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5. O DIREITO À SAÚDE NO ESTADO DA BAHIA

5.1 A ESTRUTURA SANITÁRIA

Segundo informa o Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (CREMEB), a saúde pública não é uma prioridade para o Estado. A afirmação leva em consideração os dados fornecidos pelo Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde – SIOPS – que identificou que apenas 12,26% dos recursos do governo foram investidos na saúde pública regional, colocando a Bahia na 21º posição no ranking dos Estados que menos investiram em saúde em 2016232.

Para o coordenador do Centro de Apoio Operacional da Saúde Pública (CESAU) Rogério Queiroz, o problema é que, no Brasil, os gestores estão transformando o piso em teto, de modo que é preciso ampliar os investimentos para dar um plus para a saúde senão a desassistência permanecerá imensa. Segundo divulgado no portal do Cremeb BA, Rogério Queiroz chama atenção ainda para uma particularidade do estado da Bahia, que no ano de 2006, entrou com uma ação civil ordinária no Supremo Tribunal Federal contra a União, para que a receita obtida com o Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (facep) não seja incluída na base de cálculo para apuração dos limites mínimos de gastos na saúde, isso quer dizer que uma parte da arrecadação, que teoricamente seria computada para se chegar aos 12%,

não é, o que justifica os percentuais do Portal da Transparência da Bahia serem um pouco maiores do que os do SIOPS233.

Contudo, apesar dos investimentos baiano em saúde pública estarem próximos dos limites mínimos estabelecidos pela Lei Complementar nº141, é preciso considerar as ações adotadas pelo Estado para a melhoria do tratamento da saúde a partir de suas particularidades. Conforme restou demonstrado no capítulo inaugural, assim como ocorreu no Brasil, de um modo geral, até o século XX, a conjuntura política, econômica e sociocultural, também, limitou as ações para a preservação da saúde no Estado da Bahia.

Além da alegada falta de recursos, a assistência à saúde era vista pelos governantes mais como um ato caritativo que um dever do Estado, cabendo a Santa Casa da Misericórdia234, grande parte das ações assistencialistas. Embora a Constituição de 1981, tenha direcionado a responsabilidade do combate a doenças epidêmicas para cada unidade federativa, as ações filantrópicas e a mobilização dos médicos baianos suportaram a inércia estatal, durante as primeiras décadas do século XX, promovendo avanços nesse sentido, como ocorreu com o tratamento da tuberculose e da assistência materno-infantil, que apesar do elevado número de mortes, não ensejou a implementação de políticas públicas eficazes.

Conforme relata Christiane Maria Cruz de Souza, verifica-se que os movimentos de proteção à saúde no Estado da Bahia, durante o período citado acima, foram desencadeados por iniciativas médicas e ações beneficentes e voluntárias da sociedade civil encabeçadas por mulheres da elite baiana. Ao destacar a complexa relação entre as instituições filantrópicas e os poderes instituídos, na Bahia, a referida pesquisadora afirma:

Durante esse período, os poderes públicos apoiaram financeiramente as instituições filantrópicas, criaram algumas instituições e incorporaram outras, alargando o campo de atuação do Estado. Todavia, a progressiva intervenção dos poderes públicos no âmbito da saúde, não anulou a importante contribuição da filantropia no processo de constituição de uma rede de assistência à saúde na Bahia, na primeira metade do século XX235.

De acordo com a estrutura definida pela Secretária de Saúde do Estado da Bahia (SESAB)236, atualmente, o sistema de saúde baiano é formado pelas Unidades Hospitalares da

233 Idem

234A Santa Casa da Misericórdia da Bahia, em Salvador, foi fundada em 1549, mesmo ano de fundação da Cidade.

Existiam dúvidas quanto ao seu ano de fundação, até 1937, quando foram publicadas as folhas de pagamento, de 1549 a 1551. Por elas, sabe-se que a Irmandade da Santa Casa da Bahia já estava organizada em julho de 1549, mas, provavelmente, desde abril. O Hospital era dedicado a São Cristóvão, mas era conhecido como o Hospital da Santa Casa. Em 1893, o Hospital foi transferido para o Santa Izabel, em Nazaré.

235 CRUZ DE SOUZA, Christiane Maria. Saúde pública e assistência na Bahia da primeira metade do século

XX: o protagonismo dos médicos e das mulheres das mulheres da elite.

Capital e pelas Unidades Hospitalares dos Interiores do Estado, pelos Centros de Referências, Maternidades, Unidades de Emergência (UPAS), Núcleos Regionais de Saúde (NRS), Central de Transplantes, Fundação de Hematologia e Hemoterapia da Bahia (HEMOBA) e Serviço de Atendimento Móvel (SAMU) cuja estrutura pode ser graficamente representada pelo gráfico abaixo:

Gráfico 1237 - Estrutura da Saúde no Estado da Bahia

Tem-se, ainda, duas fundações estatais na Bahia públicas, com personalidade jurídica de direito privado: a Fundação Estatal da Saúde da Família e a Fundação Bahia Farma, voltada para a pesquisa e assistência farmacêutica, que não estão presentes no gráfico acima.

Pela dinâmica do gráfico 1, verifica-se que a maior parte do sistema sanitário baiano está estruturado na capital, enquanto 21% dos hospitais estão locados em Salvador, 34% estão distribuídos pelos interiores do Estado. A partir do gráfico, é possível perceber que um dos grandes problemas vinculados ao direito à saúde na região está associado aos vazios assistenciais existentes nos interiores do Estado.

Gráfico 2238 - Gestão hospitalar na Capital

No que tange a gestão das unidades hospitalares presentes no Estado da Bahia, o gráfico 2 e 3 apontam situações diferentes. Enquanto a maior parte das redes hospitalares presentes na Capital são geridas diretamente pelo Governo do Estado (gráfico 2), a gestão dos hospitais distribuídos pelos interiores é exercida, predominantemente, de forma indireta, por meio das instituições filantrópicas (gráfico 3), veja-se. Ademais, embora a rede de saúde do Estado, seja, atualmente, em sua maior parte, gerida diretamente pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, a gestão indireta das instituições filantrópicas, ainda, contribui para a melhoria do sistema, principalmente nos interiores do Estado, além das parcerias público privadas e dos consórcios públicos presentes na sua estrutura atual.

Gráfico 3 - Gestão hospitalar nos Interiores do Estado da Bahia

A partir das estruturações gráficas, demonstradas acima, verifica-se que a capital baiana tem papel preponderante no atendimento médico hospitalar de todo o Estado, pois concentra a maior parte das unidades hospitalares, bem como todos os Centros de Referência. Assim, é possível notar que o interior da Bahia é marcado por vazios assistenciais em razão da desproporção existente na estrutura sanitária, entre a capital e os demais municípios. Dessa forma, o maior problema a ser enfrentado na Bahia para efetivar o direito à saúde à sua população recai sobre a questão da regulação assistencial239, responsável pela maior parte das demandas ajuizadas em face do Estado, conforme será comprovado a seguir.