• Nenhum resultado encontrado

O texto principal é constituído pelas falas ou réplicas das personagens; o texto secundário fornece informações várias.

O texto principal permite analisar a estrutura interna e a didascália, a estrutura externa.

Estrutura externa: peça em dois actos, sem divisão gráfica de cenas. O primeiro acto divide-se em onze momentos

O segundo acto começa precisamente como o primeiro e possui treze momentos.

A obra apresenta todo o processo que conduziu à execução do general Gomes Freire de Andrade. No primeiro acto trama-se a sua prisão e, no segundo, verifica-se a sua execução.

Primeiro Acto:

- o povo, vítima da miséria e da opressão, sonha com a sua salvação, motivado pela esperança que lhe inspira o general Gomes Freire de Andrade, figura que define como “amigo do Povo”

- Vicente, um homem do povo, considera Gomes Freire um “estrangeirado” e tenta convencer os populares que o ouvem de que o general nunca será aliado do povo; mais tarde, será levado por dois polícias junto do governador, D. Miguel de Forjaz, manifestando-se um traidor para com a classe social a que pertence (esta atitude valer-lhe-á a ascensão social, pois o governador alicia-o com a promessa de que lhe dará o cargo de chefe da polícia)

- D. Miguel, preocupado com a hipótese (para ele, eminente) de uma revolução, manda Vicente vigiar a casa de Gomes Freire

- Beresford, governador do reino, informa D. Miguel e o Principal Sousa de que, em Lisboa, se prepara, efectivamente, uma revolução contra o poder instituído (o seu informador é o capitão Andrade Corvo, um ex-maçon, amigo de Morais Sarmento, também maçon).

Os governadores do reino tomam a decisão de destruir o líder dos conspiradores.

- Morais sarmento e Andrade Corvo dispõem-se a denunciar o chefe da conspiração em Lisboa,. Mediante a intimação de D. Miguel, no sentido do cumprimento de um “missão”.

- Vicente informa os governadores (Beresford, D.Miguel e o Principal Sousa) do número de pessoas que entram em casa de Gomes Freire e anuncia a identidade de algumas; Andrade Corvo, por sua vez, revela aos governadores que são muitas as pessoas que partilham o ideal de revolução, afirmando que já tinham sido enviados emissários desta causa para a província; Andrade Corvo adianta o nome do chefe dos conspiradores: o general Gomes Freire de Andrade.

- D.Miguel ordena que se prendam os conspiradores, abarcando um número significativo de pessoas; por outro lado, tenta que a sua atitude surja de uma forma justificada, pensando, assim, impedir a estranheza perante a sua decisão, cujo objectivo é a repressão e a eliminação de Gomes Freire ( os seus argumento baseiam-se no patriotismo e na defesa do nome e da vontade de Deus).

Segunda Acto:

- o acto inicia-se exactamente como o anterior, ou seja, Manuel interroga-se ”Que posso eu fazer? Sim, que posso eu fazer?” através do seu monólogo, o

espectador (ou o leitor) tem conhecimento da prisão de Gomes Freire ocorrida na madrugada anterior

- a polícia proíbe os aglomerados populares

- Matilde exprime a sua dor revolta face À situação do marido, o general Gomes Freire; contudo, decide intervir, de modo a conseguir a sua libertação

- António Sousa falcão, o “inseparável amigo” de Matilde e do general, surge como a voz que critica o poder instituído e o comportamento abusivo dos governantes, que tentam enganar o povo, mencionando o nome de Deus.

- Matilde procura Beresford, a fim de interceder pelo marido; objectivo que não alcança, pois, através do diálogo com Matilde, o governador humilha Gomes Freire.

- O padre dá a informação de que seria feita uma acção de graças em todas as paróquias e igrejas das conventos por todos aqueles que se tinham insurgido contra o governo (esta ocorreria num domingo)

- Matilde apercebe-se da indiferença dos populares perante a situação em que se encontra Gomes Freire (na realidade, eles não têm qualquer hipótese de o ajudar; a traição a que povo é obrigado é simbolizada na moeda que Manuel oferece a Matilde); sabe-se, entretanto, que Vicente é chefe da polícia.

- António de Sousa Falcão transmite a notícia de que a situação de Gomes Freire é cada vez mais crítica (não são autorizadas visitas, encontra-se numa masmorra às escuras, não lhe permitiram escolher um advogado, descuida-se a sua higiene física e a sua alimentação)

- Matilde tenta pedir a D. Miguel que liberte o marido; o governador não a recebe

- Matilde pede ao Principal Sousa que liberte Gomes Freire; o Principal Sousa evoca “as razões de estado” como o motivo da morte do general, apesar de Matilde o acusar de cumplicidade em relação ao destino do seu marido

- Frei Digo, que confessara Gomes Freire, revela a sua solidariedade para com Matilde

- Matilde acusa o Principal Sousa de não adoptar o comportamento que seria de esperar de um bispo

- Sousa Falcão informa a esposa do general de que já havia fogueiras em S. Julião da Barra, para onde Gomes Freire tinha sido levado, o que leva Matilde a implorar, de novo, ao Principal Sousa a vida do marido

- Matilde tenta consolar-se através da religião; depois, lançará aos pés do Principal Sousa a moeda que Manuel lhe dera

- Matilde assiste À execução do marido, vendo o seu corpo ser devorado pelas chamas, ainda que imagine que o seu espírito vem abraça-la; profetiza uma nova vida para Portugal, simboliza no clarão da fogueira, fruto de uma revolução que encerraria o período de ditadura.

Paralelismo estrutural:

- Manuel interroga-se sobre o que fazer para alterar a sua situação e da sua classe social

- O povo lamenta a sua miséria

- A chegada dos polícias faz dispersas os populares (no primeiro acto, dois polícias procuram Vicente para que este traia a sua classe; no segundo acto, a policia proíbe os “ajuntamentos”)

- No primeiro acto, os diálogos entre os governadores, Vicente, Andrade Corvo, e Morais Sarmento funcionam como o plano de preparação para a condenação de Gomes Freire; no segundo acto, os diálogos entre os governadores e Matilde significam a efectivação das intenções dos representantes do poder – destruir Gomes Freire.

- O primeiro acto termina com a prisão de populares que conspiravam contra o governo e com apelo de “morte ao traidor Gomes Freire d’Andrade”, feito por D. Miguel; o final do segundo acto apresenta-nos a morte do general( ainda que, em simultâneo, ecoe o grito de esperança de Matilde).

As personagens

Gomes Freire de Andrade: Gomes Freire aparece-nos como um homem

instruído, letrado, um estrangeirado, um militar que sempre lutou em prol da honestidade e da justiça. É também o símbolo da modernidade e do progresso, adepto das novas ideias liberais e, por isso, considerado subversivo e perigoso para o poder instituído. Assim, quando é necessário encontrar uma vítima que simbolize uma situação de revolta que se advinha, Gomes Freire é a personagem ideal. Ele é símbolo da luta pela liberdade, da defesa intransigente dos ideais – daí que a sua presença se torne incómoda não só para os reis do Rossio, mas também para os senhores do regime para os senhores do regime fascizante dos anos 60. A sua morte, duplamente aviltante para um militar seria o fuzilamento), servirá de lição a todos aqueles que ousem afrontar o poder político e também, de certa forma, económica representado pela tença que Beresford recebe e que se arriscaria a perder se Gomes Freire chegasse ao poder.

Matilde de Melo: Todas as tiradas de Matilde revelam uma clara lucidez e

uma verdadeira coragem na análise que toda a teia que envolve a prisão e condenação de Gomes freire. No entanto, a consciência da inevitabilidade do martírio do seu homem ( e daí o carácter épico personagem Gomes Freire) arrasta- a para um delírio final em que, envergando a saia verde que o general lhe oferecera em paris (símbolo esperança num futuro diferente?), Matilde dialoga com Gomes Freire, vivendo momentos de alucinação intensa e dramática. Este momentos finais, pelo carácter surreal que transmitem, são também a denúncia do absurdo a que a intolerância e a violência das homens conduzem.

Sousa Falcão: Sousa Falcão é o amigo de todas as horas, é amigo fiel em

que se pode confiar e que está sempre pronto a exprimir a sua solidariedade e amizade. No entanto, ele próprio tem a consciência de que, muitas vezes, não actuou de forma consentânea com os seus ideias, faltando-lhe coragem para passar à acção.

Vicente, o traidor: Apesar da repulsa/ antipatia que as atitudes de Vicente

lucidez nem acuidade na análise que faz da sua situação de origem e da força corruptora do poder. Vicente é uma personagem incómoda, talvez porque nos faça olhar para dentro de nós próprios, acordando más consciências adormecidas.

Manuel e Rita: Manuel e Rita acabam também por simbolizar a

desesperança, a desilusão, a frustração de toda uma legião face à quase impossibilidade de mudança da situação opressiva em que vivem.

Beresford: Personagem cínica e controversa, aparece como alguém que,

desassombradamente, assume o processo de Gomes Freire, não como um imperativo nacional ou militar, mas apenas motivado por interesses individuais: a manutenção do seu posto e da sua tença anual.

A sua posição, face a toda a trama que evolve Gomes Freire, é nitidamente de distanciamento crítico e irónico, acabando por revelar a sua antipatia face ao catolicismo caduco e ao exercício incompetente do poder, que marcam a realidade portuguesa.

D.Miguel: é o protótipo do pequeno tirano, inseguro e prepotente, avesso

ao progresso, insensível à injustiça e à miséria.

Todo o seu discurso gira em torno de uma lógica oca e demagógica, construindo verdades falsas em que talvez acabe mesmo por acreditar. Os argumentos do ardor patriótico, da construção de um Portugal próspero e feliz, com um povo simples, bom e confiante, que viva lavrando e defendendo a terra, com os olhos postos no senhor, são o eco fiel do discursos político dos anos 60. D.Miguel e o Principal Sousa são talvez as duas personagens mais detestáveis de todo o texto pela falsidade e hipocrisia que veiculam.

Principal Sousa: Para além da hipocrisia e da falta de valores éticos que

esta personagem transmite, o Principal Sousa simboliza também o arranjo entre a Igreja, enquanto, enquanto instituição, e o poder e a demissão da primeira relação à denúncia das verdadeiras injustiças. Nas palavras do principal Sousa é igualmente possível detectar os fundamentos da política do “orgulhosamente sós” dos anos 60.

Andrade Corvo e Morais Sarmento: São os delatores por excelência,

aqueles a quem não repugna trair ou abdicar dos ideias para servirem obscuros propósitos patrióticos.

O espaço

O espaço cénico – outras linguagens estéticas

O cenário assume, nesta peça, um valor fundamental e integra a construção do sentido do texto, pelas conotações implícitas à sua concepção.

Os jogos de sombra/luz e a posição que as personagens cumprem em palco constituem formas de enfatizar aspectos que se pretendem relevantes em várias situações, ao longo da peça, e que servem a caracterização do espaço social, revelando a dimensão ideológica da obra.

O espaço físico

É, por vezes, a partir das didascálias e das falas das personagens que retiramos algumas ilações em relação aos espaços onde decorre a acção. Assim surge um macroespaço – Lisboa -, a Baixa, o Rato, o campo de Sant’Ana, a serra de Santo António e a zona do Tejo.

Lisboa surge, pois, como o centro e símbolo do país, a capital do reino, onde está instalado o governo e onde se inicia a rebelião do povo contra a opressão: é deste espaço que emana a voz da revolução e a conspiração inicia-se em Lisboa e só depois se alarga à província.

O espaço social

O clima de opressão, de pobreza, de revolta está presente ao longo de toda a peça e é visível a intençao do autor, ao propor, à maneira de Bretch, que assistamos,, distantes, a episódios que fizeram a nossa História e que merecem a nossa reflexão e a nossa análise crítica.

E a repressão fazia-se entir a todos os níveis. Material, social e cultural.

Paralelismo entre o passado e as condições históricas dos

Documentos relacionados