• Nenhum resultado encontrado

2.6 O desporto profissional

2.6.2. As estruturas desportivas na Europa e nos Estados Unidos da América

2.6.2.5 A estrutura desportiva em França

No espaço comunitário coube à França a primazia em legislar sobre assuntos desportivos, através de Lei, elaborada logo após o final da II Guerra Mundial, que revogou a Lei de 1901 (Morais, 2001, p. 102). Esta consagrava o carácter não lucrativo das associações desportivas, que se tornou “obsoleta” para corresponder às novas necessidades decorrentes de o desporto se ter convertido numa actividade comercial. O desporto profissional na França depende do Ministério da Juventude e do Desporto.

Na Lei n.º 75988 (Lei Mazeaud), de 29 de Outubro de 1975 (Candeias, 2000, p 25), relativa ao desenvolvimento da educação física e do desporto, o legislador francês começou por recolher a figura da sociedade anónima desportiva, como estrutura orgânica das associações desportivas, ainda com carácter facultativo e apenas sob a forma de sociedade anónima de economia mista local (Meirim, 1995, p. 63).

e as direcções dos clubes que pretendem transformar-se em sociedades, misturando-se os interesses desportivos com os regionais (Morais, 2001, p. 105). O objectivo de solucionar os problemas financeiros e económicos dos clubes através da participação do Estado, juntando assim a política com o desporto, numa procura mútua de poder, não contribui para a exigível transparência desportiva.

Esta situação foi, todavia, alterada em 1984 com a Lei n.º 84-610 (Lei Avice), de 16 de Julho. Admitiu-se a possibilidade de constituição de sociedade de objecto desportivo, para além da obrigatoriedade de alguns agrupamentos desportivos, nomeadamente os profissionais, terem de constituir-se sobre determinada forma jurídica (Meirim, 1995, p. 63). Na sociedade de objecto desportivo só os capitais privados são admitidos (Morais, 2001, p. 105).

A sociedade de objecto desportivo francesa não tem como finalidade o lucro ou o pagamento de dividendos para os accionistas (Morais, 2001, p. 102), devendo, contudo, exercer competentemente a sua gestão e desenvolver a sua actividade desportiva em conformidade com as regras definidas pela federação a que pertence. Este tipo de sociedade pode ser reversível.

A Lei n.º 87-979, de 7 de Dezembro de 1987, veio alterar o artigo 11.º da Lei Avice (Morais, 2001, p. 102), na medida em que não havia unanimidade para obrigar os clubes com atletas profissionais a colaborar obrigatoriamente com as autoridades locais. Esta nova Lei permitiu a constituição de outro tipo de sociedade: a associação com regras de rigor.

Estas associações, embora preenchendo os requisitos para a adopção da forma societária, adaptam os seus próprios estatutos. Com a revisão da Lei pretendeu-se obrigar as associações desportivas, com atletas profissionais, a inserirem nos seus estatutos disposições previstas no Código Comercial (Morais, 2001, p. 103). Em face destas modificações as associações ficaram submetidas às regras do direito comercial.

clubes com recursos elevados de um instrumento de gestão adequada, capaz de permitir um controlo das diferentes operações financeiras e de fornecer, aos sócios, informação rigorosa, relevante e fiável.

Surgiu depois a Lei n.º 92-652 (Lei Bredin), de 13 de Julho de 1992 (Meirim, 1995, p. 106; Candeias, 2000, p. 26), que exclui a figura da associação com estatuto de rigor, como alternativa válida à obrigatoriedade de adopção de forma de sociedade anónima desportiva, em qualquer das suas modalidades.

E relativamente às associações criadas ao abrigo da Lei Avice, esta nova alteração não obrigou a sua constituição como sociedades anónimas, excepto na circunstância de, durante dois anos consecutivos, apresentarem prejuízos (Candeias, 2000, p. 26). As associações estão, portanto, obrigadas a enviar ao ministro responsável pelo desporto um relatório que permita confirmar se a sua situação lhe permite beneficiar da derrogação prevista na Lei Bredin.

Mas as alterações mais significativas introduzidas pelo novo diploma podem enumerar- se nos seguintes pontos (Meirim, 1995, p. 66):

– obrigatoriedade de constituição de sociedade anónima, para as associações desportivas que atinjam os determinados valores, fixados através de decreto do Conselho de Estado, quer nas receitas, quer nas retribuições a praticantes desportivos;

– as relações entre a associação desportiva e a sociedade são definidas por uma convenção ratificada pelas respectivas assembleias-gerais;

– esta ratificação só entra em vigor após a aprovação pela autoridade administrativa;

– os agrupamentos desportivos mencionados não podem ceder as suas denominações, marcas e outros sinais distintivos, nem autorizar o seu uso, nem

conceder a licença da sua exploração, a não ser a um outro agrupamento desportivo e após aprovação da autoridade administrativa;

– a associação desportiva deve deter no mínimo um terço do capital social e dos direitos de voto na respectiva assembleia-geral da sociedade com objecto desportivo;

– salvo em caso de sucessão ou liquidação de património entre cônjuges, a autoridade administrativa pode-se opor a toda a cessão de títulos que confiram direito de voto ou dêem acesso ao capital de uma sociedade de objecto desportivo;

– na falta de constituição da sociedade anónima desportiva, a sanção é a exclusão das competições organizadas pelas federações;

– é vedado a toda a pessoa privada, directamente ou por interposta pessoa, ser simultaneamente portadora de títulos que confiram direito de voto ou dêem acesso ao capital a mais do que uma sociedade e, cujo objecto social se relacione com a mesma disciplina desportiva;

– toda a cessão operada em violação do anteriormente afirmado é nula;

– é vedado ao portador de títulos de uma sociedade conceder um empréstimo a uma outra sociedade cujo objecto social se relacione com a mesma disciplina desportiva;

– toda a pessoa ou o presidente, administrador ou director de pessoa colectiva que viole a disposição anterior é punido com multa e/ou prisão;

– as colectividades territoriais ou os seus agrupamentos não podem conceder garantias de empréstimos, nem caução às associações e às sociedades anónimas desportivas.

Em 1992, e apesar da obrigatoriedade legal, apenas vinte clubes de futebol haviam optado pela constituição de uma sociedade comercial (Morais, 2001, p. 108).