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1.4 O Centro de Material e Esterilização

1.4.1 Estrutura Física

A constituição do Centro de Material e Esterilização (CME) é obrigatória a todos os estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS) que possuam centro cirúrgico, centro obstétrico e/ou ambulatorial, serviços de hemodinâmica, de emergência de alta complexidade e urgência, podendo se localizar na instituição ou fora dela (Brasil, 2002).

Qualquer que seja a localização do CME na instituição hospitalar, é fundamental que haja acesso e comunicação fácil com as unidades consumidoras, como centro cirúrgico, centro obstétrico, unidade de terapias intensivas, pronto socorro, entre outras, bem como estar localizado nas proximidades dos centros fornecedores, como almoxarifado e lavanderia, denominadas áreas de apoio do hospital (Moura,1996).

Todos os projetos de arquitetura de estabelecimentos de saúde, públicos ou privados devem ser avaliados e aprovados pelas vigilâncias sanitárias estaduais ou municipais, antes do início da obra. Os projetos devem ser elaborados por técnicos ou firmas legalmente habilitados pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA) local (Brasil, 2003).

O planejamento do CME deve ser executado por uma equipe multiprofissional, e a planta física deve atender à dinâmica de funcionamento da unidade, considerando a propriedade do acabamento, iluminação e ventilação. O planejamento de um CME deve considerar também o tipo e a previsão correta dos equipamentos, a complexidade dos atendimentos da instituição, o volume e as características dos recursos financeiros (Brasil, 2001).

O piso e as paredes da unidade devem ser de revestimento resistente, que impeçam aderência da sujidade, não devem ter frestas ou reentrâncias, para assim evitar o acúmulo de sujeira. De preferência, a cor deve ser clara e de fácil

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limpeza. As janelas devem ser amplas e fechadas, quando a ventilação for pelo sistema de ar condicionado, caso contrário, devem ser teladas. A iluminação geral deve ser adequada para o trabalho: além da luz natural, a artificial deve proporcionar luminosidade o mais próximo da natural, acompanhada de iluminação direta nas mesas e balcões de preparo de material, para facilitar a inspeção dos artigos quanto à eficiência da limpeza, integridade e funcionalidade. A temperatura adequada ao ambiente do processo de trabalho deve estar entre 180 e 250 C.

A construção do CME deve prever, de acordo com a estrutura, se horizontal ou vertical, o sistema de transporte de materiais. Nas construções verticais, quando da localização do setor no piso superior ou inferior aos centros de fornecimentos, o transporte deve ser por meio de monta-cargas, obedecendo à norma NBR-7192 da ABNT (Silva et al, 1997; SOBECC 2003).

Os materiais para acabamento devem ser os que tornem as superfícies monolíticas, mesmo após o uso e limpeza frequentes; os materiais cerâmicos ou não devem possuir índice de absorção de água inferior a 4%, individualmente ou depois de instalados no ambiente, e o rejunte de suas peças, se for o caso, deve ter o mesmo índice de absorção. Não deve haver tubulações expostas nas paredes e tetos, e, quando não forem embutidas, devem ser protegidas em toda sua extensão por um material resistente a impactos, lavagens e ao uso de desinfetantes. Os ralos devem possuir sistema de abertura e fechamento, para evitar a ascensão animais sinantrópicos. As portas devem ser de material durável, lavável e de boa qualidade (Padoveze et al, 2010).

Segundo Lopes et al (2007), há instituições hospitalares que já estão realizando investimentos frequentes na estrutura física, em recursos materiais e tecnológicos e no quadro de funcionários que integram o CME. O objetivo é qualificar o trabalho ali desenvolvido, reconhecendo sua importância no contexto hospitalar. Há necessidade também de desenvolvimento de propostas de acolhimento e preparo do trabalhador do local, possibilitando-lhe o enfrentamento de obstáculos e de insatisfações do cotidiano, bem como lhe assegurando a educação permanente para o trabalho. Entende-se que é importante estimulá-los

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à participação em programas de desenvolvimento profissional e em atualização constante. Procura-se proporcionar-lhes momentos de reflexão, análise e discussão, para que se percebam fazendo parte de uma especialidade imprescindível.

Os administradores hospitalares ainda precisam descobrir a importância de investir na unidade de Centro de Material no que se refere aos recursos humanos e materiais. Tal unidade pode representar uma fonte de obtenção de lucros, e ao mesmo tempo em que garante um padrão de qualidade de assistência desejável (Silva, 1995, p. 93).

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), por meio do regulamento técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos de saúde, determina as áreas que compõem esta unidade funcional de apoio técnico (CME) e, ainda, suas dimensões mínimas em metros quadrados: uma sala composta de área para recepção, descontaminação e separação de materiais e área para lavagem de materiais, ambas medindo 0,08 m² por leito, com o mínimo de 8,0,m²; uma sala composta de área para recepção de roupa limpa, com 4,0m²; área para preparo de materiais e roupa limpa, de 0,25 m² por leito, com o mínimo de 12,0m².

Também prevê: uma área para esterilização física e outra para esterilização química líquida, dimensionada conforme o equipamento utilizado, com uma distância mínima de 20 cm, entre as autoclaves; uma sala de armazenagem e distribuição de materiais e roupas esterilizados, de 0,2m² por leito, com o mínimo de 10,0m²; e, uma área para armazenagem e distribuição de materiais descartáveis, que deve contemplar 25% da área de armazenagem de material esterilizado.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aceita a possibilidade de CME simplificado apenas para as instituições de saúde sem procedimentos que requeiram ambiente cirúrgico para sua realização (Brasil, 2002). Em casos de consultórios isolados que possuem equipamentos de esterilização, o CME é definido como simplificado, e deve contar com uma sala de

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lavagem e descontaminação e com uma sala de esterilização/estocagem de material esterilizado, medindo cada uma delas pelo menos 4,8 m².

A unidade deve ser composta por ambientes de apoio: sanitários com vestiário para funcionários, com barreira para as áreas de recepção de roupa limpa, preparo de materiais, esterilização e sala/área de armazenagem e distribuição – área “limpa”; sanitário para funcionários que têm acesso à área de recepção, descontaminação, separação e lavagem de materiais - área “suja”. No entanto, os sanitários com vestiários poderão ser comuns às áreas suja e limpa, desde que se constituam em uma barreira à área limpa e o acesso à área suja não seja feito através de nenhum ambiente da área limpa. Como ambiente de apoio, há, ainda, depósito(s) de material de limpeza, com acesso externo, obrigatório, quando for comum para as áreas “suja e limpa”; sala administrativa; área para manutenção dos equipamentos de esterilização física, exceto quando de barreira.

Quando se tratar de área de esterilização, ela pode possuir uma subunidade para esterilização química gasosa, que se compõe de: área de comando medindo 2,0 m²; sala de esterilização com 5,0 m²; sala ou área de depósito de recipientes de óxido de etileno (ETO), com 0,5 m²; sala de aeração com 6,0 m²; e, área de tratamento de gás. A esterilização química gasosa pode, segundo resolução da ANVISA, localizar-se no CME ou não. No entanto, deve seguir normas estabelecidas pela portaria interministerial nº 482/99, sobre ETO (ANVISA, 2002).

Para aquisição dos equipamentos do CME, deve-se levar em conta o tipo e previsão do trabalho a ser executado, ou seja: a complexidade do atendimento da instituição, o volume e características do material a ser esterilizado e a disponibilidade de recursos financeiros (Brasil, 2001; Silva, 1996).

Basicamente existem dois tipos de recursos materiais, os permanentes e os de insumo. Dentre eles, por área, há: lavadoras termo-desinfectoras; máquina seladora de embalagens; embalagens; máquinas esterilizadoras, autoclaves (vácuo pulsátil, gravitacional, alto-vácuo, óxido de etileno, peróxido de hidrogênio); estufas; cestos suspensos, para armazenamento de materiais a serem esterilizados e estéreis; carrinho de transporte interno no CME, e externo, para

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diversos setores; lupa; Equipamentos de Proteção Individual (EPI); mesas e balcões de trabalho; cadeiras anatômicas; baldes; bacias e respectivos suportes; recipientes para lixo e/ou suportes para sacos de lixo (Brasil, 2001).

Na implantação e organização do CME são ressaltados, por Silva (1996), os aspectos técnicos administrativos e de planejamento do hospital, pois sua localização, seu dimensionamento, seus detalhes de acabamento, assim com sua estrutura organizacional têm grande influência no seu funcionamento e na dinâmica do hospital. A autora observa que muitos hospitais brasileiros não possuem instalações físicas, tampouco recursos materiais e humanos adequados.

Em muitos hospitais existem poucos investimentos na estrutura física e em avanços arquitetônicos que possam contribuir para aperfeiçoar e tornar o ambiente mais agradável. Ainda seguem estruturas antigas, com adaptações que visam atender ao serviço (Lopes et at, 2007).

Atualmente, a adoção de serviços terceirizados tem sido discutida, com a possibilidade de o CME se localizar fora da estrutura hospitalar. Para os hospitais que necessitam de reformas profundas em seu CME, a opção pela sua externalização tem sido vista como atraente (Padoveze et al, 2010).

A terceirização das atividades do CME é considerada aceitável, por se tratar de uma atividade meio. É adotada por instituições de saúde que têm experiência com a terceirização da esterilização de produtos termo-sensíveis (Padoveze, 2010).