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Estrutura do programa

No documento Tese Cristiana Pereira (páginas 33-36)

Capítulo III. O programa Educar para Reparar: iniciação às práticas restaurativas em

3.3. Estrutura do programa

O presente programa encontra-se dividido em dois grandes blocos de sessões, sendo que poderão considerar-se como dois módulos. Os conteúdos que fazem parte da composição do programa resultam dos pressupostos das práticas restaurativas e das competências que deverão estar na base do desenvolvimento destas por parte dos indivíduos (DGSP & CCIGP, n.d.).

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O primeiro grande bloco, até à sessão 14, engloba o conjunto “gestão de conflitos” e o segundo grande conjunto diz respeito ao tema “competências restaurativas” e corresponde da sessão 15 à sessão 30 do programa (DGSP & CCIGP, n.d.).

O primeiro grande tema, “gestão de conflitos”, abarca uma série de competências que se julga ser bastante pertinentes para a inclusão no programa. Estas podem-se dividir em 8 e são:

I. Comunicação - é uma competência transversal e de grande relevância para a facilitação de mudanças noutras competências. Pretende-se que os participantes percebam que na comunicação existem dificuldades e enviesamentos que importa ter em conta na interpretação de mensagens (DGSP & CCIGP, n.d.).

II. Descentração Social - pois para se conseguir responsabilizar pelos seus atos, o indivíduo deverá de ser capaz de reconhecer o outro e a posição que ocupam. Esta

capacidade adquire-se na socialização e trata-se da capacidade de cada indivíduo se ver através dos outros. Quando as trocas e reflexões sociais favorecem a visão e reflexão das situações sob diferentes prismas permitem que o indivíduo se perceba

num grupo e perceba o grupo através dos outros elementos. Esta competência é

incluída neste programa no sentido de promover nos indivíduos uma maior capacidade de saírem da sua visão do mundo e conseguirem ver o mundo através dos olhos de outrem. É considerado como um dos passos do caminho para o reconhecimento da vítima e das suas necessidades, sentimentos (DGSP & CCIGP, n.d.).

III. Reconhecer Emoções - pois a nossa população apresenta de forma frequente e acentuada, dificuldades de reconhecer e expressar emoções. O desenvolvimento da capacidade de reconhecer emoções em si e nos outros é um suporte para o início do processo de desenvolvimento da empatia. Este é outro dos passos do caminho percorrido pelo programa para o seu objetivo central, que se traduz no reconhecimento da vítima e dos seus sentimentos sobre os atos praticados (DGSP & CCIGP, n.d.).

IV. Resolução de Problemas - pois é possível verificar a existência de conflitos que derivam de défices nos indivíduos no desenvolvimento destas capacidades. Abordar novas formas de resolver conflitos, também é treinar formas eficazes de resolver problemas (DGSP & CCIGP, n.d.).

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V. Gestão de Conflitos - que é tido como o tema central deste bloco. Nesta competência, pretende-se treinar nos indivíduos a capacidade de reconhecer o lado positivo de um conflito bem como formas pensar formas eficientes para resolver os mesmos. É importante que os participantes percebam que o conflito, não tem de ser um fator necessariamente negativo, fazendo-os entender que se a cooperação fizer parte deste processo o conflito torna-se em algo construtivo e necessário ao desenvolvimento dos indivíduos, grupos ou comunidades. Desta forma, é importante dotar os participantes de competências de resolução de conflitos, sendo que esta é tida como uma questão primordial para a reparação de danos e para o estabelecimento de relacionamento sociais mais pacíficos e gratificantes (DGSP & CCIGP, n.d.).

VI. Bullying - pois no contexto prisional à semelhança de outros contextos de convivência prolongada entre pares, desenvolvem-se diariamente agressões sistemáticas a indivíduos ou grupos de indivíduos, por parte de outros. Existem indivíduos que constantemente são vítimas de outros, e tendem a expressar sentimentos negativos e problemas de estabilidade emocional. Treinar competências de resolução de conflitos também é promover a diminuição do fenómeno de bullying, uma vez que podem existir participantes do programa que poderão ser vítimas de bullying ou perpetadores destes atos. Desta forma, aborda- se o assunto com o objetivo de os sensibilizar para o fenómeno e sofrimento das vítimas, alertá-los para o facto das instituições estarem atentas ao problema e desenvolver nos participantes competências de eliminação e gestão do problema e das suas consequências. Tratando-se este fenómeno de uma agressão, viabiliza-se importante para o treino de reparação (DGSP & CCIGP, n.d.).

VII. Cultura de Grupo e Respeito Mútuo - porque saber respeitar as diferenças dos outros é um dos caminhos de uma melhor gestão de conflitos (DGSP & CCIGP, n.d.).

Ao fim das 14 sessões, termina aqui, o primeiro bloco do programa que prepara os indivíduos para a segunda parte totalmente direcionada para o treino de práticas restaurativas (DGSP & CCIGP, n.d.).

O segundo bloco é composto pelos seguintes temas:

I. Desenvolvimento do Raciocínio Moral - porque a educação moral afigura-se como um dos valores fundamentais da JR, pelo que a sua inclusão neste programa revela-

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se pertinente. (DGSP & CCIGP, n.d.).O raciocínio moral é a capacidade do indivíduo desenvolver uma moral cada vez mais avançada de respeito pela justiça, que se desenvolve na interação do sujeito com o meio, atuando por estádios hierarquizados. O desenvolvimento moral, segundo Piaget (1977) seria um atributo que é desenvolvido de acordo com as experiências do indivíduo e que pode sempre ser promovido e estimulado. Kohlberg (1973) defende que a promoção do desenvolvimento moral é a única forma eticamente aceitável de educação moral ou uma educação para a justiça.

II. Conceito de Dano - em que se pretende trabalhar no indivíduo a capacidade de compreender o que é um dano e que danos causou com os seus atos (DGSP & CCIGP, n.d.).

III. Conceito de Vítima - em que se pretende que os participantes percebam o que são vítimas, o que sentem e ainda que vítimas fizeram com a prática do seu crime (DGSP & CCIGP, n.d.).

IV. Conceito de Reparação - para que os participantes percebam que existe um caminho alternativo ao do dano, o caminho da reparação (DGSP & CCIGP, n.d.).

No documento Tese Cristiana Pereira (páginas 33-36)

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