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1.6 Implementação do Mercosul

1.6.1 Estrutura orgânica do Mercosul

O Tratado de Assunção, no artigo 9, previu, para o período de transição do

Mercosul, apenas dois órgãos para sua administração e execução: o Conselho do

Mercado Comum e o Grupo Mercado Comum. O Conselho do Mercado Comum,

formado pelos ministros das Relações Exteriores e os da Economia dos Estados-partes,

ficou com a condução política e a adoção de medidas para assegurar o cumprimento dos

objetivos e dos prazos estabelecidos para a constituição definitiva do mercado comum. O

Grupo Mercado Comum era o órgão executivo do Mercosul, e sua coordenação ficou a

cargo dos ministros das Relações Exteriores dos Estados-partes, sendo suas funções:

- velar pelo cumprimento do Tratado;

- tomar providências necessárias ao cumprimento das decisões adotadas pelo Conselho [do Mercado Comum];

- propor medidas concretas tendentes à aplicação do Programa de Liberação Comercial, à coordenação de políticas macroeconômicas e à negociação de Acordos frente a terceiros;

- fixar programas de trabalho que assegurem [assegurassem] avanços para o estabelecimento do Mercado Comum.44

Essa estrutura vigorou até o Protocolo de Ouro Preto (firmado em dezembro

de 1994), pois, em conformidade com o artigo 18 do Tratado de Assunção, antes do

estabelecimento do mercado comum os Estados-partes deveriam “convocar reunião

extraordinária com o objetivo de determinar a estrutura institucional definitiva dos

44

órgãos de administração do Mercado Comum, assim como as atribuições específicas de

cada um deles e seu sistema de tomada de decisões”.

Firmado, portanto, o Protocolo de Ouro Preto, a estrutura institucional do

Mercosul passou a ser composta pelos seguintes órgãos: Conselho do Mercado Comum;

Grupo Mercado Comum; Comissão de Comércio do Mercosul; Comissão Parlamentar

Conjunta; Foro Consultivo Econômico-Social e Secretaria Administrativa do

Mercosul45.

Como se vê, foram criados outros quatro novos órgãos, entretanto todos de

natureza intergovernamental, ou seja, os membros componentes são representantes dos

Estados-partes, ao contrário de órgãos supranacionais, como ocorre na UE, na qual os

órgãos desempenham suas funções com independência, no interesse da comunidade.

Dentro da estrutura institucional definitiva do Mercosul, o Conselho do

Mercado Comum permaneceu basicamente com as mesmas atribuições, incumbindo-lhe

“a condução política do processo de integração e a tomada de decisões para assegurar o

cumprimento dos objetivos estabelecidos pelo Tratado de Assunção [...]”46. Sua

composição também se manteve a mesma, como também a forma da Presidência do

Conselho, ou seja, a Presidência é exercida por rotação dos Estados-partes, em ordem

alfabética, pelo período de seis meses47.

45 Protocolo de Ouro Preto, artigo 1. 46

Idem, artigo 3.

47

O Grupo Mercado Comum teve suas atribuições aumentadas, em

conformidade com o disposto no artigo 1448, tanto que foi criada a Comissão de

Comércio do Mercosul, órgão encarregado de assistir àquele, a qual é integrada por

quatro membros titulares e quatro membros alternados por Estado-parte, competindo-lhe

“velar pela aplicação dos instrumentos de política comercial comum acordados pelos

Estados Partes para o funcionamento da união aduaneira, bem como acompanhar e

revisar os temas e matérias relacionados com as políticas comerciais comuns”49, como o

48

Conforme o artigo 14 do Protocolo de Ouro Preto, “São funções e atribuições do Grupo do Mercado Comum: I - Velar, nos limites de suas competências, pelo cumprimento do Tratado de Assunção, de seus Protocolos e dos acordos firmados em seu âmbito; II- Propor projetos de Decisão ao Conselho do Mercado Comum; III - Tomar as medidas necessárias ao cumprimento das Decisões adotadas pelo Conselho do Mercado Comum; IV - Fixar programas de trabalho que assegurem avanços para o estabelecimento do mercado comum; V - Criar, modificar ou extinguir órgãos tais como subgrupos de trabalho e reuniões especializadas, para o cumprimento de seus objetivos; VI - Manifestar-se sobre as propostas ou recomendações que lhe forem submetidas pelos demais órgãos do Mercosul no âmbito de suas competências; VII - Negociar, com a participação de representantes de todos os Estados Partes, por delegação expressa do Conselho do Mercado Comum e dentro dos limites estabelecidos em mandatos específicos concedidos para esse fim, acordos em nome do Mercosul com terceiros países, grupos de países e organismos internacionais. O Grupo Mercado Comum, quando dispuser de mandato para tal fim, procederá à assinatura dos mencionados acordos. O Grupo do Mercado Comum, quando autorizado pelo Conselho do Mercado Comum, poderá delegar os referidos poderes à Comissão de Comércio do Mercosul; VIII - Aprovar o orçamento e a prestação de constas anual apresentada pela Secretaria Administrativa do Mercosul; IX - Adotar Resoluções em matéria financeira e orçamentária, com base nas orientações emanadas do Conselho do Mercado Comum; X - Submeter ao Conselho do Mercado Comum seu Regimento Interno; XI - Organizar as reuniões do Conselho do Mercado Comum e preparar os relatórios e estudos que este lhe solicitar; XII - Eleger o Diretor da Secretaria Administrativa do Mercosul; XIII – Supervisionar as atividades da Secretaria Administrativa do Mercosul; XIV - Homologar os Regimentos Internos da Comissão de Comércio e do Foro Consultivo Econômico-Social.”

49

Protocolo de Ouro Preto, artigo 16. Conforme o artigo 19, “São funções e atribuições da Comissão de Comércio do Mercosul: I. Velar pela aplicação dos instrumentos comuns de política comercial intra- Mercosul e com terceiros países, organismos internacionais e acordos de comércio; II. Considerar e pronunciar-se sobre as solicitações apresentadas pelos Estados Partes com respeito à aplicação e ao cumprimento da tarifa externa comum e dos demais instrumentos de política comercial comum; III. Acompanhar a aplicação dos instrumentos de política comercial comum nos Estados Partes; IV. Analisar a evolução dos instrumentos de política comercial comum para o funcionamento da união aduaneira e formular Propostas a respeito ao Grupo Mercado Comum; V. Tomar as decisões vinculadas à administração e à aplicação da tarifa externa comum e dos instrumentos de política comercial comum acordados pelos Estados Partes; VI. Informar ao Grupo Mercado Comum sobre a evolução e a aplicação dos instrumentos de política comercial comum, sobre o trâmite das solicitações recebidas e sobre as decisões adotadas a respeito delas; VII. Propor ao Grupo Mercado Comum novas normas ou modificações às normas existentes referentes à matéria comercial e aduaneira do Mercosul; VIII. Propor a revisão das alíquotas tarifárias de itens específicos da tarifa externa comum, inclusive para contemplar casos referentes a novas atividades produtivas no âmbito do Mercosul; IX. Estabelecer os comitês técnicos necessários ao adequado cumprimento de suas funções, bem como dirigir e supervisionar as atividades dos mesmos; X. Desempenhar as tarefas vinculadas à política comercial comum que lhe solicite o Grupo Mercado Comum; XI. Adotar o Regimento Interno, que submeterá ao Grupo Mercado Comum para sua homologação.” O artigo 21 dispõe que ainda caberá à Comissão de Comércio, “considerar reclamações apresentadas pelas Seções Nacionais da Comissão de Comércio do Mercosul,

comércio intra-bloco e com terceiros países. As reuniões da Comissão de Comércio são

realizadas pelos menos uma vez por mês ou sempre que o Grupo Mercado Comum ou

qualquer um dos Estados-partes solicitar50.

A Comissão Parlamentar Conjunta é o “órgão representativo dos

parlamentares dos Estados Partes no âmbito do Mercosul”51, sendo “integrada por igual

número de parlamentares representantes dos Estados Partes”52, que são designados pelos

seus respectivos Parlamentos nacionais53. Busca “acelerar os procedimentos internos

correspondentes nos Estados Partes para a pronta entrada em vigor das normas emanadas

dos órgãos do Mercosul” e também auxilia no processo de harmonização das

legislações54, necessário para o processo de integração55.

O Foro Consultivo Econômico-Social é o órgão de representação dos setores

econômicos e sociais e é “integrado por igual número de representantes de cada Estado

Parte”56; tem função consultiva e deve se manifestar ao Grupo Mercado Comum por

meio de recomendações57.

originadas pelos Estados Partes ou em demandas de particulares — pessoas físicas ou jurídicas —, relacionadas com as situações previstas nos artigos 1 ou 25 do Protocolo de Brasília, quando estiverem em sua área de competência”.

50

Protocolo de Ouro Preto, artigo 18.

51 Idem, artigo 22. 52 Idem, artigo 23. 53 Idem, artigo 24. 54 Idem, artigo 25.

55 Em relação à Comissão Parlamentar Conjunta, em 11 de junho de 2003 os presidentes do Brasil, Luiz

Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Néstor Kirchner, anunciaram a intenção de criar o Parlamento do Mercosul, através de eleição direta. Na ocasião, o presidente brasileiro declarou: “A relação entre Argentina e Brasil é a primeira razão para o sucesso do Mercosul. Isso é o que pode despertar em nossos irmãos da América do Sul o sentido de que a integração deixa de ser uma palavra de discursos eleitorais e passa a se tornar uma ação concreta” (In: PRESIDENTES querem criar Parlamento do Mercosul.

Folha de Londrina, Londrina, 12 jun. 2003. Caderno 1, p. 7). É certo que para ocorrer a criação do

Parlamento do Mercosul são necessárias mudanças na estrutura jurídica dos seus Estados-partes, em especial na do Brasil, a qual não contempla qualquer compartilhamento de soberania. Entretanto, é preciso que haja vontade política dos governantes para que ocorra o avanço nas relações do Mercosul.

56

Protocolo de Ouro Preto, artigo 28.

57

A Secretaria Administrativa do Mercosul, com sede permanente na cidade de

Montevidéu, é um “órgão de apoio operacional”, sendo “responsável pela prestação de

serviços aos demais órgãos do Mercosul”58.

De todos esses órgãos, apenas o Conselho Mercado Comum, o Grupo

Mercado Comum e a Comissão de Comércio do Mercosul têm poder de decisão.

Além de constituir a estrutura definitiva para o Mercosul, o Protocolo de

Ouro Preto representou um importante passo para a sua formação, pois atribuiu a ele

“personalidade jurídica de Direito Internacional”, ficando estabelecido que, no uso de

suas atribuições, ele poderá “praticar todos os atos necessários à realização de seus

objetivos, em especial contratar, adquirir ou alienar bens móveis e imóveis, comparecer

em juízo, conservar fundos e fazer transferências”, conforme os termos expressos em

seus artigos 34 e 35, respectivamente.