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3. A Política Nacional de Meio Ambiental

3.5. Estruturação da Política e Gestão Ambiental de Vitória

A criação e estruturação dos órgãos ambientais municipal e estadual, ocorreram no contexto histórico de denúncias dos anos de 70 e 80, décadas caracterizadas pelo surgimento das agências estatais de meio ambiente.

No Estado do Espírito Santo, os primeiros órgãos ambientais surgiram a partir da metade da década de 70, com a criação do Instituto Estadual de Florestas, vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura. Em 1979, foi criada a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fema), com atribuições genéricas de preservação do meio ambiente, mas o órgão foi extinto antes de completar um ano, “devido à inexperiência dos funcionários do setor e da pressão das grandes empresas” (SILVA, 1994, p. 69).

As atribuições da extinta Fema foram transferidas para o Departamento de Ações Ambientais (DAA), da Secretaria de Estado da Saúde e para o Instituto Estadual de

Terras e Cartografia da Secretaria de Estado da Agricultura. Segundo informa Silva (1994), a Secretaria de Saúde, em Convênio com a Faculdade de Farmácia e Bioquímica do Espírito Santo (Fafabes), passou a desenvolver, em 1977, um trabalho de medição da poluição do ar de Vitória, por meio de monitoramento da qualidade do ar. Mesmo com deficiências estruturais, como a falta de técnicos qualificados e recursos materiais do DAA, foi elaborada a primeira lei estadual de meio ambiente, Lei Nº 3.582, de 03 de novembro de 1983. Com esta base legal, o DAA chegou a licenciar nove destilarias aprovadas pelo Proálcool no estado, e ainda realizou o primeiro cadastramento das empresas poluidoras.

A instituição da Secretaria de Estado para Assuntos do Meio Ambiente – Seama só ocorreu no ano de 1988, posteriormente à criação do órgão ambiental do município de Vitória, em 1986, e teve como atribuições o controle e a fiscalização de atividades modificadoras do meio ambiente no Estado, em conjunto com as prefeituras municipais.

Em Vitória, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente – Semmam foi instituída pela Lei Nº 3.315, em 14 de abril de 1986, na administração do Prefeito Hermes Laranja (1985-1988). Os esforços da primeira secretária de meio ambiente, Maria Glória Brito, concentraram-se na estruturação e organização do órgão. Nos seus primeiros dois anos, a Semmam atuou em três grandes linhas:

1. preservação dos recursos naturais, por meio da criação de diversos tipos de unidades de preservação e de outras medidas adotadas com o objetivo de proteger o patrimônio natural remanescente no município, dentre os quais se destacam a criação da Estação Ecológica Municipal Ilha do Lameirão (Lei 3.326/1986), a declaração de preservação da restinga da orla de Camburi (Decreto 7.295/1986), e a criação da reserva ecológica Pedra dos Olhos (Decreto 7.767/1988);

2. controle da poluição hídrica, atmosférica e do solo por meio da realização de análise semanal das praias do município; acompanhamento mensal da qualidade do ar com a realização de convênio com a FAFABES; proibição da instalação de novas pedreiras no município; e construção da Usina de Compostagem e Reciclagem de Lixo;

Para exercer essas atividades, a Semmam contava com uma estrutura organizacional mínima composta por uma unidade administrativa, uma divisão de paisagismo e meio ambiente e três diretorias de Projetos “S.O.S.” Vitória, de Projetos Especiais e Projetos Mutirão.

Mesmo contando com uma estrutura legal e técnica-administrativa precária, o órgão ambiental local, iniciou o processo de controle e adequação aos padrões ambientais legais das principais fontes poluidoras no município.

As duas grandes empresas, Companhia Vale do Rio Doce – CVRD S/A e Companhia Siderúrgica de Tubarão S/A - CST, ambas instaladas no Complexo de Tubarão, localizado a nordeste da cidade de Vitória, em período anterior ao despertar da consciência com a preservação e com a questão ambiental, passaram a ser alvo de críticas e denúncias sobre a ausência dos meios necessários de controle ambiental por parte do poder público (Semmam , 2004, p. 12).

Durante a década de 80, era freqüente nos noticiários, denúncias de poluição gerada pelas duas grandes empresas (Semmam, 2004) Havia, por um lado, desconfiança por parte dos ambientalistas e o público em geral, com relação à capacidade do poder público de controlar, adequadamente, as fontes de poluição, devido à ausência dos meios necessários de controle ambiental e falta de conhecimento e dados científicos por parte do Poder Público. Por outro lado, havia dúvida quanto à validade e confiabilidade dos estudos e relatórios apresentados pelas empresas. Questionava-se se as próprias empresas tinham noção dos resultados dos relatórios técnicos contratados à consultorias.

Somado a essas desconfianças, detectava-se resistências políticas nos bastidores do Poder Legislativo da capital, que passavam a boicotar as ações necessárias ao recém criado órgão ambiental. A Secretária de Meio Ambiente, Maria da Glória Brito, após um ano e seis meses de criação da Secretaria, denunciava no único jornal editado pelo Órgão, “a ausência de uma estrutura básica para desenvolvimento de uma ação efetiva [...]” (Semmam, 2004, p.14).

As atribuições da SEMMAM, foram ampliadas com o estabelecimento da Política Municipal de Meio Ambiente - PMMA, por meio da Lei Nº 3.502, de 17 de novembro de 1987, criada com o objetivo de proteger, recuperar e melhorar a qualidade ambiental, visando assegurar a compatibilidade do desenvolvimento sócio- econômico local com a proteção do meio ambiente e do equilíbrio ecológico.

Esta Lei incorporou a responsabilidade da implantação e execução da política ambiental do município à formulação, aplicação, promoção e difusão de normas técnicas, regulamentos e padrões de proteção, conservação e melhoria do meio ambiente; ao exercício do poder de polícia no caso de infração à lei; à elaboração de pareceres técnicos quanto aos pedidos de localização, instalação e operação de fontes poluidoras ou degradadoras.

No próximo capítulo, será analisado o contexto histórico de implantação e expansão da CVRD, no Complexo Siderúrgico de Tubarão e os impactos produzidos na qualidade de vida da população, para a seguir mostrar quais as ações tomadas pelo poder público local, na tentativa de regulamentar as atividades exercidas pela empresa na cidade de Vitória, e quais estratégias a empresa utilizou como respostas às determinações do poder local.