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Capítulo 3 Análise dos Resultados

3.3 O que dizem os professores sobre a experiência do

3.3.2 Estrutura das formações

A tabela abaixo traz um resumo das colocações das professoras quanto à estrutura das formações vivenciadas no Ciclo de Alfabetização, com destaque para aspectos como periodicidade, condução das atividades de formação, conteúdos explorados, encaminhamento das atividades e acompanhamento dos professores.

Como eram as formações Freqüência Professoras

Periodicidade

Quinzenais 3 Professora D

Professora A, Professora B

Semanais 1 Professora E

Condução das atividades – Orientação para prática

Era elaborado um planejamento, colocávamos em prática e discutíamos no sábado seguinte

1 Professora B

Havia troca de experiências 1 Professora F

Orientação para trabalhar análise fonológica 2 Professora A,

Professora C

Orientação para trabalhar produção de texto coletivo 1 Professora E

Conteúdos explorados

Estudávamos psicologia, matemática 1 Professora B

Psicogênese

Lemos textos de Emília Ferreiro

1 Professora F,

Professora D Professora A Necessidade de explorar conhecimentos prévios dos

alunos

3 Professora C,

Professora E, Professora D

Supervisores e coordenadores para acompanhar o trabalho com a alfabetização

1 Professora A

Com relação à periodicidade da formação, percebemos pela tabela que ocorreu divergência entre as falas das professoras. Explicamos a divergência, no que concerne à freqüência das capacitações, pelo fato de, no primeiro ano do projeto, elas serem semanais, aos sábados (no ano de 1986), e, após um ano de implantação (1987), passaram a acontecer quinzenalmente (também aos sábados). Observe a fala da professora, transcrita abaixo, no momento em que foi questionada sobre a formação do Ciclo de Alfabetização:

Eram encontros quinzenais [...]. Aos sábados a gente contava como, a gente ganhava como hora extra. Mas aquilo ali era incrível, eu amava aquilo ali porque a gente fazia um planejamento para uma semana e para aqueles quinze dias. (Professora B)

Outro ponto a ser destacado era a condução das atividades na formação. A fala das professoras apontou que elas trocavam experiências, liam textos de Emília Ferreiro, elaboravam um planejamento coletivo e colocavam em prática para ser discutido no sábado seguinte, conforme apontou o depoimento da professora abaixo.

...aí juntava todo mundo, todo mundo do mesmo nível, todo mundo ali, aí a gente estudava naquela turma, aí planejava. O que a gente ia fazer naquela turma, quando era no sábado seguinte, no sábado seguinte, no outro sábado, a gente fazia um resgate daquela... como foi que você trabalhou, teve sucesso não teve? Aí fazia uma avaliação de cada uma, cada uma fazia aquela avaliação da turma: ah, o meu não deu muito sucesso, eu fiz assim, vamos tentar e aquela coisa não caminhava assim, corria, corria não, nós voltamos... o aluno aprendeu? Não aprendeu? Então vamos voltar, para ver, faça como aquela pessoa fez, para ver se melhorava e eu achava incrível, eu aprendi muito, muito com aquelas capacitações, porque a gente procurava fazer o melhor possível e todo mundo levava alguma coisa e tinha um certo, era amarrado não é? Você levava e você tinha que trazer a resposta de volta, era amarrado, não é feito hoje, hoje você joga, deixa solto, né? Naquela época era amarrado, hoje ainda é muito solto, você só aprende, mas não prova que você aprendeu você não retorna que aprendeu alguma coisa, não resta dúvida a gente hoje aprende, hoje, mas a gente não retorna para lá, antes não, a gente tinha que retornar o que é que a gente aprendeu e hoje não, hoje é solto, cada um faz o que quer. (Professora B)

Identificamos no discurso da professora três aspectos extremamente relevantes para a construção da sua prática pedagógica: o planejamento coletivo, a interação entre

as/os colegas para trabalhar as questões pedagógicas e o retorno das formações – ou o relato da prática de sala de aula – a partir da construção do planejamento no espaço da formação. Na viabilização dessas discussões, os professores, assessores e coordenadores apoiavam-se em conteúdos que levavam em conta a psicogênese da escrita, a valorização dos conhecimentos prévios dos alunos, deixando claro que deveria haver abertura para novas idéias e possibilidades de intervenção na sala de aula.

Em relação ao planejamento, observamos que este era construído durante as formações; isto é, o material elaborado pelos supervisores, assessores e professores tinha um objetivo didático imediato, sendo pensado, enquanto conjunto de atividades que seriam aplicadas por um grupo de alfabetizadores e comentados os avanços dos alunos por meio delas. Faz-se necessário lembrar que esse planejamento deveria ser utilizado em sala de aula, considerando as especificidades de cada turma, ou seja, além das atividades sugeridas durante as formações, os professores montavam seus planejamentos semanais flexíveis às diferentes possibilidades.

No que concerne às interações, a professora fala das significativas trocas de experiências com os docentes que apresentavam os resultados, a partir das seqüências didáticas utilizadas, ou seja, eles relatavam as experiências vivenciadas em sala de aula com a utilização de algumas atividades. E essas seqüências também mostravam o retorno daquele planejamento, que, como a professora mesmo denominou “era amarrado”. Essa característica favoreceria o bom andamento do trabalho pedagógico.

Como conseqüência dessas discussões, interações e planejamento coletivo, eram dadas algumas orientações para a prática de sala de aula com sugestões sobre como trabalhar a análise fonológica e a produção textual coletiva, conforme apontaram as professoras na entrevista. No depoimento apresentado a seguir, observamos a importância das formações do Ciclo de Alfabetização para o desenvolvimento da prática pedagógica:

[...] Eram quinzenais e com muitas sugestões de atividades, o que hoje em dia não temos. Quem tá entrando hoje na rede tem um déficit muito grande de capacitação. A capacitação hoje é muito boa, mas em outro sentido, no sentido assim para a nossa formação e não para a prática do dia-a-dia. As capacitações hoje são nesse sentido. Para a nossa formação é excelente, mas para a prática não deixa nada porque ele só dá teoria e a prática mesmo do dia-a-dia. Antigamente na época iniciou o ciclo era muito mais valioso, muito mais. (Professora D)

A professora ressalta a praticidade com que se pensava o trabalho pedagógico no Ciclo, ou seja, nesse período havia uma diversidade de exercícios sugeridos, visando

contemplar uma prática de alfabetização “renovada”, na perspectiva de reconhecer que a professora precisava de suporte para elaborar as atividades que constituiriam sua prática de alfabetização. Para isso, destacamos que os professores participavam também de discussões teóricas, nas quais eles entendiam em quais pressupostos teórico- metodológicos estavam apoiadas as sugestões de atividades. Todo esse trabalho de sala de aula era acompanhado pelos supervisores e coordenadores, os quais se apoiavam em materiais didáticos e em orientações específicas quanto ao trabalho com a alfabetização.

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