrito em pelo menos 50 km de extensão com espessura máxima de 100 m, por sobre o Grupo Araras e/ou Grupo Jangada (Almeida, 1964). Esses depósitos aparentam corresponder aqueles sumariamente descritos por Evans (1893).

Os trabalhos que se seguiram nessa região, em especial aqueles realizados pela CPRM e DNPM, adotaram em grande parte as colunas estratigráficas anteriormente propostas.

A principal modificação se deu no Grupo Alto Paraguai, no qual foram incluídos os carbonatos Araras, sob a denominação de Formação Araras, subdivido em membros inferior (calcítico) e superior (dolomítico). A base desse grupo é representada pela Formação Puga, dominada por paraconglomerados grauvaqueanos. Para o topo do Grupo Alto Paraguai são descritas a Formação Raizama e a Formação Diamantino. A Série Cuiabá passa a ser definida como um Grupo, englobando a Formação Bauxi (Figueiredo e Olivatti, 1974). Ribeiro Filho et al. (1975) e Luz et al. (1978) que também trabalharam na porção sudoeste de Mato Grosso adotam igualmente em seus trabalhos essa coluna estratigráfica (Figura 6 e Figura 7).

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Figura 6 (Acima) – Perfil geológico transversal à área de estudo. Modificado de Luz et al. (1978). Figura 7 (Esquerda) – Coluna estratigráfica do sudoeste de Mato Grosso (Luz et al., 1978).).

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