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O filme de Julian Schnabel foi exibido, pela primeira vez, na mostra competitiva do Festival internacional de Cannes, em 2007, e competiu à Palma de Ouro. Ainda que O

Escafandro e a borboleta tenha impressionado o público, a crítica e o júri do festival,

acabou por não ganhar o principal prêmio do festival. Em 2007, a Palma de Ouro de Cannes foi concedida ao filme romeno 4 meses, 3 semanas e 2 dias, de Cristian Mungiu. Julian Schnabel, porém, recebeu o prêmio de melhor diretor e o diretor de fotografia do filme, Janusz Kaminski, recebeu o grande prêmio técnico.

Logo após a exibição no festival de Cannes, o filme estreou na França, na Bélgica e na Suíça, em 27 de maio de 2007. Na França, o filme foi exibido, no final de semana de estreia, em 222 salas de cinema. Nos demais países, contudo, o número de salas nas quais o filme entrou em cartaz foi bem mais limitado, apenas oito na Suíça e cinco na Bélgica.

Nos Estados Unidos, O Escafandro e a borboleta, distribuído pela Miramax, entrou em cartaz apenas em dois de dezembro de 2007 nas salas de cinema, ainda que tenha sido exibido em diversos festivais no país, o primeiro deles sendo o Telluride Film Festival, em 31 de agosto de 2007. Muito provavelmente a opção por retardar em mais de seis meses o lançamento do filme se deve a intenção, que de fato se concretizou, de que o filme concorresse na temporada de premiações, em especial ao prêmio da imprensa estrangeira, o Globo de Ouro, e o prêmio da Academia, o Oscar. As distribuidoras norte-americanas têm a estratégia de lançar os filmes que visam concorrer nas premiações nos meses de novembro e dezembro, mais próximos ao período de indicações, enquanto nos meses do

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verão norte-americano se privilegiam os filmes de ação, que visam a um público mais adolescente.

Após a estreia no festival de Cannes, o filme foi exibido em diversos festivais internacionais ao redor do mundo, aonde acumulou indicações e premiações, em diferentes categorias, em especial, a de melhor filme, melhor filme estrangeiro, melhor diretor, melhor diretor de fotografia, melhor ator, para Mathieu Amalric, e a de melhor edição.

No Brasil, sua primeira exibição ocorreu justamente no festival internacional de cinema do Rio de Janeiro, em setembro de 2007. Em São Paulo, ele foi exibido no ano seguinte, no festival de cinema francês do cinema Reserva Cultural, que contou com a presença de Anne Consigny, a atriz que interpreta Claude, que auxilia Jean-Do no processo de escrever o livro. O filme, então, entrou em circuito comercial, no Brasil, em julho de 2008, um ano após sua estreia em Cannes.

Observa-se, assim, que em 2007 o lançamento do filme se concentrou em países europeus, em especial francófonos, estendendo lentamente para o mercado norte- americano e canadense e se concentrando em participações e exibições em mostras de cinema e festivais. Em 2008, a distribuição de O Escafandro e a borboleta se expande, tanto em número de salas, quanto em países e continentes. Inicialmente nos Estados Unidos, no final de semana de estreia de O Escafandro e a borboleta, em novembro de 2007, apenas três salas exibiam o filme. Já em 2008, o filme era exibido em mais de 250 salas norte-americanas. Também, nesse ano, a distribuição se expandiu consideravelmente, entrando em cartaz em salas de cinema na Ásia, na América Latina e na Oceania, além da grande maioria dos países europeus.

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Essa ampliação na distribuição e exibição do filme nas salas de cinema, que não é muito usual para filmes franceses sem grandes nomes no elenco, parece ser decorrente, primeiramente, na parceria com a Miramax, importante produtora e distribuidora norte- americana ligada aos estúdios Disney, que foi a responsável pela distribuição dos filmes em salas de cinema, em associação com a produtora francesa Pathé. A Miramax, além de importante produtora de filmes norte-americanos de diretores atuais mais conceituados como Martin Scorcese, é a principal responsável pela distribuição de diversos filmes não americanos, nos Estados Unidos e no mundo, como, por exemplo, o brasileiro Cidade de

Deus, de Fernando Meireles. Em geral, esses filmes produzidos por pequenas produtoras

independentes são exibidos em festivais e são comprados pela Miramax, ou outras distribuidoras em função de sua repercussão de crítica e público.

Dessa forma, como foi o caso de Cidade de Deus e, mais recentemente o de Tropa

de Elite, de José Padilha, após a repercussão positiva da crítica especializada nesses

festivais e mostras, O Escafandro e a borboleta ganhou uma distribuição mais ambiciosa. Também, essa se deu muito em função de seu destaque em diversas premiações, tidas como as mais importantes do cinema mundial, onde acumulou indicações e prêmios em diversas categorias, o que refletiu num maior interesse do público em relação ao filme.

O filme O Escafandro e a borboleta recebeu mais de 52 prêmios entre festivais internacionais, prêmios de associações de críticos e das associações técnicas e academias. Além disso, ainda foi indicado para mais 40 outros prêmios em diferentes categorias. Entre os prêmios mais importantes destacam-se o César francês, o Globo de Ouro, o prêmio da imprensa estrangeira dos Estados Unidos, o Bafta, o prêmio da academia britânica e o Oscar, tido como um dos mais importantes prêmios da indústria, ainda que este reflita e se centre quase que exclusivamente na produção cinematográfica norte-americana.

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Uma das primeiras premiações importantes recebidas pelo O Escafandro e a

borboleta foi o prêmio de melhor diretor para Schnabel e o prêmio técnico para o fotógrafo

Janusz Kaminski no Festival de Cannes em 2007. Ademais, foi indicado nesse ano para a Palma de Ouro, o que gerou grande destaque para o filme. No principal premio do cinema francês, o César, foi premiado o protagonista Matthieu Amalric, como melhor ator, e Juliette Welfling, com a melhor edição. Entre as indicações, no César, houve a de melhor diretor, para Schanbel, melhor roteiro, para Ronald Harwood, melhor fotografia, para Janusz Kaminski, melhor som, para Jean-Paul Mugel, Francis Wargnier e Dominique Gaborieau, e, também, O Escafandro e a borboleta recebeu a indicação de melhor filme.

Schnabel recebeu novamente o prêmio de melhor diretor, no Globo de Ouro, que também indicou o roteiro de Ronald Harwood como melhor roteiro. No prêmio da academia britânica de cinema, o Bafta, O Escafandro e a borboleta conquistou o prêmio de melhor roteiro, para o trabalho de Harwood, e foi indicado para melhor filme estrangeiro.

Curiosamente, no prêmio da academia norte-americana, o Oscar, o filme não competiu na categoria de filme estrangeiro, o que se deve, muito provavelmente, as regras próprias que balizam essa categoria, se diferindo das demais. O Escafandro e a borboleta recebeu quatro indicações, porém, não ganhou nenhuma. Novamente, as indicações foram para melhor diretor, Julian Schnabel, melhor roteiro, Ronald Harwood, melhor edição, Juliette Welfling e melhor fotografia, Janusz Kaminski.

Observa-se, assim, que além do trabalho de Matthieu Amalric, que foi bem recebido pela crítica e também alvo de premiações especialmente em festivais, há um predomínio de indicações e premiações para a direção, roteiro, fotografia, e montagem. Esses quatro elementos, que se constituem como a principal base da elaboração da linguagem cinematográfica, são os pontos mais destacáveis no filme. É por meio do

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domínio da própria linguagem do cinema, que Schnabel, juntamente com sua equipe, em especial Kaminsk, consegue transpor os obstáculos da narrativa subjetiva e em primeira pessoa de Bauby e transformá-la em imagem cinematográfica, a fim de transpor ao cinema as memórias do autor-narrador, materializando palavras, sensações e memórias em imagem, e permitindo ao espectador vivenciar a experiência ora claustrofóbica da imobilidade física de Bauby, preso ao seu corpo Escafandro que o limita, ora dela libertar- se, transpondo o espaço físico e tomando consciência da força e do poder da imaginação, que o possibilitam se movimentar livremente como uma borboleta.

Nesse sentido, é destacável o uso, no filme, dos meios da linguagem cinematográfica, para evidenciar essa oposição vivenciada pelo protagonista, para qual o espectador é levado. A transposição de Schnabel das memórias de Bauby não se vale exclusivamente do texto original e do narrador em off para materializar essa polaridade. Pelo contrário, a narração em off, que contém trechos do livro, serve como um apoio à

mise-en-scène, porém, ela não se constitui como um vetor de sustentação da narrativa. É

por meio da decupagem, da mise-en-scène, somada à montagem, que o filme materializa o relato extremamente subjetivo, beirando o umbilical de Bauby, e esse parece ser o principal trunfo do filme, merecendo assim uma análise mais detalhada, sobre a qual essa dissertação se deterá nos capítulos subsequentes.

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2 A narrativa através de um escafandro