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ESTRUTURA AGRÁRIA DO OESTE DE SANTA CATARINA E A MODERNIZAÇÃO AGROPECUÁRIA

2 CAPÍTULO I REGIÃO OESTE: CONTEXTO HISTÓRICO E QUESTÃO AGRÁRIA

2.6 ESTRUTURA AGRÁRIA DO OESTE DE SANTA CATARINA E A MODERNIZAÇÃO AGROPECUÁRIA

Nos dois primeiros séculos de ocupação de Santa Catarina, o estado serviu muito mais como sustentação e defesa do sistema colonial do que como núcleo de produção. A região a oeste, objeto desta pesquisa, vivenciou quatro atividades econômicas principais, como afirma Bavaresco (2005): pecuária, erva mate, madeira e agroindústria. A pecuária não resultou em ocupação da região, apenas sua inserção nos mapas oficiais do Estado como caminho das tropas que seguiam do Rio Grande do Sul até as regiões mineradoras. É a pecuária que irá ligar a região sul à vida econômica da colônia.Já a erva mate, se constitui como a primeira atividade que trouxe ocupantes efetivos para a região. Apesar dos moradores viverem basicamente da extração da mesma, também cultivavam pequenas roças e criavam alguns animais. Para Poli (1987, p.13), as lavouras “somente eram para a subsistência, em função da inexistência de mercado, e mesmo, de condições para o transporte dos produtos a outras regiões, para comercialização”.

Com a chegada das colonizadoras, a dinâmica regional muda. A economia passa a girar em torno da madeira. Se as colonizadoras foram as principais responsáveis pela alteração da paisagem, o modus vivendi de trabalho dos colonos gaúchos vai mudar a estrutura agrária da região. Nas primeiras décadas, sua produção também era basicamente para a subsistência. A partir da década de 1940, e mais intensivamente a partir da década de 1960, o binômio suíno/milho vai determinar uma nova atividade para a região: a agroindustrialização. Outro produto que influenciou mudanças na estrutura agrária no oeste foi o trigo. O Estado, a partir de 1940, passou a incentivar a produção de trigo, que segundo Coradini (1982), que vai ser o carro chefe das mudanças produtivas na

agricultura brasileira.Trigo que vai ser o responsável pela criação da primeira cooperativa agropecuária de Chapecó, como veremos no capítulo II.

Para ONGHERO, pensar a historicidade do processo de constituição de determinado espaço rural é um importante elemento para a comprensão de uma região.“Especialmente a região oeste de Santa Catarina, que tem sua dinâmica social e econômica diretamente ligada ao meio rural e na atualidade encontra-se atrelado à indústria alimentícia e sujeito às oscilações do mercado e às intempéries climáticas” (2013, p.1). A maneira como foi feita a ocupação, dividindo as glebas de terras vendidas pelas colonizadoras em áreas pequenas, além do espaço geográfico bastante acidentado foi fator determinante para a constituição da estrutura agrária do oeste, onde predomina a pequena propriedade e a mão de obra familiar.

A política governamental de ocupação do oeste catarinense estava voltada para a pequena e média propriedade. Nos contratos assinados entre José Rupp e o governo do estado de Santa Catarina, em 1919, a distribuição dos lotes para fins de colonização deveriam ter as seguintes proporções: 30 a 200 hectares para agricultura (terras de mato); 100 a 500 hectares (terras de ervais); 150 a 900 hectares (terras de pinhais) e de 2000 a 4000 hectares (terras para pecuária) (WERLANG, 2006, p.35).

Ainda segundo o autor, na prática a maioria dos lotes coloniais não ultrapassou a 35 hectares. Dentro da colonização do oeste, uma característica bastante presente na fala dos migrantes gaúchos é o discurso do ethos do trabalho, que era comparado ao “relaxamento” da população local em relação as propriedades e “falta de vontade” para o trabalho. Segundo Renk, os discursos da viagem de 29 foram fundamentais para reforçar a “vocação” para o trabalho dos descendentes de europeus que passavam a habitar o oeste.

[...] o discurso da bandeira é prescritivo. Seu efeito é simbólico, na medida em que aponta a região enquanto área promissora e indicada para a colonização. Décadas depois, o discurso prescritivo é apropriado pelas elites locais para construir a identidade regional, identidade essa

construída em relação ao litoral e que passou a ser trabalhada no sentido de transformar o estigma da terra da barbárie no emblema de terra do trabalho. A categoria trabalho tem sido o idioma escolhido para expressar sua identidade. Essa matriz é resultado do processo de colonização com descendentes de europeus, os de “origem” (europeia), em oposição aos autóctones, os “brasileiros”. Aqueles advogam-se a condição de portadores de um ethos de trabalho, construtores de uma região, opondo-se aos “brasileiros”. As posições sociais no espaço social estão claramente delimitadas, o que resultou em ofícios étnicos (RENK, 2005, p.127).

Defende Renk que a imagem dos colonos gaúchos foi construída com ênfase em “representações da positividade da atividade agrícola, acoplada à pequena propriedade e família. O trabalho é, por excelência, a categoria para se representarem e enaltecerem: avançaram no espaço geográfico, venceram matas, plantaram colônias e cidades” (2000, p.180).Segue a autora ressaltando que essa vocação para o trabalho é “que os distingue e afasta dos outros, daqueles que “não trabalham”, como os brasileiros”.

Outro adjetivo dados aos colonos gaúchos, bastante destacado pelas falas de inúmeros habitantes, se relaciona aos “pioneiros”, “desbravadores” do oeste.A partir da viagem do presidente Konder esse termo ganha reforço e legitimação. Para Waibel, Chapecó está entre as zonas pioneiras mais recentes. O autor defende que “O pioneiro procura não só expandir o povoamento espacialmente, mas também intensificá- lo e criar novos e mais elevados padrões de vida.” (WAIBEL, 1955, p. 391). Os novos padrões de vida que o Estado buscava introduzir no oeste estavam inseridos na cultura dos descendentes de imigrantes europeus, que eram vistos como “o tipo ideal” para formar a cultura e o desenvolvimento regional.

Figura 7 - O trabalho com arado nas terras inclinadas do oeste. A terra “nua”, “limpa”, era sinônimo do “capricho” que, segundos os migrantes, os caboclos não tinham

Fonte: Acervo Casa Fritz Plaumann

Sertão também está entre os conceitos bastante presentes nas memórias dos migrantes, como foi destacado por Onghero. “Uma das representações mais presentes nas descrições sobre a época da chegada às novas terras diz respeito ao vazio populacional, expresso pelo termo “sertão”“ (2013, p.6). Para TOSI (2012), que veio para Chapecó pela primeira vez em 1942, “Chapecó na avenida era barro, tinha um riozinho que passava no meio. Chapecó era tudo pinhal, era sertão aqui, era uma vila, Joaçaba e Erechim eram os fornecedores de Chapecó que estava começando”. Essa imagem de sertão era construída principalmente devido a falta de recursos relacionados a saúde, transporte, comércio e necessidade básicas. Além disso, a referência a presença de índios ajudou a construir esse imaginário, como podemos perceber na fala de ONGHERO.

Viemos para Chapecó em 1940, tinha o nome de Passo dos Índios, e nós tinha receio, porque lá era só índio bugre diziam, a nós tinha medo dos índios, nem conhecia o que era índio. Falavam que índio era feroz, era perigosíssimo. Mas como

vinha muita de gente de lá para Chapecó, sempre tinha acompanhante. Chegamos aqui mas não tinha quase índio (ONGHERO, 2012).

O imaginário construído em torno dos indígenas é reforçado por SCUSSIATO (2013), que chegou em Chapecó por volta de 1937/1938, com seis anos de idade. “Chapecó era sertão ainda, era meio bagunçado, terra de índio brabo, falavam meio mal e depois ainda veio a chacina”. Essa suposta agressividade foi usada como justificativa para seu afastamento ou até eliminação da região. A busca de uma vida melhor se fazia também presente nos discursos, reforçada pelo “mérito do “desbravamento” de uma região inóspita, como podemos ver na fala de KOVALESKI, que fala que seus pais “vieram para Chapecó a procura de um celeiro melhor, de uma terra melhor. Alguma coisa melhor, porque o Rio Grande já estava saturado de gente. Vieram desbravar esse oeste, vieram aqui tinha tigre perto, tinha bicho mesmo, era sertão quando eles vieram para cá” (2012). Na viagem de 1929 do presidente Konder, a visão do sertão foi substanciada pelos excursionistas, que além de citarem a distância e a falta de recursos básicos, se referem as matas fechadas, praticamente instransitáveisdo oeste como “imenso sertão catarinense ”. Conforme pesquisa de ONGHERO,

A ideia de que no local não havia “nada” também é muito comum nos depoimento de colonizadores. Trata-se de uma memória ressignificada a partir de um resente no qual serviços médicos e hospitalares, abastecimento de água, fornecimento de energia elétrica, estruturas administrativas municipais, escolas, estradas, casas comerciais, entre outros, fazem parte do cotidiano da população e sãoacessíveisasuagrandemaioria.Para além desses referenciais contemporâneos, pode-se considerar que na época da colonização, o espaço encontrado era percebido de forma negativa e em contraposição às colônias antigas localizadas no Rio Grande do Sul, cuja organização social, cultural e econômica foi o principal modelo para as colônias novas (2013, p.6/7).

Complementa ainda o autor que a maioria das famílias não vinha às cegas para a região: geralmente alguém conhecido ou mesmo da família já tinha visitado os locais de possível compra da terra. Além disso, na maior parte das vezes, algum membro da família vinha antes e

ficava algum tempo derrubando o mato e construindo uma moradia, para depois o restante da família vir. Na figura 08 podemos visualizar o trabalho de plantio após a derrubada da mata.

Figura 8 - Trabalho de plantio de sementes em meio a mata queimada. Na imagem, Otho Richwardt, vizinho de Fritz Plaumann, responsável pela foto, na região hoje conhecida como Distrito de Teutônia, em Seara-SC

Fonte: Acervo Casa Fritz Plaumann

A fertilidade do solo nas terras novas do oeste sempre foi exaltada pelos colonos gaúchos que aqui chegavam. Outro atrativo era o preço acessível e o parcelamento dos pagamentos. O plantio das “miudezas”, como era chamado os produtos para consumo alimentar direto da família, como verduras, legumes, tubérculos e leguminosas, geralmente era feito perto de casa, muitas vezes cercados para evitar a entrada de animais. Além das lavouras de subsistência, os genêros que mais eram produzidos pelas famílias colonizadoras era o feijão (o que sobrava era vendido), o milho e o porco. A conjunção entre milho e suíno foi o propulsor de uma nova atividade para a região, principalmente após 1950. “[...] a cultura do milho, associada à criação de suínos veio abrir perspectivas definitivas para a região se firmar como fornecedora de alimentos. Integrando-se desta forma, de maneira lenta, mas progressiva, à Santa Catarina e ao Brasil” (ROSSETO, 1986, p.10).

Enquanto o milho destinava-se principalmente para o consumo familiar e ao trato dos animais domésticos, o feijão era comercializado e, juntamente com a venda de suínos, fornecia recursos para a compra de mercadorias que não eram produzidos na propriedade rural, como querosene, tecido, calçados, sal, ferramentas, entre outros. A criação de suínos foi uma das principais fontes de renda para os produtores rurais, principalmente entre as décadas de 1950 e 1980 (ONGHERO, 2013, p.10).

Apesar dos excedentes comercializáveis que eram produzidos pelos colonos, eles não tinham ideia dos preços praticados fora de Chapecó. Aceitavam o preço que o vendeiro pagava e pagavam o que ele pedia pelos gêneros que compravam. As dificuldades de comunicação que a falta de estrutura rodoviária acarretavam acabaram retardando a inserção da economia do oeste catarinense ao restante do estado.Nesses primeiros anos, os obstáculos que os colonizadores enfrentavam em relação as estradas eram muitos.

As dificuldades impostas pelas condições geográficas exigiam dos moradores o fortalecimento das relações de entreajuda e de solidariedade. As longas distância a percorrer, as más condições (ou inexistência) de estradas e a densidade das matas complexificaram o acesso aos recursos existentes, principalmente os relativos a saúde. O socorro imediato dependia, em caso de necessidade, dos vizinhos e da força do Divino Espírito Santo (MARCON, 2003, p.263).

Os mutirões eram a mais conhecida forma de entreajuda praticado pelos habitantes da região, não apenas colonos gaúchos, mas também pela população cabocla, e a abertura de estradas era uma boa forma de praticar a cooperação.Quando a tecnologia era escassa e sobrava mão de obra, o trabalho coletivo muitas vezes era a única forma para resolução de algumas dificuldades, principalmente em relação a estradas, colheitas e construção de moradias ou espaços físicos para eventos da comunidade. Além disso, os mutirões tornaram-se espaços de encontros comunitários, de troca de informações e até de começar um

namoro. Para Marcon, podemos “[...] pensar os mutirões enquanto espaços de encontro e de lazer, ultrapassando a dimensão imediata da troca de serviços para chegar ao âmago das relações sociais” (2003, p.213-214) 21.

Até a década de 1980, os mutirões eram comuns no oeste. Quando o processo de modernização se intensifica, elas acabaram sendo menos praticados, em parte devido a mecanização das lavouras, em parte devido ao êxodo rural, que deixava as famílias com menos mão de obra. Outro fator que ouvimos constantemente entre os entrevistados, é o espírito de cooperação que se enfraquece à medida que as pessoas melhoram de vida e as dificuldades iniciais são superadas. O encontro da tradição e da modernidade acabou mudando profundamente a vida das pessoas, não só nas relações sociais, mas especialmente no modelo produtivo. Em Santa Catarina, as principais mudanças vêm com as duas grandes guerras.

O período de 1914 a 1945, marcado pela 1ᵃ e 2ᵃ Grandes Guerras, insere Santa Catarina na economia nacional, consolidando a sua industrialização que, inicialmente, estava voltada para o mercado local/regional, e, posteriormente, amplia a diversificação produtiva existente até então. As principais mercadorias são: madeira, carvão, têxteis e alimentos (MICHELS, 1998, p.56).

Mesmo que nas primeiras décadas da criação oficial do município de Chapecó a economia ser baseada na exploração madeireira, a região passou a se destacar a partir de meados do século XX, pela produção de alimentos. Michels defende que a economia catarinense pode ser dividida em dois momentos “[...] período colonial, onde predominava a ação de agentes privados, considerados burguesia local e de 1955 até os dias atuais, no qual a acumulação de capital acontece via ação do

21 Segundo José Augusto Leandro, no Paraná, “À medida que a população se expandia para o interior do estado e subia a serra, o fandango se fazia presente também nas manifestações da cultura campeira, vinculando-se às festas dos plantios e colheitas e a costumes regionais, como o uso do chimarrão”. Mas muitos desses fandangos, regados a muita bebida, terminavam em confusão e as vezes casos de polícia. http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos- revista/barulhinho-bom

Estado, com mecanismos de crédito, incentivos e isenções” (MICHELS, 1998, p.182).

O principal instrumento de política agrícola, de 1964 até meados da década de 1980, foi o crédito rural subsidiado, vinculado as grandes propriedades, sendo quem em Santa Catarina os estímulos do crédito foram destinados principalmente às agroindústrias de aves e suínos. Em 1970, o grupo Sadia implanta no Oeste catarinense o sistema de integração para produzir aves através de parceria com os produtores, o qual foi posteriormente utilizado pelas demais empresas ali instaladas na década de 1970, não só para a produção de aves, mas também de suínos (ESPÍRITO SANTO, 1999, p.88).

Apesar da integração22 ser implantada na década de 1970, entre 1940 e 1950, ocorre a expansão de frigoríficos de suínos. “Estes frigoríficos, oriundos dos pequenos matadouros que se instalaram no Estado desde o início de usa colonização, na década de 1970 iriam se consolidar no complexo agroindustrial de aves e suínos do estado [...]” (ESPÍRITO SANTO, 1999, p.75). O processo de agroindustrialização e modernização da agricultura que se intensifica a partir desse período, com o crescimento das agroindústrias, recebeu forte apoio do Estado. Conforme Michels,

[...] o agente estatal tornou-se o sócio maior da constituição dos portentosos grupos econômicos de Santa Catarina, evidenciando a prática de um modelo excludente e concentrador de renda. Foram os recursos da sociedade catarinense, via Estado e agentes financeiros estaduais, regionais e 22O sistema de produção integrada, também chamada integração, é uma parceria onde produtores e agroindústria se unem com bens e esforços para produzirem (animais e ou vegetais), destinados ao comércio e ou à indústria. No caso de aves e suínos, a agroindústria geralmente participa com os animais, rações, medicamentos, transporte de animais e insumos, e a assistência técnica necessária à produção; enquanto que o produtor, geralmente participa com as instalações, equipamentos, água e energia elétrica, bem como se responsabiliza pelo manejo (criação e engorda) dos animais até que os mesmos atinjam a idade de abate. http://www.avisite.com.br/noticias/index.php?codnoticia=14498

mesmo federais, que possibilitaram o estupendo enriquecimento privado dos que hoje se constituem nos grupos de porte internacional (1998, p.186).

Com a âncora do Estado, “a lavoura transformou-se em um “complemento essencial” da indústria, atendendo ás suas necessidades, e não mais da família unicamente” (BIESDORF e AMADOR, p.386, 2010). A política governamental caminhou rumo a promoção do mercado externo e da implantação do projeto de modernização que o Brasil almejava. Para Wanderley, “o desenvolvimento da agricultura brasileira resultou na aplicação de um método modernizante, de tipo produtivista, sobre uma estrutura anterior, tecnicamente atrasada, predatória de recursos naturais e socialmente excludente” (WANDERLEY, 2009, p.45). Em relação à Santa Catarina, Biesdorf e Amador defendem que o processo de globalização em que passou a ser inserida a economia catarinense

[...] foi viabilizada através da criação da secretaria da Agricultura, desvinculada da Secretaria de Obras Públicas em 1953. A partir daí, as metas do governo catarinense foram voltadas para a criação de silos, armazéns, matadouros, mecanização da agricultura, utilização de fertilizantes, etc. Enfim, eram políticas agrícolas que objetivavam interligar os investimentos particulares das indústrias às riquezas agrícolas que já eram produzidas mais ao oeste do estado. Riquezas que até então permaneceram limitadas em termos de quantidade devido a falta de vias de escoamento e de investimentos nas propriedades rurais (2010, p.394).

Uma das principais instituições que fomentou a implantação das melhorias técnicas desejadaspelo Estado foi a ACARESC- Associação de Crédito e Extensão Rural de Santa Catarina. Seu principal projeto para promover a modernização agrícola foi o programa de Clubes 4S (saber, sentir, servir, saúde), adaptado do programa 4H23 dos Estados 23Os 4-H têm por significado Head, Heart, Hands e Health, ou seja, Cabeça, Coração, Mãos, e Saúde, respectivamente. Para um melhor entendimento, posso dizer que “Cabeça” (HEAD) é para Saber; seu jovem “Coração” (HEART), para Sentir; as “Mãos” (HANDS) para Servir; mas para que tudo possa ser

Unidos. Esses clubes foram instrumentos da extensão rural no Brasil que trabalhavam com jovens rurais e “[...] tinham como objetivo introduzir práticas agrícolas consideradas modernas junto aos jovens, considerando que esta atividade geraria maior resistência aos agricultores adultos” (SILVA, 2009, p.102).

Para Silva, além da modernização da agropecuária, com implantação de melhores técnicas de manejo, administração da propriedade e educação para o crédito, os Clubes 4S também trabalhavam “[...] Educação Alimentar e Sanitária. Esta tinha por objetivo a produção de hortaliças, de preparo “correto” dos alimentos e proteção à saúde dos agricultores através de práticas de higiene pessoal, da casa e dos arreadores” (SILVA, 2002, p.9). Tanto no Brasil quanto em Santa Catarina

Ao longo das décadas de 1950 e 1960, o trabalho de Extensão Rural procurou legitimar-se enquanto a melhor maneira de levar tecnologia ao campo, e assim, contribuir no desenvolvimento da nação. No campo, os agricultores estavam distantes daquilo que seria necessário para impulsionar o Brasil ao progresso, segundo este discurso, e neste sentido foi necessário, literalmente, levar os conhecimentos desenvolvidos através da Revolução Verde ao campo (SILVA, 2002, p.11- 12).

Nesse sentido, em Santa Catarina, o trabalho dos Clubes 4S se destacou entre os anos de 1970 e 1985. Como já citamos, um dos principais instrumentos dessa desejada modernização foi a concessão de crédito. Os empréstimos subvencionados pelo Estado para aquisição dos chamados insumos moderno foram [...] uma política voltada a explorar a agricultura para financiar o desenvolvimento do setor industrial em detrimento do desenvolvimento e do bem estar rural [...] (ESPÍRITO SANTO, 1999, p.98). Para OLINGER (1966), o incentivo do Estado via crédito rural foi de extrema importância para o processo de modernização. Em 1960, a ACARESC começou a trabalhar com o Banco do Brasil, com o qual foram feitos os primeiros empréstimos. Em executado, é necessário ter Saúde (HEALTH) (SILVA, 2002, p.35) https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/83610/189082.pdf ?sequence=1&isAllowed=y

1962, foi fundado o Banco do Estado de Santa Catarina-BESC, e o governo passa a operar também com ele. Segundo OLINGER (1966), “o interesse dos Govêrnos da União e do Estado na aplicação de maiores recursos para a agricultura, propiciaram maiores facilidades para o desenvolvimento do Crédito Educativo [...]”.

A superação do “atraso” no campo e a fixação do jovem no meio rural eram princípios básicos que norteavam os trabalhos da extensão rural, ainda mais com dados que apontavam “que a profissão dominante no estado de Santa Catarina nos censo agropecuários de 1975 e de 1980 era voltada a atividades de exploração do solo” (ESPÍRITO SANTO, 1999, p.65). O processo de industrialização tão desejado pelo Estado só