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Como se pode observar, no esquema I da estrutura anular, duas são as condições para o processo inicial da atividade: a primeira, o estado de necessidade,

OBJETO (externo) Investido de SENTIDO FUNÇÃO DE EXCITAÇÃO MOTIVO SUJEITO DA AÇÃO IMAGEM DO OBJETO (significado verbal) SISTEMA DE ATIVIDADES

que é a força motriz que impulsiona à ação, e, a segunda, o encontro com o objeto externo, que regula e orienta a atividade. Na estrutura anular ocorrem as análises sobre os efeitos do contato com os objetos, a correção e novos enriquecimentos da imagem construída mentalmente.

2.1.2 – A formação das ações e dos objetivos

A formação das ações complexas está subordinada à determinação dos objetivos, que Leontièv define como “ação de objetivo” sendo que “a atividade humana não pode existir de outra maneira que em forma de ações ou grupos de ações”. (LEONTIÈV, 1983, p.84)34.

As ações não são elementos separados da atividade, elas estão incorporadas na atividade. Uma ação pode estar envolvida no processo de formação de várias atividades como, por exemplo, ligar o computador é uma ação que pode estar ligada à atividade de ensinar ou aprender ou até a uma simples atividade de lazer. Por outro lado, o mesmo motivo pode provocar distintos objetivos e gerar distintas ações, ou seja, a necessidade de aprender pode gerar o objetivo de seguir uma carreira técnica ou profissional de nível superior e gerar ações como buscar um livro numa biblioteca ou freqüentar um curso on line de educação a distância.

A realização da atividade de educação a distância pressupõe que o professor domine os instrumentos, os suportes (computador, Internet, softwares, etc.) e os métodos e operações tecnológicas que esta atividade requer. Para ações de maior complexidade, por exemplo, para o professor realizar um curso a distância via internet cujo conteúdo verse sobre o método de construção de gráficos, este professor vai planejar seu curso e realizar determinadas ações mantendo os objetivos visados até que as ações atinjam o resultado esperado e o curso seja operacionalizado:

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“La determinación de los objectivos y la formación de las acciones a ellos subordinados, produce como un desmembramiento de las funciones que anteriormente estaban refundidas en el motivo. Otra cosa sucede con las funciones de dirección: las acciones realizadoras de la actividad son estimuladas por su motivo, pero estan dirigidas hacia el objetivo. (...) Las acciones, propriamente, no son elementos especiales “separados” que son incorporados a la actividad. La atividade humana no puede existir de outra maneira que en forma de acciones o grupos de acciones.” (LEONTIÈV, 1983, p.84).

Ações e operações têm diferentes origens, diferentes dinâmicas e diferentes funções a realizar. A gênese da ação está nas relações de intercâmbio das atividades. Toda operação é o resultado de uma transformação da ação, originada como resultado de sua inserção dentro de outra e a incipiente “tecnificação” de si mesmo que se produz. (LEONTIÈV, 1983, p.88).

Cada ação, por exemplo, a de dirigir um carro, se forma a partir de operações (p.ex.: ligar a chave) subordinadas ao objetivo de dirigir um carro que se apresenta como a base de sua orientação. Depois, estas operações são incorporadas dentro de outras ações e apresenta uma estrutura operacional mais complexa (p.ex.: fazer uma baliza ou uma ultrapassagem). Assim, o procedimento de dirigir, se converte em uma ação complexa de várias operações.

Objetivos não se inventam, eles estão propostos, a priori, dentro de circunstâncias concretas. O objetivo proposto, diante de condições específicas, provoca uma ação que, em seu aspecto operacional, vai responder a uma determinada demanda. Logo, pode-se dizer que há uma correlação entre objetivos, operações e condições: “Digamos que o objetivo de certa ação permanece sendo o mesmo conquanto que as condições diante das quais se apresenta a ação variam, então, variará, precisamente, somente o aspecto operacional da ação”. (LEONTIÈV, 1983, p.87)35. Toda atividade tem um movimento em direção a um objetivo. Estudar a formação dos objetivos, segundo Leontièv, é importante para compreender como eles se manifestam no momento de transição de uma atividade a outra. Conscientizar-se acerca dos objetivos e discriminá-los requer, no processo mental, que a ação incida sobre os mesmos até a saturação. No caso dos professores, pode- se supor que o objetivo de suas atividades é o processo de ensino-aprendizagem em que se realiza a construção do conhecimento. Entre os cursos presenciais e a distância, observa-se que ocorre a manutenção do mesmo objetivo sendo que as condições diante das quais se apresenta a ação variam o que provoca somente a variação do aspecto operacional da ação de ensinar.

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“Digamos que el objetivo de cierta acción permanece siendo el mismo, en tanto que las condiciones ante las cuales se presenta la acción, varían; entonces variará, precisamente, sólo el aspecto operacional de la acción.” (Leontièv, 1983, p.87).

É importante considerar que a operação não existe separada da ação da mesma forma que a ação não existe separada da atividade. Quando se trata das ações com instrumentos porém, ações e operações não têm uma coincidência evidente: “Com efeito, um instrumento é um objeto material no qual estão cristalizados precisamente os métodos, as operações e não as ações, nem os objetivos.” (LEONTIÈV, 1983, p.87).

Mesmo quando a ação é realizar cálculos mediante aparelhos tecnológicos sofisticados, essa ação não se dilui no instrumento de calcular. A máquina de calcular vai executar as operações sempre vinculadas às ações de objetivo previamente fixado pelo sujeito.

2.1.3 – O movimento interno do sistema de atividades e a formação das imagens psíquicas

Voltando ao conceito de atividade, é importante lembrar que as unidades de atividade apresentam relações sistêmicas internas que formam macroestruturas:

A atividade comporta um processo que se caracteriza por apresentar transformações sucessivas constantes. A atividade pode perder seu motivo originário e, então, transformar-se em uma ação que realiza um tipo de relação completamente diferente em relação a outra atividade, pelo contrário, uma ação pode adquirir uma força excitadora própria e converter-se em atividade específica; finalmente, a ação pode transformar-se em um procedimento para alcançar o objetivo, em uma operação, coadjuvante a realização de distintas ações. (LEONTIÈV, 1983, p.89)36.

Pode-se dizer que a vida humana, em suas manifestações superiores, é mediada por reflexos psíquicos. Diante do mundo dos objetos, o sujeito aciona um sistema geral de atividades formado por “unidades de atividade”, cujos motivos irão impelir às novas ações. No fluxo da atividade, estas unidades de atividade se transformam em ações – processos subordinados a objetivos conscientes – e, finalmente, essas ações se desdobram em operações. As operações dependem

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“La actividad comporta un proceso que se caracteriza por presentar trasformaciones en sucesión constante. La actividad puede perder su motivo originario y entonce transformarse en una acción, que realiza un tipo de relación completamente diferente respecto al mundo, otra actividad; por el contrario, una acción puede adquirir una fuerza excitadora propia y convertirse en actividad específica; finalmente, la acción puede trasformarse en un procedimiento para alcanzar el objetivo, en una operación, que coadyuva a la realización de distintas acciones.” (LEONTIÈV, 1983, p.89).

diretamente das condições necessárias dadas previamente ao sujeito para obter o sucesso do objetivo concreto inicialmente proposto. Este fracionamento das atividades tem, em contrapartida, pelo desenvolvimento do ser humano da infância até à idade adulta, uma ampliação progressiva destas ‘unidades’ até que se formem “imagens psíquicas”.

Seguindo as investigações de Vygostsky (1991) sobre o desenvolvimento mental infantil, Leontièv acredita que, na infância, as atividades psíquicas internas têm sua origem a partir do ambiente externo e, por conseguinte, o movimento interpsicológico vai de um ser humano a outro, dando origem aos processos psicológicos humanos superiores, quando o sujeito começa a realizar suas atividades psíquicas sozinho, a partir das imagens psíquicas de representação dos objetos. No princípio, explica Leontièv, quem dirige os processos da atividade é o próprio objeto. Depois, quem dirige é sua imagem psíquica que, como produto subjetivo da atividade, fixa, estabiliza e deixa implícito o conteúdo do objeto. Na história do desenvolvimento humano, as imagens psíquicas surgiram no trânsito entre a atividade adaptativa do animal à atividade produtiva especificamente humana. O produto concreto de seu trabalho representa para o homem atual, a atividade de trabalho e uma imagem psíquica que o torna passível de ser transformado, de acordo com as necessidades e as condições apresentadas.

A imagem psíquica, extraída do mundo exterior, através do processo de apreensão do mundo dos objetos, é uma forma transformada de manifestar as relações por sua natureza sociais, geradas pela atividade do homem como reflexo consciente, ou seja, produto subjetivo.

As atividades práticas se tornam, aos poucos, atividades da consciência como pode ser visualizado no Esquema III:

– PASSAGEM AO SUBJETIVO –

Condição1 – Processos Interpsicológicos (de um ser humano a outro ser humano)

Condição2 – Processos Psicológicos Superiores (fixação e estabilização dos objetos)