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Estrutura de governança

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5 ANÁLISE DE RESULTADO

5.1.1 Estrutura de governança

O estatuto do América, em vigor, foi aprovado pela Assembleia Geral do clube em 23 de dezembro de 2008, com uma alteração nos artigos 38 e 60, por deliberação de outra Assembleia Geral Extraordinária, de 29 de abril de 2011. Portanto, trata-se do estatuto em vigência, composto de 83 artigos. À sua avaliação com vistas na dimensão política da GC, observa-se a importância de alguns artigos para a análise dos dados coletados na pesquisa.

No capítulo III, Art. 25 do estatuto do América consta os poderes sociais do clube. São eles: “I – Assembleia Geral; II – Conselho Deliberativo; III – Conselho Fiscal; e IV – Conselho de Administração”.

Torna-se muito importante salientar, para o entendimento deste estudo, que apesar de ter o mesmo nome Conselho de Administração (CA), no América, este órgão exerce um

papel diferente do CA recomendado pelo IBGC para as empresas de capital aberto. A denominação “conselho de administração”, neste caso, foi dada a uma forma de governança formada por um grupo de pessoas, ou seja, pelo grupo responsável pelas tomadas de decisão na empresa. Diferente, portanto, do informado no Referencial Teórico deste estudo, de que o papel do CA é o de um órgão fiscalizador. Como também já mencionado, no caso dos clubes de futebol, o CA exerce o papel de conselho deliberativo e fiscal.

Como podemos ver, o América possui hoje uma governança diferenciada da grande maioria dos clubes brasileiros. Desde 2009, até hoje, deixou de ser presidencialista e passou a ter um Conselho de Administração que, no seu primeiro mandato de três anos (2009, 2010 e 2011), era formado por sete membros, e que a partir do segundo mandato, em 2012, passou a ser formado por nove membros.

Em 2008, o América passava por uma crise muito forte, e estava até encontrando dificuldade para encontrar o presidente. A responsabilidade era muito grande, porque a legislação passou a exigir muito do presidente no aspecto legal e havia também o aspecto administrativo. Diante desta dificuldade, e também vamos falar, de divergências de pessoas que tem influência no América, o Sr X sugeriu que se fizesse um conselho de administração. Depois de muita conversa, chegou- se à conclusão que poder-se-ia fazer este conselho com o número de sete. Porque sete? Porque eram sete forças significativas no América, e havia necessidade que essas forças convergissem. Então sete, porque haviam sete pensamentos, assim disse, de forma diferente de como se tratar um clube de futebol (ENTREVISTADO AMÉRICA II).

Como mencionado anteriormente, em 2012, o estatuto do clube foi alterado, passando para nove o número de membros a compor o Conselho de Administração, cujo tempo de mandato foi definido em três anos, podendo cada membro se reeleger apenas uma vez, ficando, então, no máximo, seis anos à frente da direção do clube. Sendo assim, no final deste ano de 2014, uma nova eleição será realizada, e somente dois integrantes deste conselho poderão compor o próximo conselho.

Esta forma de governança vem dividindo as opiniões. Como exposto pelo Entrevistado II, tal sistema foi estabelecido apenas para sanar uma necessidade de momento, sendo vista por ele, que faz parte deste conselho, desta forma:

Sobre este conselho eu não gosto, eu sou um presidencialista, conheço os oito, tem de ser um presidente e cada um deles vice presidentes na sua área. Esta palhaçada do América ter nove presidentes, isto é para aguçar ego (PRESIDENTE AMÉRICA II).

Para se entender melhor esta forma de governança, torna-se importante fazer uma breve comparação entre o Presidencialismo e o Conselho de Administração. O Presidencialismo, que a maioria dos clubes utilizam como sistema de governança, é o poder nas mãos de uma só pessoa. O presidente escolhe os seus vice-presidentes ou diretores, e os distribui em vários setores de atuação do clube, mas cabe a ele a palavra final. Este presidente tem, assim, um forte poder de decisão e um grande poder político.

Já o conselho é um grupo de pessoas com igualdade de poder, sem hierarquia entre seus membros, e as diretrizes do clube são decididas de uma forma democrática, tirando, assim, o poder de decisão das mãos de uma só pessoa.

Os que defendem a governança através do conselho dentro do América, veem nela, além de uma maneira democrática de decisão, uma maneira de proteção do clube, que por possuir um grande património, não deve ficar nas mãos de uma só pessoa. Sendo um conselho, as tomadas de decisão unilaterais dos presidentes, comuns em muitos clubes e geradoras de conflitos de interesse, tornam-se bem mais difíceis de ocorrer.

Por outro lado, os críticos dessa governança pontuam seus dois aspectos negativos: o primeiro é a morosidade administrativa. Sendo as tomadas de decisão estabelecidas em grupo, ficam sujeitas a uma ocorrência esporádica, gerando a impossibilidade de decisões ágeis, quando necessário. A administração fica mais lenta, gerando perdas de oportunidades para o clube. O segundo aspecto é que este regime de governança acaba reproduzindo o sistema presidencialista, pois um dos membros sempre se destaca e toma as decisões, enquanto o restante fica cuidando de seus “feudos”, como se fossem vice- presidentes.

Quando lá cheguei, eu notei que, por exemplo, o futebol profissional estava entregue a um, o futebol amador estava entregue a outro, a parte de marketing estava entregue a outro. Era o que vigia antigamente, o presidencialismo com os vice-presidentes cada um em seu setor. Então o atual sistema não trouxe, pelo menos, o que a gente imaginava para a realidade do América. Continuou-se com o mandato de antigamente, quando tinha o presidente e o vice-presidente amador, o vice-presidente de patrimônio, o vice-presidente jurídico, o vice- presidente disso, daquilo. Então, não se alcançou o objetivo que a gente imaginava para o Conselho de Administração do América (ENTREVISTADO AMÉRICA III).

Com base na teoria de Bourdieu (1998), verifica-se, ainda, que quem é o detentor da administração das finanças do clube, do seu capital econômico, acaba detendo mais poder no grupo.

Os três primeiros anos, foram de sucesso na parte futebolística, que interessava a torcida, e na parte administrativa e na parte financeira deu um salto espetacular, tudo isto foi feito pelo conselho de administração, que estava realmente atuando de uma forma colegiada. Isto no princípio, depois, com o correr do tempo, este colegiado voltou a ser um misto de colegiado e presidencialismo, porque um dos membros se destacou. Que foi o Sr X. Porque a parte que ficou para ele, foi a parte mais importante, que era cuidar das finanças e, por consequência, cuidar do futebol profissional. O futebol profissional e as finanças, num clube esportivo que disputa campeonatos profissionais, são dois fatores importantíssimos, e o Sr X cuida dos dois. Aí passou praticamente a tomar a maioria das decisões, algumas com o referendo do conselho (ENTREVISTADO AMÉRICA II).

O que se pode observar é que o Conselho de Administração passou a fazer o papel de um “fiscalizador/aprovador” da gestão de um dos presidentes. Na verdade, ele tira deste presidente o poder total, visto em outros clubes, mas ele não funciona como um colegiado nas decisões, no seu dia-a-dia. Isto acaba anulando o papel que seria do Conselho Deliberativo. Sendo assim, o Entrevistado Conselheiro América I comenta: “O Conselho Deliberativo somente existe estatutariamente, pois na prática ele não decide nada, as coisas já chegam decididas em uma assembleia”.

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